
sábado, 23 de abril de 2011
Telmo do "big brother" candidato a deputado????
Isso mesmo "Camaradas", o Telmo é candidato a deputado pelo PS, e pelo círculo eleitoral de Leiria.
Qual nobre, qual carapuça, isto é que é "quolidade"...
Qual nobre, qual carapuça, isto é que é "quolidade"...
quinta-feira, 21 de abril de 2011
S.O.S.!!!!

- Existem programas para deixar de fumar....
- Existem programas para deixar de beber...
- Existem programas para deixar de engordar....
- Existem programas para deixar as drogas....
- Há quem mude de política como quem muda de camisa...
- Até há quem deixe de acreditar em deus, depois de ser crente...
Alguém conhece, me aconselha, ou ajuda com um “programa” para mudar de CLUBE!!!!
- Existem programas para deixar de beber...
- Existem programas para deixar de engordar....
- Existem programas para deixar as drogas....
- Há quem mude de política como quem muda de camisa...
- Até há quem deixe de acreditar em deus, depois de ser crente...
Alguém conhece, me aconselha, ou ajuda com um “programa” para mudar de CLUBE!!!!
terça-feira, 19 de abril de 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
O pior cancro dos próximos anos...
Numa altura em que o spin socrático, coadjuvado por boa parte do aparelho mediático deste país, tenta criar um clima eleitoral em que a governação socialista não seja avaliada, é importante mostrar os factos. Hoje é consensual que as parcerias público-privadas foram negócios ruinosos para o Estado português. E quem é que as realizou?

De acordo com o Jonal "SOL" desta semana, " Uma factura de 9,5 mil milhões de euros para pagar durante os quatro anos de mandato do próximo Governo, entre 2011 e 2015. É um 'presente' que o primeiro-ministro José Sócrates deixa ao próximo governo.
O montante suficiente para construir dois novos aeroportos em Alcochete, é a soma dos encargos com as rendas das parcerias público-privadas (PPP) que o Estado terá de assumir até 2015, de acordo com um relatório sobre as mesmas elaborado por uma instituição financeira, ao qual o SOL teve acesso.
Mais de dois terços - 6,5 mil milhões de euros - deste valor dizem respeito às PPP rodoviárias. As sete vias SCUT, construídas durante o último Governo socialista de António Guterres, e as nove concessões rodoviárias lançadas desde que José Sócrates chegou ao poder, em 2005, são as culpadas pela dimensão dos encargos financeiros, entre as quais está parte da tão badalada auto-estrada cor-de-rosa (uma nova auto-estrada entre o Porto e Lisboa).."
quinta-feira, 14 de abril de 2011
A unidade do PS: a noite das "facas-longas" prepara-se...
A antiga deputada socialista, Marta Rebelo, analisa o PS actual no pós-congresso de Matosinhos.
"De gravata cor-de-rosa “PS-fushia”, em rigor cromático – polegar pronto a elevar o moral, teleponto de lente cristalina sem lugar a enganos mas engasgos de emoção, o líder pergunta se estão com ele. E em apoteose estão todos.
Todos se convencem que dia 5 de Junho chegará a vitória. O FMI passa a ser sigla desconhecida e o PSD a besta, numa amnésia colectiva de euforia telegénica produzida pelo maior realizador e protagonista da era mediática da política nacional: José Sócrates, senhoras e senhores. Chegou, discursou, venceu? Não. Mas na bolha da Exponor e até às 14h de domingo passado todos queriam tanto que sim."
Fui delegada de sofá (por doença grave), o que me concedeu o distanciamento necessário para analisar aquelas pessoas. Muitas fazem parte do meu quotidiano há tantos, muitos anos. Sou leal, não sou cega. E foi muito mais fácil colocá-los no divã em frente ao meu sofá, tomar-lhes o pulso aos pecados e antever-lhes as vontades recalcadas, com a TV a intermediar-nos o encontro.
Sejamos verdadeiros: o que é que há para salvar? Nem a face.
Vencer as legislativas é ganhar uma carga de trabalhos, a gestão da bancarrota e ter o triste contentamento de ser eleito pelos que votarão encolhendo os ombros enquanto a caneta faz a cruz.
As sondagens são cruéis: quem vier a seguir, será tão mau quanto quem está. Mas o poder é uma vertigem de loucura, vício e ilusão da possibilidade do salvamento constante. E em euforia estudada, quase acreditando nela, estava lá a constelação dos maiores: José Sócrates, António José Seguro, António Costa, Francisco Assis.
Depois, porque a união foi cozida com linha de pesca, da que não quebra senão mordida por um tubarão – e o único que tínhamos retirou-se, Jaime Gama – estavam Carlos César, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues. E Edite Estrela a organizar os «peço a palavra» a Almeida Santos, o que valeu a Ana Gomes ser enxotada para a meia-noite de sábado e o pavilhão vazio. Erro – e este PS não costuma fazer destes: as TV´s só queriam uma voz dissonante. Mesmo sem gravata de cor estudada, Ana Gomes teve quase tanto palco quanto Sócrates.
Mas vamos ao futuro. E depois do adeus, o que faziam eles ali?
Primeiro é preciso que haja adeus do grande líder. Sócrates é dos que cai de pé. Não bebe cicuta, fareja-a à distância. Vai a eleições. Perde-as, mas por uma unha negra. E quero ver Cavaco a obrigá-lo a retirar-se para outras pistas de sky para possibilitar o bloco central de todos. O homem da esquerda moderna pode bem ganhá-las por uma unha negra, e o imbróglio não muda de figura. Mas muda a vida interna do PS.
Seguro respira já os ares do próximo congresso, que muitos dizem ser dentro de três meses. Será eleito, pois claro. Na surdina, nos bastidores, a fazer a sua cama com lençóis de algodão egípcio desde 2004, tecido pelos melhores artesões do aparelho socialista, não acredito que alguém vença To-zé.
Tal como não lhe antevejo qualquer feito relevante. Não sabe escolher gravatas nem combinar-lhes as cores. Fala pouco, não vá comprometer-se. No congresso, dirigia-se aos jornalistas dizendo lugares comuns como um jogador da bola no “flash interview”.
Não me identifico com gente que só faz e fala em off, para evitar o compromisso.
António José Seguro é o amante que anda com a caixa do solitário no bolso há anos, à espera do momento propício para fazer o pedido sem correr o risco da noiva dizer que não. Calculismo é só forma, e por mais quilates que o diamante tenha não há gemas perfeitas. Pode viabilizar o bloco central? Pode. Vai ser Secretário-Geral do PS? Vai. Um dia Guterres, num momento intimo a quatro, prognosticou que Seguro faria a liderança da esquerda do PS. E como anda há tanto tempo a preparar-se, é seguramente impoluto. Encontrem-lhe lá a careca, desafio-vos. Encontrem-lhe lá o génio ou as ideias, peço-vos.
Se, e só se, daqui a três meses se repetir o conclave socialista, Francisco Assis, atira-se ao caminho de Seguro. Perde, mas como provou em Felgueiras, não tem medo nenhum de levar tareia e tem tempo. É determinado, este nosso povo gosta mais dos fortes do que dos das falinhas mansas, como Seguro. Não tem o aparelho do PS em todo o seu esplendor, mas tem os que vêm minando a vida a António José e se preparam para lhe dar guerra.
Tem os que ainda acharem que devem alguma coisa a Sócrates, que tem com António José um ódio mútuo de décadas – mas esses serão tão poucos, num partido as dívidas eclipsam-se todas na má sorte. Tem uma certa continuidade do “status quo”, sem estar demasiado comprometido com o dito. Tem fibra própria, imagino-lhe um pequeno-almoço menos metódico do que o de To-zé, que se atira voraz às fibras dos cereais saudáveis para o corpo e a mente todas as manhãs. Só que é aqui que Seguro é impossível de bater: no método, na organização, na espera. Nem precisa de esticar muito as pernas quando descansa de esperar sentado.
Depois o eterno amado António Costa. No PS sempre me disseram «costista». Estes alinhamentos lembram-me a «cosa nostra», mas tenho uma admiração assumida pelo edil de Lisboa que me vem ainda da menoridade. Hoje ouso dizer que os “timmings” vão estando contra ele. E que está errado se vê com solidez a mudança directa dos Paços do Concelho para o Palácio de Belém, à semelhança do seu mentor Sampaio. António, precisa de escolher a cor de gravata certa para o palco adequado, e esticar o tempo como num jogo de xadrez. Xeque-mate?
Manuel Alegre, porque era preciso, foi morder a mão do PCP e do BE, que lhe deu de comer e uma bela indigestão em Janeiro; Ferro Rodrigues voltou, é um homem bom e nestes anos chamou os bois pelos nomes; Carlos César é determinante. Porém não sei que vento ou casamento virá dos Açores.
César não gosta de Sócrates, isso um leigo percebe. Foi alegrista, como poucos, atentando contra a moderação lisboeta; disse à porta do Congresso que o governo cometeu erros e identificou-os: demorou demasiado tempo a reconhecer a existência da crise, a «internalizá-la», foi demasiado keynesiano e a estratégia falhou. Depois, debaixo dos holofotes, disse como os outros, «Zé, estou contigo».
É, como figura, mais forte do que Seguro, mas socialistamente mais insular; facilmente se entenderia com Costa, são ambos rijos; com Assis? Depende da direcção dos ventos nas Lajes. Curiosamente, disse o mesmo que Ana Gomes foi bradar a palco. Mas lá dentro, na cenografia magnificamente orquestrada alinhou pelo diapasão da unidade.
Este PS precisa de definição. Precisa o país, precisamos todos.
Estou certa de que já todos recuperaram da embriaguez do fim-de-semana. E sóbrios, esperam pelo futuro do líder. Sócrates não sucederá a Sócrates, isso todos pensam e (quase) todos anseiam.
Eu, a quem «elogiaram» como «a menina bonita do PS», «a socranete n.º 1», ou «a estrela em ascensão», respondo que a idade traz rugas; então e Edite Estrela? e as estrelas acabam cadentes... Estou desiludida, afastada e farta desta engrenagem do meu partido (vá, chamem-me o que quiserem).
Não sei se estou contigo, Zé – eu manifestante com a Geração à Rasca.
E sem humildade de plástico, não me tenho na conta de futuro de nada. Todavia, avance quem for contra Seguro, regresso com o arsenal que aprendi a reunir com todos estes. Estarei com Costa sempre. Com Assis, se for ele a avançar.
Posso porém garantir-vos que o meu arsenal não caberá nunca numa lata de salsichas nobre, daquelas pequeninas e de seis unidades, de qualidade dúbia mas que de repente geraram uma corrida às prateleiras dos supermercados.
Que partidos são estes?!
Este fim-de-semana o PS esteve ocupado numa vitória colectiva, reunido para um espectáculo de pirotecnia do mais elevado teor de unidade e de tiro ao alvo social-democrata, o criador de todas as desgraças do rating do país e, afinal, da sua paupérrima condição.
Vamos ver quem atira na lata de salsichas certa...
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Veja as semelhanças...
Este foi o “artista” que enxovalhou Portugal e o Presidente Cavaco, aquando da sua visita à República Checa:
“O presidente da República Checa, Vaclav Klaus, foi visto a 'roubar' uma caneta cerimonial com pedras semi-preciosas durante uma conferência de imprensa numa visita à América Latina.”
Este é um “artista” português, que "rouba gravadores a jornalistas" digníssimo deputado da nação, eleito pelo Partido Socialista, do qual é um alto dirigente, e que volta a ser CABEÇA DE LISTA, pelo mesmo partido:
Este? É outro tipo de "artista"..., nunca foi visto a "roubar", mas mete-nos as mãos nos bolsos com uma facilidade:
Palavras para quê?...
“O presidente da República Checa, Vaclav Klaus, foi visto a 'roubar' uma caneta cerimonial com pedras semi-preciosas durante uma conferência de imprensa numa visita à América Latina.”
Este é um “artista” português, que "rouba gravadores a jornalistas" digníssimo deputado da nação, eleito pelo Partido Socialista, do qual é um alto dirigente, e que volta a ser CABEÇA DE LISTA, pelo mesmo partido:
Este? É outro tipo de "artista"..., nunca foi visto a "roubar", mas mete-nos as mãos nos bolsos com uma facilidade:
Palavras para quê?...
terça-feira, 12 de abril de 2011
Em nome da verdade, contra a propaganda de intoxicação...
(Um amigo fez-me chegar esta missiva, e eu como assino por baixo, vou partilhá-la convosco. Só para os menos informados, porque há por aí uns “espertes” que já conhecem isto tudo..., mas nunca será demais repetir. Digo eu!).
FOI PEDIDO O RESGATE
Por Henrique Medina Carreira.
Bom, dado o que está em causa é tão só o futuro dos nossos filhos e a própria sobrevivência da democracia em Portugal, não me parece exagerado perder algum tempo a desmontar a máquina de propaganda dos bandidos que se apoderaram do nosso país.
Já sei que alguns de vós estão fartos de ouvir falar disto e não querem saber, que sou deprimente, etc., mas é importante perceberem que o que nos vai acontecer é, sobretudo, nossa responsabilidade porque não quisemos saber durante demasiado tempo e agora estamos com um pé dentro do abismo e já não há possibilidade de escapar.
Estou convencido que aquilo a que assistimos nos últimos dias é uma verdadeira operação militar e um crime contra a pátria (mais um). Como sabem há muito que ando nos mercados (quantos dos analistas que dizem disparates nas TVs alguma vez estiveram nos ditos mercados?) e acompanho com especial preocupação (o meu Pai diria obsessão) a situação portuguesa há vários anos.
Algumas verdades inconvenientes não batem certo com a "narrativa" socialista há muito preparada e agora posta em marcha pela comunicação social como uma verdadeira operação de PsyOps, montada pelo círculo íntimo do bandido e executada pelos jornalistas e comentadores "amigos" e dependentes das prebendas do poder (quase todos infelizmente, dado o estado do "jornalismo" que temos).
Ora acredito que o plano de operações desta gente não deve andar muito longe disto:
Narrativa: Se Portugal aprovasse o PEC IV não haveria nenhum resgate.
Verdade: Portugal já está ligado à máquina há mais de 1 ano (O BCE todos os dias salva a banca nacional de ter que fechar as portas dando-lhe liquidez e compra obrigações Portuguesas que mais ninguém quer - senão já teríamos taxas de juro nos 20% ou mais).
Ora esta situação não se podia continuar a arrastar, como é óbvio. Portugal tem que fazer o rollover de muitos milhares de milhões em dívida já daqui a umas semanas só para poder pagar salários! Sócrates sabe perfeitamente que isso é impossível e que estávamos no fim da corda. O resto é calculismo político e teatro. Como sempre fez.
Narrativa: Sócrates estava a defender Portugal e com ele não entrava cá o FMI.
Verdade: Portugal é que tem de se defender deste criminoso louco que levou o país para a ruína (há muito antecipada como todos sabem). A diabolização do FMI é mais uma táctica dos spin doctors de Sócrates. O FMI fará sempre parte de qualquer resgate, seja o do mecanismo do EFSF (que é o que está em vigor e foi usado pela Irlanda e pela Grécia), seja o do ESM (que está ainda em discussão entre os 27 e não se sabe quando, nem se, nem como irá ser aprovado).
Narrativa: Estava tudo a correr tão bem e Portugal estava fora de perigo mas vieram estes "irresponsáveis" estragar tudo.
Verdade: Perguntem aos contabilistas do BCE e da Comissão que cá estiveram a ver as contas quanto é que é o real buraco nas contas do Estado e vão cair para o lado (a seu tempo isto tudo se saberá).
Alguém sinceramente fica surpreendido por descobrir que as finanças públicas estão todas marteladas e que os papéis que os socráticos enviam para Bruxelas para mostrar que são bons alunos não têm credibilidade nenhuma? E acham que lá em Bruxelas são todos parvos e não começam a desconfiar de tanto óasis em Portugal? Recordo que uma das razões pela qual a Grécia não contou com muita solidariedade alemã foi por ter martelado as contas sistematicamente, minando toda a confiança. Acham que a Goldman Sachs só fez swaps contabilísticos com Atenas?
E todos sabemos que o engº relativo é um tipo rigoroso, estudioso e duma ética e honestidade à prova de bala, certo?
Narrativa: Os mercados castigaram Portugal devido à crise política desencadeada pela oposição. Agora, com muita pena do incansável patriota Sócrates, vem aí o resgate que seria desnecessário.
Verdade: É óbvio que os mercados não gostaram de ver o PEC chumbado (e que não tinha que ser votado, muito menos agora, mas isso leva-nos a outro ponto), mas o que eles querem saber é se a oposição vai ou não cumprir as metas acordadas à socapa por Sócrates em Bruxelas (deliberadamente feito como se fosse uma operação secreta porque esse aspecto era peça essencial da sua encenação). E já todos cá dentro e lá fora sabem que o PSD e CDS vão viabilizar as medidas de austeridade e muito mais.
É impressionante como a máquina do governo conseguiu passar a mensagem lá para fora que a oposição não aceitava mais austeridade. Essa desinformação deliberada é que prejudica o país lá fora porque cria inquietação artificial sobre as metas da austeridade. Mesmo assim os mercados não tiveram nenhuma reacção intempestiva porque o que os preocupa é apenas as metas. Mais nada.
O resto é folclore para consumo interno. E, tal como a queda do governo e o resgate iminente não foram surpresa para mim, também não o foram para os mercados, que já contavam com isto há muito (basta ver um gráfico dos CDS sobre Portugal nos últimos 2 anos, e especialmente nos últimos meses).
Porque é que os média não dizem que a bolsa lisboeta subiu mais de 1% no dia a seguir à queda? Simples, porque não convém para a narrativa que querem vender ao nosso povo facilmente manipulável (julgam eles depois de 6 anos a fazê-lo impunemente).
Bom, há sempre mais pontos da narrativa para desmascarar mas não sei se isto é útil para alguém, ou se, é já óbvio para todos. E como é 5ª feira e estou a ficar irritado só a escrever sobre este assunto termino por aqui.
Se quiserem que eu vá escrevendo mais digam, porque isto dá muito trabalho.
FOI PEDIDO O RESGATE
Por Henrique Medina Carreira.
Bom, dado o que está em causa é tão só o futuro dos nossos filhos e a própria sobrevivência da democracia em Portugal, não me parece exagerado perder algum tempo a desmontar a máquina de propaganda dos bandidos que se apoderaram do nosso país.
