De acordo com o
que lemos aqui, Rui Veloso, poderá ter posto fim à sua carreira (embora diga que apenas vai parar!) enquanto um dos
maiores criadores de música cantada em português dos últimos 35 anos, e a quem,
alguns até apelidaram de “pai do rock português”. Em parceria com Carlos Tê,
Rui Veloso será um dos canta autores mais importantes da música portuguesa das últimas
4 décadas. Será também importante, fixarmo-nos nas razões porque o faz.
Num país mediano,
ou mesmo pobre, analfabeto, massificador do mau gosto, explorador da pobre
condição humana, é muito difícil, ou mesmo impossível sobreviver, seja na
música, na literatura, no desporto, na economia, ou qualquer outro exemplo de
bom profissionalismo.
No caso da música
veja-se o exemplo deplorante das 3 televisões generalistas nas tardes de
fim-de-semana, onde apenas campeia a música de “cu pra baixo-cu pra cima”, “abana
as ancas e as mamas”, ou do faz que “tira mas não mete”. Uma vergonha de círculo
vicioso de onde é difícil sair. E se nos canais privados podemos admitir que
façam o que quiserem, já na RTP paga com os nossos impostos e taxas (que não é
pouco) parece só haver dinheiro pornográfico (às vezes 50 000 mensais) para
pagarem aos apresentadores da treta para dizerem banalidades. Para bons músicos e actores nem cheta.
Por isso vimos
Saramago emigrar para Espanha e só não pediu a mudança de nacionalidade por
respeito a seu povo; a Maria João Pires que pediu nacionalidade brasileira. Agora é o Rui que abandona, e veremos o que acontece...
Na mesma linha, deixo
ainda para reflexão este texto de Luís Nave, postado aqui:
“O que escrevi a propósito de literatura
podia ser interpretado como rejeição do contemporâneo, mas visou apenas
reflectir sobre o critério que determina a escolha daquilo que é considerado
arte. A minha intenção era dizer que o comércio e a exposição mediática em
excesso limitam as novas ideias e sobretudo pretendi sublinhar que estes
processos implicam a banalização do artista, transformado em jarrão decorativo
que, quando fala, diz o que se espera dele: sempre obscuro, mas sem ser
incómodo.
As elites deixaram de ler romances, que eram
escritos por membros das classes altas. A literatura foi extremamente popular
entre as pessoas influentes dos dois séculos anteriores, tema de conversa nos
salões da aristocracia e, depois, nas festas dos burgueses da revolução
industrial. O desconhecimento das novidades castigava-se com sarcasmo e a
ignorância dos clássicos era impensável.
Isto já não é assim e os escritores, que no
passado tinham certa fama, pelo menos na sua cidade, estão agora inteiramente
proletarizados. A literatura perdeu a aura intelectual que possuía, deixando de
ser um farol das consciências. O mesmo é válido para pintores, violinistas ou
maestros: o impacto social dos artistas é hoje tanto maior quanto mais se
massificou a arte.
A cultura popular dita as regras e vive
aliás um período medíocre. As massas deixaram de ter disposição para coisas
estranhas, a sua reduzida exigência aceita imitações e rejeita quem tente
contrariar a moda instalada. A escrita de hoje, tecnicamente excelente, mantém
muitas qualidades, mas os escritores e os artistas são personagens secundárias,
ao serviço de um mercado que os condena à inexistência, caso não satisfaçam as
expectativas dos consumidores. Sem fazerem concessões ao gosto dominante, serão
desconhecidos; se as fizerem, serão maus escritores. Um dilema difícil.”
Podemos não ter nada de novo, mas teremos sempre a tua memória. Obrigado Rui...
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