sábado, 19 de outubro de 2013

As músicas da minha vida (4)

Versão 1

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado, e com letra bonita dizia que ela tinha um sorriso luminoso, tão triste e gaiato, como o sol de Novembro, brincando de artista nas acácias floridas, e na fímbria do mar.

Sua pele macia era sumaúma, sua pele macia cheirando a rosas, e seus seios laranja, laranja do Loge! Eu mandei-lhe essa carta, e ela disse que não!

Mandei-lhe um cartão, que o amigo maninho tipografou: por ti sofre o meu coração! Num canto 'sim', noutro canto 'não'. E ela, o canto do 'não': dobrou.

Mandei-lhe um recado, pela Zefa do sete, pedindo e rogando de joelhos no chão, pela senhora do Cabo, pela santa Efigénia, me desse a ventura do seu namoro. E ela disse que não!

Mandei à vó Xica quimbanda de fama, à areia da marca que o seu pé deixou, para que fizesse um feitiço bem forte e seguro, e dele nascesse um amor como o meu. E o feitiço falhou!

Andei barbado, sujo e descalço (como um monangamba) procuraram por mim: - não viu... (ai não viu não?), não viu Benjamim. E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair levaram-me ao baile do Sr. Januário, mas ela lá estava num canto a rir, e contando o meu caso às moças mais lindas do bairro operário...

Tocaram a rumba e dancei com ela, e, num passo maluco voámos na sala. Qual uma estrela riscando o céu! E a malta gritou: - Aí Benjamim!

Olhei-a nos olhos, sorriu para mim. Pedi-lhe um beijo! Lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá: - E ela disse que sim...



Versão 2

Mandei-lhe uma carta, em papel perfumado, e com letra bonita, dizia que ela tinha, um sorriso luminoso tão triste e gaiato, como o sol de Novembro, brincando de artista, nas acácias floridas, espalhando diamantes, na fímbria do mar, e, dando calor ao sumo das mangas.

Sua pele macia era sumaúma, sua pele macia da cor do jambo, cheirando a rosas, sua pele macia, guardava as doçuras do seu corpo rijo. Tão rijo e tão doce como o maboque; seus seios laranja, laranja do Loge; seus dentes marfim. Mandei-lhe essa carta, e ela disse que não!

Mandei-lhe um cartão, que o amigo maninho tipografou: “ por ti sofre o meu coração”, num canto 'sim', noutro canto 'não'. E ela, o canto do 'não':dobrou!

Mandei-lhe um recado pela Zefa do sete, pedindo e rogando de joelhos no chão, pela senhora do Cabo, pela santa Efigénia, me desse a ventura do seu namoro. E ela disse que não!

Levei à vó Xica quimbanda de fama, à areia da marca que o seu pé deixou, para que fizesse um feitiço bem forte e seguro, e nela nascesse um amor como o meu. E o feitiço falhou!

Esperei-a de tarde à porta da fábrica, ofertei-lhe um colar, um anel e um broche, e, paguei-lhe doces na calçada da Missão, ficámos num banco do largo da Estátua, afaguei-lhe as mãos, falei-lhe de amor! E ela disse que não!  

Andei barbudo, sujo e descalço, e como um monangamba procuraram por mim: - não viu... (ai não viu?), não viu Benjamim. E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair, levaram-me ao baile do sô Januário, mas ela lá estava num canto a rir, contando o meu caso às moças mais lindas do bairro operário. Tocaram a rumba e dancei com ela, e, num passo maluco voámos na sala. Qual uma estrela riscando o céu! E, a malta gritou: - Aí Benjamim!

Olhei-a nos olhos, sorriu para mim. Pedi-lhe um beijo! Lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá: - E ela disse que sim...

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Sérgio Godinho, um dos melhores fazedores de canções.

Um abraço