― Porque não
cantas, Silvina? Se a tua voz é tão doce, talvez cantada que fosse mais doce
que a glicerina. Porque não cantas, Silvina?
― Não me apetece
cantar, e muito menos para ti, eu sou nova, tu és velho, já não és homem para
mim.
― Não me tentes,
Silvininha, que eu já não te olho a direito, sou como um ladrão escondido na
azinhaga do teu peito.
― A azinhaga do
meu peito corre entre duas colinas, o ladrão do meu amor tem pé leve e pernas
finas.
― Canta, canta,
Silvininha, uma canção só para mim. Dar-te-ei um lençol de estrelas, uma
enxerga de alecrim.
― Deixa o teu
corpo estendido à terra que o há-de comer. A tua cama é de pinho, teus lençóis
de entristecer.
― Canta, canta,
Silvininha, como se fosse para mim. Dar-te-ei um escorpião de oiro com um aguilhão
de marfim.
― Não quero o
teu escorpião, nem de ouro nem de prata. Quero o meu amor trigueiro que é firme,
e não se desata.
― Pois não
cantes, Silvininha, se é essa a tua vontade. Canto eu, mesmo assim velho, que o cantar não
tem idade. Hás-de tu ser morta e fria, cem anos se passarão, já de ti ninguém
se lembra, nem de quem te pôs a mão. Mas sempre há-de haver quem cante os versos desta
canção:
- Ai Silvina, ai Silvininha, amor do meu coração....
- Ai Silvina, ai Silvininha, amor do meu coração....
(António Gedeão)
Sem comentários:
Enviar um comentário