Sinceramente,
tinha prometido a mim mesmo, não trazer aqui a público algumas coisas muito
feias que se passaram na última Assembleia Municipal de Marvão, realizada em
29/11/2013. Já uma vez, quando era Membro desse órgão tive ocasião de citar
que, às vezes, “levar a sério, algo de tão pouco sério, é perdermos nós
próprios toda a nossa seriedade”; mas como muitos amigos, sabendo que algo de importante por
lá se passou, me têm questionado sobre os acontecimentos, e para não andar a
repetir, aqui fica para memória futura, a minha versão e opinião dos factos.
Vamos
por partes:
Momento
I - No ponto da Ordem
trabalhos, referente à Informação que os Vereadores têm que fazer à AM sobre as
Empresas de que são sócios ou gerentes, Canêdo Berenguel, do Partido
Socialista, depois de confrontar essa informação com as obras em curso do
município, questionou o Presidente da Câmara sobre como era possível que, sendo o Vereador José Manuel Pires, Sócio
Gerente de 33% do capital da Empresa Buscanível, Lda. (como se prova no
Documento da Figura 1), tenha a Câmara Municipal adjudicado a essa Empresa a
“Obra de construção do Depósito de Água do Vale de Ródão”, por administração
directa, e no valor de cerca 41 000 euros (Documento da Imagem 2); já que tal situação
não é permitida, de acordo com a legislação em vigor, do “Regime
Jurídico de Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos
e Altos Cargos Públicos. Que não permite que as empresas cujo capital seja
detido numa percentagem superior a 10%, por um titular de órgão de soberania ou
titular de cargo político, ou por alto cargo público, estão impedidas de
participar em concursos de fornecimento de bens ou serviços, no exercício de actividade
de comércio ou indústria, bem como, em contratos com o Estado, e demais pessoas
colectivas públicas.
Figura 1 - Informação de 2013
(Clicar em cima da imagem para ver melhor)
Figura 2 - Obras em curso no município de Marvão em Nov. 2013
Momento II - A resposta à AM do presidente da Câmara
foi assombrosa: Primeiro que desconhecia que o senhor vereador era sócio da
dita Empresa (que até pensava que era de familiares do vereador); depois, que aquando
da proposta da adjudicação da obra, a Técnica responsável (diga-se a senhora
engenheira) lhe tinha apenas apresentado a proposta sem lhe referir qualquer
incompatibilidade de adjudicação; etc., etc.!
Momento III – Chamado a explicar-se, o senhor vereador,
referiu que não participou na decisão, que só soube da adjudicação depois da
dita obra ter sido entregue à “sua” empresa; que achava que até era uma maneira
de promover o desenvolvimento do concelho privilegiando as empresas locais, etc.,
etc.!
Momento IV - De seguida, e após acesa discussão, Tiago
Pereira, do Partido Socialista, sugeriu ao presidente da AM que enviasse este
assunto ao Ministério Público para que se apurassem responsabilidades.
Pareceu-me haver acolhimento da proposta por parte do presidente da AM. Da
parte do grupo PSD da AM, nem uma palavra.
Momento V – Momentos mais tarde, Canêdo Berenguel,
veio comunicar à AM que, a proposta de enviar “a coisa” ao Ministério Público,
talvez não fosse boa ideia (que tal se tinha ficado a dever a alguma juventude
e “sangue na guelra” do seu jovem camarada Tiago); que por agora, o que sugeria
era que a Câmara contratasse um “seu” bom colega jurista (que os há cá pela
terra), e que, por esta, as coisas se ficariam apenas pela chamada de atenção
ao executivo sobre os factos graves ocorridos na área da contratação da CM
de Marvão!
Pergunto eu:
- Como pode o senhor presidente da Câmara
argumentar que desconhece que o senhor vereador José Manuel Pires é sócio
gerente da empresa Buscanível Lda., quando esse facto sempre foi comunicado,
por escrito (como é de Lei), pelo senhor vereador ao Órgão a que preside, bem
como a todos os Membros da AM?
- Já na Comunicação feita no início do
Mandato de 2009, o senhor vereador José Manuel Pires comunicou, aos órgãos autárquicos, que era sócio
gerente da Empresa Buscanível, Lda., como se pode ver no Documento da Figura 3.
Em pelo menos 5 anos, ninguém disse a Vítor Frutuoso que José Manuel Pires era
sócio de uma empresa que tinha negócios com a autarquia? Será que anda mal
aconselhado? E onde fica a lealdade institucional senhor vereador?
Figura 3 - Informação feita em Dezembro 2009
- Então e perante a adjudicação da obra, o
senhor vereador continuou a não dizer ao seu presidente que era sócio da dita
empresa? Para que acha o senhor vereador que tem de dar conhecimento aos órgãos
autárquicos das empresas de que é sócio? Será só para o nice (um estrangeirismo como ele tanto gosta), para sabermos que é empresário?
