Não são nada fáceis estas coisas da economia, sobretudo quando somos bombardeados continuamente com números e mais números. A maioria das vezes sem qualquer análise, fundamentação, ou explicação. Creio mesmo que, o objectivo é, baralhar o povinho.
O que hoje aqui
apresento é arrojado, fruto de uma mera análise minha à evolução de alguns
indicadores económicos, à sua influência na economia real, e na vida de todos
nós. Uma hipótese por mim aventada, enquanto cidadão, de como se poderia,
estrategicamente, contribuir para a saída desta crise que nos envolve.
1 – A Balança Comercial e o milagre das
Exportações
Como já escrevi aqui, e se pode ver no Gráfico 1, o aumento das
Exportações tem permitido a Portugal, nos últimos 3 anos, equilibrar a sua balança
comercial com o exterior, e assim amenizar um pouco a crise. Pela primeira vez
em 40 anos (em 2013) Portugal teve um saldo
positivo com o exterior que se visse, no valor de 3,7 mil milhões de euros,
isto é, entre o que importámos e o que exportámos, Portugal ficou a ganhar
quase 4 mil milhões de euros, num só
ano. Vários analistas dizem que isto foi uma oportunidade que a crise
proporcionou. No entanto, não faltam também aqueles que dizem que estaremos a
atingir o máximo das capacidades exportadoras, e que a partir daqui a ideia
deve ser, pelo menos, tentar manter.
No entanto,
apesar deste aumento significativo das exportações, que passaram de 47,6 mil
milhões de euros em 2009, para 68,6 mil milhões em 2013 (um aumento de 21 mil
milhões de euros), o seu impacto no PIB, apesar de existir, parece ser pouco
significativo, como se pode ver no Gráfico 2, certamente devido o seu baixo
valor em relação ao PIB total. Em 2013, apesar deste extraordinário aumento, as
exportações representaram apenas 40% do PIB, mas em 2009 representavam apenas
30%.
Este valor redondo dos 30% de impacto das exportações no PIB, parece ter sido a norma que acompanhou toda a primeira década deste século (2000 – 2010). Tal não admira, foi o tempo das grandes entradas de “dinheiro fresco” em Portugal, quer através de Fundos Comunitários, quer através do recurso a empréstimos. Só o Estado, nesses 10 anos, pediu emprestado cerca de 100 mil milhões de euros, e os privados ninguém sabe!
2 – O modelo do Consumo Interno como motor
da Economia
Foi uma década
em que o foco estratégico foi posto no “consumir”,
tal como na altura dos descobrimentos, ou do ouro do Brasil. Não admira assim
que, o “consumo interno”, acompanhasse (e se confundisse), praticamente, com o
crescimento do PIB, como se pode ver no Gráfico 3. O consumo sobe o PIB sobe, o
consumo desce o PIB desce. Ora como o que interessava era “o crescimento” do
PIB, consuma-se então, foi a palavra de ordem. O resultado está aí: Banca Rota.
Gráfico 3 - Evolução do PIB e do Consumo Interno 2000 - 2012
Fonte: Banco de Portugal
Mas será o
consumo interno, em Portugal, um mal em si mesmo? Claro que não, e se
sustentável será, sem ser o motor principal, ser pelo menos, o motor auxiliar
do desenvolvimento económico saudável. Assim como uma espécie de motor
eléctrico dos automóveis híbridos.
Em Portugal,
devido às suas dificuldades de produção dos produtos que alimentam o consumo, a
solução, tem sido o recurso às Importações,
e isso, é que na minha opinião tem contribuído para a nossa desgraça, e motivo
pelo qual os outros países, se fazem passar por nossos amigos, indo ao ponto de
nos emprestarem dinheiro para estimular esse consumo! Como habitualmente, não
temos material para a troca, o resultado, é o desequilíbrio da balança de
transacções, e o recurso ao endividamento.
3 – O desafio: Produzir (investir) nos
Produtos que nos faltam para alimentar o consumo interno
Se analisarmos
bem o Gráfico 3, podemos verificar que a diminuição do consumo interno, parece
arrastar o decréscimo do PIB. Entre 2010 e 2012 o consumo interno caiu cerca de
8 pontos percentuais, e PIB caiu 5. Se tivermos em conta, que parte deste
consumo interno é alimentado por importações, verifica-se no Gráfico 1, e como é
lógico, que as ditas também caíram entre 2010 e 2012 num valor absoluto de
aproximadamente 3 mil milhões de euros; e essa diferença ainda é maior se,
tivermos como referência o ano de 2008, a diferença para 2012 é de cerca 9 mil
milhões de euros! Uma brutalidade, como diz o outro.
Ora em minha
opinião, a saída para esta situação, seria Portugal inventariar quais produtos
que levaram a esta queda “brutal”, averiguar aqueles que são indispensáveis, e os
que podemos produzir em Portugal, e partir para o tal investimento. Os Fundos
Comunitários 2014 – 2020 teriam aqui uma boa aplicação.
Com um aumento
no consumo interno na ordem dos 4 pontos percentuais (4 a 5 mil milhões de euros/ano), e a manutenção das Exportações, o PIB poderia crescer acima dos 2% ao ano, a nossa balança comercial
continuaria estável, o emprego aumentaria, o país ficaria menos dependente do
estrangeiro, se conseguíssemos manter o nível das nossas exportações nos 70 mil
milhões (foram 68 em 2013), poderíamos continuar a importar no valor dos 65 mil
milhões (64,9 em 2013), e poderíamos começar a pensar em pagar alguma da nossa
dívida ao exterior.
Para tal, talvez não fosse mal pensado, que cada português aderisse a esta campanha na hora de comprar, seja o que for, e preferir o "Produzido em Portugal". Mesmo que um pouco mais caro, todos nós estaríamos a contribuir para o tal crescimento económico de que tantos falam. E isto seria como o dar sangue: custa muito pouco a cada um mas o país agradeceria. E depois pedir sempre a tal Factura. Quem sabe não esteja aqui a solução.
Aqui fica o meu contributo de cidadão português:
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