O autor desta
humilde Retórica deseja a todos os visitantes boas festas, e um Natal de acordo
com a vontade e possibilidade de cada um.
(Adaptação minha
de um poema de David Mourão Ferreira)
Entremos,
apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num
prédio, num presídio, no prédio que amanhã for demolido... Entremos, inseguros,
mas entremos. Entremos, e depressa, em qualquer sítio, porque esta noite
chama-se Dezembro, porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a
dois: somos duzentos, duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro
de uma casa, a casa, a gruta, o sulco de uma nave... Entremos, despojados, mas
entremos. De mãos dadas, talvez o fogo nasça, talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
Vai nascer esta
noite, à meia-noite em ponto, num sótão, num porão, numa cave inundada. Vai
nascer esta noite, à meia-noite em ponto, dentro de um foguetão reduzido a
sucata. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, numa casa na “Síria ou no Egipto”, ontem bombardeada.
Vai nascer esta
noite, à meia-noite em ponto, num presépio de lama, de sangue e de cisco. Vai
nascer esta noite, à meia-noite em ponto, para ter amanhã a suspeita que existe.
Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, tem no ano dois mil a idade de
Cristo.
1 comentário:
Agradeço e retribuo os seus votos. Que tenha tido um Natal com saúde.
Um abraço
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