Já sei que alguns de vós estão fartos de ouvir falar disto e não querem saber, que sou deprimente, etc., mas é importante perceberem que o que nos vai acontecer é, sobretudo, nossa responsabilidade porque não quisemos saber durante demasiado tempo e agora estamos com um pé dentro do abismo e já não há possibilidade de escapar.
Estou convencido que aquilo a que assistimos nos últimos dias é uma verdadeira operação militar e um crime contra a pátria (mais um). Como sabem há muito que ando nos mercados (quantos dos analistas que dizem disparates nas TVs alguma vez estiveram nos ditos mercados?) e acompanho com especial preocupação (o meu Pai diria obsessão) a situação portuguesa há vários anos.
Algumas verdades inconvenientes não batem certo com a "narrativa" socialista há muito preparada e agora posta em marcha pela comunicação social como uma verdadeira operação de PsyOps, montada pelo círculo íntimo do bandido e executada pelos jornalistas e comentadores "amigos" e dependentes das prebendas do poder (quase todos infelizmente, dado o estado do "jornalismo" que temos).
Ora acredito que o plano de operações desta gente não deve andar muito longe disto:
Narrativa: Se Portugal aprovasse o PEC IV não haveria nenhum resgate.
Verdade: Portugal já está ligado à máquina há mais de 1 ano (O BCE todos os dias salva a banca nacional de ter que fechar as portas dando-lhe liquidez e compra obrigações Portuguesas que mais ninguém quer - senão já teríamos taxas de juro nos 20% ou mais).
Ora esta situação não se podia continuar a arrastar, como é óbvio. Portugal tem que fazer o rollover de muitos milhares de milhões em dívida já daqui a umas semanas só para poder pagar salários! Sócrates sabe perfeitamente que isso é impossível e que estávamos no fim da corda. O resto é calculismo político e teatro. Como sempre fez.
Narrativa: Sócrates estava a defender Portugal e com ele não entrava cá o FMI.
Verdade: Portugal é que tem de se defender deste criminoso louco que levou o país para a ruína (há muito antecipada como todos sabem). A diabolização do FMI é mais uma táctica dos spin doctors de Sócrates. O FMI fará sempre parte de qualquer resgate, seja o do mecanismo do EFSF (que é o que está em vigor e foi usado pela Irlanda e pela Grécia), seja o do ESM (que está ainda em discussão entre os 27 e não se sabe quando, nem se, nem como irá ser aprovado).
Narrativa: Estava tudo a correr tão bem e Portugal estava fora de perigo mas vieram estes "irresponsáveis" estragar tudo.
Verdade: Perguntem aos contabilistas do BCE e da Comissão que cá estiveram a ver as contas quanto é que é o real buraco nas contas do Estado e vão cair para o lado (a seu tempo isto tudo se saberá).
Alguém sinceramente fica surpreendido por descobrir que as finanças públicas estão todas marteladas e que os papéis que os socráticos enviam para Bruxelas para mostrar que são bons alunos não têm credibilidade nenhuma? E acham que lá em Bruxelas são todos parvos e não começam a desconfiar de tanto óasis em Portugal? Recordo que uma das razões pela qual a Grécia não contou com muita solidariedade alemã foi por ter martelado as contas sistematicamente, minando toda a confiança. Acham que a Goldman Sachs só fez swaps contabilísticos com Atenas?
E todos sabemos que o engº relativo é um tipo rigoroso, estudioso e duma ética e honestidade à prova de bala, certo?
Narrativa: Os mercados castigaram Portugal devido à crise política desencadeada pela oposição. Agora, com muita pena do incansável patriota Sócrates, vem aí o resgate que seria desnecessário.
Verdade: É óbvio que os mercados não gostaram de ver o PEC chumbado (e que não tinha que ser votado, muito menos agora, mas isso leva-nos a outro ponto), mas o que eles querem saber é se a oposição vai ou não cumprir as metas acordadas à socapa por Sócrates em Bruxelas (deliberadamente feito como se fosse uma operação secreta porque esse aspecto era peça essencial da sua encenação). E já todos cá dentro e lá fora sabem que o PSD e CDS vão viabilizar as medidas de austeridade e muito mais.
É impressionante como a máquina do governo conseguiu passar a mensagem lá para fora que a oposição não aceitava mais austeridade. Essa desinformação deliberada é que prejudica o país lá fora porque cria inquietação artificial sobre as metas da austeridade. Mesmo assim os mercados não tiveram nenhuma reacção intempestiva porque o que os preocupa é apenas as metas. Mais nada.
O resto é folclore para consumo interno. E, tal como a queda do governo e o resgate iminente não foram surpresa para mim, também não o foram para os mercados, que já contavam com isto há muito (basta ver um gráfico dos CDS sobre Portugal nos últimos 2 anos, e especialmente nos últimos meses).
Porque é que os média não dizem que a bolsa lisboeta subiu mais de 1% no dia a seguir à queda? Simples, porque não convém para a narrativa que querem vender ao nosso povo facilmente manipulável (julgam eles depois de 6 anos a fazê-lo impunemente).
Bom, há sempre mais pontos da narrativa para desmascarar mas não sei se isto é útil para alguém, ou se, é já óbvio para todos. E como é 5ª feira e estou a ficar irritado só a escrever sobre este assunto termino por aqui.
Se quiserem que eu vá escrevendo mais digam, porque isto dá muito trabalho.
A problemática colocação do mastro/A problemática vinda do FMI
(A cantiga do dia)
"o louçã perdeu a joana!
o jerónimo...? o brito
o cavaco não diz nada
e para bem da maralhada
mais vale não abrir o bico...
O coelho anda tonto...
o portas já não ri!
o sócrates perdeu o norte...
e p’ra mal da nossa sorte
chamou o FMI..”.
Haja música...
A problemática colocação de um mastro
Para efeitos de efeitar a avenida
Com balões dependurados, papelinhos coloridos
Troxe o insólito sarilho à autarquia
É que esta idelidade
Agiu em conformidade
Com o gosto colossal de dois ou três
E anunciou com muito orgulho
Muita pompa e barulho
Que o maior mastro do mundo é Português
E anunciou com muito orgulho
Muita pompa e barulho
Que o maior mastro do mundo é Português
Os olhares que se pasmavam na escalada
Não alcançavam nem o meio, nem o fim
Para muitos aquele mastro é má contenção de gastos
Para outros, ele está muito bem assim
O fascínio é humano
E o que é grande em tamanho
Glorifica sempre muito quem o fez
Isto exalta uma nação
E há que dizê-lo com razão
Que o maior mastro do mundo é Português
Isto exalta uma nação
E há que dizê-lo com razão
Que o maior mastro do mundo é Português
São Pedro perdeu as chaves
Santo António o menino
São João foi pelos ares
E para mal dos seus azares
Não encontra o cordeirinho
Santo António anda tonto
São Pedro diz que não vê
São João caiu redondo
E do céu deu um tombo
Tropeçou não sabe em quê
Inquieta a multidão na avedida
Assobia por tanto ter de esperar
Mas nem bairros, nem bairristas, nem as tais marchas previstas
O espectante espectador viu desfilar
Quem se entende com altares
Diz que os santos populares
Não desfilam pelas ruas desta vez
Que nos falte a tradição
Ao menos valha a emoção
Que o maior mastro do mundo é Português
Que nos falte a tradição
Ao menos valha a emoção
Que o maior mastro do mundo é Português
Recuperados os santos dos seus maus-tratos
Os responsáveis resolveram confrontar
Escorregando pelo mastro, perguntaram cá em baixo
Que país levantou alto este pilar
Para a porta do vizinho
Toda a gente varreu lixo
Quando a culpa nos aponta e envolve
E quando toca ao país
Patriota é o que diz
Que o maior mastro do mundo é Espanhol
El postito Portugués
Solo es grandito en pequenez
Pero el maior mastro del mundo es Español
"o louçã perdeu a joana!
o jerónimo...? o brito
o cavaco não diz nada
e para bem da maralhada
mais vale não abrir o bico...
O coelho anda tonto...
o portas já não ri!
o sócrates perdeu o norte...
e p’ra mal da nossa sorte
chamou o FMI..”.
Haja música...
A problemática colocação de um mastro
Para efeitos de efeitar a avenida
Com balões dependurados, papelinhos coloridos
Troxe o insólito sarilho à autarquia
É que esta idelidade
Agiu em conformidade
Com o gosto colossal de dois ou três
E anunciou com muito orgulho
Muita pompa e barulho
Que o maior mastro do mundo é Português
E anunciou com muito orgulho
Muita pompa e barulho
Que o maior mastro do mundo é Português
Os olhares que se pasmavam na escalada
Não alcançavam nem o meio, nem o fim
Para muitos aquele mastro é má contenção de gastos
Para outros, ele está muito bem assim
O fascínio é humano
E o que é grande em tamanho
Glorifica sempre muito quem o fez
Isto exalta uma nação
E há que dizê-lo com razão
Que o maior mastro do mundo é Português
Isto exalta uma nação
E há que dizê-lo com razão
Que o maior mastro do mundo é Português
São Pedro perdeu as chaves
Santo António o menino
São João foi pelos ares
E para mal dos seus azares
Não encontra o cordeirinho
Santo António anda tonto
São Pedro diz que não vê
São João caiu redondo
E do céu deu um tombo
Tropeçou não sabe em quê
Inquieta a multidão na avedida
Assobia por tanto ter de esperar
Mas nem bairros, nem bairristas, nem as tais marchas previstas
O espectante espectador viu desfilar
Quem se entende com altares
Diz que os santos populares
Não desfilam pelas ruas desta vez
Que nos falte a tradição
Ao menos valha a emoção
Que o maior mastro do mundo é Português
Que nos falte a tradição
Ao menos valha a emoção
Que o maior mastro do mundo é Português
Recuperados os santos dos seus maus-tratos
Os responsáveis resolveram confrontar
Escorregando pelo mastro, perguntaram cá em baixo
Que país levantou alto este pilar
Para a porta do vizinho
Toda a gente varreu lixo
Quando a culpa nos aponta e envolve
E quando toca ao país
Patriota é o que diz
Que o maior mastro do mundo é Espanhol
El postito Portugués
Solo es grandito en pequenez
Pero el maior mastro del mundo es Español
domingo, 10 de abril de 2011
"Dazk...! Quê?
Ontem, ao final do dia, ou mais concretamente, ao inicio da noite, farto da política, da crise e do futebol, resolvi fazer uma incursão numa outra paixão minha, a música.
Há dias quando passava junto do Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre, resolvi dar uma olhada aos programas para os próximos dias, logo me fixei no dia 9 de Abril, num nome “Dazkarieh”, que em tempos havia confundido como sendo um álbum da “Brigada Vítor Jara”, por ignorância pura. Enfim coisas de não especialistas...
A meio da tarde, e depois de alguma pesquisa, pensando que a coisa prometia, ainda telefonei ao meu amigo Sabi, procurando saber se ele estava a par do evento, sabendo-o apaixonado por estes fenómenos. Mas o dito, lá me despediu, referindo que não estava disponível, porque o seu grande móbil actual, é um tal projecto “a Grupa”, referindo-me ainda, com toda a paixão, “... que muito melhor do que ser espectador é ser actor”, e eu concordei. Oxalá.
Mas meu caro, não sabes o que perdeste, tu e todos aqueles que não estiveram presentes. É que apesar de ser um projecto com cerca de uma dezena de anos, não parece ser conhecido do grande público, e é pena. Para vos afilar o apetite aqui fica a sua apresentação, e a sugestão que, quando ouvirem este palavrão: “Dazkarieh”, não percam o espectáculo, vale a pena.
Há dias quando passava junto do Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre, resolvi dar uma olhada aos programas para os próximos dias, logo me fixei no dia 9 de Abril, num nome “Dazkarieh”, que em tempos havia confundido como sendo um álbum da “Brigada Vítor Jara”, por ignorância pura. Enfim coisas de não especialistas...
A meio da tarde, e depois de alguma pesquisa, pensando que a coisa prometia, ainda telefonei ao meu amigo Sabi, procurando saber se ele estava a par do evento, sabendo-o apaixonado por estes fenómenos. Mas o dito, lá me despediu, referindo que não estava disponível, porque o seu grande móbil actual, é um tal projecto “a Grupa”, referindo-me ainda, com toda a paixão, “... que muito melhor do que ser espectador é ser actor”, e eu concordei. Oxalá.
Mas meu caro, não sabes o que perdeste, tu e todos aqueles que não estiveram presentes. É que apesar de ser um projecto com cerca de uma dezena de anos, não parece ser conhecido do grande público, e é pena. Para vos afilar o apetite aqui fica a sua apresentação, e a sugestão que, quando ouvirem este palavrão: “Dazkarieh”, não percam o espectáculo, vale a pena.
Quem são e o que são os "Dazkarieh":
E esta:
E esta:
sexta-feira, 8 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Como chegámos aqui, porque chegámos, e quem são os responsáveis?
O que hoje sinto, como português, é uma autêntica desilusão pelo estado a que chegou este nosso Portugal, mas sobretudo, pelo que nos espera no futuro imediato, e constatar ainda, que praticamente, não nos restava outra alternativa.
O "resgate" do FMI é um verdadeiro atentado às soberanias nacionais, como aliás se confirma na Irlanda e na Grécia, onde as pessoas dizem que estão a perder o que tanto custou conquistar. Estes termos que por aí navegam, tais como “ajuda externa” ou “resgate”, deveriam ser imediatamente banidos do nosso vocabulário, pois o que nos espera é uma verdadeira INTERVENÇÃO EXTERNA.
Tradicionalmente, "resgate" é o dinheiro que se paga para libertar alguém que tenha sido aprisionado por outrem. No entanto, o que pode verificar, nesses países em que essa “ajuda ou resgate” está em curso (Grécia e Irlanda), é que esse pretenso "resgate" corresponde, na prática, a uma verdadeira prisão, sendo especialmente atingidas as classes mais baixas com cortes violentíssimos nos salários, aumentos brutais de impostos, e tudo isto sem que a desconfiança dos mercados seja minimamente aliviada, pois as taxas de juro mantêm-se a níveis altíssimos, como parece que hoje continua a acontecer em Portugal, apesar do anúncio de ontem.
Quer-se fazer crer, que a vinda do FMI a Portugal em 1983 não foi problema. Pois eu, lembro-me bem da vinda do FMI em 1983, que teve como medidas emblemáticas o corte do subsídio de Natal retirado através de um imposto extraordinário e retroactivo, e a fome que na altura assolou o país (sobretudo na península de Setúbal), sendo confrangedora a situação de miséria que víamos atingir cada vez mais pessoas, e só não foi mais catastrófico, porque em 1986 entrámos na CEE (o nosso ouro do Brasil do século XX).
Que ninguém se iluda, o que por aí vem, é que vai ser a verdadeira CRISE, que nos vai por a viver com aquilo que produzimos, e isso, sejamos honestos, é muito pouco. Os números não enganam, apesar dos fundos comunitários que continuam a entrar em Portugal (que desperdiçamos com investimentos que não interessam nem ao menino Jesus), todos os anos aumentamos, em pelo menos 10%, a nossa dívida externa.
O que se deve questionar é que culpa têm a classe média e baixa (quando há prémios são para os gestores), para terem que suportar as medidas de austeridade. Não deveriam ser aqueles que deixaram irresponsavelmente acumular os défices públicos e privados que os deveriam pagar?
Passos Coelho disse ontem, que "o País não pode ser tomado pela responsabilização da culpa".
Pois eu acho precisamente o contrário: que pode e deve ser tomado por essa responsabilização. É precisamente nos julgamentos eleitorais que os políticos devem prestar contas dos seus actos.
Eu por mim tudo farei para, neste espaço, dar a conhecer o pouco que vou sabendo e não aceito as “peias” do esquecimento e da não inscrição, de que o “português” tanto gosta.
O "resgate" do FMI é um verdadeiro atentado às soberanias nacionais, como aliás se confirma na Irlanda e na Grécia, onde as pessoas dizem que estão a perder o que tanto custou conquistar. Estes termos que por aí navegam, tais como “ajuda externa” ou “resgate”, deveriam ser imediatamente banidos do nosso vocabulário, pois o que nos espera é uma verdadeira INTERVENÇÃO EXTERNA.
Tradicionalmente, "resgate" é o dinheiro que se paga para libertar alguém que tenha sido aprisionado por outrem. No entanto, o que pode verificar, nesses países em que essa “ajuda ou resgate” está em curso (Grécia e Irlanda), é que esse pretenso "resgate" corresponde, na prática, a uma verdadeira prisão, sendo especialmente atingidas as classes mais baixas com cortes violentíssimos nos salários, aumentos brutais de impostos, e tudo isto sem que a desconfiança dos mercados seja minimamente aliviada, pois as taxas de juro mantêm-se a níveis altíssimos, como parece que hoje continua a acontecer em Portugal, apesar do anúncio de ontem.
Quer-se fazer crer, que a vinda do FMI a Portugal em 1983 não foi problema. Pois eu, lembro-me bem da vinda do FMI em 1983, que teve como medidas emblemáticas o corte do subsídio de Natal retirado através de um imposto extraordinário e retroactivo, e a fome que na altura assolou o país (sobretudo na península de Setúbal), sendo confrangedora a situação de miséria que víamos atingir cada vez mais pessoas, e só não foi mais catastrófico, porque em 1986 entrámos na CEE (o nosso ouro do Brasil do século XX).
Que ninguém se iluda, o que por aí vem, é que vai ser a verdadeira CRISE, que nos vai por a viver com aquilo que produzimos, e isso, sejamos honestos, é muito pouco. Os números não enganam, apesar dos fundos comunitários que continuam a entrar em Portugal (que desperdiçamos com investimentos que não interessam nem ao menino Jesus), todos os anos aumentamos, em pelo menos 10%, a nossa dívida externa.
O que se deve questionar é que culpa têm a classe média e baixa (quando há prémios são para os gestores), para terem que suportar as medidas de austeridade. Não deveriam ser aqueles que deixaram irresponsavelmente acumular os défices públicos e privados que os deveriam pagar?
Passos Coelho disse ontem, que "o País não pode ser tomado pela responsabilização da culpa".
Pois eu acho precisamente o contrário: que pode e deve ser tomado por essa responsabilização. É precisamente nos julgamentos eleitorais que os políticos devem prestar contas dos seus actos.
