Tal como
prometi, volto hoje à temática da contratualização na Administração Pública,
nomeadamente, à dos Municípios. Convém relembrar que, a linha que separa a
obrigação de proceder ao “concurso público” é de contratualizações superiores
150 000 mil euros para empreitadas de “obras públicas”; e de 75.000 euros para
aquisições de “bens e serviços”.
Tal como em
quase tudo em Portugal, da saúde à educação, ou à regionalização, para não
falar de outras áreas, as leis são gerais e massificadas, quando a
administração é completamente diferente. Municípios como Lisboa, Porto, ou
Coimbra, e todos os que tenham populações superiores a 50 000 habitantes, não
podem ser geridos com as mesmas leis de concelhos com populações inferiores a
10 000 habitantes.
Tratar por igual aquilo que é completamente diferente, é um
erro crasso, e a nossa administração sofre desse problema. Em minha opinião, um
pequeno concelho, com pouco mais de 3 000 habitantes, não deveria ser aplicada
a mesma legislação que um que tem mais de 1 milhão. Logo, se os valores legislados para ter de se proceder à modalidade do “concurso público” poderão ser razoáveis para os grandes Municípios (onde imperam as grandes obras), mas para os
pequenos Municípios, onde as obras com valor superior a 150 000 euros se podem
contar pelos dedos de uma mão (e ainda sobram muitos dedos), deveriam ser
completamente diferente.
Já escrevi, no
artigo anterior, que nos 6 pequenos Municípios do norte alentejo analisados: Marvão, C. Vide, Arronches, Fronteira,
Alter e Monforte (total de 20 400 habitantes), em 3 anos foram feitas 576
contratualizações, a que correspondeu uma verba de 27, 5 milhões de euros. Destas, apenas 25 (praticamente 5%) mereceram “concursos
púbicos”.
O que quer dizer que, 551 das contratualizações com as entidades
privadas, foram feitas por “ajuste directo”. Sinceramente não me parece razoável.
E quanto à transparência? Por muito optimistas e positivistas que queiramos ser,
a dúvida, terá de existir. Ainda mais se instala quando, existem um grande número destes
“ajustes directos” que atingem praticamente o limite, e que são superiores a
130 000 ou mesmo 140 000 euros! Numa administração que se quer transparente, não
parece que tal contribua para isso.
Como se pode ver
no Quadro 1, entre 2012 e 2014 (3 anos), neste 6 Municípios , foram efectuadas 551
contratualizações por “ajuste directo”, atingindo um valor total de cerca 12, 1 milhões de euros, numa média de 4 milhões euros/ano. Como se pode ainda
verificar, o ano de 2013 – Ano de
eleições, foi aquele em que o “ajuste directo” mais foi usado, atingindo
uma verba de 4,6 milhões de euros (40% do total).
O concelho que mais recorreu
ao “ajuste directos” foi o Município de
Marvão, com uma verba de cerca de 3,
7 milhões de euros (31% do total dos 6 municípios. No pólo oposto está
Monforte, com uma verba de apenas 745 mil euros (20% dos gastos em Marvão).
É ainda curioso ou talvez não, tal com já tínhamos escrito em artigos anteriores (por isso o saldo de tesouraria diminuiu drasticamente), que no ano de eleições (2013), o Município de Marvão fez contratualizações por "ajuste directo" no valor de 1,6 milhões de euros (43% do total dos 3 anos). Significativo, não?
Já quando
olhamos para os dados da contratualização pela modalidade de “concurso público”
(ter em conta que estamos a falar de grandes obras), o valor desta contratualização,
apesar de dizer respeito apenas a 25 contratualizações, foi nesses 3 anos, de
15,4 milhões de euros, uma média de 616 000 euros por contrato. Alter foi
aquele que realizou mais “contratos Públicos (10); seguido de C. de Vide com 5.
