quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Desafios: Apenas uma opinião...


Não são nada fáceis estas coisas da economia, sobretudo quando somos bombardeados continuamente com números e mais números. A maioria das vezes sem qualquer análise, fundamentação, ou explicação. Creio mesmo que, o objectivo é, baralhar o povinho.

O que hoje aqui apresento é arrojado, fruto de uma mera análise minha à evolução de alguns indicadores económicos, à sua influência na economia real, e na vida de todos nós. Uma hipótese por mim aventada, enquanto cidadão, de como se poderia, estrategicamente, contribuir para a saída desta crise que nos envolve.

1 – A Balança Comercial e o milagre das Exportações

Como já escrevi aqui, e se pode ver no Gráfico 1, o aumento das Exportações tem permitido a Portugal, nos últimos 3 anos, equilibrar a sua balança comercial com o exterior, e assim amenizar um pouco a crise. Pela primeira vez em 40 anos (em 2013) Portugal teve um saldo positivo com o exterior que se visse, no valor de 3,7 mil milhões de euros, isto é, entre o que importámos e o que exportámos, Portugal ficou a ganhar quase 4 mil milhões de euros, num só ano. Vários analistas dizem que isto foi uma oportunidade que a crise proporcionou. No entanto, não faltam também aqueles que dizem que estaremos a atingir o máximo das capacidades exportadoras, e que a partir daqui a ideia deve ser, pelo menos, tentar manter.


No entanto, apesar deste aumento significativo das exportações, que passaram de 47,6 mil milhões de euros em 2009, para 68,6 mil milhões em 2013 (um aumento de 21 mil milhões de euros), o seu impacto no PIB, apesar de existir, parece ser pouco significativo, como se pode ver no Gráfico 2, certamente devido o seu baixo valor em relação ao PIB total. Em 2013, apesar deste extraordinário aumento, as exportações representaram apenas 40% do PIB, mas em 2009 representavam apenas 30%. 


Este valor redondo dos 30% de impacto das exportações no PIB, parece ter sido a norma que acompanhou toda a primeira década deste século (2000 – 2010). Tal não admira, foi o tempo das grandes entradas de “dinheiro fresco” em Portugal, quer através de Fundos Comunitários, quer através do recurso a empréstimos. Só o Estado, nesses 10 anos, pediu emprestado cerca de 100 mil milhões de euros, e os privados ninguém sabe!

2 – O modelo do Consumo Interno como motor da Economia  

Foi uma década em que o foco estratégico foi posto no “consumir”, tal como na altura dos descobrimentos, ou do ouro do Brasil. Não admira assim que, o “consumo interno”, acompanhasse (e se confundisse), praticamente, com o crescimento do PIB, como se pode ver no Gráfico 3. O consumo sobe o PIB sobe, o consumo desce o PIB desce. Ora como o que interessava era “o crescimento” do PIB, consuma-se então, foi a palavra de ordem. O resultado está aí: Banca Rota.

Gráfico 3 - Evolução do PIB e do Consumo Interno 2000 - 2012


    Fonte: Banco de Portugal


Mas será o consumo interno, em Portugal, um mal em si mesmo? Claro que não, e se sustentável será, sem ser o motor principal, ser pelo menos, o motor auxiliar do desenvolvimento económico saudável. Assim como uma espécie de motor eléctrico dos automóveis híbridos.

Em Portugal, devido às suas dificuldades de produção dos produtos que alimentam o consumo, a solução, tem sido o recurso às Importações, e isso, é que na minha opinião tem contribuído para a nossa desgraça, e motivo pelo qual os outros países, se fazem passar por nossos amigos, indo ao ponto de nos emprestarem dinheiro para estimular esse consumo! Como habitualmente, não temos material para a troca, o resultado, é o desequilíbrio da balança de transacções, e o recurso ao endividamento.

3 – O desafio: Produzir (investir) nos Produtos que nos faltam para alimentar o consumo interno

Se analisarmos bem o Gráfico 3, podemos verificar que a diminuição do consumo interno, parece arrastar o decréscimo do PIB. Entre 2010 e 2012 o consumo interno caiu cerca de 8 pontos percentuais, e PIB caiu 5. Se tivermos em conta, que parte deste consumo interno é alimentado por importações, verifica-se no Gráfico 1, e como é lógico, que as ditas também caíram entre 2010 e 2012 num valor absoluto de aproximadamente 3 mil milhões de euros; e essa diferença ainda é maior se, tivermos como referência o ano de 2008, a diferença para 2012 é de cerca 9 mil milhões de euros! Uma brutalidade, como diz o outro.

Ora em minha opinião, a saída para esta situação, seria Portugal inventariar quais produtos que levaram a esta queda “brutal”, averiguar aqueles que são indispensáveis, e os que podemos produzir em Portugal, e partir para o tal investimento. Os Fundos Comunitários 2014 – 2020 teriam aqui uma boa aplicação.

Com um aumento no consumo interno na ordem dos 4 pontos percentuais (4 a 5 mil milhões de euros/ano), e a manutenção das Exportações, o PIB poderia crescer acima dos 2% ao ano, a nossa balança comercial continuaria estável, o emprego aumentaria, o país ficaria menos dependente do estrangeiro, se conseguíssemos manter o nível das nossas exportações nos 70 mil milhões (foram 68 em 2013), poderíamos continuar a importar no valor dos 65 mil milhões (64,9 em 2013), e poderíamos começar a pensar em pagar alguma da nossa dívida ao exterior.

Para tal, talvez não fosse mal pensado, que cada português aderisse a esta campanha na hora de comprar, seja o que for, e preferir o "Produzido em Portugal". Mesmo que um pouco mais caro, todos nós estaríamos a contribuir para o tal crescimento económico de que tantos falam. E isto seria como o dar sangue: custa muito pouco a cada um mas o país agradeceria. E depois pedir sempre a tal FacturaQuem sabe não esteja aqui a solução. 

Aqui fica o meu contributo de cidadão português:

    

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