Na sequência do
primeiro Post com este título, e tal como havia prometido, venho hoje divulgar
mais alguns dados que deveriam ser tidos em conta por todos os que nos
representam, ou aspiram a representar. Bem sei que há aqueles que não gostam da
linguagem numérica, acham que isso de frequências, médias, modas e medianas,
são coisas daqueles que não têm mais que fazer, que o que interessa é “o que
vem a mim”, “o cada um tem”, ou o “quer lá saber do vizinho”! Mas as próprias
estatísticas explicam isso com aquela máxima: “Cada um de nós é único, mas também faz parte das estatísticas!
Em
contrapartida, eu acho que, por sermos um povo que não liga a “números” é que
chegámos onde chegámos, sem que a maioria de nós se tenha questionado ou apercebido,
e, sem que até hoje tenha uma explicação para o sucedido. Devido a esta alergia
aos números, quando se faz uma análise psico-sociológica aos países, há até
quem considere Portugal um país de
características femininas (com
todo o respeito pelas características femininas), sempre muito mais preocupado
com analisar “processos”, do que com avaliar os “resultados” obtidos, e depois é o que
se vê.
Um país a viver
há 40 anos de empréstimos e de dádivas, com um “défice médio" de cerca de 3%/ano ao longo desse período; uma dívida externa de mais de 200 000 milhões de
euros; e um burgesso, que levou o país à bancarrota, e que anda por aí armado
em herói (devia pelo menos estar atrás de umas grades), que em 6 anos aumentou
essa dívida de 60% para cerca de 120% do PIB, a uma média de mais de 10% ao ano
(sem contar com as receitas extraordinárias de delapidação do património
nacional)!
E o povo? Esse
anda por aí em queixumes, ou aos gritos e berros, a reclamar que foi roubado, e
a tentar por trancas nas portas, quando a casa (o país), há 40 anos que anda a
ser saqueado por uns bem-falantes “processistas”, sem que ninguém lhes peça
contas. Quem sabe se a “revolução democrática” não deveria processar-se dentro
de cada português! Procurarmos informação, análise e conhecimento, verdadeiros
cidadãos; munirmo-nos das “armas” necessárias, sermos verdadeiros controladores
destes vendedores da “banha-da-cobra”, e quando nos aparecessem pela porta, a
pedir um “votinho” pela alminha dos que já partiram deste mundo, terem como
nossa resposta, um belo par de nalgadas, que é o que se deve fazer aos
pequenotes que fazem traquinices! Mas para isso precisamos de instrução,
formação e educação, que é disso que hoje vos venho apresentar.
Estas propagandas
também existem em Marvão, como é o caso da tal publicidade de sermos o 6º concelho, a nível nacional, em
Qualidade de Vida. Só que os diversos Indicadores que encontro, e que aqui
darei conhecimento, deixam muito a desejar, até no contexto norte alentejano,
e, quantos mais encontro, mais dúvidas tenho sobre esse Estudo. Isto deveria
merecer alguma análise pelos nossos autarcas, e por todos os que temos essa
possibilidade.
Também, haverá
aqueles que acham que eu ando aqui a “inventar” números, que acham que sonho
durante a noite, para vir para aqui contar umas “bazófias ou falácias” (como
diz o outro), mas as Fontes aqui ficam (PORDATA e “Um país como nós”), e quem
tiver dúvidas é só procurar, e depois contestar, mas com dados objectivos. Também
outros hão-de achar que estes não serão os melhores Indicadores, mas são os que
existem, são públicos, ao alcance de todos. Dá algum trabalho, os dados estão
lá mas é preciso consultá-los, agrupá-los, analisá-los, e depois apresentá-los,
é fácil. Se alguém tiver outros? Chegue-se à frente, e, vamos discuti-los.
Nos primeiros 3
Indicadores, que aqui publiquei, o panorama não era nada animador:
- Marvão tem uma
Taxa de Emprego baixíssima, apenas 38%
dos marvanenses em idade activa (15-64 anos) têm trabalho ou estão empregados,
são apenas 1 200 pessoas; quando essa Taxa a nível distrital é de 41%, e a
nível nacional é de 48%.
- O Salário Médio destas 1 200 pessoas é de 680
euros/mês, quando a nível nacional é de 958 euros/mês. É o mais baixo de todos os concelhos a sul do Tejo,
e um dos mais baixos a nível de todo o país.
