Passaram duas semanas desde que a
comunidade marvanense foi chamada a pronunciar-se, em eleições autárquicas,
sobre o que queria, e quem queria, para governar o concelho nos próximos 4
anos.
De uma coisa podemos ter certeza e
concluir: desta vez não houve escassez de alternativas de escolha. Podiam não
ser os melhores marvanenses a organizarem-se e apresentarem-se a sufrágio, mas
esses se existem, não se sabe onde estão. Foram, portanto, aqueles que têm
coragem e parecem preocupar-se com a administração da coisa pública, que quer
queiramos ou não, por alguém terá de ser feita.
Mas as perguntas que todos fazem
hoje: é quem é que terá ganhado verdadeiramente as eleições, se ficámos melhor
ou pior e se terá valido a pena as alternativas que foram criadas. Eu tenho a minha
opinião e, é essa, que aqui quero partilhar convosco.
De uma coisa tenho mais uma vez a
certeza é que, no actual sistema democrático português, quer gostemos ou não, o povo é
soberano nas suas escolhas e os resultados obtidos emanam da vontade de uma
maioria conjuntural no tempo e no espaço, por isso tem de ser respeitada. Se o
povo assim determinou, pois que assim seja.
Passemos então à finalidade deste
artigo e tentar analisar, de forma objectiva, os resultados do que se passou e
o que mudou desde o dia 2 de Outubro.
1 – O Movimento Independente Marvão para Todos.
Fica sempre bem começarmos pela nossa
casa, olharmos para dentro de nós, reflectirmos e encontrarmos explicações para
o sucedido. De uma maneira geral o Movimento Independente não obteve os
resultados que pretendíamos e que eram se não fosse possível ganhar as eleições
(algo que todos sabíamos ser no actual contexto praticamente impossível), como
mínimo eleger candidatos para todos os órgãos, sobretudo e pelo menos, um
vereador (a) para a Câmara Municipal. Faltaram-nos, talvez, cerca de 50 votos.
Acabámos por eleger apenas 4 pessoas (8% do total de cargos em disputa): 2 para Assembleia Municipal, 1 para a Assembleia de Freguesia de SA das Areias e 1 para a Assembleia de Freguesia de SS da Aramenha.
Soube a pouco, muito pouco, para aquelas que eram as nossas perspectivas e para aquilo que foi o nosso trabalho ao longo de 3 anos. É, portanto, em minha opinião, em termos de resultados uma derrota. Claro que existem muitas explicações e atenuantes, mas essas, por agora, ficam para outras núpcias.
A pergunta que urge fazer para reflexão futura é se, no contexto marvanense, alguma vez um movimento independente pode vir a ser governo. E digamos que, objectivamente, à luz do histórico já tentado, independentemente das pessoas que os integrem, será muito difícil. Falta, no entanto, uma opção: REPETIR (que foi algo que ainda não foi feito) daqui a 4 anos. Esta será a questão que se põe ao Marvão para Todos.
Até lá, resta-nos dignificar os
cargos para que fomos eleitos, respeitar os nossos valores e princípios e
representar os cerca de 300 eleitores que votaram em nós. Na democracia nem só
a voz dos vencedores tem o direito de existir. O direito e o dever de oposição
são de uma importância extrema e, às vezes, tão importantes como a governação.
Será aí que os marvanenses nos podem encontrar e contar conosco.
2 – O Partido Socialista
Em minha opinião o Partido Socialista
foi o maior perdedor destas eleições, apesar de ter ganhado 4 dos seis órgãos
em disputa. Tendo o seu grande adversário histórico, o Partidos Social
Democrata, “partido” em duas candidaturas (PSD e Viver Marvão) e certamente
ainda alguns (muitos) votos do Movimento Independente, o PS falhou o seu grande
objectivo que era: ganhar as eleições
para a Câmara Municipal.
O PS terá de fazer também uma grande
reflexão porque é que tal sucedeu e terá, tal como o Marvão para Todos, olhar
primeiro para dentro de si. Há no entanto, em minha opinião, alguns dados que
não devem ser ignorados:
1 – Porque é que o somatório de votos para as Assembleias de Freguesia são superiores em 200 votos do que para a Câmara Municipal? Sendo que em SA das Areias esse valor foi cerca de 100 votos e em Santa Maria 53 votos;
2 – Porque é que com escolhas de nomes de candidatos completamente diferentes do que há 4 anos; com um governo (vereação do PSD) desgastado e em fim de ciclo, com uma campanha megalómana em meios materiais e humanos, apenas conseguiram mais 40 votos do que em 2013 (713 - 671)?