- Então e os serviços camarários (leia-se os
seus dirigentes) nunca comunicaram ao senhor presidente que o senhor vereador
era sócio da Buscanível Lda.? Ou também desconhecem a lei? Mas para intervirem
na AM são danados, até sem serem eleitos e sem que ninguém lhes solicite
intervenção!
- Se não é permitido aos cidadãos alegarem
desconhecimento da Lei, será possível, a autarcas, escudarem-se na ignorância e
na não observância de princípios básicos da Administração Pública?
E por fim, este caso
será o único?
É melhor mandar investigar senhor presidente. Olhe que a partir de agora não pode alegar desconhecimento, e talvez fosse melhor investir noutro tipo de assessores!
E o senhor vereador é melhor dar a conhecer
ao seu presidente as Empresas de que é sócio acima de 10%, e que têm contratos
com a CM de Marvão. Siga o conselho que lhe sugeriu na AM o senhor doutor de
leis, ponha as firmas em nome dos familiares! Olhe que o que acabou de ser do
conhecimento público dá, possivelmente, Perda de Mandato!
Só não sei
se, será apenas do vereador, ou será do próprio presidente! O que vos vale é
que estão em terra de boa gente. E que apesar destes factos serem do conhecimento público há muito tempo, ninguém os trouxe para discussão nas últimas eleições. Mas num Estado de Direito o Poder não está impune, e não vale tudo.
A bem da democracia, que tão pobres
democratas albergas....
3 comentários:
Alguns comentários colhidos no facebook:
Jorge Miranda:
Afinal os loucos existem!
“... supõe que encontras um louco que te diz que é um peixe, e que somos todos peixes! Vais-te discutir com ele? Vais-te despir à frente dele para lhe mostrares que não tens barbatanas? Vais-lhe dizer de caras o que pensas?
O irmão calava-se e Edouard continuou:
- Se só lhe dissesses a verdade, aquilo que pensas realmente dele, isso queria dizer que aceitas uma discussão com um louco e, que tu próprio, és louco.
É exactamente a mesma coisa com o mundo que nos rodeia. Se te obstinares em dizer-lhe de caras a verdade, isso quereria dizer que o levavas a sério. E, levar a sério, algo de tão pouco sério, é perdermos nós próprios toda a nossa seriedade. Eu devo mentir para não levar loucos a sério e, não me tornar eu próprio um louco...”
Milan Kundera. E não conhecia Marvão...
Maria Isabel Barradas Ludovino:
Aprecio o estilo jornalístico bem documentado desta retórica!
Joana Gomes:
Não podia deixar de partilhar. Pouco a pouco vão-se mostrando. Muito bom! Esse senhor no seu melhor. Pergunto-me se a AM, sabendo que existe incompatibilidades e não as denunciar, se esta mesma, não incorre em alguma coisa! Moral da história anda tudo ao mesmo...
Catarina Bucho Machado:
Mais do mesmo..., mais do mesmo..., mais do mesmo! Uma pessoa passa vários meses sabendo pouco ou nada das notícias concelhias, mas no fundo, é só mais do mesmo...
Nuno Frade:
Nada de novo, no panorama político nacional..., para mim acho tão escandaloso a negociata, como a posição da oposição que desautoriza o óbvio, num caso como este! Desdenhar ou comprar, eu? Nem por ajuste directo...
Estamos mesmo numa de rebaldaria e sem vergonha na cara.
Bom trabalho o seu, mais uma vez.
Um abraço
A Comunicação Social por vezes, não raras vezes, apresenta-nos assuntos tratados de forma muito infeliz. Seja por negligência (incompetência) ou seja por dolo (manipulação deliberada), às vezes transmite-nos mensagens enviesadas, distorcidas, incompletas ou mesmo feridas de falsidade. Por isso, temos que saber ler nas entrelinhas… separar o trigo do joio!
No entanto, não é por acaso que é apelidada de quarta poder. Ela é, de facto, essencial em democracia! Porque, apesar de todos os defeitos referidos, na maioria das vezes além de informar e de proporcionar a transmissão de várias opiniões!visões sobre os assuntos, desempenha um papel fiscalizador…
Como sempre tenho defendido, essa é uma vertente fundamental que falta no concelho de Marvão.
Os acontecimentos e posicionamentos (diria que incríveis) aqui “relatados”, sobre a última Assembleia Municipal, chegam-nos porque ainda há meia dúzia de “carolas” que “se dão ao trabalho” de ir assistir à AM em horário impróprio.
E tornam-se públicos porque há um deles que assim o quer.
Contudo, é pena que a descrição dos factos (e os posicionamentos dos vários actores políticos do nosso concelho na AM) não seja vinculada por um órgão de comunicação social. Nem que fosse um “jornaleco”! Onde, depois, os assuntos fossem aprofundados.
Assim, caso nenhum órgão de comunicação social regional se interesse pela temática, ficamos somente com o relato/opinião de um “carola”.
Cumprimentos
Fernando Bonito
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