- Marvão tem
ainda o mais baixo Poder de Compra de todo
o distrito, abaixo dos 60% da média nacional.
Hoje apresento
mais 3 Indicadores, agora de cariz Social e na área da Educação. Os dados são
referentes ao ano de 2011 (último ano com resultados publicados). Nenhum deles
abona algo de muito favorável para concelho de Marvão, quando comparados com os
restantes concelhos do distrito, ou do país.
Indicadores na área da Educação
1 - Taxas de
Analfabetismo, ou de população sem escolaridade
(Para ver melhor clicar sobre o Quadro)
Como se pode verificar no Quadro 4, Marvão possui uma taxa de população “sem escolaridade” de 21%, a 4ª mais elevada do distrito de Portalegre. Está 4 pontos percentuais mais elevada que na média distrital, e é o dobro da que se verifica em Portugal. Em cada 5 marvanenses, 1 não sabe ler nem escrever. E quando comparado com os nossos vizinhos de Castelo de Vide, que têm população idêntica, Marvão tem mais cerca de 100 analfabetos.
2 – Taxa de população
residente com Ensino Secundário
No Quadro 5,
podemos verificar que apenas 10,6% da população residente em Marvão, com idade
superior a 15 anos, tem como habilitações literárias o “Ensino Secundário”, é
uma das mais baixas em todo o distrito de Portalegre, apenas superado pelo
Crato e pelo Gavião. Quando comparados com os nossos vizinhos de Castelo Vide,
Marvão fica 2 pontos percentuais abaixo, o que quer dizer em números absolutos
que Marvão tem menos 60 pessoas com esse grau de ensino que os seus vizinhos
castelovidenses.
3 – Taxa de
população residente com Ensino Superior
Por último,
podemos verificar no Quadro 6, que 7,2% da população com mais de 15 anos
residente em Marvão possui um Curso Superior (229 pessoas). Apesar de baixo,
quando comparado com os restantes concelhos do distrito, digamos até, que é o
menos mau, já que ocupamos o 8º lugar (a meio da tabela). No entanto, e mais
uma vez, quando comparamos com o concelho vizinho de Castelo de Vide (287
pessoas com formação superior), existem menos cerca de 60 pessoas com curso
superior em Marvão.
Conclusão:
Passados 40 anos
de regime democrático, com tantos dinheiros gastos em formação, financiados
pela Europa, é quase crime ter em cada 5
marvanenses, com mais de 15 anos, 1 que não sabe ler nem escrever. Como foi
possível aos diversos mandatos autárquicos manter esta condição. Haverá pelo
menos consciência desta situação? E que projectos existirão para minimizar, não
para remediar o passado mas para contribuir que no futuro este ambiente
melhore?
Alguém ouviu falar deste assunto nas
últimas eleições? Naturalmente, não é importante!
Comparando ainda
com o mundo que nos rodeia, a tal sociedade global. Por exemplo na nossa
vizinha Espanha 54% da sua população tem
Ensino Secundário ou mais; na mal-amada Alemanha, essa Taxa é de 84%, e no conjunto dos 27 países da União Europeia a Taxa é de 74%. Em
Marvão, apenas 18% dos marvanenses têm o
Ensino Secundário ou mais.
E não nos
esqueçamos que estamos no século XXI. Hoje em dia, analfabeto não é o que não
saiba ler ou escrever, analfabeto é todo aquele que não saiba ler, escrever e
interpretar; não tenha uma carta de condução para se mobilizar com facilidade;
e não domine as técnicas mínimas de informática.
TA: O próximo "Marvão em Números" será sobre Cuidados de Saúde
TA: O próximo "Marvão em Números" será sobre Cuidados de Saúde
7 comentários:
Tempo bem empregue… J.Buga!
Continua com esta recolha, organização e apresentação de indicadores que, tenho a certeza, muitos marvanenses estão a apreciar.
É um facto que podem existir dados estatísticos muito perniciosos. Por exemplo, num universo de dois indivíduos em que um deles coma um frango e outro não coma nada… estatisticamente cada um comeu, em média, meio frango!
