domingo, 30 de dezembro de 2012

Não há pachorra...


Acho que estou a ficar velho, e tenho que começar a dizer: “no meu tempo...”. Eu, que sempre defendi que, o tempo de cada um, só acaba quando morrermos, e/ou, quando já ninguém se lembrar de nós.

Não é o caso do meu antepassado José António Toureiro, que me anda a dar a volta à cabeça apesar de já ter «batido as botas» há mais de 250 anos, e anda agora a ser recordado e remexido no seu esquife, por este aprendiz de rato de arquivos. Mas isto são contas de outro terço, que mais lá para diante darei conta ,se a tanto, me ajudar o engenho e a pouca arte, já que os malandros dos clérigos do século XVIII deveriam ter chumbado todos a caligrafia, pois não há quem os perceba. Mas em frente que vem gente!

Vem isto a propósito de uma notícia de ontem, quando um tal Secretário de Estado da Saúde, de nome Leal da Costa, terá apelado ao bom senso e participação colectiva dos portugueses, para que, cada um, faça alguma coisa pela sua própria saúde, nomeadamente, através de actividades de prevenção de determinadas doenças, que são, facilmente evitáveis, com simples medidas de “higiene individual”; como é o caso, da maior epidemia dos nossos tempos, a Diabetes. Já que, dessa forma, todos poderíamos contribuir para a sobrevivência de um Serviço Nacional de Saúde em risco e ligado às máquinas, contribuindo assim, para diminuir os seus avultados custos. Afirmou ainda, que esta doença, só com Medicamentos, gasta aos contribuintes, 100 milhões de euros em cada ano, com uma tendência crescente com custos incalculáveis para o futuro, e, só por si, arrasará todo e qualquer SNS, por muito forte que seja, independentemente do governo que nos (des) governe.

Eu acrescento ainda, só para dar mais um toque ao drama, se aos medicamentos, juntarmos outros  custos  com o tratamento das complicações desta doença: custos com pessoal, tratamento dos olhos, a quantidade de diabéticos que acabam nas máquinas de hemodiálise, as amputações, os cuidados com a enorme incidência nas tromboses e outros acidentes isquémicos que se devem à Diabetes; certamente, 500 milhões de euros por ano de impostos dos contribuintes, não darão para pagar os custos desta epidemia.

Os técnicos de saúde sabem, desde há muitos anos, que a maioria destes gastos, poderiam ser facilmente evitáveis através da implementação de medidas simples de prevenção, das quais destaco um passeio diário de 30 a 40 minutos, percorrendo 3 a 4 quilómetros, já que não tenho muita fezada   em programas alimentares de dietas milagrosas, a não ser que seja por outra epidemia: a fome. Posso afirmar, com toda a convicção, que no tempo do meu antepassado Toureiro, a Diabetes não preocupava ninguém.

Parece-me pois a mim, incrédulo observador do mundo, do mais elementar bom senso, que um governante venha apelar à consciencialização e participação dos cidadãos na Prevenção desta catástrofe social. Que só pode ser evitada ou aliviada, através da participação individual de cada um. Não para erradicar na totalidade os seus custos ou consequências, mas para se minimizar os seus efeitos para valores compatíveis e sustentáveis com aquilo que podemos gastar através dos nossos parcos impostos.

Foi por isso, com alguma indignação e mesmo revolta, que assisti ao coro de críticas, essas sim disparatadas, de uma série de papalvos e pategos, para além de alguns “chico-espertos”, como se pode ver aqui, a quem é dado tempo de antena, por tudo e por nada, a dizerem que "essas declarações eram mais um ataque contra o SNS, que já não se pode estar doente, que são uma insensibilidade social, que o governante disse que as pessoas são responsáveis por adoecerem, que são declarações cínicas e hipócritas, que já não podemos ter consultas nos serviços de saúde, que as taxas moderadoras são um roubo, para que serve o nosso (?) dinheiro dos impostos, e, que o governante se deveria demitir imediatamente, etc., etc."

