Parece que os
Cuidados de Saúde em Marvão estão de novo envoltos em polémica, a julgar por
estas declarações ontem à Rádio Portalegre do Presidente da Câmara Vítor
Frutuoso:
“O presidente da Câmara de Marvão acusou
hoje a Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA) de tratar de forma
“desigual e mesmo discriminatória” os utentes do concelho. Segundo Vítor
Frutuoso a ULSNA “reduziu para metade” o período de atendimento dos utentes no
Centro de Saúde de Marvão e em algumas Extensões de Saúde “estão a ser
desmarcadas dezenas de consultas”.
O autarca referiu que estas alterações foram
introduzidas de forma “unilateral” pela ULSNA, como forma de compensar a
abertura do centro de saúde de Marvão em um dos dias de fim-de-semana. Responsabilizando
a ULSNA pelos transtornos causados aos utentes do concelho, Vítor Frutuoso
defende que os marvanenses têm direito a um atendimento semelhante ao dos
outros concelhos do Alto Alentejo com a mesma dimensão.
O social-democrata observou que a forma como
estão a funcionar os serviços de saúde no concelho “está longe das
reivindicações” da autarquia, e acusa a ULSNA de ter agido de forma
“intencional” e com base em interesses políticos.”
Que se passa
afinal? Vou tentar resumir a situação.
O concelho de
Marvão tem sido sempre descriminado negativamente na prestação de cuidados de
saúde, quando comparado com os restantes concelhos do Norte Alentejo de igual
dimensão. Para além dos seus Quadros de Pessoal terem sido sempre menores, o
número de horas de atendimento aos utentes do concelho foi sempre, em média,
inferior em cerca de 25 horas/semana, quando comparado com centros de saúde
idênticos no distrito de Portalegre. Até há cerca de 1 mês atrás assim era,
como se pode observar no Quadro 1:
A realidade do
Quadro mostra que não são precisas grandes explicações ou análises, os dados são mais que elucidativos.
Há mais de 30
anos que a população do concelho de Marvão vem sendo descriminada em relação
aos restantes concelhos do distrito, e cada vez que alguém por situação aguda,
ou agravamento da sua doença crónica, tem necessidade de atendimento aos
fins-de-semana ou depois das 5 da tarde aos dias de semana, vai de demandar
para Castelo de Vide (onde muitas vezes é negado o atendimento), ou caminhar
para Portalegre. Os custos são sempre por conta dos habitantes de Marvão. Até
parece que pagam menos IRS que os restantes habitantes do distrito!
Uma injustiça com 30 anos.
Enquanto trabalhei
e morei nesse concelho, sempre alertei, e me bati, pela reposição de tratamento
igual aos outros concelhos do distrito, nomeadamente, junto dos serviços Regionais de Administração da Saúde, e junto dos representantes do Poder Local, para
que defendessem os marvanenses dessa injustiça. Nunca encontrei grande eco, e
fizeram quase sempre orelhas moucas, dizendo que “a saúde” não era da responsabilidade da Câmara! Aos quais eu
sempre argumentei, que, ao menos, representassem os marvanenses e fizessem valer
os seus direitos.
Há cerca de 5
anos, quando foi implementado este sistema de alternância de Centros de Saúde próximos, e já com esta Vereação liderada por Vítor Frutuoso, tive oportunidade de
participar numa Reunião entre a Autarquia de Marvão e a Administração da ULSNA (Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano),
onde foram analisados estes problemas, e onde foram reconhecidas estas
desigualdades, que podemos ver no Quadro 2.
Ficou acordado que, devido à situação particular geográfica do
concelho (a sede concelho ser menor que a maioria das freguesias e de difícil
acesso), não fazia sentido, abrir um serviço de Horário alargado na Sede de Concelho,
nomeadamente, um dia ao fim-de-semana. Mas que faria todo o sentido, que esse
Horário funcionasse na Extensão de Saúde de São Salvador da Aramenha, onde se
poderia, para além de servir todo o concelho de Marvão, fazer a alternância com
o concelho de Castelo de Vide, a exemplo do que se faz nos outros concelhos.
Funcionando esse serviço de Horário alargado ao Sábado em Castelo de Vide, e ao
Domingo em São Salvado (Marvão).
