quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Marvão em números – Pobres, mas com qualidade!!!


Recentemente foi divulgado um Estudo intitulado “Os Municípios e a Qualidade de Vida” – Tese de Mestrado apresentada na UBI da autoria de Fátima Gonçalves. Nesse trabalho dava-se conta que, Marvão ocuparia o 6º lugar do ranking entre os 308 concelhos do país, no que toca a qualidade de vida.

Nas eleições que se realizaram ultimamente, esse Estudo, foi utilizado diversas vezes pela candidatura de Vítor Frutuoso, com a intenção de convencer os marvanenses, que Marvão, seria um dos concelhos com melhor Qualidade de Vida e um dos que mais terá progredido a nível nacional, e, uma das zonas onde melhor se vive neste Portugal de pobres. Fez-se, inclusivamente, seu uso, através de um testemunho do Professor Universitário Paulo Jorge Nunes e que reproduzo de seguida: 


(Clicar sobre a imagem para ler melhor)


Não tenho a mínima intenção de por em dúvida tal Estudo, não o conheço profundamente, nem sei a totalidade das variáveis aí utilizadas, que levaram a tal conclusão. Nem tal, para mim, está em discussão. O que hoje venho divulgar são alguns dados (alguns com a mesma origem do citado Estudo), que me parecem pertinentes para se viver, ou pelo menos para se sobreviver em Marvão, ou em qualquer outro lugar do mundo, e, que no mínimo devem ser do conhecimento público, para não nos andarem a vender gato por lebre.

Eu sei como se vive em Marvão (ali nasci, ali trabalhei, ali vivi durante muitos anos), e também conheço outras realidades; por isso acho, no mínimo estranho, esta classificação da qualidade de vida! Conheço as dificuldades de quem lá vive, e a sua forma peculiar de lhes fazer face. Um concelho que tem, a nível do distrito de Portalegre o pior poder de compra, o mais baixo salário médio, ocupa o 4º lugar na taxa de analfabetismo, e o 11º lugar na taxa de empregabilidade, não poderá, na minha modesta opinião, ser apontado como um grande exemplo em Qualidade de Vida!

O que também me custa aceitar e perceber, é as alternativas eleitorais que se apresentaram a Vítor Frutuoso, não terem contraposto e confrontado com dados como estes, e, a sua evolução nos 8 anos do seu consulado. Tal como não questionaram as razões para os gastos de 500 000 euros do erário público efectuados no mês anterior às eleições. Quem quiser estar na vida pública tem de a conhecer nas suas múltiplas variáveis, e não a conhecendo, deveriam estudar e informar-se.

Para comprovar o que acabo de afirmar, apresento hoje 3 indicadores de cariz económico: - Salário Médio, Poder de Compra e Taxa de Emprego; e no próximo Post apresentarei outros de cariz social, que me parecem de alguma importância para avaliar a qualidade de vida de uma comunidade. Os dados foram colhidos aqui, e alguns têm a mesma fonte de origem do estudo supracitado (a Universidade da Beira Interior), outros na Pordata. Os quadros são de minha autoria. 

Marvão em números:

(A maioria dos dados são de 2011 (últimos disponíveis), mas a realidade não se deve ter alterado muito)


1 – Salário Médio (ilíquido) 



Como se pode ver no Quadro 1, no que toca ao Salário Médio no distrito de Portalegre, Marvão ocupa o último lugar, com apenas cerca de 680 euros/mês. Este valor é apenas 60% do que se ganha em Campo Maior, e não chega a 90% do que se ganha em Castelo de Vide que é o concelho mais próximo. Comparando com o salário médio nacional que é de 958 euros, podemos dizer que em Marvão se ganha, em média, cerca de 300 euros a menos do que no país.

Para a tristeza ser maior, Marvão é o concelho abaixo do Tejo com o valor mais baixo de "Salário Médio". E a nível nacional, só encontrei pouco mais de uma dezena de concelhos com valores inferiores.

2 – Poder de Compra 



Também neste indicador, o concelho de Marvão é o que tem pior Poder de Compra no distrito de Portalegre, como se pode ver no Quadro 2. Tendo em conta o valor 100 de referência para nível nacional, podemos verificar que no concelho de Marvão, o Poder de Compra é apenas de 60% do nível nacional; é inferior a 13% do que em Castelo de Vide; e menos 48% do que no concelho de Portalegre.

Nos concelhos abaixo do Tejo, só 6 apresentam um "Poder de Compra" inferior a Marvão, e são: Mourão, Alandroal, Portel, Mértola, Monchique e Alcoutim

3 – Taxa de Emprego 

Em Portugal, estima-se, que a Taxa de Emprego seja de 48% para os portugueses com mais de 15 anos. No distrito de Portalegre essa taxa é de 41,2%.

Em Marvão, da população com mais de 15 anos, apenas 38,3% das pessoas têm emprego, isto é cerca de 1200 marvanenses. Destes: 8% (96) trabalham no sector primário; 19 % (228) no sector secundário; e 73% (876) no sector terciário. 




Constatamos assim, como se pode ver no Quadro 3, que Marvão ocupa também no que toca à empregabilidade, um dos últimos lugares no distrito onde é 11º, entre 15 concelhos. Esta Taxa é 10% inferior á Taxa nacional, e cerca de 3% inferior à Taxa distrital.

 Conclusão:

Se nestes Indicadores somos os últimos no distrito de Portalegre, como poderemos ser o 6º concelho, ao nível nacional, em Qualidade de Vida? Que me desculpem os estudiosos, mas qualidade de vida, nestas condições, só se for pelo ar puro e as excelentes vistas das muralhas.

Nota: No próximo Post darei a conhecer outros Indicadores de nível social. 

