Resumo da Investigação sobre a Árvore de Costados da Família Bugalhão
“Quem não tiver história e tradições perde
a sua identidade e, consequentemente, o seu espírito crítico e a sua
auto-confiança ficarão diminuídos.”
No passado
sábado dia 13 de Julho, durante o III Encontro da Família Bugalhão, tive
oportunidade de apresentar um resumo, sobre o estudo que efectuei, a que chamei
“Bugalhão – nome estranho”.
Este Ensaio
culminou uma investigação documental acerca das origens e transmissão do
apelido Bugalhão ao longo de 300 anos, resultou num trabalho escrito com cerca
de 100 páginas, onde relato todos os passos investigatórios e algum
enquadramento histórico sobre a vida desta família tricentenária. Este trabalho
escrito, poderá vir a ser editado no futuro, se existirem interessados no seu
conhecimento.
Durante 6 meses
mergulhei nesta aventura bugalhónica, cheguei a trabalhar mais de 10 horas por
dia em consultas documentais e escritas, e posso garantir-vos que a paixão foi
tão grande, que às vezes eu já não era o João Bugalhão nascido em 1957, mas
cheguei a sentir-me aquele meu homónimo antepassado nascido em 1787, moleiro,
morador no Moinho da Malpiqua, na Ribeira da Ponte Velha, casado primeiro com Joana da Conceição e depois com Cândida Rosa, e pai de 12 filhos!
Para realização e chegada a bom porto deste Ensaio, não posso deixar aqui de
agradecer a colaboração de Fernando Mota, sem a qual, jamais este trabalho
teria sequer começado. Fernando Mota, formado em História, funcionário da
Biblioteca Municipal do Barreiro, a quem conheci por mero acaso através deste
Blog, e na sequência da publicação da reportagem do II Encontro da Família Bugalhão; também ele com
origens em Marvão, e com alguns dos seus familiares a cruzarem-se com Bugalhões,
despertou em mim o bichinho desta investigação, orientou e acompanhou todo o
processo. Aqui deixo publicamente um agradecimento Bugalhónico.
Passo a
apresentar de seguida algumas das Conclusões deste Ensaio, que ficaram por
apresentar no passado sábado, devido à extensão do resumo do trabalho.
A primeira
referência que encontrei, nos documentos consultados, do apelido Bugalhão é de
1794, aquando da cerimónia de Crisma de um sujeito de nome Carlos, com 4 anos
de idade, quando se diz ser este filho de José Bugalhão da Ponte Velha. Registo
que aqui reproduzo:
Figura 1 - 1º Registo encontrado do apelido Bugalhão (Crisma de Carlos, filho de José Bugalhão da Ponte Velha, em 1794)
Fonte: Registos Paroquiais de SA das Areias/Marvão
Este José
Bugalhão terá nascido em 1754 (existido algumas dúvidas com 1751), a sua
ascendência paterna tem origem numa família de apelido “Toureiro”, oriundos de
Alpalhão; e a sua ascendência materna tem origens numa família de apelido
“Serrano”, oriundos da zona da Serra da Estrela, concelho da Guarda, freguesia
de Arrifana, lugar de João Bargal de Cima ou São Bargal de Cima; o seu avô materno
António Gonçalves Serrano, por volta de 1700, já era Moleiro no Moinho da
Malpiqua na ribeira da Ponte Velha, do concelho de Marvão. É de realçar ainda,
que nos finais do século XVII e todo o século XVIII o apelido “Serrano” é um
dos mais frequentes em todo o concelho de Marvão; também o apelido “Toureiro”
já existia em Alpalhão no início do século XVI (desde que há registos
paroquiais).
Figura 2 - Assento de Baptismo de José Gonçalves Bugalhão, em 1754 (?)
Fonte: Registos Paroquiais de SA das Areias/Marvão
Devido a estas ascendências familiares José Bugalhão, ao longo da sua vida, é
também referenciado como José António
(sua mãe era Antónia), José António
Toureiro (seu pai tinha o mesmo nome e seu avô paterno era António Dias
Toureiro), José Gonçalves Serrano (apelidos
de seu avô materno); e José Gonçalves
Bugalhão (Bugalhão, porquê? Algo para o qual não tenho resposta).
