Figura 1 - Evolução da Dívida Pública portuguesa
Quem são os Governos que elevam drasticamente a DÍVIDA?
- Mário Soares e José Sócrates....
POR CARLOS SANTOS
"Em 1983 o
governo português recorreu ao FMI. As medidas então adoptadas provocaram queda
da actividade económica, diminuição significativa do rendimento da maioria dos
portugueses, multiplicação de falências e um aumento brutal do desemprego. Foi
o tempo dos salários em atraso e das manifestações com bandeiras negras por
todo o país.
1983/1984 - Dois
anos que ficaram marcados pelos acordos com o FMI e pelo agravamento
extraordinário das condições de vida dos trabalhadores portugueses. Foi o tempo
em que o bispo de Setúbal, Manuel Martins, ergueu a voz para denunciar o
aumento significativo da fome no distrito e a praga dos salários em atraso. As bandeiras negras ficaram como
símbolo do protesto dos trabalhadores lançados no desemprego pela falência das
empresas ou que estavam com salários em atraso, os quais chegaram a atingir
mais de cem mil trabalhadores segundo os sindicatos.
Portugal
recorria pela segunda vez ao FMI. Já em 1977, com Mário Soares, tinha assinado
um primeiro acordo, para enfrentar o agravamento das contas externas perante o
disparar da factura energética devido ao primeiro choque petrolífero. Dessa
vez, além do empréstimo conseguido com o aval do FMI, o país vendeu mais de 111 toneladas de ouro.
Em 1983,
Portugal enfrentava uma grave deterioração das contas externas, com o
agravamento consecutivo do défice das transacções correntes (que subiu de 5% do PIB em 80, para 11,5%
em 81 e 13,2% em 1982). A dívida externa cresceu então significativamente,
e Portugal teve grande dificuldade em se financiar nos mercados financeiros
internacionais.
A degradação das
contas externas resultava de uma balança comercial tradicionalmente negativa,
afectada pela subida da factura energética, fruto dos choques petrolíferos dos
anos 70, com o agravamento drástico dos preços do petróleo. Simultaneamente, as
taxas de juro dispararam no início dos anos 80, fruto do advento do neoliberalista,
com a política da Reserva Federal dos EUA a fazer disparar as taxas de juro
internacionais, o que provocou a crise internacional das dívidas externas. Em
conjunto com estes factores, assistiu-se também a uma significativa queda das
remessas dos emigrantes, que antes compensava na balança das transacções
correntes parte do défice comercial.
A grave situação
das contas externas foi então um factor importante para a queda do Governo da
AD (PSD mais CDS), que levou à realização de eleições antecipadas em Abril de
1983. Dessas eleições resultou uma vitória do PS com maioria relativa e a
constituição de um Governo de bloco central, chefiado por Mário Soares e tendo
como vice-primeiro-ministro Mota Pinto, líder do PSD.
Com a subida de
preços, queda de salários reais, disparar do desemprego, o Governo do bloco
central iniciou de imediato conversações com o FMI, decorrendo as negociações a
partir de 18 de Julho e culminando com a assinatura do acordo, publicado em 9
de Setembro de 1983.
As medidas
tomadas pelo Governo em acordo com o FMI assentaram em:
- Desvalorização
do escudo (12% em Junho mais uma desvalorização deslizante de 1% por mês);
- Redução das
taxas sobre as importações de 30% para 10% no OE para 84;
- Aumento
drástico dos preços de bens essenciais (incluindo pão, óleos vegetais, rações
para animais, leite, açúcar, adubos e produtos petrolíferos, como refere a
carta de intenções), e redução dos subsídios a esses produtos;
- Congelamento
de investimentos públicos;
- Descida de
salários reais na função pública (“servindo de exemplo para as negociações
salariais do sector privado”, como assinala a carta de intenções), e congelamento
de admissões de trabalhadores;
- Subida de
impostos e imposição de um imposto especial sobre o rendimento - um corte de
28% no subsídio de Natal de 1983.
Em 1984, na
revisão do acordo, o Governo português comprometeu-se (aceda à segunda carta de
intenções dirigida ao FMI) com novos cortes no investimento; redução de
salários reais; aumentos de preços, nomeadamente electricidade, transportes
públicos, abastecimento de água, produtos petrolíferos, oleaginosas, açúcar;
manutenção da desvalorização do escudo em 1% ao mês.
No final de 84,
o défice de transacções correntes tinha descido para 6%, mas as medidas
acordadas com o FMI levaram, só em 1984, à queda do PIB em 1,4%, à descida dos
salários reais em 10%; a uma inflação recorde de cerca de 30%, e ao disparar do
desemprego para cerca de 10%.
Em Fevereiro de
85 Mota Pinto demitiu-se de líder do PSD. Em Abril de 1985 Cavaco Silva é
eleito novo líder, rompendo a seguir o acordo de Governo do bloco central com o
PS. Nas eleições de Outubro de 85 o PSD foi o partido mais votado, subindo de
27,2% para 29,9%, enquanto o PS caía
para o mais baixo resultado da sua história, descendo de 36,1% para 20,8%;
surgindo um novo partido - o PRD, da iniciativa do então presidente Eanes, que
obteve 17,9%."
Felizmente que em 1986 descobrimos a Europa...
1 comentário:
É, alguns responsáveis pela situação do país falam como se estivessem estado em Marte e caído agora aqui de paraquedas.
Bom fim de semana
Um abraço
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