E agora Presidente?
Tal como aqui expus,
nos três artigos que precederam este com os mesmos títulos - Coisas muito feias, a história do consulado de Vítor Frutuoso na
Câmara Municipal de Marvão, por muito meritória que venha a ser, ficará
sempre manchada por este triste episódio de promiscuidade entre as relações da gestão da
coisa pública e as relações com "agentes" que moem dois carrinhos.
Os novos factos, vindos agora
a público provam, que tudo o que aqui escrevi, era verdadeiro, e se o senhor
Presidente andasse um pouco mais atento, talvez lhe evitasse alguns
contratempos que se advinham.
Em
resumo, para recordar os mais esquecidos ou aqueles que só agora tenham
contacto com o sucedido, o que se passou foi que uma Empresa (Sabores do Norte
Alentejano) da qual era sócio um Vereador (José Manuel Pires) que detinha uma
quota de 25% do seu capital (superior aos 10% permitido por lei para poder candidatar-se a concurso), concorreu a um concurso público da Câmara
Municipal de Marvão (onde nem sequer deveria ter sido aceite a concurso), da
qual era Vereador em Regime de Permanência.
O que se seguiu
é um imbróglio de ignorâncias e incompetências (para não lhe chamar outras
coisas), típico da política à portuguesa.
Um bem público (o Restaurante da
Piscina) propriedade da Câmara Municipal, é cedido em “Contrato de Cessão”, à
Firma do senhor vereador. Por ignorância da lei (?), a Vereação e os Serviços Técnicos
de apoio, acharam que os concursos apenas são regulados pelo Código de Procedimento Administrativo (CPA), e para tal, bastava apenas que o senhor vereador não tomasse
parte na decisão (quando existem até fortes indícios que até isso
aconteceu, recorrendo-se, posteriormente, a emendas e alterações abusivas de
uma tal Acta, que até esteve publicada no site da autarquia, onde se dizia, que a
decisão tinha sido tomada por unanimidade).
Perante denúncia
às autoridades competentes, decorre um processo no Tribunal Judicial de Castelo
de Vide (de que resultou as buscas da Polícia Judiciária), e não apenas no
Tribunal Administrativo de Castelo Branco como o senhor Presidente quer fazer
querer. Sendo que, em causa, não está apenas um mero não cumprimento do CPA,
mas também, e sobretudo, o não cumprimento da Lei das Incompatibilidades dos Eleitos Locais.
Soube-se agora,
através de Documentos levados à última Reunião de Câmara, que mesmo perante
toda esta trapalhada, e quando o bom
senso aconselharia o senhor Vereador e os seus familiares directos a saírem deste
processo o mais rápido possível, que
está a por em causa todos os Membros da Câmara, tiveram ainda a desfaçatez, de virem requerer, a “renovação do dito
contrato para mais 3 anos”, como se pode ver na Figura 1.
Figura 1 - Pedido de renovação do Contrato de Cessão do Bar das Piscinas
Para que tal
sucedesse, alegaram que o Senhor Vereador, já havia passado a sua parte da Quota na Empresa para a sua mãe e seu irmão (??). Como se estes não fossem seus familiares
colaterais em 1º ou 2º Grau, logo, também fora da lei, incorrendo na mesma ilegalidade, e alegando ainda, que
tinham um "parecer jurídico" dizendo que tal era legal (mas que nunca apresentaram, segundo se pode ler na Proposta que o Presidente levou a Reunião de Câmara).
No entanto,
parece que desta vez Vítor Frutuoso acordou, e resolveu pedir um parecer
jurídico a um Jurista! E claro, até
uma criança de colo adivinhava o resultado, e as principais conclusões, desse
parecer, são bem explícitas, como se pode ver na Figura 2:
Figura 2 - Conclusões do parecer jurídico pedido por Vítor Frutuoso
(No final deste Post, para os mais curiosos, publico
na integra o Parecer)
Perante este
parecer arrasador para todo o processo da Câmara Municipal de Marvão, ao Presidente Vítor Frutuoso, não restou outra hipótese que levar à
última Reunião de Câmara uma Proposta para a não renovação do referido
contrato, como se pode ver na Figura 3:
Figura 3 - Proposta do Presidente para não renovação do Contrato com Empresa "Sabores do Norte Alentejano Lda"
Conclui-se assim,
estarmos na presença de mais uma triste história de exercício do Poder Local, e
para que a culpa não morra solteira (como dizia o outro), e para além das
consequências do processo judicial a decorrer (que há-de dar em nada, como
todos os processos idênticos em Portugal), aqui deixo algumas das minhas
reflexões, e alertas, para não pensarem que nos comem por parvos:
1- O Presidente
sempre tentou fazer querer, tanto neste processo como no Depósito de Água, que não sabia que as Empresas eram do
senhor Vereador. Se o Vereador nunca lhe disse, isso é uma quebra de lealdade
do Vereador. E se lhe disse (porque disse, pelo menos através dos documentos
que entregou, e que eram do conhecimento público), é uma incompetência do
Presidente e dos seus assessores!
2 – Se todo o
Processo era tão claro, e não precisava de ser nenhum Jurista a vir fazer um
parecer, eu próprio, já em Fevereiro de 2014, aqui havia escrito a conclusão a que chegou agora esse parecer, por que carga de água andou o
Presidente a inventar desculpas, não investigou imediatamente, não pediu mais cedo o parecer jurídico, e tomou
decisões?
3 – Se o
Presidente sente que foi enganado, num processo que pode levar à perda de
mandato (do vereador ou de toda a vereação), que até já alegou para não renovar o referido contrato que esse processo sofre de “vícios” (quais?), que consequências
institucionais e políticas pensa tirar?
Para mim as
coisas são bem claras, e se isto fosse uma democracia séria e um estado de direito, deveriam acarretar responsabilidades e as respectivas
consequências, que em minha opinião seriam:
- Ou o Vereador
com dignidade e humildade, antes que as coisas se tornem insustentáveis,
deveria pedir a demissão para não arrastar todo o Executivo.
- Ou o
Presidente acha que houve quebra de lealdade institucional, e deveria retirar a
confiança política e respectivo estatuto de Vereador em Permanência a José Manuel Pires. Se o não
fizer, pelo menos não se irá livrar da fama, de ser conivente, com a situação. Sendo ele o primeiro responsável perante a justiça.
- E a Oposição
política ao Executivo? Se se calar, é porque consente...
Segue-se o parecer jurídico, na íntegra, do
Jurista da CIMMA:
1 comentário:
"A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima", por vezes demora, mas neste caso não falhou.
Um abraço
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