terça-feira, 12 de agosto de 2014

O que está a dar é a musica do “cu pra baixo e cu pra cima”

De acordo com o que lemos aqui, Rui Veloso, poderá ter posto fim à sua carreira (embora diga que apenas vai parar!) enquanto um dos maiores criadores de música cantada em português dos últimos 35 anos, e a quem, alguns até apelidaram de “pai do rock português”. Em parceria com Carlos Tê, Rui Veloso será um dos canta autores mais importantes da música portuguesa das últimas 4 décadas. Será também importante, fixarmo-nos nas razões porque o faz.

Num país mediano, ou mesmo pobre, analfabeto, massificador do mau gosto, explorador da pobre condição humana, é muito difícil, ou mesmo impossível sobreviver, seja na música, na literatura, no desporto, na economia, ou qualquer outro exemplo de bom profissionalismo.

No caso da música veja-se o exemplo deplorante das 3 televisões generalistas nas tardes de fim-de-semana, onde apenas campeia a música de “cu pra baixo-cu pra cima”, “abana as ancas e as mamas”, ou do faz que “tira mas não mete”. Uma vergonha de círculo vicioso de onde é difícil sair. E se nos canais privados podemos admitir que façam o que quiserem, já na RTP paga com os nossos impostos e taxas (que não é pouco) parece só haver dinheiro pornográfico (às vezes 50 000 mensais) para pagarem aos apresentadores da treta para dizerem banalidades. Para bons músicos e actores nem cheta.    

Por isso vimos Saramago emigrar para Espanha e só não pediu a mudança de nacionalidade por respeito a seu povo; a Maria João Pires que pediu nacionalidade brasileira. Agora é o Rui que abandona, e veremos o que acontece...

Na mesma linha, deixo ainda para reflexão este texto de Luís Nave, postado aqui:

“O que escrevi a propósito de literatura podia ser interpretado como rejeição do contemporâneo, mas visou apenas reflectir sobre o critério que determina a escolha daquilo que é considerado arte. A minha intenção era dizer que o comércio e a exposição mediática em excesso limitam as novas ideias e sobretudo pretendi sublinhar que estes processos implicam a banalização do artista, transformado em jarrão decorativo que, quando fala, diz o que se espera dele: sempre obscuro, mas sem ser incómodo.

As elites deixaram de ler romances, que eram escritos por membros das classes altas. A literatura foi extremamente popular entre as pessoas influentes dos dois séculos anteriores, tema de conversa nos salões da aristocracia e, depois, nas festas dos burgueses da revolução industrial. O desconhecimento das novidades castigava-se com sarcasmo e a ignorância dos clássicos era impensável.

Isto já não é assim e os escritores, que no passado tinham certa fama, pelo menos na sua cidade, estão agora inteiramente proletarizados. A literatura perdeu a aura intelectual que possuía, deixando de ser um farol das consciências. O mesmo é válido para pintores, violinistas ou maestros: o impacto social dos artistas é hoje tanto maior quanto mais se massificou a arte.

A cultura popular dita as regras e vive aliás um período medíocre. As massas deixaram de ter disposição para coisas estranhas, a sua reduzida exigência aceita imitações e rejeita quem tente contrariar a moda instalada. A escrita de hoje, tecnicamente excelente, mantém muitas qualidades, mas os escritores e os artistas são personagens secundárias, ao serviço de um mercado que os condena à inexistência, caso não satisfaçam as expectativas dos consumidores. Sem fazerem concessões ao gosto dominante, serão desconhecidos; se as fizerem, serão maus escritores. Um dilema difícil.”

Podemos não ter nada de novo, mas teremos sempre a tua memória. Obrigado Rui...



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