Às vezes convém olhar para o passado para enfrentarmos o futuro.
Quando, em meados do século XIV, a peste
invadiu a Europa, a primeira reação foi de fuga: fuga rápida, para o mais
distante possível, sem pressa em regressar, tal como, quase dois mil anos
antes, havia aconselhado Hipócrates. Sem reconhecer diferenças sociais, a peste
tanto podia dizimar criados quanto reis, como demonstra o caso de D. Duarte,
que, em 1438, fugindo da peste de Lisboa, procurou refúgio em Évora, Avis e
Ponte de Sor, acabando por sucumbir à doença que o foi encontrar em Tomar
(Tavares 1987, 17-32).
Nos dias de hoje:
“Portugal é o
país do mundo mais afectado pela pandemia covid 19”
“A culpa da 3ª
vaga foi das festividades do natal e do governo que permitiu”
“A culpa do descontrolo da covid é dos portugueses que não se sabem comportar”
“A culpa do
aumento de casos em Janeiro foi da variante inglesa”
“A culpa do
aumento de casos em Janeiro foi da vaga de frio que afectou Portugal”
Etc., etc.
Em contradição com todas estas culpabilizações paranoicas, retenho uma frase sábia do Professor Jorge Torgal: “Sempre que quisermos fazer uma avaliação séria da pandemia, devemos olhar para trás e para o lado”. Por isso, neste balanço parcial de 1 ano da pandemia, proponho-vos que olhemos para o lado, para os nosso vizinhos, ver como eles foram afectados e se somos, afinal, assim tão diferentes.
São países da
Europa, logo numa situação geográfica idêntica, mas todos eles têm
características próprias muito diferentes, nomeadamente, sociais, culturais,
económicas e religiosas e de organização dos serviços de saúde.
O Reino Unido é
muito diferente da Bulgária; Portugal muito diferente da Hungria; A Suécia
muito diferente de Itália; A Bélgica muito diferente da Eslovénia; A Espanha muito diferente da Bósnia; e por aí
adiante.
No entanto, quando analisamos o Quadro em baixo, os Resultados (e é isso que interessa avaliar, deixemo-nos de avaliação de processos), eles são muito idênticos, sobretudo, nas Taxas de Mortalidade.
Se verificarmos bem,
16 dos 22 países referenciados, estão separados por pouco mais 0,5 pontos: Os
mais afectados República Checa e Bélgica com 1,9 óbitos/1 000 habitantes; até à
Polónia e Suíça com 1,2 óbitos/1 000 habitantes.
Assim, e em minha opinião, a maioria das razões apresentadas para a situação em que se encontra Portugal não faz qualquer sentido. O vírus, indiferente às fronteiras físicas, faz o seu trabalho e, no fim, os resultados serão muito idênticos no continente europeu. É muito “democrático” este bicho.
Quando muito, o que me parece que mais tenha
influenciado, são a organização dos serviços de saúde e a capacidade económica
dos países para os suportarem e assim, podemos ver no fundo do Quadro, os que
tiveram, até à data, menores Taxas de Mortalidade: Alemanha, Irlanda, Holanda e Áustria; por curiosidade, os tais apelidados de frugais!
Ah, e Portugal não é o pior. Até os nossos amigos arrogantes ingleses têm piores resultados, mas ainda nos impõem regras a nós!
Quadro de minha autoria. Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries
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