Eu por mim tudo farei para, neste espaço, dar a conhecer o pouco que vou sabendo e não aceito as “peias” do esquecimento e da não inscrição, de que o “português” tanto gosta.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
De regresso ao segundo momento (in) glório!...
Desempenho aí, actualmente, uma função de dirigente do grupo, uma espécie de “manageiro” dos tempos modernos, coadjuvado pelo meu amigo Bonito Dias na função de treinador. Mas nesse dia, como os confrades eram em número reduzido, lá fui aliciado a dar uma mãozinha, ou mais a propósito falando, dar umas biqueiradas no esférico, quando os restantes camaradas estivessem que já mais não podiam, e se por mero acaso, o dito objecto se deparasse ao meu alcance, a uma velocidade compatível com as minhas já reduzidas capacidades para o arte do pontapé na bola.
Quando faltavam cerca de dez minutos para terminar a função, tempo mais que suficiente para me moer, e tendo já entrado anteriormente todos os companheiros suplentes, o “mister” lá me deu ordem de entrada em campo, sem me atribuir qualquer papel específico, que não fosse o de fazer de conta que continuávamos com o máximo de artífices permitido, que para o caso devem ser em número de onze.
Decorria já o último minuto da contenda, com todos os nossos ao assalto da baliza dos de são mamede, procurando neutralizar a desvantagem mínima de um golo, que estes nos haviam marcado ilegalmente, pelo chamado “fora-de-jogo” segundo as leis da bola, mas que o árbitro, caseiro, havia feito grossa a vista; quando o objecto de jogo, se me deparou ao alcance do pé, e a menos de dois metros da linha fatal de golo.
Confesso que já me via aos pulos de contentamento, quem sabe até…, festejando com um “mortal” a igualdade alcançada pelos do santo casamenteiro, mas para isso, eu tinha que fazer transpor aquela mariola redonda, a meta que estava mesmo ali à minha frente à mão de semear. Parecia fácil (parece tão fácil cá de fora), mas quando a chutei, a floresta de pernas dos representantes do santo pastor eram mais que muitas, e o dito esférico foi repelido. Voltei a empurra-lo, mas nada..., nem se mexeu!
E o meu momento de glória futebolística, mais uma vez não se concretizou…, tal como há 30 anos atrás, quando neste mesmo local, iniciei e terminei no mesmo dia, a minha desventurada e curta carreira futebolística, e que agora aqui partilho convosco.
Decorria o ano de 1980, era eu então um jovem de vinte e três anos de idade, e cumpria, por essa altura, o serviço militar como alferes miliciano, num regimento de cavalaria, desta ditosa republica à beira-mar localizada, e tinha como incumbência ministrar instrução aos mancebos que aí se apresentavam.
Por razões que até hoje desconheço, raramente para essa unidade militar, eram incorporados jovens oriundos do meu concelho de Marvão. Mas nesse longínquo ano, por lá apareceu um o jovem de apelido Trindade e meu homónimo de nome, que eu conhecia por ser um razoável praticante destas coisas do pontapé na bola, jogava no clube da minha terra, e a quem passei a proteger por ser meu patrício.
Como nessa época, eu era dos poucos que já possuía automóvel, rapidamente, o João Trindade, se fez meu companheiro de viagem aos fins-de-semana, quer de vinda para as Areias, quer no regresso à cidade protegida pela santa rainha, onde me dava conta das aventuras futebolísticas do arenense.
Daí, a entranhar-me, com a sua retributiva protecção, nas lides, foi um ímpeto. Até porque aos dirigentes do clube, dava um certo jeito esta aliança, não por mim, sempre pouco habilitado nessa arte do futebol, mas porque com maior facilidade e frequência, podiam contar com o “pietra” de Santo António.
Durante dois ou três meses por lá andei exercitando, sobretudo, a vertente técnica do célebre desporto-rei que é o futebol, já que a psicológica “boa vontade não me faltava”, e na física…., a correr, diga-se até em abono da justeza, que não eram todos que me agarravam. Mas quanto a pisar o “pelado” a sério, isso parecia nunca mais ocorrer, e o potencial “pélébio da Abegôa” (uma mistura de Pélé com Eusébio), começava a esmorecer.
A oportunidade surgiu numa bela noite, no já acima mencionado estádio municipal da capital do distrito, num jogo que tínhamos por opositor uma equipa das redondezas da cidade, de seu nome Alagoa. Não ainda como titular mas como suplente, e decorria já a segunda parte da jogatana com o resultado ainda em branco, quando ouvi da boca do “mister” Dinis, as duas palavras mágicas: -“ Bugalhão aquece!”
De repente, pareceu-me que a noite se iluminava mais intensamente, não pelos holofotes artificiais, mas porque, num ápice, o sol brilhava em todo o seu esplendor naquele hectare de terra batida, onde a relva, só anos mais tarde viria a nascer. Na minha mente desfilavam todos os meus ídolos de infância: o Jaime Graça, José Augusto, Torres, Eusébio, Simões, Néné, Jordão, Artur, Humberto e outros …, todos eles estavam dentro de mim, e em conjunto, ia transportá-los para aquele paraíso rectangular ali à minha frente.
Não precisei de esperar muito, e dois minutos depois já eu, e todos os meus ídolos, entravamos em campo, substituindo um camarada, que hoje não recordo quem, mas não errarei muito se alvitrar que seria o Lança, “eterno extremo-direito” da equipa azul, já que, foi para essa zona estratégica do terreno, que me recordo ter ido ocupar.
Não tardou nada que um dos “velhacos” da equipa, a quem terá passado pela cabeça ao ver por ali um elemento estranho, que nada melhor que lhe meter uma bola em profundidade, para testar as capacidades do novo “craque” arenense. E se assim o pensou, assim o fez!
É então que, acabadinho de me estrear, eu vejo passar por mim, em direcção à área contrária com uma velocidade invejável a redondinha, que me haviam endossado. Claro que não me passou pela cabeça, meter-lhe o pé, a fim de executar um dos gestos técnicos fundamentais da modalidade: a recepção, pois sabia que tal manobra, jamais estaria ao alcance das minhas “apuradas” capacidades técnicas, e, que a dita haveria de ressaltar para bem longe de mim, como se tivesse batido numa talocha; antes a deixei passar com uma vénia, como o verdadeiro cavalheiro deve fazer à sua dama. Depois, com a elegância de um dom juan, parti em sua perseguição, até à sedução final, que neste caso, seria fazê-la deslizar com suavidade, nas redes da baliza dos alagoenses. E com a velocidade de um raio, aí vou eu em sua perseguição.
Mas a perversa não ia nada devagar, obrigando-me quase a uma velocidade de TGV. Ainda ela não havia ultrapassado a linha da chamada grande-área quando eu lhe dei o primeiro toque delicado, não fosse ela julgar, que se tratava de algum vagabundo perseguidor sem maneiras, numa qualquer manobra de grotesco assédio futeboleiro. Tal pequeno gesto fez com a minha diva deslizasse mais uns escassos cinco metros, e ambos já nos preparávamos para chegar junto da marca da grande penalidade.
Por essa altura já eu me preparava para executar o gesto técnico mais valorizado na modalidade: o remate. Este, ao contrário da recepção, não requer grandes dotes tecnicistas, o que interessa é que seja certeiro, e, que dê em golo. Pois, como se costuma dizer na gíria do futebol: “para marcar, nem que seja com o cu…!”
Só que, enquanto nos perdíamos nestas teses da retórica futeboleira, os homens da equipa opositora não ficaram, propriamente a dormir, e quando me preparava para o sublime acto de fazer o golo, eis que um deles me abalroou, estatelando-me com grande aparato a mais de cinco metros de distancia do local do embate.
Um misto de revolta e satisfação assaltaram então o jovem “pélébio da Abegôa”. Por um lado sentia-me espoliado do meu grande desiderato, que tão fácil parecia de alcançar, e que, certamente, me levaria ao estrelato futebolístico, nem que fosse apenas na minha terra, que jamais dera um predestinado assim; por outro lado, tinha a certeza que, não sofresse o árbitro daquela doença “saramaguiana” denominada cegueira, e a consequente grande penalidade, bem como a expulsão do infractor, ninguém as poderia negar.
Tão absorvido estava ainda com estas dissertações, que nem dei por uma das minhas pernas se encontrar “meia debulhada”, originada pelo violente embate da queda e do contacto com as areias do terreno. No entanto quando me virei para o homem do apito, e o vi apontar para aquela marca branca no chão, situada a onze metros da linha de golo, não houve dores que se sobrepusessem a tamanha satisfação.
A minha primeira reacção, foi olhar para o “banco” na expectativa, penso que justa, que o “mister” Dinis, ordenasse:
- Marca o “penalty” Buga, já que foste tu que levaste a porrada desse brutamontes!...
Mas não era essa a sua opinião, pois um estreante, não estaria certamente à altura duma tal responsabilidade, e lá encarregou o capitão “Tó Zé” da sua cobrança. Ficando eu quase tão satisfeito, como se a decisão recaísse sobre mim, embora ferido por fora e, porque não dizer, um pouco por dentro. Mas lá fiquei na expectativa, que o meu capitão repusesse a justiça, sentenciando com golo aquele bárbaro gesto do alagoense.
Vi-o partir para a bola com convicção dos grandes momentos, preparando já a minha reparação interior de ver reposta a surripiada justiça. O grito goooool…., já se solta da minha garganta. Tó Zé remata com toda a força possível mas…, eis que a bola, sobe, sobe, sobe…, nem na rede de cobertura com cinco metros de altura acerta e só pára, nas proximidades da estação da rodoviária …
O jogo lá continuou, bola para cá, bola para lá e, passados três minutos, com grande surpresa minha ouvi a voz do “mister” a chamar pelo meu nome.
Num primeiro momento pensei o mais lógico, que me quereria dar alguma palavra de conforto pelo meu esforço inglório, um toque positivo, como quem diz que tivesse paciência, que o futebol é mesmo assim, que tal como na vida, às vezes não há justiça, etc., etc., mas não, o que ele me ordenava era que me iria substituir por outro camarada! Eu, que apenas tinha entrado no rectângulo mágico há menos de cinco minutos atrás, e logo me haviam ceifado barbaramente, debulhando-me por completo a minha singular perna direita, mais concretamente a coxa, que a perna é mais abaixo, originando até um castigo máximo, que chamam penalty, contra os alagoeiros, ou lá qual seja a sua denominação, apenas em cinco minutos mister, e já vou sair? Olhe que eu não sou de faltar ao respeito a ninguém, sou até um rapaz humilde e educado, mas sair cinco minutos depois de entrar não lembra ao diabo, quanto mais a si, que é para mim uma espécie de deus da bola. Mas nada, a decisão estava tomada, e o treinador é que sabe, pelo menos é para isso que lá está, e eu, que faço aqui?
Desde essa noite, não mais apareci nos treinos do arenense, terminando assim, a minha curta carreira de jogador da bola, se quisessem o "pietra" que o fossem buscar…
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Hoje é dia de São Brás

Na minha infância e juventude, este era um dos dias mais esperados e desejados, por ser dia de festa na terra onde vivia, Abegoa de seu nome, no concelho de Marvão.
Logo a seguir ao almoço, na Capela com o nome do santo, situada na encosta norte da vila, havia missa seguida de procissão, como penso que ainda haverá, mantendo-se a tradição. Contudo, habitualmente, as festividades são transferidas para o fim-de-semana de maior proximidade.
Após as cerimónias religiosas, havia a tradicional arrematação de “ramos”: pequenos cestos de verga de vime, onde a vizinhança do padroeiro depositava as suas oferendas ao São Brás, compostas usualmente, por uma garrafa de vinho, um pão e dois ou três chouriços, que a súcia lá ia arrematando pela oferta mais alta ao apregoar do leiloeiro: “…quem mais dá?..., dou-lhe uma, dou-lhe duas e…, doou-lhe três.”
Eu, e a outra catrefada de gaiatos das redondezas, já havíamos ajuntado, previamente, as moeditas que tínhamos surripiado, à socapa, aos nossos pais e, às vezes, lá conseguíamos no fim, levar uma das mais baratinhas fogaças, ou daquelas que já ninguém queria, e lá partíamos mais contentes que ratos, para uma animada função.
Quando chegava a noite, a Sociedade da Abegoa enchia até pelas costuras do exíguo salão recreativo, para o tradicional Baile do São Brás, abrilhantado por um afamado acordeonista das redondezas, e onde acorriam todas as moças casadouras locais, já que os moços, com maior liberdade, vinham de todo o concelho.
Eu, catraio acanhado, ficava quase sempre oculto na sala de entrada das mulheres, já que, naquela época, a moda do “uni sexo” ou igualdade de género, ainda estava para chegar, e de lá ia observando e aprendendo as estratégias da arte marialva no “descante do sacrossanto brás”, para quando chegasse a minha vez na roda da vida, poder cumprir a tarefa com um desempenho digno de um qualquer dom juan.
Mas o que ainda hoje recordo com alguma intriga, e que eu mais gostava de assistir, era a ocorrência que se passava por volta da meia-noite, quando o artífice tocador da concertina anunciava:
- Agora é a “peça à inglesa”.
Essa tal “peça inglesa”, não era mais que a inversão da tal estratégia marialva, dos moços irem buscar as moças para dançar. O que exigia “à inglesa”, era que teriam de ser o inverso, e serem as cativas moçoilas a escolherem quem seria o seu eleito daquela dança.
O que eu não conseguia entender, naquele cenário idílico, em que “a presa procurava o caçador”…, era o porquê de muitos daqueles infantes, que ocupavam quase sempre a popa, na altura de eleger, de repente, como cachorros com o cauda entre as pernas, corriam a refugiar-se o mais atrás possível, nos fundos da sala, ou às vezes, invadindo o meu refúgio feminil, com medo de serem os preferidos daquelas rústicas casadoiras.
Só mais tarde percebi o desassossego daquela rapaziada! …
É que após a dita “à inglesa”, os garbosos cavalheiros tinham que conduzir as atrevidas donzelas ao “Bufett”, onde tinham que as presentear com um “drink” e, pelo menos dez tostões de “ervilhanas”…
E o bago, nessa época, tal como hoje, andava escasso…
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
o josé, e, a pilar...
01/02/2011
Ontem fui ao cinema, coisa que não fazia há mais de dez anos. Fui ver o “José e Pilar”, que é assim como um documentário de desagravamento, pós morte, de alguém que é uma figura maligna, da erudita sociedade portuguesa.
Sinceramente, para quem conhece a obra de Saramago, aquilo parece-me uma “coisa muito light”, que só foi possível realizar, porque apanharam o homem com os pés para a cova, e, que apesar de não ter temor ao julgamento divino, coitado, gostaria de ficar o melhor possível com os da sua espécie.
No final, foi proposto um debate com o realizador, que estava presente (muito cansado por ter feito trezentos quilómetros para vir a Portalegre, mas também, segundo nos confidenciou, por ter passado quatro anos a aturar aquele casal), sobre o filme, e o “nosso” Nobel.
As questões e comentários, quase todas feitas por mulheres da assistência, recaíram, maioritariamente, sobre a personalidade de Pilar del Rio, secundarizando, vá lá saber-se porquê, o José.
É um facto, que este José da canada, só começou salientar-se, após ter conhecido a andaluza de castril. Até aí, a sua obra, era conhecida apenas por meia dúzia de marxistas, não obstante, já terem nascido alguns dos seus produtos mais importantes, como: levantado do chão, o ano da morte de ricardo reis, o memorial do convento e, a jangada já havia passado pelos açores.
Claro que bem conheço aquela máxima, “de que por trás de um grande homem estar sempre uma grande mulher…”, mas porra, daí a converter-se simplesmente no marido da Pilar, é excessivo.
Não fosse eu, conhecedor dessa sua produção livreira pré-pilar, e teria questionado também o senhor Miguel Gonçalves Mendes, sobre uma dúvida que há muito se me acomete:
- Tendo ele privado durante quatro anos com este casal de pombinhos, será que ela (pilar), não metia uma manita na fértil imaginação saramaguiana?
Mas fiquei calado, quem sabe, para não fazer má figura, ou não fosse o seu “engenho” andar por ali e amaldiçoar-me enquanto seu discípulo aprendiz.
Ontem fui ao cinema, coisa que não fazia há mais de dez anos. Fui ver o “José e Pilar”, que é assim como um documentário de desagravamento, pós morte, de alguém que é uma figura maligna, da erudita sociedade portuguesa.
Sinceramente, para quem conhece a obra de Saramago, aquilo parece-me uma “coisa muito light”, que só foi possível realizar, porque apanharam o homem com os pés para a cova, e, que apesar de não ter temor ao julgamento divino, coitado, gostaria de ficar o melhor possível com os da sua espécie.
No final, foi proposto um debate com o realizador, que estava presente (muito cansado por ter feito trezentos quilómetros para vir a Portalegre, mas também, segundo nos confidenciou, por ter passado quatro anos a aturar aquele casal), sobre o filme, e o “nosso” Nobel.
As questões e comentários, quase todas feitas por mulheres da assistência, recaíram, maioritariamente, sobre a personalidade de Pilar del Rio, secundarizando, vá lá saber-se porquê, o José.
É um facto, que este José da canada, só começou salientar-se, após ter conhecido a andaluza de castril. Até aí, a sua obra, era conhecida apenas por meia dúzia de marxistas, não obstante, já terem nascido alguns dos seus produtos mais importantes, como: levantado do chão, o ano da morte de ricardo reis, o memorial do convento e, a jangada já havia passado pelos açores.
Claro que bem conheço aquela máxima, “de que por trás de um grande homem estar sempre uma grande mulher…”, mas porra, daí a converter-se simplesmente no marido da Pilar, é excessivo.
Não fosse eu, conhecedor dessa sua produção livreira pré-pilar, e teria questionado também o senhor Miguel Gonçalves Mendes, sobre uma dúvida que há muito se me acomete:
- Tendo ele privado durante quatro anos com este casal de pombinhos, será que ela (pilar), não metia uma manita na fértil imaginação saramaguiana?
Mas fiquei calado, quem sabe, para não fazer má figura, ou não fosse o seu “engenho” andar por ali e amaldiçoar-me enquanto seu discípulo aprendiz.
sábado, 22 de janeiro de 2011
Memórias do dia 22 de Janeiro de 1974 – Um dia que nunca esqueço
Capítulo - II
Parece que foi ontem, e já passou um ano desde que aqui vos contei a primeira parte, desta minha aventura de 22 de Janeiro de 1974. É assim o tempo, esse maganão que nunca pára, avançando sempre, sem contemplações, indiferente ao bom ou mau (tempo), de acordo com a perspectiva de cada um.
