Numa época em
que tanto se fala de heranças e sacrifícios de gerações: - Ai coitadinhos têm
que emigrar, ai que desgraça de país, ai que temos que pagar privilégios de
gerações anteriores...; convém lembrar que hoje, enquanto cidadãos europeus,
Londres, Paris ou Berlim ficam à distância de 2 horas.
Nas décadas de
60 e 70, “a cidade”, a capital, ficava para a maioria dos portugueses a 9 e 12
horas de distância. As visitas à família faziam-se uma a duas vezes por ano. Eu
ainda apanhei esse tempo. De Lisboa a Marvão eram 8 ou 9 horas de viagem.
Quando em Agosto de 1971, com 14 anos de idade tive que rumar à vida (para bulir,
não para ir para qualquer “facoldade”
manhosa), à grande urbe, só voltei pelo Natal, e depois em Agosto do ano
seguinte.
A todos aqueles que
nas décadas de 60 e 70 do século passado (os nascidos nas décadas de 40 e 50),
dedico esta música da minha vida:
“Fiz-me à cidade, toda aldeia estava em
minha busca, procurando os sítios onde eu era o «rei», perto das silvas, junto à
ribeira. Vêm as velhas a quem eu fazia os seus recados, e vêm os homens que
nascem nas fábricas, e oiço dizer: - Não tenhas medo! Não tenhas medo.
E olho para trás e vejo estes dias tristes.
Recordo Teresa e o primeiro beijo, perto das silvas junto à ribeira.
Aqui neste comboio, fujo da tristeza, fujo
da miséria, já nada me impede, corro contra o vento, corro atrás do tempo, não
pode haver pior, não quero mendigar: - Vou para a cidade, vou para cidade...
E adormeço, sonho com a cidade, a capital!
Vejo uma mosca atrapalhada, e oiço dizer:
- Não tenhas medo! Não tenhas medo...”
1 comentário:
Já para não falar que emigrar naquele tempo era ir para o desconhecido, outra língua, outra realidade que nem sequer se conhecia.
Um abraço
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