"Eu que me comovo
por tudo e por nada, deixei-te parada, na berma da estrada. Usei o teu corpo paguei
o teu preço, esqueci o teu nome limpei-me com o lenço. Olhei-te a cintura de
pé no alcatrão, levantei-te as saias deitei-te no banco, num bosque de faias de
mala na mão. Nem sequer falaste, nem sequer beijaste! Nem sequer gemeste, mordeste,
abraçaste: - Quinhentos escudos, foi o
que disseste! Tinhas quinze anos, dezasseis, dezassete, cheiravas a mato, à
sopa dos pobres, a infância sem quarto, a suor, a chiclete. Saíste do carro alisando
a blusa, espiei da janela rosto de aguarela, coxa em semifusa. Soltei o travão!
Voltei para casa
de chaves na mão, sobrancelha em asa, disse: - "fiz serão" ao filho e
à mulher, repeti a fruta, acabei a ceia, larguei o talher. Estendi-me na cama de
ouvido à escuta e perna cruzada. Que de olhos em chama, só tinha na ideia, teu
corpo parado na berma da estrada, e eu que me comovo, por tudo e por nada..."
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