terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Porque é Natal....


O autor desta humilde Retórica deseja a todos os visitantes boas festas, e um Natal de acordo com a vontade e possibilidade de cada um.




(Adaptação minha de um poema de David Mourão Ferreira)

Entremos, apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num prédio, num presídio, no prédio que amanhã for demolido... Entremos, inseguros, mas entremos. Entremos, e depressa, em qualquer sítio, porque esta noite chama-se Dezembro, porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos, duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro de uma casa, a casa, a gruta, o sulco de uma nave... Entremos, despojados, mas entremos. De mãos dadas, talvez o fogo nasça, talvez seja Natal e não Dezembro, talvez universal a consoada.

Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, num sótão, num porão, numa cave inundada. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, dentro de um foguetão reduzido a sucata. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, numa casa na “Síria ou no Egipto”, ontem bombardeada.

Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, num presépio de lama, de sangue e de cisco. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, para ter amanhã a suspeita que existe. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, tem no ano dois mil a idade de Cristo.

Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, vê-lo-emos depois de chicote no templo. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto, e anda já um terror no látego do vento. Vai nascer esta noite, à meia-noite em ponto: para nos pedir contas do nosso tempo.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Agradeço e retribuo os seus votos. Que tenha tido um Natal com saúde.

Um abraço