Quando penso nesta questão do “tempo”, ou como ele passa apressadamente, vem-me sempre à memoria aquela alusão de Saramago, sobre a sua avó materna, de nome Josefa Caixinha, feita no discurso de recepção do Prémio Nobel da Literatura, quando este recordava estas suas palavras:
Parece que foi ontem, e já passou um ano desde que aqui vos contei a primeira parte, desta minha aventura de 22 de Janeiro de 1974. É assim o tempo, esse maganão que nunca pára, avançando sempre, sem contemplações, indiferente ao bom ou mau (tempo), de acordo com a perspectiva de cada um.
Quando penso nesta questão do “tempo”, ou como ele passa apressadamente, vem-me sempre à memoria aquela alusão de Saramago, sobre a sua avó materna, de nome Josefa Caixinha, feita no discurso de recepção do Prémio Nobel da Literatura, quando este recordava estas suas palavras:
“… o mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.”
Mas vamos em frente (no tempo), que o que aqui quero partilhar convosco, não é propriamente literatura, e muito menos poesia, mas antes um acontecimento único e que me marcou para a vida.
Para uma actualização integral, se já caiu no vosso esquecimento, recomendo que recueis à um ano atrás e, carregando ali, na “caixinha” (que não é a avó do José), do lado direito, no ano de 2010, mês Janeiro, lá hão-de encontrar um artigo com o mesmo título do de agora, para poderem fazer o enquadramento da história.
Contudo, recordo aqui, o último parágrafo desse artigo, para refrescar a memória, daqueles que ainda a possuem:
“… o facto é que, pelas 10 horas do dia 22 de Janeiro, quatro meses antes do futuro Dia da Liberdade, os proletários da CIM, fizeram ali um silêncio sepulcral, naquele arraial de “malhar ferro”, e, mandaram dizer ao patrão Neves, que a partir daquela hora, estavam em greve, até que ele decidisse proceder à justa actualização salarial.
Eu era um deles e também aderi…”
A Greve, naquele tempo, era para a maioria de nós, uma coisa assim como o longínquo ano 2000, que as profecias anunciavam, ser o ano do fim do mundo. Algo que se ouvia murmurar, mas que, certamente, não existiria. Estar num impulso, metido no seu seio, ficava-se assim como uma criança, que vai ao “comboio fantasma” pela primeira vez, mesmo que acompanhado pelos pais.
Se eu sabia que era proibido fazer greve nessa altura? Claro que sabia; se sabia que existia a policia política PIDE, que tudo controlava ? Claro que sim; se sabia que todos os dias iam parar a Caxias, Aljube, ou Peniche pessoas por apenas contestarem a ordem vigente? Sem dúvida; se sabia que as pessoas que aí eram aprisionadas, eram vilmente torturadas, às vezes até à morte? Claro que não podíamos ignorar: víamos, ouvíamos e líamos…
No entanto, para mim, jovem aventureiro de 16 anos, entrei nessa “estação fantasma”, sem medir prós ou contras, apenas movido por aquilo que me parecia ser o mais elementar sentido de justiça: lutar pela melhoria de condições de vida…
Isso bastava-me, depois logo se veria.
Durante as primeiras duas horas, isto é, até ao meio-dia, ocasião em que íamos almoçar, nada sucedeu. Apenas algumas conversas fúteis sobre a vida, que no meu caso específico, certamente, seria alguma combinação com o camarada do lado, sobre a hora e o local do bailarico do próximo fim-de-semana. Ou, quem sabe, uma discussão “futeboleira” sobre rivalidades de benfiquismo e sportinguismo, já que os tripeiros naquelas paragens, para além de raros, naquela tempo ainda não contavam para o campeonato.
Após almoço ligeiro, transportado em “lancheira”, comido ao ar livre, sentado numa pedra, ingerido directamente da dupla marmita de alumínio, habitada num compartimento pela sopa de legumes, e no outro, por alguns restos de guisado da noite anterior acompanhado de pequenas sopas de carcaça, e, após uma hora, lá regressámos ao silêncio cavernoso do posto de trabalho, que mais acertado seria, chamar-se naquele dia, posto de greve.
Passava pouco das 14 horas, quando à entrada do pavilhão principal da oficina, surgiu repentinamente, o patrão Neves, na sua figura altiva, agasalhado com o seu impecável sobretudo preto, acompanhado do “encarregado-geral”, e do chamado “guarda-livros”.
Observado de longe, a cerca de cinquenta metros em linha recta, via-o movimentar-se bruscamente, dirigindo-se individualmente, a cada um dos meus congéneres operários metalúrgicos, junto ao seu local de greve. Dirigia-lhes algumas palavras, em voz bastante alta e alterada, mas que, pela distância a que estavam de mim, me era impossível enxergar. Após o breve monólogo que travavam, como formigas num carreiro, os contactados, sem excepção, lá se iam dirigindo para a porta da rua.
Quando chegou a minha vez, senti-me a enfrentar um pelotão de fuzilamento, no entanto a dúvida, do monólogo com a entidade patronal, já se havia esfumado, pois já ouvira bem claro, o que se passara com aqueles que mais próximos estavam de mim, e assim, foi sem qualquer surpresa, que ouvi da boca do senhor Engenheiro Neves, a pergunta que repetia pela quinquagésima vez:
- O senhor quer ou não trabalhar?
“Ainda passou pela minha cabeça argumentar que Sim, que queria! Que gostava muito, e precisava daquele trabalho, como do pão para a boca…! Mas, que o senhor engenheiro fosse criterioso, pois bem sabia que o custo da vida estava pelas horas da morte, que a renda da casa tinha aumentado, a electricidade em casa já andava a ser substituída por velas; o comboio já custava seis escudos do Cacém para Lisboa, até pela “bica” já queriam vinte e cinco tostões; ir ao cinema? Só no “piolho”…; saiba, o senhor engenheiro, que a malta mata-se aqui a trabalhar, a dar o litro dez horas por dia; eu, uma criança, pela manhã até já cuspo ferrugem deste maldito óxido de ferro, e à noite, só oiço “grilos” nas orelhas; os maganos daqueles sarracenos não param de aumentar o preço do petróleo e, como o senhor sabe, quando aumenta o crude, aumenta tudo, O senhor bem sabe, que fomos nós, com o nosso trabalho, que fizemos esta empresa, não se esqueça, que ainda há três anos, funcionava num “vão de escada”. E já agora, ò senhor engenheiro, o que era isso para si de, apenas mais dez escudos por dia a cada um de nós? Etc., etc.….”
Mas não. Baixei a cabeça, por ser a primeira vez que estava tão de perto com tamanha eminência, não prenunciei uma só palavra, e lá segui, no formigueiro, para a porta de saída. Evitando assim, ao Sr. Neves da Silva, a palavra por si mais repetida naquele dia:
RUA!
(Para o ano, a 22 de Janeiro, se cá estivermos, termino a novela…)
Mas vamos em frente (no tempo), que o que aqui quero partilhar convosco, não é propriamente literatura, e muito menos poesia, mas antes um acontecimento único e que me marcou para a vida.
Para uma actualização integral, se já caiu no vosso esquecimento, recomendo que recueis à um ano atrás e, carregando ali, na “caixinha” (que não é a avó do José), do lado direito, no ano de 2010, mês Janeiro, lá hão-de encontrar um artigo com o mesmo título do de agora, para poderem fazer o enquadramento da história.
Contudo, recordo aqui, o último parágrafo desse artigo, para refrescar a memória, daqueles que ainda a possuem:
“… o facto é que, pelas 10 horas do dia 22 de Janeiro, quatro meses antes do futuro Dia da Liberdade, os proletários da CIM, fizeram ali um silêncio sepulcral, naquele arraial de “malhar ferro”, e, mandaram dizer ao patrão Neves, que a partir daquela hora, estavam em greve, até que ele decidisse proceder à justa actualização salarial.
Eu era um deles e também aderi…”
A Greve, naquele tempo, era para a maioria de nós, uma coisa assim como o longínquo ano 2000, que as profecias anunciavam, ser o ano do fim do mundo. Algo que se ouvia murmurar, mas que, certamente, não existiria. Estar num impulso, metido no seu seio, ficava-se assim como uma criança, que vai ao “comboio fantasma” pela primeira vez, mesmo que acompanhado pelos pais.
Se eu sabia que era proibido fazer greve nessa altura? Claro que sabia; se sabia que existia a policia política PIDE, que tudo controlava ? Claro que sim; se sabia que todos os dias iam parar a Caxias, Aljube, ou Peniche pessoas por apenas contestarem a ordem vigente? Sem dúvida; se sabia que as pessoas que aí eram aprisionadas, eram vilmente torturadas, às vezes até à morte? Claro que não podíamos ignorar: víamos, ouvíamos e líamos…
No entanto, para mim, jovem aventureiro de 16 anos, entrei nessa “estação fantasma”, sem medir prós ou contras, apenas movido por aquilo que me parecia ser o mais elementar sentido de justiça: lutar pela melhoria de condições de vida…
Isso bastava-me, depois logo se veria.
Durante as primeiras duas horas, isto é, até ao meio-dia, ocasião em que íamos almoçar, nada sucedeu. Apenas algumas conversas fúteis sobre a vida, que no meu caso específico, certamente, seria alguma combinação com o camarada do lado, sobre a hora e o local do bailarico do próximo fim-de-semana. Ou, quem sabe, uma discussão “futeboleira” sobre rivalidades de benfiquismo e sportinguismo, já que os tripeiros naquelas paragens, para além de raros, naquela tempo ainda não contavam para o campeonato.
Após almoço ligeiro, transportado em “lancheira”, comido ao ar livre, sentado numa pedra, ingerido directamente da dupla marmita de alumínio, habitada num compartimento pela sopa de legumes, e no outro, por alguns restos de guisado da noite anterior acompanhado de pequenas sopas de carcaça, e, após uma hora, lá regressámos ao silêncio cavernoso do posto de trabalho, que mais acertado seria, chamar-se naquele dia, posto de greve.
Passava pouco das 14 horas, quando à entrada do pavilhão principal da oficina, surgiu repentinamente, o patrão Neves, na sua figura altiva, agasalhado com o seu impecável sobretudo preto, acompanhado do “encarregado-geral”, e do chamado “guarda-livros”.
Observado de longe, a cerca de cinquenta metros em linha recta, via-o movimentar-se bruscamente, dirigindo-se individualmente, a cada um dos meus congéneres operários metalúrgicos, junto ao seu local de greve. Dirigia-lhes algumas palavras, em voz bastante alta e alterada, mas que, pela distância a que estavam de mim, me era impossível enxergar. Após o breve monólogo que travavam, como formigas num carreiro, os contactados, sem excepção, lá se iam dirigindo para a porta da rua.
Quando chegou a minha vez, senti-me a enfrentar um pelotão de fuzilamento, no entanto a dúvida, do monólogo com a entidade patronal, já se havia esfumado, pois já ouvira bem claro, o que se passara com aqueles que mais próximos estavam de mim, e assim, foi sem qualquer surpresa, que ouvi da boca do senhor Engenheiro Neves, a pergunta que repetia pela quinquagésima vez:
- O senhor quer ou não trabalhar?
“Ainda passou pela minha cabeça argumentar que Sim, que queria! Que gostava muito, e precisava daquele trabalho, como do pão para a boca…! Mas, que o senhor engenheiro fosse criterioso, pois bem sabia que o custo da vida estava pelas horas da morte, que a renda da casa tinha aumentado, a electricidade em casa já andava a ser substituída por velas; o comboio já custava seis escudos do Cacém para Lisboa, até pela “bica” já queriam vinte e cinco tostões; ir ao cinema? Só no “piolho”…; saiba, o senhor engenheiro, que a malta mata-se aqui a trabalhar, a dar o litro dez horas por dia; eu, uma criança, pela manhã até já cuspo ferrugem deste maldito óxido de ferro, e à noite, só oiço “grilos” nas orelhas; os maganos daqueles sarracenos não param de aumentar o preço do petróleo e, como o senhor sabe, quando aumenta o crude, aumenta tudo, O senhor bem sabe, que fomos nós, com o nosso trabalho, que fizemos esta empresa, não se esqueça, que ainda há três anos, funcionava num “vão de escada”. E já agora, ò senhor engenheiro, o que era isso para si de, apenas mais dez escudos por dia a cada um de nós? Etc., etc.….”
Mas não. Baixei a cabeça, por ser a primeira vez que estava tão de perto com tamanha eminência, não prenunciei uma só palavra, e lá segui, no formigueiro, para a porta de saída. Evitando assim, ao Sr. Neves da Silva, a palavra por si mais repetida naquele dia:
RUA!
(Para o ano, a 22 de Janeiro, se cá estivermos, termino a novela…)
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Memórias do dia 22 de Janeiro de 1974 – Um dia que nunca esqueço
(Em homenagem a todos os meus companheiros dessa jornada)
CAPÍTULO I
Recorde-me hoje, com algum detalhe, passados 36 anos, do dia 22 de Janeiro de 1974.
CAPÍTULO I
Recorde-me hoje, com algum detalhe, passados 36 anos, do dia 22 de Janeiro de 1974.
Portugal, nesse período, era governado pelo Estado Novo, que se caracterizava por ser um regime autoritário, conservador, nacionalista, corporativista de inspiração fascista, anti-parlamentarista, anti-comunista, e colonialista. O regime tinha a sua própria estrutura de Estado e um aparelho repressivo (PIDE, colónias penais para presos políticos, etc.), característico dos chamados Estados policiais, apoiando-se na censura, na propaganda, nas organizações paramilitares (Legião Portuguesa), nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa), no culto do "Chefe" autoritário. Encontrava-se ainda envolvido na Guerra Colonial desde 1961, contra os Movimentos de Libertação das Colónias Africanas, para onde enviava a combater os seus jovens na flor da idade, para matarem e muitos morrerem.
A nível laboral, o país era dominado pelas Corporações, que tinham o seu próprio Ministério no Governo. As relações entre os trabalhadores e patrões eram, basicamente, reguladas pelo poder patronal individual, com uma fraca contratação colectiva.
O movimento sindical era dominado por essas mesmas Corporações, que aí se faziam representar por trabalhadores por si indicados, existindo no entanto, por essa data, algumas excepções em sindicatos, onde os trabalhadores conseguiam colocar os seus representantes, como era o caso dos Metalúrgicos. A palavra “greve” era vocábulo proibido, e amargava na boca daqueles que a pronunciavam, pois a promessa de 6 meses de “férias” em caxias ou no aljube, era quase sinónimo garantido.
O desemprego não existia desde meados dos anos sessenta, estávamos em plena “era dourada”, da revolução industrial portuguesa. Novos e velhos (que nessa época eram poucos), homens e mulheres, todos os dias arranjavam trabalho, e mudavam de patrão, perante aquele que lhe oferecesse melhores condições e melhor recompensa.
No entanto, desde 1972, após a primeira “crise do petróleo”, que as dificuldades começaram a aumentar, e no inicio do ano de 1974, só com um poder reivindicativo forte, ou com um “patrão bom”, se conseguia que o patronato lá fosse abrindo um pouco os cordões à bolsa para fazer face a carestia de vida.
Por essa época, eu era um moço de 16 anos, isto é, um adolescente, como hoje são designados os jovens dessa idade. Mas, já carregava comigo, cinco anos de trabalho assalariado. Primeiro, entre 1969 e 1971 na próspera empresa de então, em Santo António das Areias, Celtex; a partir de Julho de 1971, como Aprendiz de Serralheiro Civil, numa empresa de metalomecânica, no concelho de Sintra (para onde tinha “emigrado” para poder estudar), de seu nome: Cacém Industrial Metalúrgico.
Era usual, nessa empresa, que em todos os anos em Maio, o patrão Neves, procedesse a alguns aumentos de ordenados, consoante o nosso comportamento individual, ao longo do ano. No meu caso, foi assim que em 1972 passei de 30 para 35 escudos diários (6 dias por semana, num total de 48 horas semanais), e no ano seguinte, tinha prosperado para a quantia de 43 escudos por jornada diária de 8 horas.
Mas o ano de 1973, não havia sido fácil para os portugueses. A inflação tinha disparado como há muito não acontecia, e começou a sussurrar-se, em pequenos grupos, que o melhor seria que o patrão Neves, fizesse a tradicional actualização salarial, logo do mês de Janeiro, para ver se a malta conseguia aguentar-se, e ter possibilidade de ter mais “algum”, daquele com que se compravam e compram os “melões”, bem como outros bens essenciais, que por essa altura, eram pouco mais que o pão, o leite e o vinho.
Só que, contactado o sr. engenheiro, pelos mais velhos da casa (quais comissões de trabalhadores, que ainda estavam para nascer), este mandou dizer, nada bem disposto com a ideia, que nem pensar, que nem em Janeiro, e o mais que provável, era que nem em Maio, porque a vida estava difícil para todos e, os patrões também não andavam, propriamente, a nadar em dinheiro.
Este recado de negação absoluta, diga-se desde já, não caiu nada bem no peito daqueles cerca de duzentos homens e rapazes, oxidados por fora e por dentro, à reivindicação que, na nossa perspectiva, nos parecia mais que justa, e, sem se saber muito bem como, a palavra interditada GREVE, começou a circular de boca em boca.
Não sei ainda, até aos dias de hoje, a génese de tal devaneio. Havia quem dissesse, mais tarde, que a iniciativa havia surgido do nada, como tantas vezes acontece, um homem lembrar-se no seu âmago, de uma sensação de injustiça, de uma paixão de causas, de um sentimento reprimido, e, zás. Mas, sempre houve aqueles que afiançavam que por detrás de tal génese, estavam as tais “lebres”, que nos fala o saramago, em levantado do chão.
O facto é que, pelas 10 horas do dia 22 de Janeiro, quatro meses antes do futuro Dia da Liberdade, os proletários da CIM, fizeram ali um silêncio sepulcral, naquele arraial de “malhar ferro”, e, mandaram dizer ao patrão Neves, que a partir daquela hora, estavam em greve, até que ele decidisse proceder à justa actualização salarial.