Para que tal se
verificasse, ficou a Câmara de Marvão, de realizar obras na Extensão de São
Salvador, para que ali se pudessem realizar estas “consultas de Horário
alargado” (não confundir com “urgências”, essas não existem em nenhum Centro de
Saúde, apenas nos Serviços de Urgência de Portalegre, Elvas e Ponte de Sôr), e
tanto quanto sei, essas obras, foram feitas.
Porque não se
cumpriu até hoje este acordo e este Plano? Pois, não sei.
O que sei é que, recentemente, alguma alma iluminada, como existem muitas naquele concelho, resolveram andar com mais “um
abaixo-assinado”, método onde se escondem aqueles que têm medo de dar a
cara (e onde se escondem a maioria das vezes muitos cobardolas), a fim de
exigiram à ULSNA a abertura, aos fins-de-semana, de Serviços de Saúde em
Marvão. E claro, a ULSNA, fez-lhes a vontade!
Sabe-se lá com que intenções e
interesses, abriu-lhes o Centro de Saúde, não 5 horas ao fim-de-semana como
havia ficado acordado há 5 anos, mas abriu-os 10 horas: 5 horas ao Sábado e 5 horas
ao Domingo! Só que não foi em São Salvador, como era lógico e funcional e servir os 2 concelhos, mas na
Sede Concelho, onde há mais de 30 anos toda a gente sabe que não funcionam nem
funcionarão.
Em contrapartida manteve também as 10 horas de Horário alargado em Castelo Vide. E ainda dizem que há poucos recursos humanos! A desperdiçar assim, não há recursos que cheguem. Digo eu...
Resultado: Como
os Recursos Humanos não foram aumentados e os existentes não esticam, e se
passaram a estar ocupados 10 horas ao fim-de-semana, passou a faltar esse mesmo
tempo durante a semana. Lógico, não? Qualquer “manageiro” saberia isto, não é
preciso ser doutorado em Gestão!
Com uma agravante: é que enquanto aos dias de semana havia ocupação na prestação de
cuidados familiares nas Extensões, ao fim-de-semana na Sede de Concelho ninguém lá vai. E com 10 horas bem podiam vir episódios agudos de doença... E assim, a lista
de espera das consultas de Saúde Familiar começou a atrasar-se nas Extensões, e
os utentes do Centro de Saúde de Marvão a saírem prejudicados. Qualquer
profissional de saúde, por muito distraído que ande, saberia prever isso.
Urge portanto
fazer várias perguntas, que devem ser respondidas por quem de direito:
- Porque não
respeitou a ULSNA o Plano acordado há 5 anos? 5 Horas de abertura ao fim-de-semana na Extensão de Saúde de São Salvador, servindo os 2 concelhos: Marvão e Castelo de Vide. Poupavam-se assim 10 horas de equipas de saúde (Médico, Enfermeiro, Administrativo, e Auxiliar), que deveriam ser ocupadas na prestação de cuidados familiares durante a semana.
- Porque é que
se abre um Serviço 10 horas ao fim-de-semana, num local de acesso difícil e
ilógico, sabendo que isso, por dificuldade de parcos recursos humanos, vai
prejudicar, em muito, a prestação de cuidados de saúde familiar durante a semana?
- Qual é a
opinião dos responsáveis pelo Centro de Saúde de Marvão? E porque não se
envolvem os profissionais para se encontrar um a solução partilhada? Ou mesmo
uma pergunta mais provocatória: Quem é que manda no Centro de Saúde Marvão?
- Com este
aumento de carga horária, como podem os parcos recursos médicos de Marvão,
continuar a reforçar o Centro de Saúde Castelo de Vide?
- De quem é a
responsabilidade de andar com “abaixo-assinados” a reivindicar coisas que
deviam ser estudadas por peritos e debatendo-as primeiro? E quando não sabem porque não perguntam? Às
vezes, com estas estratégias, o tiro sai pela culatra. Não me admira que venha ser o caso!
- E como irá
acabar mais este imbróglio para os já, e sempre prejudicados, utentes de Marvão do
SNS?
Bom senso meus
senhores. Bom senso e diálogo entre quem decide e quem conhece a realidade do
concelho de Marvão.
Os marvanenses têm, pelo menos, direito a
um tratamento idêntico aos dos restantes habitantes do distrito de Portalegre.
Nota: Se alguém quando acabar de ler
este Post pensar que é fácil criticar, sem apresentar alternativa e soluções,
tem aqui, o que penso sobre como deveriam ser organizados os serviços de saúde
em Marvão.
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