quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Marvão em Números: Os custos do Poder Local (1)


Podemos dizer de grosso modo, e para melhor me fazer compreender, que as Despesas Totais da Administração Pública portuguesa rondaram nos últimos 5 anos (2008 – 2012), uma média de 82,5 mil milhões de euros/ano (a média de Receitas Totais é de apenas 70,8 mil milhões de euros/ano, e com as receitas extraordinárias. Só por aqui se pode ver o descalabro financeiro do país). Em 2012 essas Despesas foram ainda de 78,2 mil milhões de euros; mas o seu máximo foi atingido em 2010 (com a maluquice Sócrates/Teixeira dos Santos), com um recorde de 89,0 mil milhões de euros; quando em 2009 já tinha sido de 83,9 mil milhões de euros.

O povo português, muito pouco dado a contas (a matemática é complicada), não percebe patavina do que se passa e por isso pouco controla, e até já dizem que querem os "socialistas" de volta, pensam que os recursos são infinitos, que o dinheiro ainda é feito no Banco de Portugal. Tudo isto porque os diversos políticos, durante as campanhas eleitorais aldrabam como feirantes da banha da cobra, prometem o que não há, e, andam há muitos anos a comer-nos as “papas na cabeça”. É óbvio que um país, uma autarquia, uma família, ou um simples cidadão, que tenha receitas de 70 e gaste 82, a coisa não pode durar muito tempo, e, irá dar para o torto, mais dia, menos dia. Qualquer dona de casa sabe isso, até um puto da 4ª classe das antigas veria que isto não poderia dar certo.     

No que ao poder local diz respeito, cada vez que ouvimos falar um autarca, sobretudo se de presidente de câmara se tratar, continuamente ouvimos um rol de lamentações, queixando-se de que o Poder Central, através do Orçamento Geral do Estado (OGE), não lhes transfere verbas que lhes permitam levar a cabo as suas atribuições. Em contrapartida, o Poder Central, pela voz dos seus ministros, diz que cada vez tem menos dinheiro para distribuir, e por isso, o poder autárquico, tem que também apertar o cinto. E se não se tomarem medidas rapidamente, a coisa irá também dar para o torto.

O que hoje aqui quero dar conhecimento, de forma muito simples, é quais são afinal os custos do Poder Local em Portugal, independentemente, de julgamentos sobre se é muito, ou é pouco, e, ainda de onde vem esse dinheiro. Estes números, se bem analisados, serão possivelmente a razão por que não se faz regionalização em Portugal, porque não se procedeu à reforma da Administração Local de junção/associação de municípios; sobretudo, porque estas verbas mexem com muitos interesses (quem diz interesses, diz dinheiro), “muitas capelinhas”, muitos barões, etc., etc. Mas um dia a barraca vai abaixo, como não se preveniu, irá ter que se remediar, e aí os custos vão ser bem piores, e, como de costume pagos pelos mesmos. Eu pela minha parte de cidadão tento estar informado, e aqui partilho convosco alguma dessa informação.

Afinal quais são os custos efectivos de cada português no Poder Local? Que fatia dos tais 82,5 mil milhões vai para as autarquias? E no Alto Alentejo recebe-se e gasta-se mais, ou menos, que os outros portugueses? E em Marvão como serão esses valores comparados com os concelhos mais próximos? E será que nos tempos que correm se poderá continuar a gastar o mesmo, ou teremos que arrepiar caminho? E se de repente o Poder Central cortar 30 ou 40% das transferências para as Autarquias?

Após algumas pesquisas, sobretudo na plataforma de dados PORDATA, aqui ficam os números agrupados, para aqueles que não queiram, ou não possam, ter tempo para os procurar.

Em números redondos as Despesas das Autarquias em Portugal em 2012 foram aproximadamente de 7,0 mil milhões de euros, 9% das Despesas Totais do país, o que quer dizer cerca de 637 euros/cada português. Em 2011 essas despesas rondaram os 7,1 mil milhões de euros, 8,4% das Despesas Totais do país, e cada português custou, nesse ano, cerca de 670 euros. Comparando os 2 anos, verificou-se que cada português em 2012 custou menos 33 euros em relação ao ano anterior.

No Alto Alentejo em 2012, as Despesas das Autarquias foram aproximadamente de 136 milhões de euros, cerca de 2% das Despesas totais do poder autárquico em Portugal; no entanto, como somos poucos (116 mil almas), cada alentejano do alto, custou ao poder autárquico 1 167 euros. Em 2011 essas despesas tinham sido 135,5 milhões de euros, exactamente os mesmos 2% das Despesas totais dos custos autárquico em Portugal (mas éramos mais 1 619 almas), e cada habitante do Alto Alentejo, custou cerca de 1 149 euros. Comparando os 2 anos em análise, verifica-se que houve um aumento de custos em 2012, de 18 euros para cada habitante. Quando a nível nacional, de 2011 para 2012, existiu uma redução de 33 euros/português; no Alto Alentejo existiu um aumento de custos de 18 euro para cada altoalentejano.