Eu era um deles e também aderi…
A nível laboral, o país era dominado pelas Corporações, que tinham o seu próprio Ministério no Governo. As relações entre os trabalhadores e patrões eram, basicamente, reguladas pelo poder patronal individual, com uma fraca contratação colectiva.
O movimento sindical era dominado por essas mesmas Corporações, que aí se faziam representar por trabalhadores por si indicados, existindo no entanto, por essa data, algumas excepções em sindicatos, onde os trabalhadores conseguiam colocar os seus representantes, como era o caso dos Metalúrgicos. A palavra “greve” era vocábulo proibido, e amargava na boca daqueles que a pronunciavam, pois a promessa de 6 meses de “férias” em caxias ou no aljube, era quase sinónimo garantido.
O desemprego não existia desde meados dos anos sessenta, estávamos em plena “era dourada”, da revolução industrial portuguesa. Novos e velhos (que nessa época eram poucos), homens e mulheres, todos os dias arranjavam trabalho, e mudavam de patrão, perante aquele que lhe oferecesse melhores condições e melhor recompensa.
No entanto, desde 1972, após a primeira “crise do petróleo”, que as dificuldades começaram a aumentar, e no inicio do ano de 1974, só com um poder reivindicativo forte, ou com um “patrão bom”, se conseguia que o patronato lá fosse abrindo um pouco os cordões à bolsa para fazer face a carestia de vida.
Por essa época, eu era um moço de 16 anos, isto é, um adolescente, como hoje são designados os jovens dessa idade. Mas, já carregava comigo, cinco anos de trabalho assalariado. Primeiro, entre 1969 e 1971 na próspera empresa de então, em Santo António das Areias, Celtex; a partir de Julho de 1971, como Aprendiz de Serralheiro Civil, numa empresa de metalomecânica, no concelho de Sintra (para onde tinha “emigrado” para poder estudar), de seu nome: Cacém Industrial Metalúrgico.
Era usual, nessa empresa, que em todos os anos em Maio, o patrão Neves, procedesse a alguns aumentos de ordenados, consoante o nosso comportamento individual, ao longo do ano. No meu caso, foi assim que em 1972 passei de 30 para 35 escudos diários (6 dias por semana, num total de 48 horas semanais), e no ano seguinte, tinha prosperado para a quantia de 43 escudos por jornada diária de 8 horas.
Mas o ano de 1973, não havia sido fácil para os portugueses. A inflação tinha disparado como há muito não acontecia, e começou a sussurrar-se, em pequenos grupos, que o melhor seria que o patrão Neves, fizesse a tradicional actualização salarial, logo do mês de Janeiro, para ver se a malta conseguia aguentar-se, e ter possibilidade de ter mais “algum”, daquele com que se compravam e compram os “melões”, bem como outros bens essenciais, que por essa altura, eram pouco mais que o pão, o leite e o vinho.
Só que, contactado o sr. engenheiro, pelos mais velhos da casa (quais comissões de trabalhadores, que ainda estavam para nascer), este mandou dizer, nada bem disposto com a ideia, que nem pensar, que nem em Janeiro, e o mais que provável, era que nem em Maio, porque a vida estava difícil para todos e, os patrões também não andavam, propriamente, a nadar em dinheiro.
Este recado de negação absoluta, diga-se desde já, não caiu nada bem no peito daqueles cerca de duzentos homens e rapazes, oxidados por fora e por dentro, à reivindicação que, na nossa perspectiva, nos parecia mais que justa, e, sem se saber muito bem como, a palavra interditada GREVE, começou a circular de boca em boca.
Não sei ainda, até aos dias de hoje, a génese de tal devaneio. Havia quem dissesse, mais tarde, que a iniciativa havia surgido do nada, como tantas vezes acontece, um homem lembrar-se no seu âmago, de uma sensação de injustiça, de uma paixão de causas, de um sentimento reprimido, e, zás. Mas, sempre houve aqueles que afiançavam que por detrás de tal génese, estavam as tais “lebres”, que nos fala o saramago, em levantado do chão.
O facto é que, pelas 10 horas do dia 22 de Janeiro, quatro meses antes do futuro Dia da Liberdade, os proletários da CIM, fizeram ali um silêncio sepulcral, naquele arraial de “malhar ferro”, e, mandaram dizer ao patrão Neves, que a partir daquela hora, estavam em greve, até que ele decidisse proceder à justa actualização salarial.
Eu era um deles e também aderi…
quinta-feira, 30 de abril de 2009
RENDIMENTOS DO CAPITAL GENÉTICO...

COMEMORAR O 25 ABRIL EM 2009
Há 35 anos, na madrugada do dia 25 de Abril um sector das Forças Armadas de Portugal, comandados por um grupo de Oficiais, pegaram em armas e puseram fim a um regime político de quase meio século, que passou à historia como Estado Novo.
Há 35 anos, na madrugada do dia 25 de Abril um sector das Forças Armadas de Portugal, comandados por um grupo de Oficiais, pegaram em armas e puseram fim a um regime político de quase meio século, que passou à historia como Estado Novo.
A corrupção era mais do que muita e a “instituição da cunha” imperava.
Não existia liberdade de imprensa, de expressão ou de reunião e a censura só deixava publicar o que lhe apetecia.
40% dos portugueses eram analfabetos, metade nunca tinha visto um médico, a maioria da população não tinha saneamento básico.
O poder era exercido pela denominada “brigada do reumático”, que se perpetuavam no poder indefinidamente.
Portugal era o país mais atrasado da Europa em todos os sectores.
Os objectivos principais desse Levantamento Militar de 25 de Abril passaram à história com a denominação simplificada dos “3 Ds”:
- Descolonizar
- Desenvolver
- Democratizar
Há um ano atrás, lancei aqui algumas dúvidas sobre os resultados do “D” de Democratizar a nível geral do país, por me parecer, que terá sido aquele que falta cumprir, e que, em minha opinião, se torna fulcral para a nossa vivência em comum como país e como povo.
Quero hoje, um ano depois, centralizar esse tema na nossa terra e no nosso concelho, por me parecer actual, face alguns sinais e sintomas que também aqui perduram na falta de concretização e evolução democrática.
E nada melhor, talvez, que olharmos para dentro de nós e reflectirmos, sobre a qualidade da nossa Democracia e, sobretudo sobre a democraticidade dos nossos comportamento, enquanto membros da comunidade marvanense.
Duas temáticas vos colocarei aqui hoje: A Democraticidade Interna das Instituições e a Democracia nos Partidos Políticos.
1º - Democraticidade Interna das Instituições:
Será que o sistema organizativo das nossas Instituições Locais (Públicas e Privadas) se pauta por valores e princípios democráticos, com tomadas de decisão e planeamentos conjuntos, respeito pelas atribuições e papel de cada um na Organização, respeito pela autonomia dos seus membros e uma avaliação participada nos resultados obtidos? Ou o que continua a imperar é a organização vertical, centrada na figura do “Chefe” como pontífice institucional, que tudo quer controlar, em que cada um dos membros se julgam no direito de fazer o que lhes apetece sem respeito aos planos aprovados, como se não pertencessem à Equipa, quebrar compromissos e solidariedades assumidas, e, que encontra respostas para todos os males em crises e factores externos?
Questionemo-nos então:
- Se assim é, qual a diferença entre estas Organizações e as do Estado Novo?
2º - Democracia e Partidos Políticos:
- Descolonizar
- Desenvolver
- Democratizar
Há um ano atrás, lancei aqui algumas dúvidas sobre os resultados do “D” de Democratizar a nível geral do país, por me parecer, que terá sido aquele que falta cumprir, e que, em minha opinião, se torna fulcral para a nossa vivência em comum como país e como povo.
Quero hoje, um ano depois, centralizar esse tema na nossa terra e no nosso concelho, por me parecer actual, face alguns sinais e sintomas que também aqui perduram na falta de concretização e evolução democrática.
E nada melhor, talvez, que olharmos para dentro de nós e reflectirmos, sobre a qualidade da nossa Democracia e, sobretudo sobre a democraticidade dos nossos comportamento, enquanto membros da comunidade marvanense.
Duas temáticas vos colocarei aqui hoje: A Democraticidade Interna das Instituições e a Democracia nos Partidos Políticos.
1º - Democraticidade Interna das Instituições:
Será que o sistema organizativo das nossas Instituições Locais (Públicas e Privadas) se pauta por valores e princípios democráticos, com tomadas de decisão e planeamentos conjuntos, respeito pelas atribuições e papel de cada um na Organização, respeito pela autonomia dos seus membros e uma avaliação participada nos resultados obtidos? Ou o que continua a imperar é a organização vertical, centrada na figura do “Chefe” como pontífice institucional, que tudo quer controlar, em que cada um dos membros se julgam no direito de fazer o que lhes apetece sem respeito aos planos aprovados, como se não pertencessem à Equipa, quebrar compromissos e solidariedades assumidas, e, que encontra respostas para todos os males em crises e factores externos?
Questionemo-nos então:
- Se assim é, qual a diferença entre estas Organizações e as do Estado Novo?
2º - Democracia e Partidos Políticos:
Os regimes democráticos são caracterizados por possuírem diversos Partidos Políticos, enquanto organizações de direito privado que, no sentido moderno da palavra, pode ser definido como “uma união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas, organizado e com disciplina, visando a disputa do poder político”.
Em Portugal, desde 1974, o exercício do poder esteve centrado na acção dos Partidos Políticos, que de uma maneira geral, ocuparam todo espectro ideológico. A maioria destes partidos, basearam a sua estrutura interna, com ligeiras diferenças, na organização do Partido Comunista Português, enquanto único partido organizado nessa época, e de onde saíram uma grande parte dos dirigentes dos outros partidos, que aí haviam feito a sua aprendizagem política.
Também em Marvão, a acção desta organização social de conquista do poder, tem predominado ao longo destes 35 anos. E, apesar de apenas 2 Partidos terem passado pelo exercício do poder local (PS e PSD), todos os outros partidos têm concorrido aos diversos actos eleitorais e aí participado.
Então, porque será que num concelho com menos de 4 000 habitantes começam a aparecer tantas associações de Independentes de alternativa aos Partidos Políticos, prevendo-se 7 Candidaturas às próximas eleições autárquicas?
É claro que sabemos e concordamos, que o exercício da democracia não se esgota na acção dos Partidos e nada nos move contra tal facto. E que o aparecimento de organizações voluntárias de cidadãos, fora dos Partidos, poderá fortalecer o exercício da democracia.
Mas a reflexão que aqui queremos trazer, é sobre o porquê de tal fenómeno. Quando a maioria dessas pessoas (sobretudo os seus líderes), já estiveram anteriormente envolvidas em organizações partidárias.
Urge então reflectir:
- Serão nos dias de hoje os Partidos Políticos portugueses, organizações de valores e princípios democráticos, onde o diálogo, o debate e o respeito pelas maiorias, são práticas correntes? Ou serão apenas meras correias de transmissão para a promoção daqueles que atingem o seu controlo, que os usam como meros produtos de consumo de “usar e deitar fora”, a exemplo do que fazia o Partido da União Nacional de Salazar e Caetano?
- Serão hoje os Partidos Políticos portugueses, organizações em que se apoiam e aconselham os Executivos no Poder, ou onde as Oposições planeiam projectos alternativos que colmatem deficiências dos governantes? Ou serão meras organizações onde se discute a melhor forma de eliminar quem não seja um “beija-mão”, para que o caminho fique livre à reinação dos “Caudilhos”, e trate da distribuição de “tachos” pelos amigos, a exemplo dos Legionários do antigo regime?
- Serão hoje os Partidos Políticos portugueses, um espaço de aprendizagem política para as novas gerações, os jovens, que terão responsabilidades de governação no futuro? Ou serão organizações envelhecidas e fechadas, com os mesmos dirigentes de há 30 anos, que se seguram às cordas do poder como náufragos, para manterem privilégios para si e para os “seus”, como se de “chefes de castelo” se tratassem da antiga Mocidade Portuguesa?
Se assim é, estaremos em presença de uma “Democracia” nada Democratizada, que urge SUBSTITUIR.
Quer seja através de novos modelos de organização política, quer seja através de outro 25 de Abril!
… ou, qualquer outra data.
Também em Marvão, a acção desta organização social de conquista do poder, tem predominado ao longo destes 35 anos. E, apesar de apenas 2 Partidos terem passado pelo exercício do poder local (PS e PSD), todos os outros partidos têm concorrido aos diversos actos eleitorais e aí participado.
Então, porque será que num concelho com menos de 4 000 habitantes começam a aparecer tantas associações de Independentes de alternativa aos Partidos Políticos, prevendo-se 7 Candidaturas às próximas eleições autárquicas?
É claro que sabemos e concordamos, que o exercício da democracia não se esgota na acção dos Partidos e nada nos move contra tal facto. E que o aparecimento de organizações voluntárias de cidadãos, fora dos Partidos, poderá fortalecer o exercício da democracia.
Mas a reflexão que aqui queremos trazer, é sobre o porquê de tal fenómeno. Quando a maioria dessas pessoas (sobretudo os seus líderes), já estiveram anteriormente envolvidas em organizações partidárias.
Urge então reflectir:
- Serão nos dias de hoje os Partidos Políticos portugueses, organizações de valores e princípios democráticos, onde o diálogo, o debate e o respeito pelas maiorias, são práticas correntes? Ou serão apenas meras correias de transmissão para a promoção daqueles que atingem o seu controlo, que os usam como meros produtos de consumo de “usar e deitar fora”, a exemplo do que fazia o Partido da União Nacional de Salazar e Caetano?
- Serão hoje os Partidos Políticos portugueses, organizações em que se apoiam e aconselham os Executivos no Poder, ou onde as Oposições planeiam projectos alternativos que colmatem deficiências dos governantes? Ou serão meras organizações onde se discute a melhor forma de eliminar quem não seja um “beija-mão”, para que o caminho fique livre à reinação dos “Caudilhos”, e trate da distribuição de “tachos” pelos amigos, a exemplo dos Legionários do antigo regime?
- Serão hoje os Partidos Políticos portugueses, um espaço de aprendizagem política para as novas gerações, os jovens, que terão responsabilidades de governação no futuro? Ou serão organizações envelhecidas e fechadas, com os mesmos dirigentes de há 30 anos, que se seguram às cordas do poder como náufragos, para manterem privilégios para si e para os “seus”, como se de “chefes de castelo” se tratassem da antiga Mocidade Portuguesa?
Se assim é, estaremos em presença de uma “Democracia” nada Democratizada, que urge SUBSTITUIR.
Quer seja através de novos modelos de organização política, quer seja através de outro 25 de Abril!
… ou, qualquer outra data.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
REGESSAR DA HIBERNAÇÃO!
Desde o dia vinte de Fevereiro do presente ano, que a “estória” que aqui vos vínhamos narrando foi interrompida, digamos até, que entrou em hibernação.
Por esta data Luísa adoecia, podemos dizer hoje, com toda a certeza, que seria a sua doença de morte, pois assim, o sentimos nessa altura e, os meses futuros assim o comprovariam.
Não pode o autor desta despretensiosa novela, assegurar, que alguma vez lhe seja possível recuperar o fio da meada, então interrompida, pois aquela que era a sua grande musa, para a pobre narrativa que aqui vínhamos apresentando, Luísa de seu nome, ausentou-se, e, merece o luto a que tem direito. Talvez superior aos três dias de que gozou o Outro, mas como tudo neste mundo, um dia virá para a sua alforria.
Sentimos no entanto a indispensabilidade de continuação e partilha de alguma cogitação pessoal sobre o mundo que nos abarca, na esperança de, através das palavras que aqui se desamarram, encontrarmos o seu eco. Com disseminação favorável, algumas vezes, outras nem por isso.
Iremos pois, a partir de agora abordar outros temas mais actuais, que, o Como Nasce um Blog, pode esperar, ou talvez, quem sabe, tal como Luísa, tenha partido…
Por esta data Luísa adoecia, podemos dizer hoje, com toda a certeza, que seria a sua doença de morte, pois assim, o sentimos nessa altura e, os meses futuros assim o comprovariam.
Não pode o autor desta despretensiosa novela, assegurar, que alguma vez lhe seja possível recuperar o fio da meada, então interrompida, pois aquela que era a sua grande musa, para a pobre narrativa que aqui vínhamos apresentando, Luísa de seu nome, ausentou-se, e, merece o luto a que tem direito. Talvez superior aos três dias de que gozou o Outro, mas como tudo neste mundo, um dia virá para a sua alforria.
Sentimos no entanto a indispensabilidade de continuação e partilha de alguma cogitação pessoal sobre o mundo que nos abarca, na esperança de, através das palavras que aqui se desamarram, encontrarmos o seu eco. Com disseminação favorável, algumas vezes, outras nem por isso.
Iremos pois, a partir de agora abordar outros temas mais actuais, que, o Como Nasce um Blog, pode esperar, ou talvez, quem sabe, tal como Luísa, tenha partido…
sexta-feira, 25 de abril de 2008
RENDIMENTOS DO CAPITAL GENÉTICO...
(Discurso proferido no dia 25 de Abril de 2008, em representação da Assembleia Municipal de Marvão, na comemoração do dia da Liberdade. Da autoria do neto de Xico Bugalhão e José da Quinta).
Há trinta e quatro anos por esta hora, eu era um rapazinho que tinha feito dezassete anos, há apenas quinze dias. Mas que, porque assim era nesse tempo, já contava com cinco anos de trabalho como trabalhador, por conta de outrem.
No meu país havia uma guerra absurda que levava os jovens para combaterem em África durante dois e três anos, onde alguns morriam e outros ficavam desgraçados para o resto da vida.
No meu país não se podia falar sobre a vida pública, existia um partido único. Não se podia criticar os governantes, porque havia uns “senhores” que prendiam a gente, só pelo simples facto de expressarmos opinião, ou contestarmos os capatazes.
No meu país não havia água canalizada para beber, nem saneamento básico mínimo. As crianças, muitas morriam ao nascer, ou nos primeiros anos de vida e ás vezes as próprias mães para os darem à luz (ou parirem, como diz o povo).
A maioria dos portugueses só comiam carne nos dias de festa, e o leite, para alguns, só lhe conheciam o gosto, através do que bebiam das mamas de suas mães.
No dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, ao levantar-me, como de costume, pelas sete horas da manhã, para iniciar mais um dia de trabalho na oficina de serralharia civil onde trabalhava, ouvi na rádio a notícia que havia um grupo de militares que tinham dado início a um Golpe de Estado.
