Na semana passada tive a oportunidade de, aqui, felicitar a ULSNA (Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano), pela sua contribuição estratégica de voltar a fazer nascer mais cerca de 200 portugueses/ano em Portugal.
Como aí descrevo, esses infantes lusos, tinham a desdita de terem de emigrar, mesmo antes de nascerem. Hoje, quero voltar ao tema. Não ao facto de voltarem a nascer portugueses no seu país, mas à problemática de “como se nasce em Portugal, mais concretamente, no Alto Alentejo”, e, sobretudo, quanto é que isso custa!
Como é do conhecimento geral, o Distrito de Portalegre é o menos populoso do país, apenas cerca de 118 000 almas por aqui vivem; é o mais envelhecido, o que tem menor número de mulheres em idade fértil e, logicamente, aquele em que nascem menos crianças. Pelas minhas contas nascerão menos de 800 crianças/ano.
Nos concelhos mais pequenos (Alter, Arronches, C. Vide, Crato, Fronteira, Gavião, Marvão, Monforte, e mesmo Sousel e Avis) a quantidade de mulheres grávidas/ano, andarão à volta de uma dúzia. A maioria dos Centros de Saúde destes concelhos tem, pelo menos 3 médicos de família, e meia-dúzia de enfermeiros. O que quer dizer que a cada médico, por exemplo, mais não terá que, uma média, de 4 grávidas/ano para vigiar e seguir.
Não consegui apurar quantos especialista na área tem, actualmente, a Maternidade do Hospital de Portalegre, mas entre “residentes e contratados” andarão à volta de meia-dúzia, mais coisa menos coisa. O que dará uma média para seguimento e vigilância, de situações de Risco em saúde materna, de 150 grávidas/ano. Número muito inferior ao que está preconizado pelas instituições nacionais e estrangeiras para estas actividades, e, para as quais, estes serviços públicos de saúde (SNS), deveriam dar resposta. Sem que as futuras mães, a não ser que fosse por sua “livre” opção, tivessem que recorrer à dispendiosa assistência particular privada.
No fim-de-semana passado, quando jantava com uns amigos, constatei que 2 deles se preparavam para serem pais nas próximas duas semanas e, ao perguntar-lhes onde as suas companheiras faziam a vigilância da gravidez, a resposta foi unânime: Em consultórios privados, pela módica quantia de, pelo menos, 60 euros cada visita. Constatei ainda, que se tratavam de gravidezes perfeitamente normais, de mulheres jovens, 1ª gravidez, nada de qualquer Risco, que me tenha apercebido. Ainda lhes perguntei, quantas consultas haviam tido? Ao que me informaram que era uma por mês, e duas no último mês.
Tendo em conta que o protocolo de consultas se fez a partir do 3º mês, pelo menos 8 consultas haviam sido, a multiplicar por 60 euros, ficou a “brincadeira” à volta de 500 euros. Supondo que, no 1º ano de vida dos futuros rebentos o ritual se vai manter, embora com outros “mestres”, pelo menos mais 500 euros irão ser extorquidos aos progenitores.
Tudo somado serão, pelo menos, só para Consultas Normais de Vigilância: 1 000 euros, 200 mocas em moeda antiga.
Convém ainda, informar que todas as instâncias das especialidades, consideram a Gravidez e a Vigilância das Crianças no 1º ano de vida, fenómenos completamente normais, que existem desde que o “mundo é mundo”; e que o seu seguimento e vigilância devem ser feitos nos Cuidados de Saúde Primários/Centros de Saúde, gratuitamente, pelos médicos e enfermeiros de família, que têm formação suficiente, que para isso lhes pagamos e recebem, e, só devem ir para os especialistas as situações de Risco.
Todas essas actividades, já foram financiadas pelos nossos Impostos, que não param de aumentar. Andarem a “cobrar” uns, e a pagar outros, mais 1 000 euros para Consultas Normais de Vigilância de Gravidez e de Saúde Infantil, é um abuso, para não lhe aplicar outro adjectivo. E todos aqueles que os pagam deveriam apresentar os custos à ULSNA, para serem ressarcidos, e para que esta, descontasse nos ordenados daqueles que deveriam ter prestado os cuidados e não o fizeram. Não será difícil identificar os prevaricadores:
Aqueles que não fizerem, ficam sem menos 2 messes de ordenado, a juntar aos outros 2 que o Gaspar e o Coelho já retiveram para financiar essas actividades.
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