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"Evidentemente que posso sempre acrescentar
que gostaria de ver algumas pessoas presas. Não digo nomes, mas são alguns
banqueiros, empresários, administradores de empresas, ex-ministros,
ex-secretários de Estado, ex-directores-gerais... Gostava de os ver presos.
(...)
O que é o mais requintado da política?
São os
princípios, os objectivos para um país.
Isso significa que não há objectivos?
Os partidos
estão a esvaziar-se. Creio que vamos ter novos candidatos políticos nos
próximos anos, é inevitável. Aliás, em vários países europeus já estão a
aparecer muitos partidos. Os nossos estão a esvaziar-se num clima crispante, as
pessoas não têm confiança nos partidos, nos seus dirigentes. Os partidos
portugueses são pequeninos, chegaram ao mundo democrático muito tarde, com 100
anos ou 50 anos de atraso. Depois ficámos muito contentes com o 25 de Abril,
lembro-me que havia muita gente que dizia era a revolução mais jovem, mais
limpa, a revolução do futuro. E era ao contrário, era a última, uma revolução
obsoleta, o que sobrava do século XIX, princípios do século XX. Uma revolução
que criou uma Constituição funesta, uma fortaleza na altura, uma espécie de
lugar geométrico de todos os sistemas de defesa de todos os países que podiam
ameaçar Portugal: a tropa, os comunistas, os fascistas, os estrangeiros, os
nacionais, tudo. Mas essa Constituição ficou um monstro. Há animais assim, como
o ornitorrinco, que tem pêlo, bico, nada, põe ovos e é mamífero, uma coisa
esquisitíssima.
Que Constituição nos serviria?
Uma Constituição
que dê mais liberdade às gerações actuais, que lhes permita eleger os seus
partidos, os seus políticos e que tenha uma maior margem de liberdade nas suas
decisões. Em muitas matérias laborais, de saúde, de educação, de segurança
social, de organização do Estado, função das autarquias e justiça, a
Constituição, em vez de definir as grandes estruturas e deixar o tempo e as
classes preencherem os conteúdos, fixou-os. Podia ser muito limpa de todos os
ónus ideológicos.
Mas o país pode mudar mesmo com a
Constituição que tem, ou não?
Nalgumas coisas
não. O sistema político está totalmente desenhado para permitir que estes
partidos fiquem perpetuamente no poder e que os que venham continuem com o
mesmo sistema. Tem de limpar da Constituição o método d'Hondt, o sistema
proporcional, a ideia de que os deputados são eleitos por listas. O mundo que
mais aprecio, e não é só o anglo-saxónico, tem sistemas uninominais, as pessoas
elegem um deputado a quem pedem contas. Se esse deputado morre ou muda de
emprego, elegem outro, não vão buscar o 15.º ou 27.º, um analfabeto qualquer,
um atrasado que está lá no fundo da lista para encher. Há um sistema de
confiança nos seus eleitos que a nossa Constituição destruiu. Um deputado que
vote ao contrário do Dr. Passos Coelho ou do Dr. António Costa corre riscos
muito sérios de ser vilipendiado, destruído, até expulso do partido. Isto não é
um sistema livre e tem de ser expurgado da Constituição.”
(...)
Qual é a liberdade que nos falta?
A primeira de
todas é dizer não. A segunda é pensar sozinho ou escolher as próprias
influências.
Há 50 anos tínhamos
50% de analfabetos, impensável na Europa. Tudo dependia do Estado e do poder
político, do poder militar, do poder da Igreja. Se se dizia não, perdia-se
tudo, vivia-se no medo. Isto criou o hábito da reverência, do respeitinho, de
dizer que sim e ter medo de quem manda.
(...)
Consegue ver como será Portugal dentro de
20 anos?
Se a Europa
aprofundar o entrosamento federal, Portugal será uma região da União Europeia.
Mais pobre, mas periférica, com personalidade bastante, mais do que outros
países. Estará tomado por conta, mas não vejo isso como particularmente mau,
não sou nacionalista. Se a Europa não progredir nessa linha, será retomada a
afirmação nacional. Se for essa a via, Portugal manterá a independência, a
personalidade, o carácter, mas ficará mais pobre, terá menos progresso. Este
são os meus dois cenários: mais Europa, mais dependente, mais progresso, talvez
mais liberdade individual. Do outro lado, mais independência, mais
personalidade, mais pobreza e menos liberdade individual.
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