Soube mais tarde, que desse Golpe, tinha resultado um Programa de Acção, que ficou para a história como o “Programa dos três Dês”:
- Descolonizar;
- Desenvolver;
- Democratizar.
Desse dia, passam agora trinta e quatro anos e cumpriram-se, em minha opinião, dois desses três Dês.
O de Descolonizar, bem para uns, mal para outros a coisa lá se fez. Tarde…mas, não havia outro caminho.
O de Desenvolvimento, apesar dos diferentes pontos de vista, a evolução aconteceu…o país de hoje, com todos os problemas sociais e económicos que nos apoquentam, nada tem a ver com o país de setenta e quatro, do “orgulhosamente sós”. São outros os tempos!
Mas o terceiro D? O de Democratizar?
Será que podemos concluir hoje, que vivemos uma Democracia plena e que os valores e princípios democráticos estão incorporados no dia-a-dia do nosso sistema social?
Reflictamos e questionemos:
- Que raio de democracia é esta, que permite as balbúrdias constantes nas escolas com faltas de respeito e agressões dos discípulos para com os seus mestres?
- Que raio de democracia é esta, que só condena os mais fracos e deixa os poderosos escapar pelas malhas de um sistema de justiça inoperante?
- Que raio de democracia é esta, que num dia faz eleições para escolher os seus representantes e no dia seguinte, os eleitos, são derrubados pelos “barões”, em “feiras de vaidades” vergonhosas?
- Que raio de democracia é esta, que concentra todos os seus recursos no Litoral e abandona, sem solidariedade, os que vivem no interior, só porque são poucos e sem poder para influenciar?
- Que raio de democracia é esta, que permite com frequência a gestores, que um dia são públicos, no dia seguinte são privados e gestores dos negócios, que fizeram quando eram públicos?
- Que raio de democracia é esta, que permite que alguns (os mandantes), trabalhem apenas meia-dúzia de anos e se aposentem com reformas milionárias; enquanto outros, têm que trabalhar até ao dia da morte?
- Que raio de democracia é esta, que persegue os contribuintes de baixos rendimentos, para liquidarem os seu poucos proveitos; e isenta desses deveres, aqueles que têm lucros fabulosos, vivendo à “grande e à francesa”, como descendentes de Junot ou Masséna?
- Que raio de democracia é esta, que cria uma “polícia de guerra” para reprimir os usos e costumes de um povo; e fecha os olhos, à entrada de produtos dos grandes grupos económicos internacionais, alguns bem mais lesivos para a saúde pública que os nossos produtos tradicionais?
- Que raio de democracia é esta, que permite uma comunicação social, sem ética e sem regras, seja o maior poder e que comande a política de um país, trinta e quatro anos após o dia de início do sistema democrático?
Fernando Pessoa, disse um dia: Senhor, falta cumprir-se Portugal…
Também hoje, com propriedade, convém afirmar:
Minhas senhoras e meus senhores FALTA CUMPRIR O D DA DEMOCRACIA EM PORTUGAL. É URGENTE QUE O FAÇAMOS…
João Bugalhão
Há trinta e quatro anos por esta hora, eu era um rapazinho que tinha feito dezassete anos, há apenas quinze dias. Mas que, porque assim era nesse tempo, já contava com cinco anos de trabalho como trabalhador, por conta de outrem.
No meu país havia uma guerra absurda que levava os jovens para combaterem em África durante dois e três anos, onde alguns morriam e outros ficavam desgraçados para o resto da vida.
No meu país não se podia falar sobre a vida pública, existia um partido único. Não se podia criticar os governantes, porque havia uns “senhores” que prendiam a gente, só pelo simples facto de expressarmos opinião, ou contestarmos os capatazes.
No meu país não havia água canalizada para beber, nem saneamento básico mínimo. As crianças, muitas morriam ao nascer, ou nos primeiros anos de vida e ás vezes as próprias mães para os darem à luz (ou parirem, como diz o povo).
A maioria dos portugueses só comiam carne nos dias de festa, e o leite, para alguns, só lhe conheciam o gosto, através do que bebiam das mamas de suas mães.
No dia vinte e cinco de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, ao levantar-me, como de costume, pelas sete horas da manhã, para iniciar mais um dia de trabalho na oficina de serralharia civil onde trabalhava, ouvi na rádio a notícia que havia um grupo de militares que tinham dado início a um Golpe de Estado.
Soube mais tarde, que desse Golpe, tinha resultado um Programa de Acção, que ficou para a história como o “Programa dos três Dês”:
- Descolonizar;
- Desenvolver;
- Democratizar.
Desse dia, passam agora trinta e quatro anos e cumpriram-se, em minha opinião, dois desses três Dês.
O de Descolonizar, bem para uns, mal para outros a coisa lá se fez. Tarde…mas, não havia outro caminho.
O de Desenvolvimento, apesar dos diferentes pontos de vista, a evolução aconteceu…o país de hoje, com todos os problemas sociais e económicos que nos apoquentam, nada tem a ver com o país de setenta e quatro, do “orgulhosamente sós”. São outros os tempos!
Mas o terceiro D? O de Democratizar?
Será que podemos concluir hoje, que vivemos uma Democracia plena e que os valores e princípios democráticos estão incorporados no dia-a-dia do nosso sistema social?
Reflictamos e questionemos:
- Que raio de democracia é esta, que permite as balbúrdias constantes nas escolas com faltas de respeito e agressões dos discípulos para com os seus mestres?
- Que raio de democracia é esta, que só condena os mais fracos e deixa os poderosos escapar pelas malhas de um sistema de justiça inoperante?
- Que raio de democracia é esta, que num dia faz eleições para escolher os seus representantes e no dia seguinte, os eleitos, são derrubados pelos “barões”, em “feiras de vaidades” vergonhosas?
- Que raio de democracia é esta, que concentra todos os seus recursos no Litoral e abandona, sem solidariedade, os que vivem no interior, só porque são poucos e sem poder para influenciar?
- Que raio de democracia é esta, que permite com frequência a gestores, que um dia são públicos, no dia seguinte são privados e gestores dos negócios, que fizeram quando eram públicos?
- Que raio de democracia é esta, que permite que alguns (os mandantes), trabalhem apenas meia-dúzia de anos e se aposentem com reformas milionárias; enquanto outros, têm que trabalhar até ao dia da morte?
- Que raio de democracia é esta, que persegue os contribuintes de baixos rendimentos, para liquidarem os seu poucos proveitos; e isenta desses deveres, aqueles que têm lucros fabulosos, vivendo à “grande e à francesa”, como descendentes de Junot ou Masséna?
- Que raio de democracia é esta, que cria uma “polícia de guerra” para reprimir os usos e costumes de um povo; e fecha os olhos, à entrada de produtos dos grandes grupos económicos internacionais, alguns bem mais lesivos para a saúde pública que os nossos produtos tradicionais?
- Que raio de democracia é esta, que permite uma comunicação social, sem ética e sem regras, seja o maior poder e que comande a política de um país, trinta e quatro anos após o dia de início do sistema democrático?
Fernando Pessoa, disse um dia: Senhor, falta cumprir-se Portugal…
Também hoje, com propriedade, convém afirmar:
Minhas senhoras e meus senhores FALTA CUMPRIR O D DA DEMOCRACIA EM PORTUGAL. É URGENTE QUE O FAÇAMOS…
João Bugalhão
quinta-feira, 20 de março de 2008
RENDIMENTOS DO CAPITAL GENÉTICO...
Escrito por Luís Bugalhão
boas tio.
hoje estou com uma daquelas telhas qu'até zóne nozóvidos.
passei a noite às voltas na cama, cheio de saudades do meu pai, cheio de rancor contra a vida que nos prega tantas partidas de morte.
precisava mesmo dele. preciso dele. mas ele não está cá. foi-se, num inverno frio, tornado ainda mais gélido pelo seu desaparecimento.
sabes que sou incréu, e por isso, como não posso falar com o pai chico, falo com a sua memória e com quem dele está mais próximo, na geração acima da minha...
que raio de vida esta...
dei por mim a pensar nas falhas dos neurónios e das sinapses. falhas castradoras de lembranças, de episódios, de estórias. brancas que me envergonham por não conseguir evitá-las.
é que queria mesmo estar com o meu pai!
queria ouvi-lo a dizer-me que '... isso é conversa de chacha.'. queria escutar-lhe as conversas da guerra para onde foi enviado pela vida tão cedo. tão moço. e já tão velho também. queria vê-lo novamente a abraçar a mila e a dizer-lhe '... se me derem um neto, agarro em ti e levanto-te até ao céu!...'. os netos, que a são e eu lhe demos e ele nunca conheceu...
ele que, para muita gente, não passava dum insensível, sem cuidado nas palavras que escolhia para dizer verdades... esse bruto, que também tinha coração de menino. ainda. naquela altura, meses antes de nos deixar, derrotado por um inimigo que nunca lhe mostrou a cara e que ele, por isso, não podia combater. um coração de menino que cedo aprendeu a empedernir a emoção, a desviar a conversa para o sisudo, para não sofrer ainda mais com a injustiça dos que o rodeavam, e só viam rudeza onde havia extrema sensibilidade. e por isso o abraço à mila que, surpreendida, se sentiu apertada e alevantada do chão pelo sogro... no último almoço dos bugalhões, em frente à família toda, em setembro de 1990. bom que a vida lhe tenha dado momentos destes, de libertação dos espartilhos e das capas de duro que vestia para se proteger e para proteger os que amava... mesmo que não lhes parecesse, aos que amava.
se calhar somos todos um pouco assim, os bugalhões. se calhar não estou a falar dele, estou a falar de mim. mas o que eu queria mesmo era falar com ele.
RAI'S PARTA ESTA MERDA TODA!
ontem foi dia do pai e eu queria falar com ele e não posso. queria tê-lo aqui, na net, neste blog de que seria um colaborador essencial, neste mundo da informação global a que ele aderiria, já reformado e com tempo para se dedicar também às escritas e às leituras...
ontem foi dia do pai e eu queria tanto ter falado com ele. mas não posso.
por isso falo contigo. que sendo meio-irmão, fazes muito bem as vezes de meio-pai. recebe um abraço sentido de bom dia do pai, deste teu meio-filho.
até amanhã, em sto. antónio, Marvão, terra linda e agreste, mística e fria, rude e sensível. como nós. como o meu pai.
e eu queria tanto falar com ele...
boas tio.
hoje estou com uma daquelas telhas qu'até zóne nozóvidos.
passei a noite às voltas na cama, cheio de saudades do meu pai, cheio de rancor contra a vida que nos prega tantas partidas de morte.
precisava mesmo dele. preciso dele. mas ele não está cá. foi-se, num inverno frio, tornado ainda mais gélido pelo seu desaparecimento.
sabes que sou incréu, e por isso, como não posso falar com o pai chico, falo com a sua memória e com quem dele está mais próximo, na geração acima da minha...
que raio de vida esta...
dei por mim a pensar nas falhas dos neurónios e das sinapses. falhas castradoras de lembranças, de episódios, de estórias. brancas que me envergonham por não conseguir evitá-las.
é que queria mesmo estar com o meu pai!
queria ouvi-lo a dizer-me que '... isso é conversa de chacha.'. queria escutar-lhe as conversas da guerra para onde foi enviado pela vida tão cedo. tão moço. e já tão velho também. queria vê-lo novamente a abraçar a mila e a dizer-lhe '... se me derem um neto, agarro em ti e levanto-te até ao céu!...'. os netos, que a são e eu lhe demos e ele nunca conheceu...
ele que, para muita gente, não passava dum insensível, sem cuidado nas palavras que escolhia para dizer verdades... esse bruto, que também tinha coração de menino. ainda. naquela altura, meses antes de nos deixar, derrotado por um inimigo que nunca lhe mostrou a cara e que ele, por isso, não podia combater. um coração de menino que cedo aprendeu a empedernir a emoção, a desviar a conversa para o sisudo, para não sofrer ainda mais com a injustiça dos que o rodeavam, e só viam rudeza onde havia extrema sensibilidade. e por isso o abraço à mila que, surpreendida, se sentiu apertada e alevantada do chão pelo sogro... no último almoço dos bugalhões, em frente à família toda, em setembro de 1990. bom que a vida lhe tenha dado momentos destes, de libertação dos espartilhos e das capas de duro que vestia para se proteger e para proteger os que amava... mesmo que não lhes parecesse, aos que amava.
se calhar somos todos um pouco assim, os bugalhões. se calhar não estou a falar dele, estou a falar de mim. mas o que eu queria mesmo era falar com ele.
RAI'S PARTA ESTA MERDA TODA!
ontem foi dia do pai e eu queria falar com ele e não posso. queria tê-lo aqui, na net, neste blog de que seria um colaborador essencial, neste mundo da informação global a que ele aderiria, já reformado e com tempo para se dedicar também às escritas e às leituras...
ontem foi dia do pai e eu queria tanto ter falado com ele. mas não posso.
por isso falo contigo. que sendo meio-irmão, fazes muito bem as vezes de meio-pai. recebe um abraço sentido de bom dia do pai, deste teu meio-filho.
até amanhã, em sto. antónio, Marvão, terra linda e agreste, mística e fria, rude e sensível. como nós. como o meu pai.
e eu queria tanto falar com ele...
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
COMO NASCE UM “BLOGUE”… (8º Episódio)
Marvão é um concelho a saque, já há alguns séculos…
Explorado em primeiro lugar pelos seus vizinhos mais próximos, mas também, não faltam registos de cobiças mais longínquas, como foi o caso protagonizado pelos feudatários ingleses, que no princípio do século XIX, e após mais uma cruzada para nos defenderam dos espanhóis e franceses, arrebataram de uma assentada, como tributo dos marvanenses, cerca de vinte estátuas romanas de mármore, do sítio de Ammaia, para enfeitarem os jardins desse reino prostituído, que ao abrigo da mais velha aliança entre estados europeus, se tem servido das poucas abastanças dos desprotegidos lusos.
E não faltam histórias, da espoliação deste património ao longo dos tempos, desta antiga cidade romana para a capital centralizadora e que fazem gala nos museus nacionais como se aí pertencessem.
Mas voltando às relações de vizinhança, longe vêm ainda os tempos em que os dirigentes dos concelhos limítrofes cobiçarão as características impares deste concelho e a sua beleza natural, para as usarem como fonte de proveito para atrair turistas, que explorarão nas suas terras, sem jamais se importarem de abonar alguma contribuição para o desenvolvimento destas nobres gentes, que se têm sacrificado e esforçado para manter em bom estado esta dádiva da natureza.
Mas nem sempre, estes vizinhos se confinaram indirectamente a colher os proveitos destas terras. Tempos houve em que não se coibiram de vir aqui buscar pessoalmente, alguns dos erários pertencentes ao termo desta vila, como foi o caso, já referido anteriormente do conto de réis, levado em 1895 pelos regeneradores castelovidenses, não constando, em qualquer documento histórico, que alguma vez tenha sido devolvido e que como sabemos, foi Xico Bugalhão, credor de cinco meses de jornas em atraso e até hoje nunca liquidados.
Foi também o caso da vandalização histórica a que José da Quinta, (o serrador de pau-e-pinho que se apaixonou pela marvanense de olhos cor de caruma de pinheiro), assistiu nesse ano de 1898, quando acabava de ser solto do cárcere judeu, onde esteve a cumprir pena, por não se ter apresentado voluntariamente, em tempo próprio, ao recenseamento militar obrigatório, após ter decidido que, se a sua terra tinha ficado sem concelho, se deveria recusar a apresentar aos de Castelo de Vide. Só que o representante de sua majestade não pensava assim e mandou buscar o serrador, e depois de umas vergastadas no lombo, sentenciou que o encarcerassem durante dezoito meses, no calabouço castelovidense, para exemplo de outros.
Acabou o da Quinta, de cumprir a sua punição em Março de 1898, começando então a aperceber-se, que afinal, o concelho de Marvão já tinha sido Restaurado. Se é que tal termo se deveria aplicar, pois o que constava é que havia sido devolvido, por ordem dos progressistas centrais do luciano e do frenético citrino, agora no governo da nação. Tendo em conta, que o termo restaurar implicava intervenção ou acto de reparar, ou mais ainda, manifestações, revoltas, greves de fome, vereação barricada na Torre de Menagem do Castelo, etc., e como já sabemos, tal nunca foi feito por aqueles que iriam passar à história como os “restauradores do concelho”.
Mas se para os de Marvão, pelo menos as suas modestas gentes, o ter sido restaurado ou devolvido o termo era indiferente, ou como quem diria, igual ao litro, já para os de Castelo de Vide, tal facto era uma perda e mesmo descida de divisão, pois passariam a ser terceira, quando eram de segunda, e a teoria de transformar derrotas em vitórias ainda não era desses tempos.
Marchava então José da Quinta, após a libertação do cumprimento da sua pena como preso político, ou mais a propósito, de prisioneiro de paz em terras estrangeiras em direcção a nascente, que era o mesmo que dizer, em direcção à fonte. E isto, bem se poderia dizer com propriedade, e não apenas em sentido de orientação, pois quase sempre, desde que o mundo é mundo, que estas terras de Marvão vêm alimentando o concelho vizinho, quer de águas, quer também de tudo aquilo que estas ajudam a criar, seja vegetal ou animal.
Explorado em primeiro lugar pelos seus vizinhos mais próximos, mas também, não faltam registos de cobiças mais longínquas, como foi o caso protagonizado pelos feudatários ingleses, que no princípio do século XIX, e após mais uma cruzada para nos defenderam dos espanhóis e franceses, arrebataram de uma assentada, como tributo dos marvanenses, cerca de vinte estátuas romanas de mármore, do sítio de Ammaia, para enfeitarem os jardins desse reino prostituído, que ao abrigo da mais velha aliança entre estados europeus, se tem servido das poucas abastanças dos desprotegidos lusos.
E não faltam histórias, da espoliação deste património ao longo dos tempos, desta antiga cidade romana para a capital centralizadora e que fazem gala nos museus nacionais como se aí pertencessem.
Mas voltando às relações de vizinhança, longe vêm ainda os tempos em que os dirigentes dos concelhos limítrofes cobiçarão as características impares deste concelho e a sua beleza natural, para as usarem como fonte de proveito para atrair turistas, que explorarão nas suas terras, sem jamais se importarem de abonar alguma contribuição para o desenvolvimento destas nobres gentes, que se têm sacrificado e esforçado para manter em bom estado esta dádiva da natureza.
