Este Post é
dedicado a todos os meus amigos, sejam eles médicos ou pacientes. E qualquer
semelhança com factos reais (não) será “pura
coincidência”. Mas demasiado sério, para que assim não seja levado...
(Adaptado)
O ti Manel
andava razoavelmente bem de saúde, e até ainda lhe arrumava uns tintos, até que a sua esposa a ti Maria
dos Remédios, a conselho da sua filha “tontinha”,
lhe disse:
“-Oh Manel, vais fazer 70 anos, está na hora de fazeres um "chéqup" no médico.
- Para quê, se ando bem, respondeu o ti
Manel!
-Porque nã sabes como tás por dentro, e a
prevenção deve ser feita agora, quando ainda andas bem, disse logo a ti Maria.”
Então o ti Manel,
para não fazer desfeita, lá foi ver um médico. O médico, sabiamente, mandou-o
fazer Testes e Análises de tudo o que poderia ser feito. Duas semanas mais
tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons para a sua idade,
mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. E então receitou:
Comprimidos Atorvastatina para a pontinha de
colesterol, Losartan para proteger o
coração e a hipertensão, Metformina
para um princípio de diabetes, Polivitaminas
para aumentar as defesas e dar força (?), a Desloratadina
não fosse o Manel fazer alergia a algum dos medicamentos receitados. Como eram
muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago então ele indicou Omeprazol; e, já agora, pelo sim pelo não,
um Diurético para aumentar a excreção
das várias drogas receitadas.
E assim, o ti
Manel, não duvidando dos vários diplomas expostos nas paredes do consultório do
sábio Hipócrates, lá foi à Farmácia e gastou boa parte da sua Pensão em várias
caixas requintadas e de cores sortidas.
No entanto, como
ele no dia seguinte, não conseguia lembrar-se se os comprimidos “verdes” para a alergia, deveriam ser
tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago, ou se devia tomar as
amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico.
Logo este deu-lhe
uma caixinha com várias divisões, mas achou que o ti Manel estava muito tenso e
algo contrariado. Receitou-lhe, então, Alprazolam
e Sucedal para dormir e melhor
descansar. Naquela tarde, quando ele entrou na Farmácia com mais receitas, o
farmacêutico e seus funcionários até fizeram alas para ele passar pelo meio, enquanto,
por dentro, sorriam de satisfação.
Só que o ti
Manel, em vez de melhorar, foi piorando. Ele tinha todos os remédios num armário
da cozinha e quase já não saía de casa, porque passava praticamente todo o dia,
a horas marcadas, a tomar as pílulas.
Dias depois, o Laboratório
fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Bom Cliente.
Vendeu-lhe ainda, um aparelho para “tirar” a Tensão Arterial, e, deu-lhe
uma máquina para medir “os” diabetes, um Termómetro digital, um frasco estéril
para análise de urina e um lápis com o logótipo da Farmácia.
Só que, o ti
Manel nas idas frequentes ao centro de saúde e à farmácia, em contacto com
outros doentes, apanhou uma valente gripe. A minha tia Maria, como de costume,
fê-lo ir para a cama. Mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o
médico a casa. Ele disse que não era nada de grave, mas, para justificar a
chamada, lá prescreveu o Antigripine
para tomar durante o dia, e um Xarope com
Efedrina para tomar à noite. Não
fosse o diabo tecê-las e apanhar alguma pneumonia, receitou um antibiótico: 1 g de Amoxicilina de 12 em 12 horas, durante 10 dias; e como detectou
uma pequena taquicardia, receitou
Atenolol.
Pouco tempo
depois, e por causa das resistências diminuídas, apareceram uns fungos, e
depois herpes, o que o fez voltar à consulta, e o médico receitou Fluconazol e Zovirax.
Para piorar a
situação, tio Manel começou a ler as bulas de todos os medicamentos que
tomava, e ficou sabendo de todas as contra-indicações, advertências,
precauções, reacções adversas, efeitos colaterais e interacções médicas e
encontrou coisas terríveis. Não só que poderiam provocar a morte, mas que
poderiam fomentar também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas,
hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do
estado mental, e mais um monte de coisas terríveis. E com medo, voltou ao
médico, que lhe disse para não se preocupar com essas coisas, porque os Laboratórios
só colocavam essas coisas para se isentar de culpa.
- Calma, amigo
Manel, não fique aflito, disse o médico, enquanto prescrevia uma nova receita
com um antidepressivo Sertralina com
Rivotril 100 mg. E como o Manel estava
com dor nas articulações, receitou também, o Diclofenac, porque a felicidade tem que ser total, e a uma
boa pílula, não há mal que a vença.
Nessa altura,
sempre que o ti Manel recebia a Pensão, lá ia directo para a Farmácia, onde já
tinha sido eleito cliente VIP.
Chegou uma altura
em que o dia do pobre Manel já não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas,
portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insónia que haviam sido
prescritas. Ficou tão mal, que um dia, conforme era advertido nas bulas dos
remédios, bateu a “caçoleta”!
No funeral tinha
muita gente, mas quem mais chorava era o farmacêutico.
Agora a ti Maria
diz que, felizmente, mandou o marido ao médico em boa altura, porque senão...,
com certeza, ele há muito que teria morrido!
"As minhas
muletas deitei-as fora, a minha marreca já não me dobra. Ó senhor doutor esta doença
só me dá para dançar!
A dor já
não maça e eu não me canso, é cada guinada que eu até canto. Ó senhor doutor esta doença
só me dá para dançar!
Faça
qualquer coisa, que eu não tenho mais razões p'ra me queixar…
Já não
emagreço nem fico gorda, e qualquer excesso deixa-me em forma. Ó senhor doutor esta
doença só me dá para dançar!
O meu
triste pranto ri-se com gosto, e o bem-estar é tanto que eu já nem posso. Ó
senhor doutor esta doença só me dá para dançar!
A todo o
mal do mundo dou bailarico, e até no futuro já acredito. Ó senhor doutor esta doença
só me dá para dançar!
Gabo a má
sorte do meu destino, e se vier a morte faz par comigo. Ó senhor doutor esta doença
só me dá para dançar!
Faça
qualquer coisa, que eu não tenho mais razões p'ra me queixar…"