A maioria desses críticos são pessoas bem instaladas no “sistema” social e político em Portugal. São difusores de uma filosofia de “pseudo-esquerda” (estão no PCP, no PS, no Bloco, mas também os há, e muitos, no PSD e mesmo no CDS), aproveitadores de uma "escola" de parasitas pós 25 de Abril (sem nada terem a ver com os seus valores), que só reclamam direitos, sem nunca falarem ou porem em prática os deveres que os possam sustentar. Baseiam a sua retórica em chavões do politicamente correcto; acreditam, ou querem-nos fazer acreditar, que há coisas que não têm preço, que os custos estão cabimentados em receitas imaginárias; pedem emprestado e esquecem-se no dia seguinte de que o fizeram, e, dizem que pensavam que não era para pagar; pensam que os recursos são inesgotáveis, a vaca sempre há-de dar o leite, senão, aqueles que cá ficarem que fechem a porta; os nossos vindouros (os nossos filhos, de quem dizem gostar muito), hão-de pagar as nossas dívidas, nem que seja com a fome, com a guerra, e com a vida...

São estes mesmos “pseudo-esquerdistas”, que no dia-a-dia enchem a boca com argumentos balofos, sem quaisquer fundamentos; apropriam-se de frases filosóficas, como a proferida por Jonh kennedy, quando afirmou que “não perguntem o que é que a américa pode fazer por vós, mas sim, o que é que vocês podem fazer pela américa...”; porque é fino, é cool, ou é trendy. Mas que depois, na prática, acham que isso é sempre para os "outros", e  reagem como virgens ofendidas quando alguém em Portugal diz a mesma coisa, mas sobre algo concreto: No caso, a sustentabilidade do SNS.

Claro que a culpa não é deles, mas de quem lhes mete o microfone à frente e dá tempo de antena (os seus amigos instalados nos órgãos de comunicação social), sempre ávidos de polémicas da treta, mas sem nunca proporcionarem debates de "frente a frente" sérios e esclarecedores, dizendo que não há tempo, porque temos que sair para a "publicidade". O que lhes interessa é a polémica, o sensacionalismo, o negócio do seu bolso! Mas quem se lixa vai sendo sempre, o mexilhão, isto é, o povo português.

Razão tinha aquele imperador romano, quando questionou o seu subalterno, sobre que povo seria esse dos lusitanos, que nem se governam nem se deixam governar...

Muitos destes “papagaios falantes e líderes de opinião”, estarão amanhã, noite de fim-de-ano, nos melhores hotéis do Rio de Janeiro, do Bahrain, das Caraibas, do Funchal, do Algarve, do Porto, ou em Cascais; a encher o bandulho do bom e do melhor e a festejar com o melhor champanhe do mercado. Mergulhados nos seus indispensáveis “spas-zen”, a receber a chegada do que apelidam “ano maldito” de 2013. No próximo fim-de-semana, será vê-los nas “manif” da capital, ou em qualquer televisão da treta, a fazerem opinião, a lançarem veneno sobre aqueles a quem o flagelo do desemprego bateu à porta, ou por eles foram enganados em investimentos ruinosos do conto do bandido.

E eu a lembrar-me do Aleixo: "vós que lá do vosso império/proclamais um mundo novo/calai-vos, que pode o povo/querer um mundo novo a sério". Não confundir com o seu (deles) "à seria?". 

Entretanto, estejam descansados e calmos. Mexam o menos possível esses “cusarrões” descomunais, essas barrigas de alambique, e essa bochechas da melhor manteiga becel, que as vossas pílulas milagrosas para o colesterol e diabetes já estão a ser confeccionadas.

Já agora, aproveitem e peçam aos “vossos” doutores de família que devem também estar por aí, à custa de vos terem encharcado com carradas desses venenos milagrosos (e os 700 euros/mês de aumento médio que vão receber a partir de Janeiro de 2013), as respectivas receitas do SNS, claro, para quando chegarem, na quarta-feira, aumentarem a dose. Porque não há excessos, que esses comprimidos doirados não curem! Eu escrevi doirados, não escrevi azuis!

O dinheiro dos impostos dos contribuintes há-de dar para isso e, muito mais!

Anda-me a faltar a paciência...

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