Um país cheio de "doutores e engenheiros"
por BELEN
RODRIGO/Publicado em Madrid, no Jornal ABC no Dia 18/09/2014
"Os “títulos” são
muito importantes em Portugal, e são usados muitas vezes para se referirem a
pessoas que os possuem: “Senhor Doutor” ou “Senhor Engenheiro” é como os
portugueses tratam os licenciados em Portugal. Actualmente os “títulos académicos”
ainda são muito importantes para os portugueses.
O grau académico
de Doutor é o mais elevado dos sistemas de Ensino Superior, e que é normalmente
obtido após se concluir um Doutoramento. No entanto em Portugal, o termo, é
genericamente usado para o tratar meros “licenciados” em diversas áreas.
Quando digitam a
abreviatura “Dr. ou Dra.” referem-se licenciados. Já o “Professor Doutor” é
aquele que tem um Doutoramento, e é um professor na Universidade. Se é ainda um
investigador (doutorando) não é usada a sigla de “Prof. Doutor”, é apenas o
Doutor (diferente médico). Mas “Doutores” são também tratados qualquer
Licenciado em Ciências ou Engenharia. E muitos ficam ofendidos se assim não
forem tratados!
Para os
estrangeiros, é difícil acostumarem-se com este excesso de formalismo,
sobretudo os espanhóis, tão acostumados com a familiaridade de nome próprio.
Pouco a pouco, especialmente nas gerações mais jovens, estão tentando dar menos
importância ao como se referir a estas pessoas, mas isso é algo muito enraizado
nos costumes do país.
Até em Cartões
de Crédito (e cheques), por exemplo, indica-se o seu titular como Dr. ou ENG.
(abreviatura de engenheiro em Português), seguido do nome da pessoa, mas com
seu respectivo título sempre a acompanhar. E especialmente, quando você telefona
para falar com um trabalhador específico, a Secretaria, fica sempre muito
irritada se você disser que quer falar com Sr. Peres! Imediatamente é
corrigido, dizendo que ali só trabalha é o Sr. Dr. Peres!
Quer gostemos ou
não, títulos académicos têm muita importância em Portugal. Pretendem
diferenciar ainda mais as classes mais altas das mais baixas, num país onde a
classe média é bastante pequena. Aumenta-se os argumentos de autoridade entre
aqueles que têm e/ou não têm nenhum título. Apesar dessa obsessão por doutores
e engenheiros, surpreende algumas novidades, como a Câmara Municipal de Torre
de Moncorvo, Bragança, que tomou a decisão, há algumas semanas, de terminar com
esses “tratamentos” para todos os Deputados Municipais, que são agora tratados
de forma igual: pelo seu nome ou apelido.
Pode ser que,
lentamente, as coisas vão mudando, embora muitos sociólogos portugueses
reconheçam que mostrar o estatuto (título) é uma necessidade, e isso é algo que
constantemente é feito em Portugal. Então entramos noutro mundo “o de
aparências”: a relação de ser e ter.
O mesmo se passa com os automóveis. A importância que os portugueses têm num
belo carro, embora implique, na maioria das vezes, ter a dispensa vazia.
2 comentários:
Amigo João essa é muito boa,de doutores sem o serem. Gostei pois Um beijo
A realidade aqui retratada encerra muitas verdades, embora esta questão dos títulos honoríficos, já se tenha colocada, no passado, com muito maior veemência. Os espanhóis também têm as suas presunções sociais a começar pela maneira condescendente com que sempre nos trataram. São muito menos abertos às diferenças étnicas do que nós e sofrem dum nacionalismo umas vezes assertivo e outras vezes reaccionário. Eu gostava de discutir o assunto com a jornalista espanhola, de preferência, num café português limpo em detrimento de um bar espanhol cheio de lixo, como aquele onde eu estive há pouco tempo num centro comercial espanhol.
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