José Gonçalves Bugalhão/José Gonçalves Serrano, morre a 6
de Abril de 1810, de um Catarral, deixa 5 filhos vivos, em que um deles, João
Gonçalves Bugalhão/João Gonçalves Serrano dará continuidade à casta.
Figura 3 - Registo Paroquial de Óbito de José Gonçalves Serrano em 6/4/1810
Fonte: Registos Paroquiais de São Tiago/Marvão
Figura 4 - Folha de Rosto do Testamento de José Gonçalves Bugalhão falecido em 6/4/1810
Fonte: Arquivo Distrital de Portalegre
Poderão alguns questionar ainda, se estes diferentes nomes para um indivíduo, corresponderão à mesma pessoa? A minha resposta é que sim, já que todos eles dizem respeito a um sujeito que morou no mesmo local (primeiro no Moinho da Malpiqua e mais tarde no do Fraguil, onde morre); os nomes das esposas conferem (a primeira Catarina Maria e a segunda, por morte da primeira, Maria do Carmo); a sua avó materna, como refere seu testamento tem o mesmo nome (Maria Vaz); os nomes dos 5 filhos condizem (Teodora, Jacinta, Isabel, João e Carlos); e a data de óbito é a mesma (José Gonçalves Serrano e José Gonçalves Bugalhão, morrem no dia 6 de Abril de 1810). Só por milagre de todos os santos e santas de que José era devoto, poderiam permitir tal coincidência!
Figura 5 - Árvore dos Costados da Família Bugalhão entre 1700 e primeira metade do século XVIII
Autor: João Bugalhão
Figura 6 - Árvore dos Costados da Família Bugalhão a partir da segunda metade do século XIX
Autor: João Bugalhão
Principais Conclusões deste Ensaio:
- O apelido
Bugalhão é possivelmente oriundo do concelho de Marvão e da freguesia de Santo
António das Areias, e exclusivo de uma só família, já que todos os sujeitos
encontrados, aí parecem ter as suas origens e raízes, e facilmente se verifica
serem familiares.
- Este apelido
existe pelo menos desde o século XVIII. Nos registos consultados a sua primeira
referência aparece em 1794 nos Registos Paroquiais de Santo António das Areias,
aquando de uma cerimónia de Crisma, realizada na vila de Marvão, onde se refere
ter sido crismado um sujeito de nome Carlos, filho de José Bugalhão, da Ponte
Velha.
- José Gonçalves
Bugalhão aparece em diversos registos, também tratado como José Gonçalves
Serrano, e José António Toureiro ou apenas José António. Teve dois casamentos:
primeiro com Catarina Maria, de quem teve 5 filhos: Teodora, Jacinta, Isabel,
João e Carlos; e um segundo casamento com Maria do Carmo (que deve ter durado
muito pouco tempo).
- Destes 5
filhos apenas João foi o responsável pela passagem do apelido Bugalhão, já que
as filhas nunca o ostentaram (por serem mulheres), e Carlos faleceu com 20 anos
(10 dias depois de seu pai), e sem deixar descendência.
- Durante a sua
vida João é referido, tal como o pai, por mais que um nome: João Gonçalves
Bugalhão e João Gonçalves Serrano. Teve também 2 casamentos: primeiro com Joana
da Conceição, de quem teve 3 filhos: Jacinta, José e Genoveva; e um segundo com
Cândida Rosa, de quem tem mais nove filhos: Francisco, Manuel, Raimundo, Maria,
João, Joaquim, Bento, António e Joaquim.
- Destes 12
filhos o único de quem é conhecido deixar descendência, bem como passar o
apelido Bugalhão, foi Francisco nascido em 1821, que em todos os documentos
consultados é sempre denominado como Francisco Gonçalves Bugalhão; e que passa,
a partir daí, o apelido a todos os seus filhos varões, e que deixaram descendência:
Manuel (nascido em1845, que teve 12 filhos); João (nascido em 1847, que teve 2
filhos); José (nascido em 1852, que teve 6 filhos); e Custódio (nascido em
1863, que teve 2 filho).
