terça-feira, 4 de março de 2014

O Poder do cacete/O Poder do dedo...

Contava-me o meu pai na sua simplicidade de homem do povo, possivelmente por alguém a ele lhe ter contado, que no final do século XIX durante o período da monarquia constitucional, quando da disputa de eleições, cada cacique fazia-se acompanhar por um caceteiro que se colocava à saída das assembleias eleitorais. Como os boletins de voto eram facilmente inidentificáveis, quando o eleitor votava nos “regeneradores”, logo o caceteiro “progressista” entrava em acção, e logo que o eleitor saía à porta tinha que com ele ajustar contas; se pelo contrário, de um eleitor “progressista” se tratasse, era o caceteiro “regenerador” a fazer cumprir a função do seu cacete. E assim se praticava o poder democrático de então, com os desditosos eleitores a decidirem o sentido do seu voto à entrada das assembleias, em função da avaliação do poder físico de cada caceteiro bem como o tamanho da respectiva moca, para pouparem o corpinho à saída.

Passados cerca de 120 anos, as coisas não são muito diferentes em muitas situações da nossa indigente democracia. Só que agora, em vez do caceteiro e da moca, basta o “poder do dedo”: levantar ou não levantar!

Vem esta conversa toda, para retratar o comportamento dos Membros da Assembleia Municipal de Marvão do PSD. Durante os 10 anos em que fiz parte desse Órgão, sempre o PSD, através dos seus Membros, participou activamente nas Assembleias, defendendo ou criticando com propostas, consoante se estivesse no poder ou na oposição. Lembro aqui, os nomes de Carlos Sequeira, Fernando Bonito, Mena Antunes, Soares da Costa, Joaquim Ramilo, Mário Patrício, José Jorge Ribeiro, Isabel Silva, Joaquim Delgado, eu próprio, entre outros menos interventivos.

Desde que de lá saí em 2011, e estive presente praticamente em todas as Assembleias, em 3 anos (apesar de alguns membros terem mudado nas últimas eleições), que não se lhes ouviu uma palavra, uma qualquer proposta, uma participação nos debates, uma qualquer emissão de moção ou declaração de confiança, um ou outro pedido de esclarecimento, um pobre requerimento, uma qualquer resposta às críticas da oposição, uma defesa do executivo, etc. NADA, apenas e só:

- Levantam o Dedo, ou não levantam o Dedo!

Com este comportamento primitivo (tipo caceteiro do século XIX), ganham todas as votações. Mas o exercício democrático é paupérrimo. Alguém um dia formulou que “da discussão nasce a luz...”, mas para aqueles lados está tudo iluminado!

Convém no entanto dizer, que durante este período, realizaram-se 15 Assembleias Municipais, os Membros do PSD são uma média 12, em cada Sessão recebem cerca de 50 euros cada um. O que dá, ao longo destes 3 anos, um total de aproximadamente 10 000 euros. Na última Assembleia Municipal, os Membros do Partido Socialista, apresentaram uma proposta para que os Membros desta Assembleia prescindissem deste “prémios” de presença, e no futuro estas verbas fossem entregues às Associações de Solidariedade Social do concelho de Marvão.

Posta à votação a proposta, os Membros do PSD não levantaram o Dedo! Mas também não apresentaram qualquer justificação. Não precisam, o “poder do dedo” é invencível...
   

1 comentário:

zira disse...

Esta verdade que divulgou e que eu suspeitava, fizeram-me raciocinar.Há muito que deixei de exercer o meu papel de filiada porque não me revia nos padrões nacionais. Tinha muitas interrogações pessoais,porque conheci muito bem, alguns dos membros influentes do municipio e interrogava-me.Agora estou elucidada, sem ambiguidades.Esta não é a democracia em ambicionei...