Olha a laurinha
lá vai toda decidida, diz que é crescida, e que prescinde dos conselhos do pai.
Olha ela, lá vai toda destemida, dona da vida, nem duvida que é por ali que vai.
Olha a laurinha à cabeça da charanga das raparigas do recreio, do liceu onde
ela anda, e, manda na dinâmica da escola. Não vai à bola com a setôra de
história, e não disfarça, e, faz a vida negra à criatura, é a ditadura de quem
manda só porque sim. Olha a laurinha
que já fuma às escondidas do pai com a mesada de alguém, ainda namora às
escondidas da mãe, enquanto diz que não tem medo de nada, nem ninguém.
Vai, dança até ser dia, que a vida são dois dias, e tu vais ser alguém. Olha a tua mãe com um olho na novela, e o outro na panela. Um dia vais ser tão Dona Laura como ela!
Vai, dança até ser dia, que a vida são dois dias, e tu vais ser alguém. Olha a tua mãe com um olho na novela, e o outro na panela. Um dia vais ser tão Dona Laura como ela!
Olha a laurinha
toda cheia de cidade, sem ter idade para sequer votar na junta daqui. Sempre
que a chamam ao quadro desatina, e nada diz, mas bem que opina sobre o estado a
que chegou o país. Olha a laurinha lá vai cheia de prestígio, nenhum vestígio
da miúda, outrora, santa e singela. E a mãe dela fica a vê-la da janela, ainda
se lembra bem do tempo em que, a laurinha, era ela. A fumar às escondidas do
pai, com o dinheiro que alguém subtraiu da carteira da mãe, enquanto diz ao
mundo que, ainda há-de vê-la ser alguém!
Vai, canta até
ser dia, que um dia há-de ser dia, e tu, vais ser alguém! Que é tal e qual a
mãe, um olho na novela, o outro, na janela. Um dia vais ser
tão Dona Laura como ela.
Aproveita agora,
que há-de chegar a hora que não poupa ninguém, e, vais ser igual à tua mãe com
a filha pela trela, repete-se a novela:
Um dia vais ser
mais Dona Laura do que ela...
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