Contudo, através de análises cuidadas, as estatísticas revelam-nos as diversas realidades de uma forma muito acutilante e, sobretudo, permitem-nos fazer comparações! Os seus resultados apoiam os decisores na avaliação dessas realidades, na definição de estratégias e planos de acção…
Até ao momento, com excepção de um, os indicadores apresentados não me surpreenderam. A surpresa surgiu-me na taxa de população residente com ensino superior! Apesar de ser apenas cerca de metade da média nacional, compara muito bem com a realidade do distrito. Este indicador deixa-me esperançado que tenhamos “massa crítica” no concelho para o desenvolvimento de mais negócios. Isso iria melhorar a taxa de emprego e, consequentemente, os restantes dois indicadores apresentados no primeiro “post”.
Voltando à importância e utilidade prática das estatísticas, julgo que perante estes indicadores ao nível da educação qualquer decisor pensará que, não descurando o apoio aos jovens no acesso ao ensino superior, deverá focalizar-se na promoção dos outros níveis de ensino. É apenas um exemplo!
Abraço
Fernando Bonito
Que belo trabalho está a fazer e a partilhar. Isto dá que pensar.
Um abraço
Este estudo está bastante fundamentado, documentado e conclusivo, no entanto, a relação da qualidade de vida com a literacia, ou falta dela, não é tão linear como parece.
Eu conheci e privei com idosos no Concelho de Marvão, que sendo completamente analfabetos, possuiam uma cultura e muitos saberes que as sociedades ocidentais têm vindo a desvalorizar. É o grande primado da cultura e formação académicas.
Não querendo desvalorizar o conhecimento académico e escolar, que se revestem de uma grande importância, para a formação pessoal e social do Homem, entendo que o conhecimento empírico, não é de todo negligenciável para uma boa qualidade de vida.
Conheci gente, com um saber só de experiências feito, cuja principal ocupação, foi sempre o trabalho ligado aos elementos, à natureza e à ruralidade, que apresentavam um saudável estado de espírito, de quem está a bem consigo, com os outros e com a sua condição. Isto não é qualidade de vida?
É evidente que esta gente não teve grandes hipóteses de escolha, no que concerne à sua formação pessoal. mas há outros tipos de formação e realização individual que não conduzem necessariamente, a estados de angústia existencial e de má qualidade de vida. Embora possa haver uma relação entre as realidades postas em confronto,não é cristalino que uma pessoa com falta de literacia, tenha sempre má qualidade de vida.
Abraço!
Meus caros amigos e amiga, em primeiro lugar, quero deixar-vos o meu agradecimento por perderem um pouco do vosso tempo, a lerem algumas das coisas que por aqui vou postando. Quero também esclarecer que não me considero “dono” dos números, nem tão pouco de os considerar o supra-sumo da verdade de ver o mundo. Eles são o que são, e devem ter a leitura que cada um de nós vê neles. Na minha opinião não devemos é ignorá-los.
Em relação ao Fernando e à Helena, obrigado pelos vossos elogios e incentivos a continuar. Conheço sobretudo o pensamento do Fernando, e sei que estes dados não lhe serão indiferentes, até porque eles não se referem apenas ao concelho de Marvão, e para quem tem funções de gestão, eles permitem uma visão estatística de todo o distrito, e a sua comparação nacional. Pode sempre haver quem ache que as estatísticas não servem para nada, mas também há-de existir aqueles a quem fazem falta, e dão algum jeito.
Quanto ao Hermínio, pelas questões que levanta, a coisa pia mais fina, e faz-nos pensar e reflectir sobre os argumentos apresentados, no fundo, uma das razões da existência deste espaço. Só não sei se estarei à altura de te responder, tal o turbilhão de ideias que me provocaste.
A primeira resposta, é que, teoricamente, no geral, concordo contigo. Espero que não penses que sou daqueles que acredita que o dinheiro ou a literacia, só por si, dêem felicidade. Nem foi, nem é, o que considero. Nem tão pouco que, quem não saiba ler ou escrever, seja um inculto ou um ignorante do mundo e da vida.
Não é isso que eu considero, e nada melhor que as palavras sábias do nosso Nobel da Literatura para ilustrar o meu pensamento sobre a temática, e nas quais me revejo:
“... O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro (...) Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo.”
Tudo o que penso sobre analfabetismos, literacia, conhecimento, sabedoria, cultura, está tudo nestas poucas linhas, e creio serem bem explícitas, e eu, nem que viva 500 anos, jamais conseguirei dizer (quanto mais escrever), melhor.
