Desde que o
mundo é mundo, ou pelo menos desde que apareceu por aí o projecto humanóide,
quando o tal deus se decidiu a correr com ele do éden, que o homem sentiu a
necessidade de criar abrigos contra os perigos e intempéries, que esse mesmo
deus se encarregou de lhe enviar para castigo, que ao longo da história se foi
registando uma evolução nas habitações, quer quanto ao tipo de materiais
utilizados, quer de acordo com o tipo e estilos de vida que levavam: nómada ou
sedentário.
Até se chegar às
casas como hoje as conhecemos, o homem foi evoluindo das Cavernas e Grutas,
para as Cabanas e Tendas, e daí para as Casas de pedra e barro, até aos
edifícios mais sofisticados que hoje conhecemos. Socialmente, ao ditado “diz-me
com quem andas dir-te-ei quem és”; poderemos contrapor o quase: diz-me onde moras que logo te ficarei a
conhecer...
Em Portugal, das várias coisas que aumentaram substancialmente nas últimas décadas, uma delas foi a construção de habitação, que a par das
vias de comunicação (auto-estradas e afins), fez parte da chamada “política do
betão”, em que assentou, possivelmente, a nossa desgraça económica actual. Não
que tal não fosse necessário, com certeza que sim, mas não era preciso
exagerar. Um país de pelintras que tem 1 alojamento e metade de outro por cada
família (e 20% delas só têm 1 pessoa), é capaz de ser de mais, talvez 1
Apartemant/família fosse suficiente, e o restante do que se gastou, na outra metade, talvez tivesse sido melhor gastar, por exemplo, na educação! Digo
eu que sou um ingénuo.
Mas como em tudo
neste país, passa-se do “8 ao 80” ,
e foi assim, que existindo algum equilíbrio em 1981, quando a quantidade de
alojamentos era apenas 16% superior ao nº de famílias; passou-se para em 2011,
esse valor ser de 45% superior; isto é, em 2011 existiam cerca 5,9 milhões de
alojamentos, quando existiam pouco mais de 4 milhões de famílias; o que quer
dizer, que existem praticamente mais 2 milhões de alojamentos do que famílias. Nos
censos 2011 constata-se ainda, que cerca de 1,8 milhões de alojamentos eram
segundas habitações, ou estavam desocupados. Como não hão-de achar os nossos
vizinhos europeus que somos um povo com pouco juízo?
Assim, como se
pode ver no Gráfico 1, passou-se da existência de menos de 3 milhões de
alojamentos familiares em 1970, para praticamente 6 milhões de alojamentos em
2011 (Barras cinzentas). O maior aumento registou-se na década de 1981 a 1991 (em 10 anos
registou-se um aumento de 24% do nº de alojamentos). No mesmo Gráfico podemos
verificar, que apesar de se ter registado um aumento de famílias no mesmo
período, esse aumento foi muito menor apenas 59% (Barras castanhas).
Mesmo com este panorama, e com a crise dentro
de casa, entre 2001 e 2011, construíram-se em Portugal perto 550 mil
alojamentos, e ainda no ano de 2012 se construíram perto de 30 000 alojamentos.
Um outro indicador, também
importante, mostra-nos que em Portugal 73,2%
das famílias habitam em alojamentos de “propriedade
própria”, e que só 26,8% das
famílias referem viver em alojamentos arrendados e outros casos.
No distrito de
Portalegre, devido ao despovoamento, estes indicadores ainda são menos abonatórios.
Enquanto em Portugal o rácio é de 1,5 alojamentos/família, no distrito esse
rácio é de 1,7. Isto é, em 2011 existiam 81.376 alojamentos, enquanto existiam
apenas 47.524 famílias (cerca de mais 39 mil alojamentos do que famílias). Os
censos de 2011 mostram-nos também que 74,8% das famílias habitam alojamentos de
sua propriedade, este rácio é ligeiramente superior à média nacional (73,2%).
(Clicar sobre a imagem para ver melhor)
No Quadro 13
podemos verificar que nos concelhos de Nisa, Gavião, Crato, Alter, Marvão,
Arronches e C. de Vide, o rácio de alojamentos/família é igual ou superior a
2., sendo o concelho de Nisa onde esse rácio é o mais elevado (2,3), existem 7
330 Alojamentos para apenas 3 218 famílias. Podemos ainda verificar que nos
concelhos de Nisa, Gavião e Crato, quase 90% das famílias vivem em casa de sua
propriedade, e apenas cerca de 10% vivem em casa arrendada ou outros
casos.