Mas nem sempre, estes vizinhos se confinaram indirectamente a colher os proveitos destas terras. Tempos houve em que não se coibiram de vir aqui buscar pessoalmente, alguns dos erários pertencentes ao termo desta vila, como foi o caso, já referido anteriormente do conto de réis, levado em 1895 pelos regeneradores castelovidenses, não constando, em qualquer documento histórico, que alguma vez tenha sido devolvido e que como sabemos, foi Xico Bugalhão, credor de cinco meses de jornas em atraso e até hoje nunca liquidados.
Foi também o caso da vandalização histórica a que José da Quinta, (o serrador de pau-e-pinho que se apaixonou pela marvanense de olhos cor de caruma de pinheiro), assistiu nesse ano de 1898, quando acabava de ser solto do cárcere judeu, onde esteve a cumprir pena, por não se ter apresentado voluntariamente, em tempo próprio, ao recenseamento militar obrigatório, após ter decidido que, se a sua terra tinha ficado sem concelho, se deveria recusar a apresentar aos de Castelo de Vide. Só que o representante de sua majestade não pensava assim e mandou buscar o serrador, e depois de umas vergastadas no lombo, sentenciou que o encarcerassem durante dezoito meses, no calabouço castelovidense, para exemplo de outros.
Acabou o da Quinta, de cumprir a sua punição em Março de 1898, começando então a aperceber-se, que afinal, o concelho de Marvão já tinha sido Restaurado. Se é que tal termo se deveria aplicar, pois o que constava é que havia sido devolvido, por ordem dos progressistas centrais do luciano e do frenético citrino, agora no governo da nação. Tendo em conta, que o termo restaurar implicava intervenção ou acto de reparar, ou mais ainda, manifestações, revoltas, greves de fome, vereação barricada na Torre de Menagem do Castelo, etc., e como já sabemos, tal nunca foi feito por aqueles que iriam passar à história como os “restauradores do concelho”.
Mas se para os de Marvão, pelo menos as suas modestas gentes, o ter sido restaurado ou devolvido o termo era indiferente, ou como quem diria, igual ao litro, já para os de Castelo de Vide, tal facto era uma perda e mesmo descida de divisão, pois passariam a ser terceira, quando eram de segunda, e a teoria de transformar derrotas em vitórias ainda não era desses tempos.
Marchava então José da Quinta, após a libertação do cumprimento da sua pena como preso político, ou mais a propósito, de prisioneiro de paz em terras estrangeiras em direcção a nascente, que era o mesmo que dizer, em direcção à fonte. E isto, bem se poderia dizer com propriedade, e não apenas em sentido de orientação, pois quase sempre, desde que o mundo é mundo, que estas terras de Marvão vêm alimentando o concelho vizinho, quer de águas, quer também de tudo aquilo que estas ajudam a criar, seja vegetal ou animal.
E não se pense, que ao longo dos tempos, o aproveitamento dos recursos marvanenses pelos castelovidenses, se ficou por estes indispensáveis recursos nutricionais, pois tempo houve, em que até as pedras aqui vieram buscar, as ornadas, claro, porque as outras faziam calos! Foi o caso das que constituíram o famoso Arco da Aramenha, roubado em 1735 do local onde tinha nascido há mil e quinhentos anos, na já citada cidade romana da Ammaia, e acarretado para embelezar a entrada leste desta disforme vila judaica, ou quem sabe, talvez, para lhe confinar os limites e os manter intra muros. Só que, como sabemos, ao longo da história, sempre esses semitas tiveram comportamentos expansionistas, e como tal, não se coibiram acerca de dois anos atrás de anexarem as terras do concelho chegado, que agora foram obrigadas a devolver.
Preparava-se pois, José da Quinta, para sair da vila que o mantivera aprisionado durante ano e meio e já via, no curto horizonte, o imponente Arco da Aramenha. Monumento esse, que sempre ouvira dizer ter sido saqueado da quinta onde nascera e que tinha dado origem ao seu apelido, onde se dizia que estava soterrada uma importante cidade romana e que tinha sido acarretado para ali, já lá iam cento e cinquenta anos.
Mas o que fez chamar a sua atenção, não foi a beleza do Arco, nem sequer a sua magnânime arquitectura, pois como já sabemos, não possui o serrador competências para tais avaliações, para ele a única apreciação é a de que aquilo havia sido roubado à sua terra, e isso, era motivo suficiente para não gostar destas gentes.
O que ele está agora observando, é um magote de gente rude, equipada de picaretas, martelos, marretas, marrões e outro tipo de material bélico, comandados por meia dúzia de militares sujos e mal fardados, e que já deitaram abaixo mais de metade do Monumento furtado.
Com ingenuidade, pensou ainda, o da Quinta, que uma vez que tiveram que devolver os papéis dos arquivos ao concelho anexado e então restaurado, certamente, se preparavam para restituir o Arco furtado aos seus primórdios, a Quinta da Aramenha. Mas rapidamente se apercebeu, que não seria esse o fundamento da destruição, quando viu estampado no rosto dos semitas a raiva, com deitavam abaixo cada pedra, e se ouviam os seus comentários ameaçadores que iam vociferando contra os espanhóis marvanenses, dizendo já que nã pertancião a Castele de Vade, tamém nã tinhão quê dêxar ali rasto da su axistância, ê se qriam as padras, cas as viessam buscá...
Preparava-se pois, José da Quinta, para sair da vila que o mantivera aprisionado durante ano e meio e já via, no curto horizonte, o imponente Arco da Aramenha. Monumento esse, que sempre ouvira dizer ter sido saqueado da quinta onde nascera e que tinha dado origem ao seu apelido, onde se dizia que estava soterrada uma importante cidade romana e que tinha sido acarretado para ali, já lá iam cento e cinquenta anos.
Mas o que fez chamar a sua atenção, não foi a beleza do Arco, nem sequer a sua magnânime arquitectura, pois como já sabemos, não possui o serrador competências para tais avaliações, para ele a única apreciação é a de que aquilo havia sido roubado à sua terra, e isso, era motivo suficiente para não gostar destas gentes.
O que ele está agora observando, é um magote de gente rude, equipada de picaretas, martelos, marretas, marrões e outro tipo de material bélico, comandados por meia dúzia de militares sujos e mal fardados, e que já deitaram abaixo mais de metade do Monumento furtado.
Com ingenuidade, pensou ainda, o da Quinta, que uma vez que tiveram que devolver os papéis dos arquivos ao concelho anexado e então restaurado, certamente, se preparavam para restituir o Arco furtado aos seus primórdios, a Quinta da Aramenha. Mas rapidamente se apercebeu, que não seria esse o fundamento da destruição, quando viu estampado no rosto dos semitas a raiva, com deitavam abaixo cada pedra, e se ouviam os seus comentários ameaçadores que iam vociferando contra os espanhóis marvanenses, dizendo já que nã pertancião a Castele de Vade, tamém nã tinhão quê dêxar ali rasto da su axistância, ê se qriam as padras, cas as viessam buscá...
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
COMO NASCE UM “BLOGUE”… (7º Episódio)
UM POUCO DE POLÍTICA...
Ao longo dos tempos sempre se disse que um dos melhores ofícios era o de Cantoneiro.
De quem se profere, com maleficência claro, só se verem trabalhar quando alguém passa na estrada, sem nunca se referir, no entanto, se será de veículo motorizado, ou simples transeunte que circule, gastando as solas dos sapatos ou, montado em animal de quatro patas.
Se de veículo a motor se tratasse, quão bela seria a vida que Xico Bugalhão levaria como Cantoneiro assalariado da autarquia marvanense, naquele final de século dezanove de 1895. Pois constava, que há apenas alguns dias havia chegado a Portugal, vindo de terras de França, o primeiro panhard & levassor. Do qual se dizia, que a sua primeira façanha, teria sido a de atropelar um incauto burro, que pastava sossegado nos campos do Alentejo.
Dizia-se ainda que, como lhe não haviam inventado buzina, certamente por isso não pode o quadrúpede ser avisado, começando o seu condutor, o senhor conde de avilez, aos gritos de: “arreda…arreda”, só que, não estando o competidor habituado a linguagem tão erudita, não percebeu, o que lhe seria fatal.
Contribuiu este facto, para que antes de tal invenção humana fosse baptizada de automóvel, carro, viatura, auto, popó, carriola, bate-latas, caranguejola, veículo, geringonça, automotor, ripolam, charrueque, calhambeque, carripana, bolinhas, etc., fosse o seu primeiro nome em terras lusitanas, o de “máquina do diabo”. Certamente, por ter atropelado o nobre animal, que no estábulo sagrado havia amornado aquele que seria cognominado como filho de deus dos cristãos, após ter alombado com sua mãe, da Galileia até Belém.
Xico Bugalhão era o segundo filho de José Bugalhão e Teresa Gonçalves (a já referida progenitora que, amamentava os filhos no intervalo de uma cartada na tasca), o qual terá vindo ao mundo em meados dos anos setenta do século XIX. Quis o destino, que o seu primeiro ofício fosse de Cantoneiro de estradas do município, se tal se podia chamar às míseras carreteiras de terra batida que atravessavam o concelho de Marvão naquela época, onde ainda não havia chegado o alcatrão. Matéria preciosíssima no futuro, sobretudo, quando autarcas candidatos pretenderem ganhar eleições, lançando essa massa preta para os olhos dos ingénuos eleitores.
Não se fez velho nesta ocupação o Cantoneiro, pois como já sabemos de episódios anteriores, o seu futuro será o de contribuir para transmutar grão em farinha, do qual se fará muito do pão que matará a fome a estas gentes. Mas não se pense, ter sido por falta de predisposição para o remanso de que este ofício é apelidado, que Xico resolveu mudar de ramo, pois não terá sido esse, o fundamento. Aliás, não terá sido apenas um, mas dois os motivos relevantes a influenciar o processo de tomada de decisão, do futuro moleiro.
O primeiro, já o havíamos aportado em episódios precedentes, que era a circunstância de nunca ter lidado bem com essa situação funcional, que é a de ser-se trabalhador por conta de outrem. Mesmo que esse outrem seja uma entidade abstracta, como é o caso do Estado, seja ele o central, ou o local como era a circunstância.
E bem podemos afirmar que esta imaterialidade, nunca terá tido uma aplicação tão adequada já que, há mais de um mês, os representantes locais desse Estado, logo, os patrões do futuro moleiro, haviam abandonado as suas funções e responsabilidades, para as quais haviam sido “meio-escolhidos” “meio-nomeados”, e tinham ido às suas vidas, despedindo-se à espanhola, pois o governo regenerador do ribeiro, por decreto, os havia mandado às urtigas sem outra justificação que não fosse, a de os considerar incapazes, e gastadores dos poucos dízimos gerados por uma gente de desventurados e pelintras.
Para além desses predicados que o regenerador ribeiro utilizou, para destituir a legítima vereação municipal do magalhães, e extinguir concomitantemente, o concelho de Marvão integrando-o no de Castelo de Vide; dizia-se por estas bandas, à boca-pequena, que estes haviam sido ainda burlados pela oposição progressista do frenético (frederico) laranjo, ao prometer-lhes que estivessem sossegados em suas casas, que não levantassem ondas e mantivessem na ordem as ingénuas e boas gentes marvanenses, que ele se encarregaria de os incluir na vereação futura do município castelovidense, quando o seu partido ocupasse o poleiro da vila. Só que tal nunca veio a suceder, porquanto os regeneradores judeus não estavam para aí virados, e como de costume, não cumpriam o acordado com o citrino.
O segundo, tinha razões mais objectivas e menos filosóficas. Tinha pois a ver com uma das maiores pragas sociais de sempre, desde que o mundo é mundo, ou pelo menos, desde que os romanos haviam passado a pagar aos seus colaboradores, em sal, os serviços por estes prestados, denominando pomposamente, tal facto, de “salarium argentum”. Termo esse, que viria a ser reduzido pelos portugueses, abreviadamente, para salário.
E no reduzir é que estava o problema. Aliás, nem era bem o reduzir, até se poderia afirmar, com mais propriedade, que seria o reduzir à fórmula ínfima, isto matematicamente falando, o termo exacto era suprimir.
E com salários suprimidos, ou melhor, como se diz por aqui, jornas em atraso, já o Cantoneiro Xico Bugalhão leva quase cinco meses, sem que lhe seja dado a ver a cor do dinheiro para as sopas. Julho, Agosto e Setembro, quando o empregador ainda era o município de Marvão. Outubro e o que resta do mês de Novembro, cujas responsabilidades têm que ser imputadas aos de Castelo de Vide; que, apesar de se andarem por aí a gabar em discursos pacóvios, como foi o caso do pinto sequeira, o de ter sido um grande melhoramento a integração do concelho vizinho, o facto é, que continuou a não cumprir com as suas mais elementares obrigações, como seja as de pagar o tal salarium argentum aos seus empregados. Apesar de ter retirado dos cofres da Câmara de Marvão a quantia de um conto de réis, quantia que, naquela época, seria mais do que suficiente para saldar as jornas com esta gente trabalhadora.
Como já foi contado, andaríamos por essa altura, em meados do mês de todos os santos, menos o de são receber. E o Cantoneiro Xico, com outro seu camarada de ofício, estavam a endireitar as suas cruzes, depois de terem debelado, mais uma das valetas feitas pelas chuvas, na carreteira entre a Portagem e a sede do finado concelho de Marvão, perto do lugar das Ferrarias, quando repararam, que se acercava deles um grupo com cerca de uma dezena de cavaleiros, a galope em suas cavalgaduras.
Arrazoavam alto, quase aos berros, com uma pronúncia estranha de ilhéus, e puderam os dois marvanenses ouvir claramente, um dos valetes a dizer para o do cavalo baio, de que não havia mesmo qualquer dúvida, que estes marvanenses estavam mesmo satisfeitos por pertencerem ao concelho de Castelo de Vide, e que tal como ele havia referido, para que constasse nos tempos futuros, tudo corria na melhor ordem e sossego. Bastava ver a consideração que revelaram estes dois trabalhadores, que até se puseram em sentido, assim que nos viram aproximar.
Ao ouvir tal arengo, questionou Xico Bugalhão o seu camarada, sobre quem seriam tais figurões? E o que fariam por estas terras esquecidas?
Ao que aquele respondeu:
- Atã…ò Xique, sã os nossos noves patrõs. Aquele éi o presedente da cambra de castel`vide, ô sequêra da costa, …e o papagai falante éi o secretare d`ele, andão nas elêçõs. Mas…os mal creadons, nein nôs desserem bom dîia, nein q’ando nos pagavão…
Está agora Xico Bugalhão, ainda com a picareta na mão, olhando os facínoras judeus a afastarem-se velozmente.
As palavras do seu consorte de desventura, começaram a revoltar-lhe as entranhas e, atirando o seu utensílio de trabalho, violentamente, contra a sebe, lá foi andando e dando conta de sua deliberação, para que também constasse em tempos futuros:
- A partir desse dia, não trabalharia durante toda a sua vida, para mais cabrão nenhum, nem que tivesse que expirar à fome…arre cos pariu!
Ao longo dos tempos sempre se disse que um dos melhores ofícios era o de Cantoneiro.
De quem se profere, com maleficência claro, só se verem trabalhar quando alguém passa na estrada, sem nunca se referir, no entanto, se será de veículo motorizado, ou simples transeunte que circule, gastando as solas dos sapatos ou, montado em animal de quatro patas.
Se de veículo a motor se tratasse, quão bela seria a vida que Xico Bugalhão levaria como Cantoneiro assalariado da autarquia marvanense, naquele final de século dezanove de 1895. Pois constava, que há apenas alguns dias havia chegado a Portugal, vindo de terras de França, o primeiro panhard & levassor. Do qual se dizia, que a sua primeira façanha, teria sido a de atropelar um incauto burro, que pastava sossegado nos campos do Alentejo.
Dizia-se ainda que, como lhe não haviam inventado buzina, certamente por isso não pode o quadrúpede ser avisado, começando o seu condutor, o senhor conde de avilez, aos gritos de: “arreda…arreda”, só que, não estando o competidor habituado a linguagem tão erudita, não percebeu, o que lhe seria fatal.
Contribuiu este facto, para que antes de tal invenção humana fosse baptizada de automóvel, carro, viatura, auto, popó, carriola, bate-latas, caranguejola, veículo, geringonça, automotor, ripolam, charrueque, calhambeque, carripana, bolinhas, etc., fosse o seu primeiro nome em terras lusitanas, o de “máquina do diabo”. Certamente, por ter atropelado o nobre animal, que no estábulo sagrado havia amornado aquele que seria cognominado como filho de deus dos cristãos, após ter alombado com sua mãe, da Galileia até Belém.
Xico Bugalhão era o segundo filho de José Bugalhão e Teresa Gonçalves (a já referida progenitora que, amamentava os filhos no intervalo de uma cartada na tasca), o qual terá vindo ao mundo em meados dos anos setenta do século XIX. Quis o destino, que o seu primeiro ofício fosse de Cantoneiro de estradas do município, se tal se podia chamar às míseras carreteiras de terra batida que atravessavam o concelho de Marvão naquela época, onde ainda não havia chegado o alcatrão. Matéria preciosíssima no futuro, sobretudo, quando autarcas candidatos pretenderem ganhar eleições, lançando essa massa preta para os olhos dos ingénuos eleitores.
Não se fez velho nesta ocupação o Cantoneiro, pois como já sabemos de episódios anteriores, o seu futuro será o de contribuir para transmutar grão em farinha, do qual se fará muito do pão que matará a fome a estas gentes. Mas não se pense, ter sido por falta de predisposição para o remanso de que este ofício é apelidado, que Xico resolveu mudar de ramo, pois não terá sido esse, o fundamento. Aliás, não terá sido apenas um, mas dois os motivos relevantes a influenciar o processo de tomada de decisão, do futuro moleiro.
O primeiro, já o havíamos aportado em episódios precedentes, que era a circunstância de nunca ter lidado bem com essa situação funcional, que é a de ser-se trabalhador por conta de outrem. Mesmo que esse outrem seja uma entidade abstracta, como é o caso do Estado, seja ele o central, ou o local como era a circunstância.