Se não encontrarem respostas
rapidamente, começarem a trabalhar a sério em alternativas, se só pensarem em eleições e candidatos à pressa 6 meses antes das próximas eleições, arriscam-se a
mais 12 anos sem cheirarem a vitória na Câmara de Marvão.
3 – Coligações CDS/PPM “Viver Marvão”
Quase poderia afirmar, caso as suas
expectativas não fossem outras (Conquistar a Câmara), que José Manuel Pires e a
sua Coligação, teriam sido os vencedores destas eleições autárquicas.
Ao conseguir um resultado de 19 % para a Câmara Municipal (417 votos), eleição de 7 candidatos (1 Câmara + 3 AM + 1 Areias + 2 Aramenha), visto de fora, podemos dizer que foi um bom resultado. No entanto, quando sabemos que o grande objectivo desta candidatura era de ganhar a Câmara Municipal e demonstrar que ele, José Manuel Pires, era o melhor vereador do executivo em 12 anos, e que o povo de Marvão o apoiava maioritariamente (dizia ele); temos que admitir que, também esta candidatura, dificilmente pode ser tida como a vencedora destas eleições em Marvão.
Se juntarmos aos resultados obtidos
as polémicas com que se envolveu com a restante vereação, a sua rotura com o
PSD local onde certamente será difícil voltar, as acusações que fez ao
candidato vencedor, a sua não recomendável práxis enquanto vereador (Empresas
pessoais envolvidas em concursos municipais), etc.; José Manuel Pires jogou
aqui a sua grande cartada e, não ganhou.
Pelo que, em Marvão, ele não terá lá sido vencedor.
4 – PSD e Luís Vitorino
Os eleitores de Marvão elegeram Luís
Vitorino para presidente da Câmara Municipal. E o PSD, ao fim de 12 anos de
executivo maioritário, manteve a presidência da Câmara de Marvão.
Estes 2 factos, só por si, parecem reveladores de quem foi o vencedor das últimas eleições autárquicas no concelho Marvão. No entanto talvez não seja bem assim, senão vejamos:
- Esta candidatura do PSD perdeu
metade dos votos em relação a 2013 (1375 para 730);
- Perdeu a maioria absolutíssima na
câmara municipal. Passou de 4 para dois eleitos;
- Não conseguiu sequer eleger os eu “líder
espiritual” (Vítor Frutuoso) que passa de presidente para nem sequer ter lugar
como vereador;
- Perde a sua emblemática Junta de Freguesia (SS da
Aramenha) onde foi poder em 24 dos últimos 32 anos de poder autárquico; e passa de
primeira para terceiro;
- Perde a maioria absoluta na
Assembleia Municipal, passando de 11 para 6 membros, praticamente metade;
Por tudo isto Luís Vitorino não
poderá proclamar vitória e, o PSD, tem de pensar muito bem toda a sua
estratégia futura e o que anda a fazer por estas bandas.
A conclusão a tirar destas eleições é
que o poder absoluto caiu em Marvão. Só por isso valeu a pena a conjuntura
criada. A partir de agora e com a tomada de posse dos novos órgãos autárquicos,
terá de existir uma nova forma de governar o concelho, baseada em negociação e
equilíbrios, com consideração por todos os representante eleitos.
Esperemos que, cada uma das formações
com os mandatos que o povo lhes conferiu, saibam assumir as suas
responsabilidades. A quem os marvanenses conferiram o poder de governar que o
façam com elevação em prol do bem comum; e aqueles que na oposição, e em
maioria em diversos órgãos, sejam criteriosos e exigentes na apreciação e fiscalização dos
que governam.
Se assim for, certamente, a apreciação ou conclusão sobre quem terá ganhos as eleições em Marvão seja o menos importante; terá valido
a pena a construção de todas estas alternativas e, talvez, os marvanenses venham a beneficiar destes resultados e, finalmente, não se arrependam do seu voto em 2017.
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