Contava-me o meu
pai na sua simplicidade de homem do povo, possivelmente por alguém a ele lhe
ter contado, que no final do século XIX durante o período da monarquia constitucional,
quando da disputa de eleições, cada cacique fazia-se acompanhar por um caceteiro que se colocava à saída das
assembleias eleitorais. Como os boletins de voto eram facilmente inidentificáveis,
quando o eleitor votava nos “regeneradores”, logo o caceteiro “progressista” entrava em acção, e logo que o eleitor saía
à porta tinha que com ele ajustar contas; se pelo contrário, de um eleitor “progressista”
se tratasse, era o caceteiro “regenerador” a fazer cumprir a função do seu cacete. E assim se praticava o poder
democrático de então, com os desditosos eleitores a decidirem o sentido do seu
voto à entrada das assembleias, em função da avaliação do poder físico de cada
caceteiro bem como o tamanho da respectiva moca, para pouparem o corpinho à saída.
Passados cerca
de 120 anos, as coisas não são muito diferentes em muitas situações da nossa indigente
democracia. Só que agora, em vez do caceteiro
e da moca, basta o “poder do dedo”:
levantar ou não levantar!
Vem esta
conversa toda, para retratar o comportamento dos Membros da Assembleia
Municipal de Marvão do PSD. Durante os 10 anos em que fiz parte desse Órgão,
sempre o PSD, através dos seus Membros, participou activamente nas Assembleias,
defendendo ou criticando com propostas, consoante se estivesse no poder ou na
oposição. Lembro aqui, os nomes de Carlos Sequeira, Fernando Bonito, Mena
Antunes, Soares da Costa, Joaquim Ramilo, Mário Patrício, José Jorge Ribeiro,
Isabel Silva, Joaquim Delgado, eu próprio, entre outros menos
interventivos.
Desde que de lá
saí em 2011, e estive presente praticamente em todas as Assembleias, em 3 anos
(apesar de alguns membros terem mudado nas últimas eleições), que não se lhes
ouviu uma palavra, uma qualquer proposta, uma participação nos debates, uma
qualquer emissão de moção ou declaração de confiança, um ou outro pedido de esclarecimento,
um pobre requerimento, uma qualquer resposta às críticas da oposição, uma defesa
do executivo, etc. NADA, apenas e só:
- Levantam o Dedo, ou não levantam o Dedo!
Com este
comportamento primitivo (tipo caceteiro do século XIX), ganham todas as votações.
Mas o exercício democrático é paupérrimo. Alguém um dia formulou que “da discussão nasce a luz...”, mas para
aqueles lados está tudo iluminado!
Convém no
entanto dizer, que durante este período, realizaram-se 15 Assembleias
Municipais, os Membros do PSD são uma média 12, em cada Sessão recebem cerca de
50 euros cada um. O que dá, ao longo destes 3 anos, um total de aproximadamente
10 000 euros. Na última Assembleia Municipal, os Membros do Partido Socialista,
apresentaram uma proposta para que os Membros desta Assembleia prescindissem
deste “prémios” de presença, e no futuro estas verbas fossem entregues às
Associações de Solidariedade Social do concelho de Marvão.
Posta à votação a proposta, os Membros do
PSD não levantaram o Dedo! Mas também não apresentaram qualquer justificação.
Não precisam, o “poder do dedo” é invencível...
1 comentário:
Esta verdade que divulgou e que eu suspeitava, fizeram-me raciocinar.Há muito que deixei de exercer o meu papel de filiada porque não me revia nos padrões nacionais. Tinha muitas interrogações pessoais,porque conheci muito bem, alguns dos membros influentes do municipio e interrogava-me.Agora estou elucidada, sem ambiguidades.Esta não é a democracia em ambicionei...
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