sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O mundo dos outros.....


(... e eu apensar que este melro foi nosso governante, e que esteve a um passo de ser presidente desta republica dos papagaios, ora avaliem a sapiência e os dotes preditivos desta ave agoirenta)

As profecias falhadas do professor Zandinga do Amaral
por Pedro Correia, tirado daqui)

“Lembrei-me hoje bem cedo, enquanto caía o granizo: fez agora um ano, na noite de 15 de Janeiro de 2013, surgia em nossas casas, por cortesia da TVI, um senhor de cabelos brancos e olhos muito abertos, assustado e assustando com palavras que soavam a dobre de finados. 

Em entrevista conduzida por Judite Sousa, o professor Freitas do Amaral trocou por largos minutos a gravitas de catedrático pelo alvoroço do decifrador de conjunturas astrais, profetizando épicas pragas bíblicas sobre os frágeis ombros dos portugueses.

Disse nada menos que isto:

«[Em 2013 haverá] um agravamento muito grande da espiral recessiva.»

«O ano de 2013 só terá comparação, em dificuldades e perigo, com o de 1975.»

«A crise do sistema político português pode pôr o poder na rua.»

«Entre Abril e Junho/Julho, com a recessão a piorar, surgirá um tal sentimento de indignação que força o sistema político a reagir.»

«A hipótese mais provável é que o Presidente da República dissolva o parlamento.»

«É inevitável que haja eleições entre Abril e Setembro.»

«O PS tem grandes hipóteses de sair vencedor dessas eleições.»

Crédulo que sempre sou perante a doutrina dos eminentes vultos nacionais, anotei meticulosamente numa sebenta o que o ilustre professor entendeu proferir nessa noite memorável, bebendo-lhe a sapiência. E à sebenta fui regressando, 2013 adiante, para aferir o grau de acutilância de quanto fora dito em tom tão grave perante uma Judite provavelmente tão perplexa como eu.

Fui aguardando a queda do poder na rua, a dissolução antecipada da legislatura face à força indómita da luta popular, as eleições antecipadas e a emergência de António José Seguro como novo condutor e pacificador da nação. Fui aguardando o "agravamento muito grande da espiral recessiva" e recordando aquele remoto ano de 1975, em que Portugal esteve mais de uma vez a milímetros da guerra civil, com as armas empunhadas e os dedos prontos a premir gatilhos.

E eis que chega Agosto: em vez da anunciada campanha eleitoral para as legislativas antecipadas, surge nas manchetes a inesperadíssima notícia de que Portugal saía da recessão, após dez meses consecutivos de declínio económico. Volvidos mais uns meses, continuava o poder sem cair na rua, contrariando o vaticínio do douto entrevistado da TVI. Em compensação, caíam os juros da dívida, o Estado garantia antecipadamente o financiamento para 2014 e até as famigeradas agências de notação davam sinais de encolher as garras.

A "espiral recessiva" eclipsou-se do discurso político e, pasme-se, até o défice das contas públicas promete situar-se abaixo dos 5% - aquém da meta fixada por essas aves agoirentas a que se convencionou chamar tróica. Mesmo sem dissolução do parlamento, legislativas antecipadas e triunfo esmagador de Seguro nas urnas.

Quando o ano chegou ao fim, senti-me aliviado: afinal o mais parecido que tivemos em 2013 com a tomada do palácio do czar em Petrogrado foi a ruidosa confraternização entre polícias no alto das escadarias de São Bento - algo que nem o falecido Zandinga, com os seus dons divinatórios quase infalíveis, seria capaz de antecipar.

Guardei a sabenta no fundo de uma gaveta. Mas, pelo sim pelo não, já comprei um exemplar do Borda d'Água: homem prevenido vale por dois. E assim consegui escapar incólume à queda do granizo esta manhã.”

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