E em Marvão?

Em Marvão em 2012 as Despesas totais da Autarquia foram cerca de 4,7 milhões de euros (4.673.051 euros), e representaram 3,5% dos custos das autarquias no Alto Alentejo; cada marvanense custou ao poder autárquico 1 320 euros. No ano anterior de 2011, as Despesas totais tinham sido de 6,9 milhões de euros, e representaram 5,1% dos custos das autarquias no Alto Alentejo; Em 2011 cada marvanense custou ao Poder Local cerca de 1 967 euros. Comparando estes dois anos verifica-se que, enquanto no Alto Alentejo existiu um aumento de custos “per capita” de 18 euros, em Marvão, existiu uma diminuição de 647 euros por cada marvanense, uma diminuição a rondar os 40% de um ano para outro: Difícil de perceber? Certamente em 2013, ano de eleições, fazer-se-ão os acertos, digo eu!

Na figura em baixo podemos observar em gráfico as Despesas/Habitante das Câmaras Municipais do distrito de Portalegre. Pelo facto de existirem dados muito diferentes nos anos de 2011 e 2012, resolvi associar os 2 anos, e assim procurar anular estas desigualdades. A análise de 2 anos estará mais próxima da realidade para se fazer comparações. Para se obter uma média anual bastará dividir os valores por 2, e tem-se a ideia de custos em cada ano.


(Clicar sobre a imagem para ver melhor)



Fazendo uma breve análise do Gráfico, a primeira a coisa a ter em conta, é que apesar de aqui apresentar os 15 concelhos, os custos nas cidades (Portalegre, Elvas, e Ponte de Sôr) não devem ser comparados com os restantes concelhos com menos de 10 000 habitantes, ou mesmo menos de 5 000, que são a maioria. Quanto mais a concentração de habitantes, menores os custos. Mesmo Campo Maior, parece ser um concelho a merecer uma análise diferente no panorama distrital, já que ostenta uma série de características que o torna mais próximo das cidades do que dos outros concelhos tipicamente rurais.

Os restantes 11 concelhos têm características muito idênticas, pelo que se torna difícil de perceber algumas diferenças significativas encontradas, e para as quais, certamente, existirão explicações, mas que eu desconheço. Podemos assim verificar, o exemplo de Crato e Sousel (concelhos idênticos na minha opinião), mas que têm custos completamente diferentes: enquanto o Crato tem custos de 4 060 euros/cratense; Sousel não vai além de 2 800/souselense. O que é que justificará estas diferenças de cerca de 1 200 euros/habitante? E qual a razão de Crato e Alter terem perfis de custos completamente diferentes dos restantes concelhos? Poderíamos supor tratar-se de “receita próprias” e assim poderem gastar mais que os outros, mas não, como demonstrarei no próximo Post, quando olharmos para as Receitas. Entretanto se alguém souber as razões de tais disparidades, tem este espaço ao dispor.

Quanto a Marvão, enquadra-se no grupo de concelhos que têm despesas, nos 2 anos em análise, entre os 3 300 e os 2 800 euros por habitante, e são eles: Avis, Castelo de Vide, Marvão, Fronteira, Gavião, Arronches, Monforte, Nisa e Sousel.   

 Conclusões:

Por me parecer que existem algumas diferenças significativas anuais, quando se analisa individualmente os anos em análise, faço aqui o somatório das despesas de 2011 e 2012, e farei seguidamente a média de custos para cada ano. Quem não gostar tem os valores absolutos nos dados que apresentei em cima. Assim, nos últimos 2 anos:

- As Despesas com o Poder Autárquico em Portugal rondam, em média, os 7 050 milhões de euros/ano; ou seja, aproximadamente, 654/cada português. Estas Despesas representam cerca de 8,7% das despesas totais do país.

- No Distrito de Portalegre, a média desses 2 anos, foram de 135,8 milhões de euros/ano; aproximadamente, 1 158 euros/por habitante do Alto Alentejo (mais 500 euros que a média nacional). O distrito de Portalegre tem o maior rácio de Portugal continental, em custos por habitante no Poder Local.

- Em Marvão a média desses 2 anos, foram de 5,8 milhões de euros/ano; aproximadamente, 1 644 euros/marvanense (este valor é cerca de 500 euros superior à média do distrito de Portalegre, e cerca de 1 000 euros superior a média nacional).

Nota: No próximo Post tratarei de analisar a rubrica das Receitas.
    

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