"A falácia do aumento da dívida pública
Opinião de
Uma das 3 pessoas que faz o sacrifício de ouvir o comentário de Sócrates aos Domingos na RTP, tratou de informar as redes sociais que o antigo primeiro-ministro se queixou ontem do aumento da dívida pública nos anos do governo PSD-CDS. Os números, de facto, não enganam, como podem ver no gráfico abaixo:
A
tendência desde o último ano completo de governação Sócrates (2011) é de facto
assustadora: subiu 53 mil milhões de euros, qualquer coisa como 35% do PIB em
apenas 3 anos. Excepcionalmente, Sócrates diz a verdade. Se quisesse levar a
retórica mais longe, até poderia dizer que, se acumulou tanta dívida pública,
desde que ele deixou o governo, como no total dos seus mandatos.
Claro
que é de esperar que a dívida suba enquanto existirem défices públicos.
Comentadores como José Sócrates que defendem metas mais flexíveis para o défice,
dificilmente, se poderão queixar que a dívida pública aumenta. Não podem
defender ao mesmo tempo que haja défices mais altos, e depois, criticar que a
dívida pública resultante desses défices aumente.
A
dívida pública é isso mesmo: o resultado da acumulação de défices. Mas será
mesmo assim? Para analisar a veracidade desta relação económica, podemos observar
abaixo a evolução do défice das contas pública e o crescimento da dívida
pública.
A relação efectivamente
mantém-se. Na maior parte dos anos a dívida pública aumenta no mesmo montante
do défice público, com umas pequenas diferenças, os chamados ajustamentos défice-dívida. Estes
ajustamentos são quase sempre bastante pequenos, mas há uma notável excepção:
os anos imediatamente a seguir à saída de Sócrates!
Nesses anos, a dívida pública
aumentou bastante mais do que o défice das contas pública levaria a pensar. E
porquê?
Isto deveu-se a 3 factores:
1 - O salvamento dos bancos. Algo que qualquer
governo no actual panorama partidário teria feito. A alternativa a esta medida
seria os depositantes de alguns bancos menos sólidos (BCP, BANIF,…) terem
ficado sem parte dos seus depósitos, como em Chipre.
2 - A variação nas reservas de segurança do estado.
Parte da dívida contraída refere-se a um aumento de reservas do Estado, ou seja
dinheiro não alocado a despesa que fica em depósitos garantindo uma almofada
caso falhe crédito. Foi esta a almofada que faltou em Maio de 2011 e que
empurrou Sócrates para o pedido de ajuda antes das eleições, sob o risco de o
país falhar o pagamento de salários e pensões nos meses seguintes.
3 - O pagamento das dívidas a fornecedores.
Como a dívida a fornecedores não entra para os cálculo de dívida pública, uma
forma fácil de um governo esconder a dívida pública é faltando, ou atrasando, o
pagamento aos seus fornecedores. Esta dívida era bastante elevada quando
Sócrates deixou o governo, particularmente
na saúde. O pagamento dessa dívida pelo actual governo também contribuiu
para um aumento da dívida pública.
Ou seja, grande parte da dívida pública foi para salvar
um sistema bancário deixado de rastos pelas políticas económicas, para repor as
reservas de dinheiro que o governo Sócrates depletou até não haver suficiente
para pagar salários e reformas, e para pagar os calotes deixados por esse mesmo
governo, nomeadamente no sector da saúde.
Podemos ainda apontar o facto de
uma parte do défice actual se dever aos pagamentos das PPPs assinadas
por Sócrates, outra forma de disfarçar dívida e défices
passados. Antes das PPPs, um governo que construísse uma auto-estrada teria que
contar com essa despesa no orçamento do ano em que a auto-estrada fosse construída,
aumentando o défice. Utilizando uma PPP, um governo pode construir uma
auto-estrada sem qualquer impacto no défice, empurrando esse custo e respectivos
juros para os governos seguintes.
Sócrates tem razão quando diz que a dívida subiu bastante imediatamente
após a sua saída do governo. Mas não deve esquecer que esta é,
maioritariamente, a sua dívida.
A dívida que Sócrates escondeu
através das PPPs, dos calotes a fornecedores, do esvaziamento das reservas de
segurança do estado que quase deixou o país sem capacidade de pagar salários e
pensões, e do caos em que as políticas do seu governo deixaram o sistema
bancário."
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