No pólo aposto
encontramos as 3 cidades (Portalegre, Elvas e Ponte de Sôr) e Campo Maior onde
o rácio é de 1,5 igual à média nacional. De realçar ainda que, nas cidades de
Portalegre e Elvas, mais 30% das famílias vivem em casas arrendadas (ou outros
casos). Por ironia do destino, ou talvez não, estes concelhos são aqueles que
têm maior poder de compra, maiores salários médios, e melhores níveis de
literacia!
... e Marvão?
Marvão, no que
toca à temática habitacional, aparece com uma particularidade que me
surpreendeu, ao ser dos pequenos concelhos do distrito (juntamente com
Arronches), aquele que apresenta o menor indicador para famílias que habitam
alojamento de sua propriedade (70,7%). O que quer dizer que, perto de 30% das
famílias em Marvão vivem em casa arrendada ou “outro caso”, esta situação é o
triplo do que se passa em concelhos como Nisa, Gavião ou Crato.
No que toca ao
rácio de alojamentos/família podemos verificar que, esse valor é superior a 2
alojamentos/família, ou seja, existiam em 2011 cerca de 3 000 alojamentos em
Marvão, quando a quantidade de famílias eram apenas de 1 474.
Penso que o que
fica evidente destes dados é de que Marvão precisará de muita coisa, mas não de
mais habitação. Sobretudo e ainda, se tivermos em conta que todos os anos
Marvão perde cerca de 50 habitantes, e que esta tendência se irá agravar num
futuro próximo (basta fazer um pouco de análise demográfica).
Penso ainda que,
estes dados, me vêm dar razão acrescida, quando em 2011 me manifestei contra o
Projecto do actual Presidente querer construir 37 fogos para Habitação Social, "tipo PPP à marvanense" através
de um processo muito manhoso (como se pode ler aqui), que onerava o município
para os próximos 70 anos, e que foi uma das razões que me levou à demissão da
Assembleia Municipal, e do actual projecto de governação em Marvão.
Felizmente que o
Tribunal de Contas às vezes está acordado e travou o Projecto. Aqui fica o
resumo, para avivar consciências, do que escrevi na altura:
“Sobre o Protocolo com a UNIFE para a
construção de 37 Fogos para Habitação Social. A versão simplificada do
Protocolo resume-se no seguinte:
O município faculta os terrenos de
implantação dos 37 Fogos, faz as infra-estruturas; a UNIFE constrói os
apartamentos; a Câmara faz a selecção das famílias carenciadas; em conjunto
estabelecem o valor das rendas; as famílias de acordo com os seus rendimentos
pagam uma percentagem; a Câmara mensalmente paga um subsídio do restante com
dinheiros públicos (que ninguém sabe quanto é); a UNIFE fica proprietária dos
fogos durante 70 anos.
Algumas dúvidas e argumentos apresentados:
1 - Tendo Marvão, de acordo com os dados do
INE 1 478 famílias e 3 003 alojamentos, (2 alojamentos/família) justifica-se a
criação de um projecto de habitação social, com custos de cerca 3 milhões de
euros (37 x 80 mil euros cada), que os marvanenses vão ter de pagar, sobretudo
com impostos, nos próximos 70 anos?
2 - Não seria melhor apostar na Recuperação de
algumas casas degradadas, já que elas existem, em vez de estar a fazer novo,
com todas as implicações ambientais que a isso obrigam.
3 - Qual vai ser o valor total mensal que o
município vai ter de pagar à UNIFE para ajudar nas rendas?
4 - E se essa famílias carenciadas, não
puderem cumprir os seus compromissos devido ao agravamento da crise que se
prevê? Paga o município a totalidade? Faz despejos?
A maioria dos esclarecimentos do Presidente foram vagos e
passou-se à votação.
A proposta foi aprovada com 8 votos a favor
do PSD; 6 votos contra (4 do PS, 1 do “Juntos por Marvão” e o meu); e uma
abstenção de um dos Membros do PS. Não votou Gomes Esteves, porque teve necessidades
pessoais de sair mais cedo da Reunião.”
2 comentários:
Nesses dados de Marvão certamente estarão contabilizadas as casas de família, de férias, como a minha, por exemplo, cujos proprietários não residem lá.
Um abraço
Claro que sim minha cara Helena. Dos 3 000 alojamentos existentes no concelho de Marvão, a sua, será uma delas. Se o INE andar a fazer as coisas bem feitas...
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