terça-feira, 12 de agosto de 2014

No dia da juventude...


(A roda da vida, digo eu...)

Olha a laurinha lá vai toda decidida, diz que é crescida, e que prescinde dos conselhos do pai. Olha ela, lá vai toda destemida, dona da vida, nem duvida que é por ali que vai. Olha a laurinha à cabeça da charanga das raparigas do recreio, do liceu onde ela anda, e, manda na dinâmica da escola. Não vai à bola com a setôra de história, e não disfarça, e, faz a vida negra à criatura, é a ditadura de quem manda só porque sim. Olha a laurinha que já fuma às escondidas do pai com a mesada de alguém, ainda namora às escondidas da mãe, enquanto diz que não tem medo de nada, nem ninguém. 

Vai, dança até ser dia, que a vida são dois dias, e tu vais ser alguém. Olha a tua mãe com um olho na novela, e o outro na panela. Um dia vais ser tão Dona Laura como ela!

Olha a laurinha toda cheia de cidade, sem ter idade para sequer votar na junta daqui. Sempre que a chamam ao quadro desatina, e nada diz, mas bem que opina sobre o estado a que chegou o país. Olha a laurinha lá vai cheia de prestígio, nenhum vestígio da miúda, outrora, santa e singela. E a mãe dela fica a vê-la da janela, ainda se lembra bem do tempo em que, a laurinha, era ela. A fumar às escondidas do pai, com o dinheiro que alguém subtraiu da carteira da mãe, enquanto diz ao mundo que, ainda há-de vê-la ser alguém!

Vai, canta até ser dia, que um dia há-de ser dia, e tu, vais ser alguém! Que é tal e qual a mãe, um olho na novela, o outro, na janela. Um dia vais ser tão Dona Laura como ela.

Aproveita agora, que há-de chegar a hora que não poupa ninguém, e, vais ser igual à tua mãe com a filha pela trela, repete-se a novela:

Um dia vais ser mais Dona Laura do que ela...


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