Recentemente foi
divulgado um Estudo intitulado “Os Municípios e a Qualidade de Vida” – Tese de
Mestrado apresentada na UBI da autoria de Fátima Gonçalves. Nesse trabalho
dava-se conta que, Marvão ocuparia o 6º
lugar do ranking entre os 308 concelhos do país, no que toca a qualidade de
vida.
Nas eleições que
se realizaram ultimamente, esse Estudo, foi utilizado diversas vezes pela candidatura de Vítor
Frutuoso, com a intenção de convencer os marvanenses, que
Marvão, seria um dos concelhos com melhor Qualidade de Vida e um dos que mais
terá progredido a nível nacional, e, uma das zonas onde melhor se vive neste
Portugal de pobres. Fez-se, inclusivamente, seu uso, através de um testemunho do
Professor Universitário Paulo Jorge Nunes e que reproduzo de seguida:
(Clicar sobre a imagem para ler melhor)
Não tenho a
mínima intenção de por em dúvida tal Estudo, não o conheço profundamente, nem
sei a totalidade das variáveis aí utilizadas, que levaram a tal conclusão. Nem
tal, para mim, está em discussão. O que hoje venho divulgar são alguns dados
(alguns com a mesma origem do citado Estudo), que me parecem pertinentes para
se viver, ou pelo menos para se sobreviver em Marvão, ou em qualquer outro
lugar do mundo, e, que no mínimo devem ser do conhecimento público, para não
nos andarem a vender gato por lebre.
Eu sei como se
vive em Marvão (ali nasci, ali trabalhei, ali vivi durante muitos anos), e também
conheço outras realidades; por isso acho, no mínimo estranho, esta classificação da qualidade de vida! Conheço as dificuldades de quem lá vive, e a sua
forma peculiar de lhes fazer face. Um concelho que tem, a nível do distrito de Portalegre o pior poder de compra, o mais baixo
salário médio, ocupa o 4º lugar na taxa de analfabetismo, e o 11º lugar na taxa
de empregabilidade, não poderá, na minha modesta opinião, ser apontado como
um grande exemplo em Qualidade de Vida!
O que também me
custa aceitar e perceber, é as alternativas eleitorais que se apresentaram a
Vítor Frutuoso, não terem contraposto e confrontado com dados como estes, e, a
sua evolução nos 8 anos do seu consulado. Tal como não questionaram as
razões para os gastos de 500 000 euros do erário público efectuados no mês
anterior às eleições. Quem quiser estar na vida pública tem de a conhecer nas suas múltiplas variáveis, e não a conhecendo, deveriam estudar e informar-se.
Para comprovar o
que acabo de afirmar, apresento hoje 3 indicadores de cariz económico: - Salário
Médio, Poder de Compra e Taxa de Emprego; e no próximo Post apresentarei
outros de cariz social, que me parecem de alguma importância para avaliar a qualidade de
vida de uma comunidade. Os dados foram colhidos aqui, e alguns têm a mesma
fonte de origem do estudo supracitado (a Universidade da Beira Interior),
outros na Pordata. Os quadros são de minha autoria.
Marvão em números:
(A maioria dos dados são
de 2011 (últimos disponíveis), mas a realidade não se deve ter alterado muito)
1 – Salário Médio (ilíquido)
Como se pode ver
no Quadro 1, no que toca ao Salário Médio no distrito de Portalegre, Marvão ocupa o último lugar, com apenas
cerca de 680 euros/mês. Este valor é apenas 60% do que se ganha em Campo
Maior, e não chega a 90% do que se ganha em Castelo de Vide que é o concelho
mais próximo. Comparando com o salário médio nacional que é de 958 euros,
podemos dizer que em Marvão se ganha, em média, cerca de 300 euros a menos do que no país.
Para a tristeza ser maior, Marvão é o concelho abaixo do Tejo com o valor mais baixo de "Salário Médio". E a nível nacional, só encontrei pouco mais de uma dezena de concelhos com valores inferiores.
2 – Poder de Compra
Também neste indicador, o concelho de Marvão é o que tem pior Poder de Compra no distrito de Portalegre, como se pode ver no Quadro 2. Tendo em conta o valor 100 de referência para nível nacional, podemos verificar que no concelho de Marvão, o Poder de Compra é apenas de 60% do nível nacional; é inferior a 13% do que em Castelo de Vide; e menos 48% do que no concelho de Portalegre.
Nos concelhos abaixo do Tejo, só 6 apresentam um "Poder de Compra" inferior a Marvão, e são: Mourão, Alandroal, Portel, Mértola, Monchique e Alcoutim
3 – Taxa de Emprego
Em Portugal, estima-se, que a Taxa de Emprego seja de 48% para os portugueses com mais de 15
anos. No distrito de Portalegre essa taxa é de 41,2%.
Em Marvão, da
população com mais de 15 anos, apenas 38,3% das pessoas têm emprego, isto é cerca
de 1200 marvanenses. Destes: 8% (96) trabalham no sector primário; 19 % (228)
no sector secundário; e 73% (876) no sector terciário.
Constatamos assim,
como se pode ver no Quadro 3, que Marvão ocupa também no que toca à
empregabilidade, um dos últimos lugares no distrito onde é 11º, entre 15
concelhos. Esta Taxa é 10% inferior á Taxa nacional, e cerca de 3% inferior à
Taxa distrital.
Se nestes Indicadores
somos os últimos no distrito de Portalegre, como poderemos ser o 6º concelho, ao
nível nacional, em Qualidade de Vida? Que me desculpem os estudiosos, mas
qualidade de vida, nestas condições, só se for pelo ar puro e as excelentes
vistas das muralhas.
Nota: No próximo Post darei a conhecer outros
Indicadores de nível social.