sábado, 21 de junho de 2014

O mundo dos outros


António Costa, o do PS, visto por António Costa, jornalista de Diário Económico.


A terceira via de António Costa
por António Costa

"O putativo novo líder do PS, pelo menos de acordo com a opinião publicada, vai ter de fazer muito mais do que afirmar a paixão pelo crescimento económico e garantir que essa é a terceira via, que o Governo não quer seguir, para resolver os problemas do país.

A alternativa (?) de António Costa ao corte de despesa e ao aumento de impostos não é rica, nem gera riqueza, é pobre e, sem mais, só servirá para criar uma ilusão, a que nos trouxe até aqui.

António Costa ainda não disse verdadeiramente ao que vem, e a participação semanal na Quadratura do Círculo, as críticas a Pedro Passos Coelho pelo que faz e a António José Seguro pelo que não faz, não chegam para construir uma alternativa. Nem ao actual líder do PS, menos ainda ao primeiro-ministro.

Será, talvez, importante, recordar a António Costa o que escreveu o Banco de Portugal ainda esta semana: ""O reconhecimento por parte dos agentes políticos e sociais da restrição [financeira intertemporal com que o sector público se defronta] é fundamental para que o debate sobre opções de política se situe no terreno do realizável e seja, por isso, um debate consequente". E qual é o ponto de partida? 

De um défice estrutural de 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, e com base num conjunto, conservador, de variáveis, é preciso chegar em 2019 a um défice estrutural de 0,5%, o limite do Tratado Orçamental, qual seria, afinal, o nosso esforço orçamental: de acordo com as contas do Banco de Portugal, será preciso juntar medidas no valor de 6,7 mil milhões de euros (4% do PIB) para o país chegar a 2019 com 0,5% de défice estrutural. Dito de outra forma, corresponde a metade do enorme esforço aplicado nos últimos três anos.

Depois desta leitura rápida - António Costa pode ter acesso ao link directamente no site do Banco de Portugal - a ideia de que poderemos resolver os nossos problemas com crescimento económico, qual varinha mágica que tínhamos à mão mas não utilizamos, é no mínimo pueril. Ou, pior. Quererá dizer que António Costa vai rasgar o Tratado Orçamental, aliar-se à CDU e BE e pedir a saída do euro? Não creio.

Sobra uma terceira via, António Costa quer ganhar o PS sem dizer nada. E isso, provavelmente, chegará, mas não chega para ganhar o país, porque todos querem crescimento económico, António José Seguro e Pedro Passos Coelho incluídos. A equação é difícil, mas uma coisa é certa, com este nível de impostos, não será possível ter mais poupança e, logo, mais investimento. Mas, com este nível de despesa, não será possível baixar os impostos, nem em ano eleitoral, porque os investidores e a ‘troika' cá estarão para nos lembrarem da nossa restrição financeira activa.

Não bastará ter boa imprensa, como tem o presidente da câmara de Lisboa, para ultrapassar esta restrição. Como é que se saí disto, António Costa?"

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