Quando analisamos
a comparação entre concelhos, os valores encontrados são praticamente o inverso
do que existia com os “ajustes directos". Assim, como se pode ver no Quadro 2,
Marvão foi aquele que menor verba gastou nesta modalidade de contratação,
apenas 546 044 euros, quando a verba dos “ajustes directos” tinha sido de 3,7
milhões de euros. No pólo oposto está Arronches cujo valor foi praticamente de
3 milhões de euros em “concursos públicos”, quando os “ajustes directos tinham
sido apenas 1,5 milhões de euros.
Para uma melhor
visualização do que acabo de afirmar, apresento o Gráfico 3 (para aqueles que
os números fazem comichão, e/ou gostam mais de bonecos). Assim, é bem visível aí o
título deste artigo - O Município de
Marvão é o campeão norte alentejano dos “ajustes directos”! Das verbas
contratualizadas no concelho de Marvão nestes 3 anos, 87% são por ajustes directos. Isto é,
os autarcas decidem as obras, e contratam directamente a empresa para a
realizar.
Legal? Sim. Moral e transparente?
Não me parece! 87% de “ajustes directos”
- 13% de “concursos públicos”, é uma goleada, que dá certamente para ser
campeão distrital. Ou quem sabe, mesmo nacional!
Por fim, e para
provar o que disse em cima, que muitas destes “ajustes directos” aproximam-se
dos limites da necessidade de recorrer a concurso público (o que torna a coisa
mais duvidosa), fica a lista de algumas dessas contratualizações feitas pelo
Município de Marvão, nos últimos 5 anos:
Obras por “ajuste directo” do município de
Marvão 2009 – 2014, acima dos 100 000 euros (Muitas acima dos 140 000 euros)
- Execução de
valetas revestidas em betão em estradas e caminhos - 99.530,00 € - 19-12-2014 – Verocivil
- Construções, Lda.
- Construção da
Rede de Águas na Fonte da Mulher - 134.200,00
€ - 21 – 11 – 2014 - Navedansa -
Construtora, Lda.
- Reabilitação
da Casa Vivas (Casa Pároco) - 120.200,00
€ - 03-10-2014 - C.R.T., Lda.
- Emissário de
Águas Residuais da Rasa - 111.672,44 €
- 08-10-2013 – José Pires Raposo &
João Garcia - Construções, Lda.
- Aplicação de
Slurry nos Caminhos Municipais - C.M. 524 - 149.174,04 € - 18-07-2013 - Bripealtos
- Agregados e Construções, Lda.
- Pavimentação
do CM 1033-1 entre a EN 359 e a Escusa - 111.625,67
€ - 18-04-2013 - Plenavia -
Construção e Conservação de Vias e Valorização Ambiental, Lda.
- Centro de
Interpretação do Concelho de Marvão - Museu - 139.613,75 € - 06-02-2013 - Sociedade
de Empreitadas Centrejo, Lda.
- Loteamento de
Santo António das Areias - Execução das infra-estruturas - 143.999,72 € - 23-01-2013 - Construções
J. J. R. & Filhos, S. A.
- Construção/Reabilitação
de Habitações - Remodelação de Habitação - Rua do Terreiro Rua das Portas da
Vila - 149.875,98 € - 05-11-2012 - Damião & Belo, Lda.
- Execução do
Caminho Municipal entre a Portagem e Olhos de Água - 120.629,30 € -17-01-2012 - Constradas
- Estradas e Construção Civil, S. A.
- Reabilitação
de uma habitação ecológica em Marvão - 149.945,72
€ - 18-04-2011 - Damião & Belo,
Lda.
- Reabilitação
de uma antiga escola primária para Centro Municipal de Protecção Civil - 144.940,19 € - 08-02-2011 - Crespo
& Parreira, Construtores, Lda.
- Beneficiação
do CM do Monte Pobre - Prado - 139.277,89
€ - 20-08-2010 - Urbigav -
Construções, Sociedade Unipessoal, Lda.
- Arranjos
Paisagísticos da Encosta Sul Portagem - 145.441,18
€ - 21-10-2009 - Eirinhas
Construções, Lda.
- Bairro Novo da
Portagem – Requalificação do Bairro Novo da Portagem - 145.970,88 € - 02-04-2009 - Eirinhas
Construções, Lda.
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