Para mim o dia de todos os santos estará sempre ligado àquele longínquo primeiro dia de Novembro de 1966. E sempre que a data chega, não consigo deixar de a recordar.
Diga-se, previamente, que eu era por esses tempos, catraio de 9 anos de idade, e o dia dos santos, era assim que o denominávamos, só mais tarde é que vim a saber que pertencia a todos, era desejado pela gaiatada da aldeia com muitos dias de antecedência.
Nessa data, quase de madrugada, para sermos os primeiros a chegar, juntávamo-nos em pequenos grupos, para a “esmola” dar para todos, e lá íamos nós, bolsa a tiracolo, de porta em porta, pedir os santinhos. Nesse ano, lá fui na companhia de mais duas amigas mais ou menos da minha idade.
Era assim que percorríamos toda a Abegôa (aldeia do concelho de Marvão) e seus arredores, aceitando tudo o que nos davam, que ia das nozes às romãs; do rebuçado de meia-tostão às bolinhas de chocolate tipo joaninha; um tostão, quando muito dois, porque os jovens paroquianos eram muitos e o dinheiro já naquela época não abundava; mas também uns copitos de jeropiga, licor, ou aguardente “frôxa”, já que essa léria dos menores não poderem beber bebidas com espírito ainda estava para ser engendrada, e a data era mesmo para festejar aqueles que tinham alma grande, então venha de lá um copito que, só um, não há-de fazer mal.
Só que, copito aqui copito ali, chegava-se ao fim do dia, e a “carga”, que não era só das diversas dádivas que enchiam a bolsa, lá começava a tombar, e era aí que, muitas vezes, as “doçuras” descambavam para as “travessuras”.
Foi assim, que nessa tarde, eu e as outras duas santinhas, não sei se por retaliação a alguma doçura mais amarga, ou fruto de algum exagero das tais espirituosas, ou ainda quem sabe, fruto da maldade típica das crianças que éramos, que sem se saber lá muito bem porquê, desatámos à pedrada à canalização, quase megalítica, que ligava a fonte ao tanque da ti Jaquina do Mané Pedro! E daí à sua demolição, foi um instante.
Não deve ter sido muito difícil, à proprietária, deslindar os autores da façanha destruidora, pois na manhã seguinte, a dita, apresentou-se em minha casa dando conta a minha mãe dos acontecimentos da véspera.
As consequências, não se fizeram tardar com umas boas “orelhadas” correctivas, e a proibição de voltar, nos próximos tempos, à propriedade da vizinha Jaquina, onde eu tanto gostava de ir para brincar com o seu neto Jaquim Manel.
O período de interdição de voltar ao “local do crime” perdurou por diversos anos e, a partir daí, o nosso parque de diversão infantil passou a ser em campo neutro, a casa da ti Júlia. Ambos ficámos a ganhar!
1 comentário:
Eram tempos maravilhosos em que predominava uma educação e um viver que se vão anulando. Também tenho algumas recordações do género.
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