6 comentários:

Luís Bugalhão disse...

Excelente.

Anónimo disse...

Obrigado, vindo da tua parte (o meu maior e melhor crítico, deve ser pelo menos bom (pequeno)....

Fernando Dias disse...

Bom trabalho, JBuga!

Ficamos, então, à espera dos indicadores restantes...

Abraço
Fernando Bonito

João, disse...

Na rede “Facebook” recebi os seguintes comentários sobre o tema, e aos quais tentei responder, porque me parecem importantes para enriquecer a discussão, aqui os publico:

Nuno Henrique Lança Mota:
- Salário médio em Portugal em 2011: 958 Euros/mês ???????????????? Hum ....

João Bugalhão:
- Tens dados para contrariar, ou falas de cor? Olha que a falar de cor, anda por aí muita gente, e não costuma ser o teu estilo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Nuno Henrique Lança Mota:
- Apenas pergunto! 958 Euros parece-me uma verba muito alta !!!! Mas eu não disse que era mentira, apenas questionei !!!!!

João Bugalhão:
- Tens lá o estudo de base! Não fui eu que colhi os dados. Foi a Universidade de Aveiro e Universidade da Beira Interior.

Nuno Henrique Lança Mota:
- Mas viste-me em algum lugar a chamar-te mentiroso ???? Posso é duvidar da veracidade do estudo !!!!! Ou da forma como foi feito !!!! É tão fácil manusear números !!!!!

João Bugalhão:
- Tem em conta que estamos a referir salário ilíquido (bruto).

Nuno Henrique Lança Mota:
- Tudo isso eu tenho em conta !!!! Até o ano !!!!!!

João Bugalhão:
- Dados de outro estudo referido no DN para 2012, (mas para ordenado médio líquido): "O salário médio líquido em Portugal, que não ultrapassou os 808 euros este ano". O que quer dizer que bastariam descontos de 150 euros e estaríamos naquele valor bruto (digo eu).

Nuno Henrique Lança Mota:
- OK

João Bugalhão:
- Outro Valor da insuspeita PORDATA (que não vejo ninguém por em causa) - 1 083 euros em 2011


Clarimundo Mota Lança:
- Ó Nuno há gaijos a ganhar buéeeeeeeeeeeeeeeeeee....

Maria Isabel Barradas Ludovino:
- É pena nem todos os marvanenses acederem a estas publicações sustentadas!

Clarimundo Mota Lança:
- Sustentadas em quê? em falácias..."A velha piada envolvendo estatísticas é que se um homem comer dois frangos e o outro fizer jejum, na média ambos terão comido um frango cada e estarão bem alimentados". BALELAS E BASÓFIAS

João Bugalhão:
- Pois, meu caro Clarimundo, para ti não é fácil a resposta! Só talvez esta: Cada um de nós é único, mas também faz parte das estatísticas!
As estatísticas valem o que valem, são dados que nos devem ajudar, tentar conhecer o que está por detrás dos números. As estatísticas isoladas, valem pouco, mas quando dizem respeito a pessoas devemos tê-las como ferramentas para nos ajudarem, e só isso. Resumi-las a "balelas e basófias" (ou a anedotas)? Não me parece lá muito "inteligente", sobretudo vindo da tua parte. Mas olha isto na vida, cada um é como cada qual, e, cada qual é.....

(Continua)

João, disse...

(continuação)

Clarimundo Mota Lança:
- Sim eu sei o que são estatísticas e para o que servem e para quem servem, mas servimo-nos delas para justificar o que não tem justificação, porque se sabe e está escrito que 95 % da população vive abaixo desses patamares e que são os outros 5 % que comem os frangos....mas adiante...Já me tinha prometido a mim mesmo não ir contra os moinhos...e poderes instituídos, mas não tenho vergonha (ou terei é muita?)...como é e eu sou como sou!

João Bugalhão
- Caro Clarimundo concordo mais com este teu comentário. Só não estou de acordo com as percentagens que apresentas. Não te esqueças que nos números que apresentei (e sobre esses é que eu esperava impacto e discussão), é que no concelho de Marvão, esse "ordenado médio" é de apenas de 680 euros (o mais baixo de todos os concelhos a sul do Tejo), e que, para esse valor, apenas contam as 1 200 pessoas que têm emprego (1/3 dos marvanenses). Os restantes: os reformados, os desempregados (desses só 20% recebem subsídio de desemprego), e os outros, que ainda têm menos.

Eu não disse que cada marvanense tinha 680 euros! Disse que o ordenado médio de 1 200 marvanenses é de 680 euros! Nem que cada português tinha 958 euros! O que eu disse é que o ordenado médio dos portugueses que trabalham (ou têm emprego) ronda os 958 euros.

Sempre a considerar-te, e para mim que sou descendente de moleiros, podes sempre vir "em contra", só que eu não tenho moinhos! Nem qualquer poder (muito menos instituído)...

Clarimundo Mota Lança
- As falácias não são os teus estudos são as bases onde eles se assentam, aí sim discordo deles... Dois abraços.

João Bugalhão
- Pois, assim tu é que sabes...

Anónimo disse...


Parabéns!! Concordo plenamente...
No dia em que a qualidade de vida se medir pelo ar puro e as excelentes vistas das muralhas, Marvão terá o 1º lugar no ranking distrital e ocupará talvez um dos 10º primeiros a nível nacional.
...Até lá não preciso de mais indicadores para opinar firmemente
que qualidade de vida é muito mais que isso...

Sou Marvanense e amo a minha terra...
(In)felizmente não me deram condições para continuar a viver lá...mesmo para os "persistentes" sinto que o valor é demasiado elevado para permanecer, tudo é tirado a ferros...apesar de se ver o mundo inteiro, não se vive só de vistas...