(continuação)
E por aqui podes ver, que na teoria, estou de acordo contigo. Mas há uma pergunta que José faz às tantas a seu avô, após tantas e tão lindas “estóreas”:
“ E depois?"
É aqui que eu tenho as minhas dúvidas. E depois Hermínio? Depois? É o mundo, é esta sociedade, é civilização dominante, é a sobrevivência neste mundo:
É a vida, são os estilos de vida, é integração social. É a vida que nos obriga a deixar os Cabeçudos e a Abegoa, e a ter ido para o litoral à procura de ferramentas para a enfrentar; é a vida que nos leva para longe dos porcos e dos borregos que deveriam ser o nosso “aquecimento central” e ao mesmo tempo o nosso sustento; é a vida que nos obriga a ir às prateleiras dos hiper comprar as batatas e cebolas, em vez de as semearmos, vermos crescer e arrancar; é a vida que nos obriga a mandar estudar os nossos filhos em vez de os ensinarmos a pescar e matar os porcos e os borregos para seu sustento; é a vida que nos leva a sentar à frente destas máquinas estúpidas, em vez de estarmos a ouvir e a aprender com os amigos; etc. etc.
No fundo, como diz o Tê:
- "De que nos vale esta pureza, sem ler fica-se pederneira, agita-se a solidão cá no fundo, fica-se sentado à soleira a ouvir os ruídos do mundo, e a entendê-los à nossa maneira. Carregar a superstição, de ser pequeno, ser ninguém! E não quebrar a tradição que dos nossos avós já vem..."
Claro que podemos sempre ser diferentes: amor e uma cabana! Mas alguém vai ter que nos governar, e parece-me que nem eu, nem tu, estejamos por enquanto nessa...
Ai se a magana da eva não se tivesse lembrado de “tentar” o adão com a “maçã”! Ainda hoje viveríamos no paraíso! Mas assim, temos que nos fazer à vida e ao mundo por mais sonhos que toldem as nossas cabeças.
Um abraço, e obrigado pela tua contribuição de me pores a sonhar....
No fundo, estamos basicamente de acordo. O meu contributo para o tema em apreço, foi mais um complemento que uma dissonância ou discordância.
Apenas defendo que não existe uma linearidade objetiva e pragmática entre a qualidade de vida e a literacia.
O meu pai só tinha a 4ª classe e foi o melhor aluno no exame de admissão ao antigo liceu, salvo o erro. Não pôde prosseguir estudos, porque perdeu os pais muito cedo e teve de ingressar, logo, no mundo do trabalho puro e duro.
Não tenho dúvidas, que perante a impossibilidade de alcançar uma meta a que tinha direito, pelo menos a nível abstrato, o meu pai não tenha sentido nesse momento, um rombo nos seus sonhos de melhor qualidade de vida. Teria sido ainda pior se fosse empurrado para fora do sistema, depois de já ter entrado.
Quando há percas ao nível da qualidade de vida, estamos a falar de experiências já vivenciadas e experimentadas, ou seja, se eu for um consumidor de cultura ( incluindo aqui os hábitos de leitura, a ida ao cinema e ao teatro) e de repente, ficar impossibilitado de o fazer, por motivações exteriores a mim próprio, de certeza que me irei sentir lesado na minha qualidade de vida.
Quem não adquiriu, nunca, essa necessidade não sentirá tanto essa perda.
Penso que a qualidade de vida também se prende com os hábitos e as necessidades que vamos criando ao longo da vida.
Nunca se poderá ter saudades de algo que nunca se vivenciou e não nos ficou colado à pele.
Se eu nunca tivesse criado o hábito de desenhar, numa primeira instância, não sentiria ou sentiria menos perdas ao nível da qualidade de vida, se de repente ficasse impedido de o fazer.
Esta reflexão é uma espécie de subsídio, para o excelente trabalho que o João fez e não pretende, de todo, pô-lo em causa.
da luta dos contrários, nasce a harmonia.
Claro que sim, e como hoje estou muito dado a citações, reponde-te com mais uma. Agora do António Lobo Antunes:
“Dois homens, quando são homens, estão condenados a entender-se, não é?"
Obrigado pela tua participação. Aparece sempre que quiseres, és muito bem vindo.
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