quinta-feira, 10 de outubro de 2013

No rescaldo das eleições autárquicas 2013 (1)


(Há coisas que se devem deixar resfriar um pouco)

Os portugueses têm por tradição histórica não perder muito tempo com o passado, independentemente, de este ter sido um sucesso ou um desastre. Dizem, como divisa, que o que é preciso é olhar e andar para a frente, e, que o passado pouco interessa. Quando a coisa correu bem é o siga a marinha, que somos um país de marinheiros, é o para a frente é que é lesboa, e, para trás “mija a burra”! Quando corre mal é o destino, vamos lá esquecer, enterrar, que isto não há mal que sempre dure e, como diz o outro: - O Benfica há-de um dia ser campeão.

Em minha opinião, quer uma coisa, quer a outra, nada de mais errado. Se tal ainda se possa aceitar, quando correu bem, já é inaceitável quando a coisa dá para o torto. E neste último acto eleitoral, muita coisa correu mal para alguns (muitos), e, objectivamente, não vi até agora análises sérias aos erros, justificações, e/ou consequência para os responsáveis, que os deve haver. E assim, se passa à frente, na próxima faremos igual e os erros serão, quase de certeza, repetidos, e quem vier a trás que feche a porta...

Esta minha análise aborda três vertentes: a nível nacional, regional (o distrito de Portalegre), e local (o meu concelho de Marvão).

A nível nacional:    

O Partido Socialista (PS) ganhou inequivocamente estas eleições: teve o maior número de presidências de Câmara, e teve a maioria de votos dos portugueses. A CDU registou também um aumento de presidências de Câmara (paradoxalmente, à custa de derrotas do PS). O CDS nem sim nem não, antes pelo contrário: passou de uma para cinco presidências de Câmara, mas perdeu muitas em coligação com o PSD e, entre o deve e o haver, não sei o saldo.

Grandes vencedores foram ainda algumas candidaturas independentes, tendo a sua expressão máxima com Rui Moreira no Porto (um feito dificilmente igualado, e uma lição política para os decisores partidários, que mostraram aqui, que de política local percebem mesmo muito pouco); mas também Portalegre (que analisarei no próximo capítulo), que tem sido pouco referida a nível nacional devido à sua pequenez, mas que em minha opinião, está ao nível, ou mesmo superior ao que aconteceu no Porto.

Ainda como grande vencedor, não posso deixar de realçar a vitória de Bernardino Soares em Loures. O até agora líder parlamentar do PCP (não fosse um admirador confesso do regime norte-coreano, e seria um dos meus heróis da noite de 29 de Setembro). Isto sim é de coragem. Ter um lugarzinho sossegado na AR como deputado, à sombra da foice e do martelo, e lançar-se numa aventura de sujeição ao voto popular, e vencer. Parabéns Bernardão!


Mas a minha especial atenção, vai para os grandes derrotados: o PSD e alguns dos seus dirigentes (embora pelas mesmas razões, também os haja no PS). Apesar de haver razões sobejamente conhecidas e debatidas para alguns maus resultados já esperados (devido à conjuntura nacional e governativa); existiram, no entanto, resultados intoleráveis que se ficaram a dever a opções manhosas, que deveriam responsabilizar os próprios, mas também quem os escolheu ou aceitou. Bem como terem as consequências previstas em democracia para quem falha por conta própria, ou não tem a confiança dos eleitores: A DEMISSÃO.

Em primeiro lugar do Coordenador Autárquico partidário, Jorge Moreira da Silva e do Secretário-geral Matos Rosa (apesar de nosso conterrâneo). Podem ser muito bons em alguma coisa, mas como estrategas políticos são uma nulidade, e disso estão fartos de dar provas. E quais as consequências? Um promovido a ministro (à portuguesa); o outro por lá continua à sombra das laranjeiras. Haja decência.

Em segundo lugar alguns dos que andam a ser eleitos à sombra do Partido (PSD), em listas colectivas para deputados, mas quando dão a cara, ou corpo ao voto, o povo diz que neles não confia, e infringe-lhes derrotas que os deviam envergonhar. Estão neste caso, pelo menos, os deputados: Carlos Abreu Amorim (em Vila Nova de Gaia), Pedro Pinto (em Sintra); e mais uma vez, Matos Rosa (Portalegre), que apesar de ser candidato à Assembleia Municipal, os resultados foram ultrajantes. Quando existiam outras alternativas credíveis de pessoas sempre ligadas ao PSD, e que alguns acabaram vencedores em listas independentes. Vencer no Porto (se apoiassem Rui Moreira), Vila Nova de Gaia (se apoiassem José Guilherme Aguiar), Sintra (se apoiassem Marco Almeida), Portalegre (se apoiassem Adelaide Teixeira); a derrota teria sido muito amenizada, e penso que até poderiam cantar vitória. 

Em terceiro lugar, a grande derrota dos “salta-pocinhas” ou “os cucos”: Luís Filipe Menezes (Porto); Moita Flores (Oeiras); e Fernando Mota (Loures). Então os senhores que podiam sair pela porta grande (nem todos, alguns a dívida que deixaram...) vão-se armar em heróis? Que grande lição da débil democracia portuguesa! Vão para casa cuidar dos netos, ou das jovens esposas aqueles que as têm, ou escrever umas novelas nem que seja para a TVi.

Todos os envolvidos nestas três situações prestaram um mau serviço à democracia, e sobretudo ao PSD, e, disso deverão tirar as respectivas consequências).

(Para não maçar mais, no próximo capítulo farei a análise regional)          

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