(A minha intervenção de ontem na Assembleia
Municipal de Marvão)
O exercício da democracia está
muito para além do depositar do voto quando há eleições. Em democracia cada
cidadão, cada munícipe, tem o dever de contribuir com as suas ideias e opiniões
para a causa pública. Foi isso que eu procurei fazer ontem, respondendo ao
desafio do Presidente da Câmara para que se apresentassem ideias sobre o
espaço recentemente adquirido pelo município – O Bairro da Fronteira de Galegos, depois daqui já ter divulgado a
minha opinião, dei-a ontem a conhecer aos eleitos do concelho de Marvão.
A partir de
agora, pelo menos uma ideia para o aproveitamento daquele espaço nobre do
concelho, existe. Assim apareçam outras, e se faça o tal debate que o
Presidente da Câmara se comprometeu. Aqui fica a minha intervenção, apenas enquanto
cidadão:
“Desde que se começou a falar da aquisição
pela autarquia de Marvão do espaço do Bairro da Fronteira, há cerca de 10 anos,
que começou a germinar em mim esta ideia. Infelizmente, devido ao meu
afastamento da vida política activa no concelho, nunca tive oportunidade de a
divulgar e discutir nos lugares próprios de decisão. Mas agora que a
aquisição se fez, e antes que se enverede por fórmulas antigas, esgotadas, e
sem futuro (Habitação Social, Ninhos de Empresas, Aldeias Turísticas, ou deixar
como está), quero deixar aqui a minha ideia. Quem sabe, alguém ao lê-la lhe
pegue, e lhe dê pernas para andar. Se tal não suceder, fica pelo menos a
concepção de que existe sempre mais que uma solução para um problema, às vezes
a roçar a utopia, mas como dizia o outro “o sonho comanda a vida...”.
É minha opinião que, a seguir ao espaço da
povoação da Portagem, considero este espaço do Porto Roque, talvez, o mais
nobre e valioso do concelho de Marvão. Agora que está na posse da esfera
pública local, deveria ser alvo de uma reflexão e discussão alargada para a sua
melhor utilização e rentabilização, antes de qualquer tomada de decisão. Essa
discussão deveria abranger autarcas, forças políticas, peritos na matéria, e se
possível com a inclusão dos nossos vizinhos do lado de lá da fronteira.
Tendo em conta estas premissas, a minha
visão para este espaço poderia ser a da construção daquilo a que denomino de
uma Aldeia Social/Lar Social – Um local residencial para alojamento de famílias
ou indivíduos seniores (situação de pós aposentação), que em vez de irem para
Lares institucionais tradicionais, encontrariam aqui um espaço para viverem em
família e liberdade os seus últimos 20 ou 30 anos de vida. Aqui teriam os seus
espaços individuais e desfrutariam da sua privacidade familiar, e
simultaneamente teriam ajudas parciais ou totais em Actividades de Vida de que
fossem dependentes, tais como: vigilância, conforto e higiene pessoais e de
alojamento, alimentação, saúde, lazer, etc.
Este conceito não é novo, existe nos países
nórdicos há mais de 30 anos, já que para além de dar as mesmas ajudas que os
Lares de Institucionalização, permitem às pessoas a sua liberdade e privacidade
individuais. São várias as vantagens desta modalidade, sobretudo na área da
saúde, mas abrangendo todas as áreas do bem-estar e de um envelhecimento com
qualidade de vida. Mas parece tardarem em Portugal (onde existem poucos
exemplos), onde se prefere encaixotar os velhos em lares/fábricas, que não
passam de locais tipo antecâmara da morte.
Ora este espaço, em minha opinião, tem todas
as características para a instalação de um projecto desta natureza: local amplo,
plano para uma fácil locomoção, ensolarado, sossegado, permite com facilidade a
montagem de todas as infra-estruturas de apoio (cozinha, refeitório, ginásio,
enfermaria, piscina, etc.); e permite ainda, uma parceria com a vizinha Espanha
que ajudaria a rentabilizar o projecto. Aqui se poderiam construir 20 a 30 blocos habitacionais
(novas construções), com 4 apartamentos cada (2 de rés-do-chão e 2 no primeiro
andar), com 2 pessoas por apartamento, que daria um aldeamento para 100 a 120 pessoas (50 a 60 famílias).
Logicamente que isto seria um projecto para
o concelho de Marvão, mas especialmente, tendo por universo alvo o distrito ou
mesmo o país, e dirigido a pessoas e famílias com algumas posses económicas,
pois os custos serão certamente superiores aos dos lares tradicionais. O ideal
seria um projecto de cariz privado já que, dificilmente, se conseguiriam
acordos para estas valências. Os custos mensais por pessoa seriam sempre
superiores a 800 euros (digo eu sem um grande estudo da coisa). Mas poderiam
existir outras modalidades de cariz vário: parceria público privada; parceria
com instituição de solidariedade social (misericórdia, ou um dos lares do
concelho); parceria com Inatel ou com Região de Turismo; e outras que eu não
conheça.
Vantagens para o concelho e para a
comunidade:
- Uma resposta inovadora na área do apoio
social.
- Aumento da população do concelho em mais
cerca de 100 habitantes
- Criação de novos postos de trabalho
(possivelmente entre 20 a
30)
- Proporcionar níveis de bem-estar na
velhice e final de vida
- Dar resposta a necessidades de apoio
social existentes em pessoas com posses económicas.
- Rentabilizar um espaço de desenvolvimento
com futuro;
Aqui deixo, em traços largos e sem ser exaustivo
(isso não me compete a mim enquanto cidadão), o meu contributo para uma
possível solução de um problema que a Câmara Municipal de Marvão terá nas mãos
nos próximos tempos. Cabe pois aos gestores e decisores a palavra de resolução.
Possivelmente, um projecto destes, não teria
grande dificuldade em ser financiado pelo novo Quadro Comunitário
"Portugal 20/20", já que cria emprego, fixa população no interior, e
contribui para a qualidade de vida.”
João Francisco Pires Bugalhão
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