Há quem já o defina
como um dos melhores comentadores da actualidade, João Miguel Tavares, a mim
ainda não me convenceu muito, talvez não o tenha ainda trazido bem debaixo de
olho. Daqui para diante vou estar atento. Este artigo, apesar de eu não
concordar inteiramente com ele, parece-me, no entanto, bastante lúcido, e por
isso, aqui o partilho com os meus amigos. Não deixem de o ler até ao fim.
Simplesmente patético
por João Miguel
Tavares
“Este é um texto arriscado, porque é
possível que à hora que o leitor me estiver a ler alguém tenha conseguido enfim
explicar a António José Seguro – recorrendo a desenhos com lápis de cor, talvez
– porque é que a sua situação é insustentável.
Mas eu tenho grande confiança nas
dificuldades de compreensão do actual secretário-geral do PS, e portanto
acredito que ele ainda esteja por esta altura a andar em círculos no seu
gabinete, meditando acerca da convocação de um congresso extraordinário.
No início da noite de ontem, após a reunião
dos dois Antónios no Largo do Rato, o PS emitiu um comunicado dizendo apenas
que o secretário-geral “registou” a opinião de António Costa. Registou mas,
pelos vistos, não assimilou. Perante o desafio de Costa, qualquer líder com
dois dedos de testa, um pingo de coragem e módica confiança no seu poder,
diria, antes sequer de piscar os olhos: “Vamos à luta.” A sua vitória em
congresso legitimar-lhe-ia a liderança e daria novo fôlego para as
legislativas. A sua derrota provaria que ele não era, de facto, o líder certo
para o PS, e antes o colapso interno em 2014 do que um irremediável estampanço
nacional em 2015. Mas o que fizeram até agora Seguro e os seus fiéis?
Preferiram refugiar-se nos estatutos, que é a versão política do ir a correr
para debaixo das saias da mamã. Lamento dizê-lo: é uma homérica cobardia
política. E se o povo detesta este governo e tudo o que aquilo que ele tem
feito, detesta muito mais políticos tíbios e amedrontados.
Que Seguro não perceba isto diz muito acerca
das suas extraordinárias capacidades analíticas. Costa pode até não ter as
espingardas necessárias, mas tem o napalm da comunicação social, que vai
transformar Seguro em picadinho nos próximos dias – aliás, já está a
transformar Seguro em picadinho –, por muito que ele tente esconder-se na
caserna. Se o actual líder do PS não se apressar a fazer figura de homem, será
cozido em lume não-assim-tão-brando até ao próximo Conselho Nacional e, quando
lá chegar, já estará devidamente tenrinho e pronto para ser trinchado pelos
comensais. A política não perdoa os meias-tintas.
E Seguro, infelizmente para ele (e para o
país, se continuar a liderar a oposição), é o rei das meias-tintas. Tem sido
meias-tintas nas suas promessas eleitorais, feitas de juras ao cumprimento do
Tratado Orçamental e de negação da austeridade, um daqueles contorcionismos
político-económicos que só convence mesmo Carlos Zorrinho. Foi meias-tintas
quando recusou a mão que Cavaco Silva lhe estendeu no Verão Quente de 2013, ao
propor um acordo de regime em troca de eleições no pós-troika. Seguro teve medo
da voz grossa de Soares e companhia e recuou à última da hora. Mas também foi
meias-tintas quando ficou a meio caminho nas críticas ao consulado de Sócrates
– o seu silêncio embaraçoso não lhe permitiu ganhar o respeito da direita, mas
atraiu o ódio dos socráticos, que não lhe perdoaram a distância em relação ao
mestre (mestre, de mestrado). Basta olhar para a forma como estão agora a
reagir nos media e nos blogues. Chegou a hora do ajuste de contas.
Coloque-se a adornar tudo isto, qual cereja
em cima do bolo, o mais patético discurso da noite eleitoral (“o PS teve uma
grande vitória, uma grande vitória eleitoral!”) e não chega a espantar que
António José Seguro esteja onde está – à beira do abismo. Andar em frente será
apenas um pequeno passo para ele, mas um grande salto para Portugal.”
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