E bem podemos afirmar que esta imaterialidade, nunca terá tido uma aplicação tão adequada já que, há mais de um mês, os representantes locais desse Estado, logo, os patrões do futuro moleiro, haviam abandonado as suas funções e responsabilidades, para as quais haviam sido “meio-escolhidos” “meio-nomeados”, e tinham ido às suas vidas, despedindo-se à espanhola, pois o governo regenerador do ribeiro, por decreto, os havia mandado às urtigas sem outra justificação que não fosse, a de os considerar incapazes, e gastadores dos poucos dízimos gerados por uma gente de desventurados e pelintras.
Para além desses predicados que o regenerador ribeiro utilizou, para destituir a legítima vereação municipal do magalhães, e extinguir concomitantemente, o concelho de Marvão integrando-o no de Castelo de Vide; dizia-se por estas bandas, à boca-pequena, que estes haviam sido ainda burlados pela oposição progressista do frenético (frederico) laranjo, ao prometer-lhes que estivessem sossegados em suas casas, que não levantassem ondas e mantivessem na ordem as ingénuas e boas gentes marvanenses, que ele se encarregaria de os incluir na vereação futura do município castelovidense, quando o seu partido ocupasse o poleiro da vila. Só que tal nunca veio a suceder, porquanto os regeneradores judeus não estavam para aí virados, e como de costume, não cumpriam o acordado com o citrino.
O segundo, tinha razões mais objectivas e menos filosóficas. Tinha pois a ver com uma das maiores pragas sociais de sempre, desde que o mundo é mundo, ou pelo menos, desde que os romanos haviam passado a pagar aos seus colaboradores, em sal, os serviços por estes prestados, denominando pomposamente, tal facto, de “salarium argentum”. Termo esse, que viria a ser reduzido pelos portugueses, abreviadamente, para salário.
E no reduzir é que estava o problema. Aliás, nem era bem o reduzir, até se poderia afirmar, com mais propriedade, que seria o reduzir à fórmula ínfima, isto matematicamente falando, o termo exacto era suprimir.
E com salários suprimidos, ou melhor, como se diz por aqui, jornas em atraso, já o Cantoneiro Xico Bugalhão leva quase cinco meses, sem que lhe seja dado a ver a cor do dinheiro para as sopas. Julho, Agosto e Setembro, quando o empregador ainda era o município de Marvão. Outubro e o que resta do mês de Novembro, cujas responsabilidades têm que ser imputadas aos de Castelo de Vide; que, apesar de se andarem por aí a gabar em discursos pacóvios, como foi o caso do pinto sequeira, o de ter sido um grande melhoramento a integração do concelho vizinho, o facto é, que continuou a não cumprir com as suas mais elementares obrigações, como seja as de pagar o tal salarium argentum aos seus empregados. Apesar de ter retirado dos cofres da Câmara de Marvão a quantia de um conto de réis, quantia que, naquela época, seria mais do que suficiente para saldar as jornas com esta gente trabalhadora.
Como já foi contado, andaríamos por essa altura, em meados do mês de todos os santos, menos o de são receber. E o Cantoneiro Xico, com outro seu camarada de ofício, estavam a endireitar as suas cruzes, depois de terem debelado, mais uma das valetas feitas pelas chuvas, na carreteira entre a Portagem e a sede do finado concelho de Marvão, perto do lugar das Ferrarias, quando repararam, que se acercava deles um grupo com cerca de uma dezena de cavaleiros, a galope em suas cavalgaduras.
Arrazoavam alto, quase aos berros, com uma pronúncia estranha de ilhéus, e puderam os dois marvanenses ouvir claramente, um dos valetes a dizer para o do cavalo baio, de que não havia mesmo qualquer dúvida, que estes marvanenses estavam mesmo satisfeitos por pertencerem ao concelho de Castelo de Vide, e que tal como ele havia referido, para que constasse nos tempos futuros, tudo corria na melhor ordem e sossego. Bastava ver a consideração que revelaram estes dois trabalhadores, que até se puseram em sentido, assim que nos viram aproximar.
Ao ouvir tal arengo, questionou Xico Bugalhão o seu camarada, sobre quem seriam tais figurões? E o que fariam por estas terras esquecidas?
Ao que aquele respondeu:
- Atã…ò Xique, sã os nossos noves patrõs. Aquele éi o presedente da cambra de castel`vide, ô sequêra da costa, …e o papagai falante éi o secretare d`ele, andão nas elêçõs. Mas…os mal creadons, nein nôs desserem bom dîia, nein q’ando nos pagavão…
Está agora Xico Bugalhão, ainda com a picareta na mão, olhando os facínoras judeus a afastarem-se velozmente.
As palavras do seu consorte de desventura, começaram a revoltar-lhe as entranhas e, atirando o seu utensílio de trabalho, violentamente, contra a sebe, lá foi andando e dando conta de sua deliberação, para que também constasse em tempos futuros:
- A partir desse dia, não trabalharia durante toda a sua vida, para mais cabrão nenhum, nem que tivesse que expirar à fome…arre cos pariu!
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
COMO NASCE UM “BLOGUE”… (6º Episódio)
UM POUCO DE HISTÓRIA...
José da Quinta, pai de Luísa, viria a falecer em 1957, por mero acaso, ano de início das emissões regulares de televisão em Portugal.
Morreu desventurado, como sempre viveu, em lugar para pobres e indigentes, na misericórdia do concelho que o viu também nascer.
Antes de aí ter sido colocado pelos filhos, tinha vivido os seus últimos anos em casa de seu filho mais novo, homem remediado, que fazia dele o descendente com melhores posses para amparar o seu procriador.
Expirou só, certamente ao início da noite, pois, quando o encontraram de manhã, já estava mais resfriado que o caramelo em noite de inverno e, só com muita dificuldade lhe conseguiram vestir os seus trapos menos usados, para que tivesse uma afiguração mínima, quando encarasse, no outro mundo, o apóstolo das chaves.
A mesma ventura não teve em relação ao calçado, pois para além da tesura articular que já apresentava, quando lhe tentaram enfiar umas botas que lhe tinham arranjado, de dádiva qualquer, rapidamente concluíram ser tal lida impossível, pois estas eram de tamanho trinta e nove e o da Quinta sempre calçara o quarenta e dois. Mas tal não impediu que o finado as levasse a seu lado, por indução do seu genro Manuel, que logo ali alvitrou, que as metessem no caixão, que ele teria muito tempo para as domar e calçar lá na outra vida...
Viveu José da Quinta cerca de oito décadas. Era assim conhecido porque seu pai vivia numa quinta, e quando se encontrava na flor da idade, por volta da sua vintena de anos, foi bafejado pelo acaso de ter assistido ao fenómeno da mudança de século, do dezanove para o vinte.
Foi portanto José, que da Quinta lhe chamavam, atestador ocular de diversos acontecimentos peculiares, que sempre marcam estas datas de mudança de século. Mas dos quais, após cem anos, apenas nos chegam alguns ecos e às vezes distorcidos, ou dados memoráveis, que relatam apenas a versão dos predominantes, ou triunfantes quando de pelejas se tratar. E isto nos tempos que correm, em que o domínio da escrita é quase universalizado.
Cogitemos agora, como seria há dois mil anos, como aconteceu com a escritura do livro histórico mais importante da comunicação escrita, que apenas começou a ser registado trezentos anos após os acontecimentos mais relevantes que aí se contam, e ainda por cima, sobre alguém que dizem ter nascido como uma criatura banal e de quem apenas fizeram monarca após o seu fenecimento.
Não foi o caso desta nossa personagem, que nem a valete chegou (apesar de serem as cartas, muitas vezes o seu objecto de trabalho, como já referimos precedentemente) …e por isso, as dificuldades, para o autor destas pobres crónicas, se tornam acrescidas.
«Não eram fáceis os tempos, desse final de século.
No país reinava, carlos fernando luís maria vitor miguel rafael gabriel gonzaga xavier francisco de assis josé simão e vicente de fora, aquele que haveria de ser o único rei a ser assassinado publicamente, pelo menos que se saiba.
Havia subido ao trono em 1889, quando tinha vinte e cinco anos de idade, sucedendo a seu pai. Portanto há cerca de meia-dúzia de anos, por altura dos acontecimentos que agora aqui se narram.
Desde que o filho de maria pia reinava no país, constava por estas bandas, que os seus governos de regeneradores e progressistas, se sucediam quase com a frequência com que as marrãs parideiras dão à luz os seus bacorinhos, isto é, aproximadamente de três meses e vinte dias.
A situação do país, essa porém, era incessantemente a mesma, nem piorava nem melhorava, sobretudo, porque não podia piorar mais.
O da Quinta era um pouco mais novo que sua majestade e teria em 1895, aproximadamente dezoito anos de idade. E dizemos aproximadamente, porque isto de atribuir idade a um plebeu nessa época, não era exactamente o mesmo que atribuir anos ou nomes a um rei, pois os seus assentamentos nem sempre correspondiam à idade que um maltês levava no pêlo.
Vivia o mancebo em casa de seus pais, numa quinta entre S. Salvador que alguns denominam da Aramenha, e os Alvarrões, no sítio da Rasa. E com esta idade, já se poderia dizer que era um mestre na serração de pau e pinho. Pelo menos enquanto o sol brilhava no horizonte, porque essa revindicação das oito horas de trabalho diário, ainda levaria uns anos a chegar por cá, pois ainda há pouco tempo que tal invenção, teve o seu início do lado de lá do Atlântico, e tenhamos em conta que a televisão ainda não havia sido inventada.
Era já forçoso nessa época, que ano em que se completasse dezoito anos de idade, deveriam os moços dirigir-se às sedes de seus concelhos, sobretudo, se de varões se tratassem, para aí serem recenseados para o serviço militar. E assim procedeu o serrador da Quinta. Tendo completado essa idade no mês de Novembro desse ano da graça, subiu o serrador as ladeiras a caminho de Marvão, para que aí tomassem nota de seu nome, como rapaz perfeito e viril que se prezava de ser, e capaz de proteger o reino do senhor da casa de bragança.
Morreu desventurado, como sempre viveu, em lugar para pobres e indigentes, na misericórdia do concelho que o viu também nascer.
Antes de aí ter sido colocado pelos filhos, tinha vivido os seus últimos anos em casa de seu filho mais novo, homem remediado, que fazia dele o descendente com melhores posses para amparar o seu procriador.
Expirou só, certamente ao início da noite, pois, quando o encontraram de manhã, já estava mais resfriado que o caramelo em noite de inverno e, só com muita dificuldade lhe conseguiram vestir os seus trapos menos usados, para que tivesse uma afiguração mínima, quando encarasse, no outro mundo, o apóstolo das chaves.
A mesma ventura não teve em relação ao calçado, pois para além da tesura articular que já apresentava, quando lhe tentaram enfiar umas botas que lhe tinham arranjado, de dádiva qualquer, rapidamente concluíram ser tal lida impossível, pois estas eram de tamanho trinta e nove e o da Quinta sempre calçara o quarenta e dois. Mas tal não impediu que o finado as levasse a seu lado, por indução do seu genro Manuel, que logo ali alvitrou, que as metessem no caixão, que ele teria muito tempo para as domar e calçar lá na outra vida...
Viveu José da Quinta cerca de oito décadas. Era assim conhecido porque seu pai vivia numa quinta, e quando se encontrava na flor da idade, por volta da sua vintena de anos, foi bafejado pelo acaso de ter assistido ao fenómeno da mudança de século, do dezanove para o vinte.
Foi portanto José, que da Quinta lhe chamavam, atestador ocular de diversos acontecimentos peculiares, que sempre marcam estas datas de mudança de século. Mas dos quais, após cem anos, apenas nos chegam alguns ecos e às vezes distorcidos, ou dados memoráveis, que relatam apenas a versão dos predominantes, ou triunfantes quando de pelejas se tratar. E isto nos tempos que correm, em que o domínio da escrita é quase universalizado.
Cogitemos agora, como seria há dois mil anos, como aconteceu com a escritura do livro histórico mais importante da comunicação escrita, que apenas começou a ser registado trezentos anos após os acontecimentos mais relevantes que aí se contam, e ainda por cima, sobre alguém que dizem ter nascido como uma criatura banal e de quem apenas fizeram monarca após o seu fenecimento.
Não foi o caso desta nossa personagem, que nem a valete chegou (apesar de serem as cartas, muitas vezes o seu objecto de trabalho, como já referimos precedentemente) …e por isso, as dificuldades, para o autor destas pobres crónicas, se tornam acrescidas.
«Não eram fáceis os tempos, desse final de século.
No país reinava, carlos fernando luís maria vitor miguel rafael gabriel gonzaga xavier francisco de assis josé simão e vicente de fora, aquele que haveria de ser o único rei a ser assassinado publicamente, pelo menos que se saiba.
Havia subido ao trono em 1889, quando tinha vinte e cinco anos de idade, sucedendo a seu pai. Portanto há cerca de meia-dúzia de anos, por altura dos acontecimentos que agora aqui se narram.
Desde que o filho de maria pia reinava no país, constava por estas bandas, que os seus governos de regeneradores e progressistas, se sucediam quase com a frequência com que as marrãs parideiras dão à luz os seus bacorinhos, isto é, aproximadamente de três meses e vinte dias.
A situação do país, essa porém, era incessantemente a mesma, nem piorava nem melhorava, sobretudo, porque não podia piorar mais.
O da Quinta era um pouco mais novo que sua majestade e teria em 1895, aproximadamente dezoito anos de idade. E dizemos aproximadamente, porque isto de atribuir idade a um plebeu nessa época, não era exactamente o mesmo que atribuir anos ou nomes a um rei, pois os seus assentamentos nem sempre correspondiam à idade que um maltês levava no pêlo.
Vivia o mancebo em casa de seus pais, numa quinta entre S. Salvador que alguns denominam da Aramenha, e os Alvarrões, no sítio da Rasa. E com esta idade, já se poderia dizer que era um mestre na serração de pau e pinho. Pelo menos enquanto o sol brilhava no horizonte, porque essa revindicação das oito horas de trabalho diário, ainda levaria uns anos a chegar por cá, pois ainda há pouco tempo que tal invenção, teve o seu início do lado de lá do Atlântico, e tenhamos em conta que a televisão ainda não havia sido inventada.
Era já forçoso nessa época, que ano em que se completasse dezoito anos de idade, deveriam os moços dirigir-se às sedes de seus concelhos, sobretudo, se de varões se tratassem, para aí serem recenseados para o serviço militar. E assim procedeu o serrador da Quinta. Tendo completado essa idade no mês de Novembro desse ano da graça, subiu o serrador as ladeiras a caminho de Marvão, para que aí tomassem nota de seu nome, como rapaz perfeito e viril que se prezava de ser, e capaz de proteger o reino do senhor da casa de bragança.
Não se pense que Marvão era como nos dias de hoje, conhecido por meio mundo, pois este trabalhador de madeira bruta, sempre viveu aqui nas encostas deste monte, e está agora a dirigir-se pela primeira vez na sua vida, aos refúgios de ibn marwan. Não admira por isso que vá enganado.
Ao cruzar os arcos das portas da vila, não perdeu o serrador muito tempo a admirar a sua esplendorosa arquitectura, a tanto não o ajudavam os seus saberes, e como não tendo por ali vislumbrado alma viva a quem perguntar onde seria a Câmara Municipal, resolveu subir a rua que o havia de levar à praça do pelourinho.
Ali chegado, deduziu que estaria no centro da vila, pois estes locais de fazer justiça, quase sempre ocupam lugares privilegiados e centrais, para que todos aí tenham acesso com facilidade. Mas neste caso, continuava o serrador, sem enxergar alguém que o informasse de suas dúvidas, e foi com dificuldade, que no meio do nevoeiro que sempre aqui mora, por esta época, que lhe surgiu a figura de uma mulher de meia-idade embrulhada num xaile, a quem o serrador perguntou onde seria o local que procurava.
Não obteve o da Quinta qualquer resposta imediata por parte da musa, como seria o de lhe responder, simplesmente, que deveria ser ceguinho, pois não via que era mesmo ali em frente dos seus olhos. Ou então, ainda com mais perspicácia, como a resposta…do que o que vossemecê quer sei eu!
Mas não, em vez de resposta simples, recebeu um sorriso irónico, tão característico das mulheres quando sabem, mas não querem dizer, que o deixou completamente aos papéis.
Preocupado como estava em chegar ao sítio que procurava que não reparou o jovem serrador, num primeiro momento, nas feições graciosas da sua informadora. Nomeadamente, no brilho esverdeado de seus olhos, que assim de repente, lhe fizeram lembrar a cor da caruma dos pinheiros, que diariamente tirava dos troncos que ia cerrando.
Tão enfeitiçado estava nas feições da mulher, que quando deu por si, só já apanhou a parte final de seu discorro, no qual a marvanense lhe anunciava que a Câmara de Marvão já não existia! …
Vai já o serrador da Quinta, descendo a encosta pela nascente, através da calçada romana que o há-de levar à Portagem. A voz da marvanense, de olhos da cor de caruma de pinheiro, continua a ecoar nos seus ouvidos e penetrando nas profundezas dos seus neurónios, como uma música de intervenção.
Conseguia agora recordar toda a sua conversa sobre a Câmara, que houvera encerrado há cerca de um mês, por ordem do governo regenerador do ribeiro, que o concelho de Marvão havia sido apagado, que o presidente magalhães e os vereadores pinheiro, forte, serra e rosado, talvez enganados pelos progressistas, haviam aceitado esta decisão como cordeirinhos; assim como o administrador afonso e o secretário pinto de Sousa que tinha entregue todo o Arquivo ao judeu castelovidense; tudo sem qualquer revolta, metendo todos o rabo entre as pernas e lá tinham ido chorar lágrimas de crocodilo para o regaço das suas esposas; que parecia que já não existiam homens com eles no sítio por estas paragens, que fosse a Maria da Fonte destes lados para comandar o povo e a história seria outra…, que se devia ter exigido se se tinha que extinguir um concelho que fosse o de Castelo de Vide, que sempre nos haviam enganado e vivido à custa do suor desta nobre terra, que agora pertencia ao termo de Castelo de Vide…onde ele se deveria dirigir se quisesse dar o nome para servir tal canalha, etc., etc.…»
Parou agora por momentos o serrador e levando a mão ao bolso, procura aí a sua pataca de tabaco.
Enrola calmamente um cigarro, acendendo-o de seguida, virando-se na direcção do monte do castelo e, de repente…pareceu-lhe ver no meio do nevoeiro a marvanense de olhos verdes…
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