A noite passada
acordei com o teu beijo, descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo. Vinhas
numa barca que não vi passar, corri pela margem até à beira do mar, até que te
vi num castelo de areia, cantavas:
- Sou gaivota e fui sereia.
Ri-me de ti:
- Então porque não voas?
E então tu olhaste, depois sorriste, abriste a janela e voaste!
- Sou gaivota e fui sereia.
Ri-me de ti:
- Então porque não voas?
E então tu olhaste, depois sorriste, abriste a janela e voaste!
A noite passada
fui passear no mar, a viola irmã cuidou de me arrastar. Chegado ao mar alto
abriu-se em dois o mundo, olhei para baixo, ias lá no fundo, faltou-me o pé,
senti que me afundava. Por entre as algas teu cabelo bailava, a lua cheia
escureceu nas águas e, então falámos, e, então dissemos:
- Aqui vivemos muitos anos.
- Aqui vivemos muitos anos.
A noite passada
o paredão ruiu, pela fresta aberta o meu peito fugiu. Estava do outro lado a
tricotar janelas, vias-me em segredo ao debruçar-te nelas. Cheguei-me a ti,
disse baixinho:
- Olá. Toquei-te no ombro e a marca ficou lá. O sol inteiro caiu entre os montes e então tu olhaste, depois sorriste, disseste:
- Ainda bem que voltaste...
- Olá. Toquei-te no ombro e a marca ficou lá. O sol inteiro caiu entre os montes e então tu olhaste, depois sorriste, disseste:
- Ainda bem que voltaste...
1 comentário:
Poema lindíssimo, como de resto todos os de Sérgio Godinho.
Bom fim de semana.
Um abraço
Enviar um comentário