- De 3 destes 4 sujeitos, chegaram até aos dias de hoje
descendentes (não foi possível apurar descendentes de Custódio). Todos os
Bugalhões que tiverem curiosidade de saber a sua ascendência, bastar-lhe-á uma
pequena investigação e encontrarão em suas origens um destes três antepassados:
Manuel, João, ou José.
- Praticamente todos estes sujeitos de apelido Bugalhão,
referidos até aqui, tiveram uma característica em comum: o terem sido Moleiros,
nos diversos Moinhos na Ribeira de Marvão (Rio Sever), na freguesia de Santo
António das Areias.
- O patriarca do clã, José Gonçalves Bugalhão, nasceu no Moinho referido como da
“Malpique ou Malpiqua”, aí nasceram os seus 5 filhos (mas já sua mãe, e seu avô
materno António Gonçalves Serrano aí residia nos finais do século XVII); acabou
por falecer no Moinho da Fonte Santa, no sítio do Fraguil (na margem direita do
Rio Sever, antiga freguesia de São Tiago), em 1810. No entanto, o seu filho
João (nasceu e morreu), residiu sempre no Moinho da Malpiqua, na Ribeira da
Ponte Velha, freguesia de Santo António das Areias
- A partir da segunda metade do século XIX, este Moinho
da Malpiqua, deixa de ser referido nos registos (terá sido demolido ou mudou de
nome), mas a sua localização terá sido entre a ponte da Ponte Velha e o pontão
do Fraguil. Não me foi possível apurar até ao momento a sua localização exacta.
José Gonçalves Bugalhão é sempre referenciado como Moleiro, bem como os seus
ascendentes: pai, e avô materno; Moleiros são também seu filho João, seu neto
Francisco, seus bisnetos Manuel, João e José; e pelo menos seu trineto
Francisco nascido em 1877. Em finais do século XX, ainda a sua tetraneta Luísa,
era Moleira num dos moinhos da Ponte Velha, mas possivelmente a última.
- Actualmente existirão cerca de uma centena de sujeitos
que têm o apelido Bugalhão no seu nome. Mas de acordo com o que pude apurar,
existirão apenas dois varões na família que, no futuro, poderão dar continuidade
ao apelido. Pelo que aqui deixo o alerta do apelido poder estar em perigo de
extinção.
- Quanto à antroponímia do apelido Bugalhão, não pude
chegar a qualquer conclusão, e a sua origem irá permanecer como mistério. O
mais provável terá sido através de uma qualquer alcunha (não nos esqueçamos que
Bugalhão para o dicionário de língua portuguesa, significa Valentão, e os
Bugalhões do passado parecem ter sido homens bastante corpulentos), já que os
pais do primeiro sujeito referido como Bugalhão tinham de apelido Toureiro e
Serrana, pai e mãe respectivamente. Não será de descartar também um possível
rebaptismo para alguém que aderiu a uma irmandade religiosa, pois José Bugalhão
terá pertencido à Irmandade dos Franciscanos, sedeada no Convento de Nossa
Senhora da Estrela (como se pode constatar no seu Testamento). O apelido
Toureiro também parece não ser um acaso, pois existiam no concelho de Marvão,
no início do século XVIII, muitos sujeitos com esse apelido, referenciados como
oriundos de Alpalhão e de Castelo de Vide (judeus?), onde de facto o apelido
existia já no século XVI, altura de que há registos escritos, mas que também aí
parece ter desaparecido. Já o apelido Serrano, parece ter sido dado aos
sujeitos oriundos da zona da Serra da Estrela e que demandaram estas paragens,
sendo um dos apelidos mais frequentes no século XVIII em todo o concelho de
Marvão, fruto, certamente, de algum fenómeno migratório de povoamento.
Este é o meu contributo para a identidade da minha família.
João Bugalhão