Portugal é,
desde a sua fundação, um país do “faz-de-conta”, um país em que o supérfluo e o
banal se sobrepõem sempre ao essencial. Fomos sempre um povo, ou as suas
elites, que privilegiou os processos em detrimento dos resultados.
Há até algumas
correntes que defendem que Portugal tem um “cunho”, eminentemente, feminino, sempre
preocupado com o “como”; em oposição aos congéneres nórdicos (Alemanha,
Inglaterra, e outros), que terão um carácter de padrão masculino, privilegiando, o “quê e o quando”, isto é, os resultados.
Hoje, mais que
nunca, aí temos as consequências.
É assim que andamos
a discutir, se o povo ainda se aguentará nas “canetas” com mais austeridade, só
porque um qualquer burgesso cagou essa bosta opinativa; se uma qualquer pepa ou
pega, diz que o seu grande desejo é ter uma mala chanel; se um homem deu um
pontapé num porco, porque aquele teimava em usar uma auto-estrada sem pagar a
respectiva portagem; ou se, os sem-abrigo aguentam o tipo de vida que levam,
porque é que você e eu não havemos de aguentar?
Já em tempos
aqui escrevi, que os alimentadores destas questiúnculas são pessoas razoavelmente
instaladas na vida, “coltura made in sol-expresso” de fim-de-semana. A maioria
nasceu nos últimos 40 anos e começaram a trabalhar depois dos 25; que estudaram
durante 20 anos à custa dos contribuintes; que pensam que tomar banho todos os
dias é essencial para a saúde; que não podem passar sem uma refeição de boa
carne e peixe fresco diariamente e, se as ditas forem tomadas num “Restaurant” é
contribuir para o desenvolvimento do país; que acham normal que toda a gente
receba da segurança social sem nunca para lá ter contribuído peva; que acham
que nada podem fazer pela sua saúde, e que o SNS terá sempre resposta às imbecilidades
que andam fazendo em estilos de vida manhosos; que fumam 20 cigarritos
por dia porque isso os acalma (enquanto o “cancâro” do pulmão, a bronquite, ou
uma pneumonia, os não chatear); que acham que todas as famílias devem ter
direito a um T3 com garagem (se possível com jardim e piscina), porque isso dá
emprego, mas sem se questionarem sobre o porquê de existirem, em média, dois
apartamentos por família em Portugal ou quanto custa cada litro de água tratada;
que vão de carro para o ginásio queimar calorias; e mais concretamente, que
vivem num país que vive de dinheiro emprestado há cerca de 40 anos, sem se
preocupar em o devolver, e que tal, se pode manter eternamente, etc., etc.
Eu por mim
concordo com todos estes direitos, a única coisa que me parece fundamental, é
que o país, no seu conjunto, crie riqueza para suportar este conjunto de
mordomias. Só que, o que mostra a realidade, é que nos últimos 40 anos, o país gastou, em média, mais 7,5% do que produziu anualmente, o que dá uma dívida próxima dos 300
000 milhões de euros, números por baixo. Só em juros a coisa andará pelos 15
000 milhões de euros ao ano; sendo que 7 500 milhões são de divida pública, que
aqueles que pagam impostos estão a pagar.
Claro que depois
desta dissertação, o essencial, não serão as palermices que se andam por aí a
discutir. O essencial, era analisar seriamente como chegámos até aqui; discutir, se com o dinheiro/riqueza que produzimos, o que é que podemos ter actualmente com
um mínimo de qualidade de vida na saúde, na educação e na segurança social,
para além da defesa nacional; habitação já temos até de sobra, precisa é de ser
bem usada; o essencial, era responsabilizar politica e criminalmente todos os
responsáveis por esta situação, alguns dos quais, piores que Alves dos Reis ou
mesmo o “al capone americano” (alguns instalados ainda em altos cargos), prendê-los em prisões comuns, confiscar-lhe todos os bens, e, enquanto não repusessem os "desvios" não saiam do chilindró ; o essencial, era renegociar a dívida, com um Plano
de Liquidação exequível, e com juros de 2%, em vez do valor médio de 5% que
pagamos actualmente aos que nos andam a chular; o essencial, era planear uma
agricultura e pescas, que nos tornassem o mais auto-suficientes possível, e
criar condições para que a nossa fraca indústria se torna-se mais competitiva
(baixando impostos e contribuições, mas exigindo garantias aos empresários
sobre o cumprimento das suas responsabilidades com um sistema de justiça
simples e implacável), e mais não digo.
E já agora, aos
agitadores e instigadores do protesto, gastem as energias em acções de formação
dos vossos correlegionários incutindo-lhes hábitos de exigência
diária para com toda a Administração Pública, da local à central, incutindo em
todos uma cultura de cidadania democrática. Sermos agentes da exigência e da
contribuição não faz de nós “polícias” do Estado. O Estado somos todos nós, e
sempre que alguém não paga as suas obrigações, outro irá pagar, quase sempre
nós: Eu e tu. A cultura do berro não nos levará a lado nenhum.
Se por aí não
formos, claro que teremos que aguentar bem mais...
Sem comentários:
Enviar um comentário