(3 Fevereiro)
Na minha infância e juventude, este era um dos dias mais esperados e desejados, por ser dia de festa na terra onde vivia, Abegoa de seu nome, no concelho de Marvão.
Logo a seguir ao almoço, na Capela com o nome do santo, situada na encosta norte da vila, havia missa seguida de procissão, como penso que ainda haverá, mantendo-se a tradição. Contudo, habitualmente, as festividades são transferidas para o fim-de-semana de maior proximidade.
Após as cerimónias religiosas, havia a tradicional arrematação de “ramos”: pequenos cestos de verga de vime, onde a vizinhança do padroeiro depositava as suas oferendas ao São Brás, compostas usualmente, por uma garrafa de vinho, um pão e dois ou três chouriços, que a súcia lá ia arrematando pela oferta mais alta ao apregoar do leiloeiro: “…quem mais dá?..., dou-lhe uma, dou-lhe duas e…, doou-lhe três.”
Eu, e a outra catrefada de gaiatos das redondezas, já havíamos ajuntado, previamente, as moeditas que tínhamos surripiado, à socapa, aos nossos pais e, às vezes, lá conseguíamos no fim, levar uma das mais baratinhas fogaças, ou daquelas que já ninguém queria, e lá partíamos mais contentes que ratos, para uma animada função.
Quando chegava a noite, a Sociedade da Abegoa enchia até pelas costuras do exíguo salão recreativo, para o tradicional Baile do São Brás, abrilhantado por um afamado acordeonista das redondezas, e onde acorriam todas as moças casadouras locais, já que os moços, com maior liberdade, vinham de todo o concelho.
Eu, catraio acanhado, ficava quase sempre oculto na sala de entrada das mulheres, já que, naquela época, a moda do “uni sexo” ou igualdade de género, ainda estava para chegar, e de lá ia observando e aprendendo as estratégias da arte marialva no “descante do sacrossanto brás”, para quando chegasse a minha vez na roda da vida, poder cumprir a tarefa com um desempenho digno de um qualquer dom juan.
Mas o que ainda hoje recordo com alguma intriga, e que eu mais gostava de assistir, era a ocorrência que se passava por volta da meia-noite, quando o artífice tocador da concertina anunciava:
- Agora é a “peça à inglesa”.
Essa tal “peça inglesa”, não era mais que a inversão da tal estratégia marialva, dos moços irem buscar as moças para dançar. O que exigia “à inglesa”, era que teriam de ser o inverso, e serem as cativas moçoilas a escolherem quem seria o seu eleito daquela dança.
O que eu não conseguia entender, naquele cenário idílico, em que “a presa procurava o caçador”…, era o porquê de muitos daqueles infantes, que ocupavam quase sempre a popa, na altura de eleger, de repente, como cachorros com o cauda entre as pernas, corriam a refugiar-se o mais atrás possível, nos fundos da sala, ou às vezes, invadindo o meu refúgio feminil, com medo de serem os preferidos daquelas rústicas casadoiras.
Só mais tarde percebi o desassossego daquela rapaziada! …
É que após a dita “à inglesa”, os garbosos cavalheiros tinham que conduzir as atrevidas donzelas ao “Bufett”, onde tinham que as presentear com um “drink” e, pelo menos dez tostões de “ervilhanas”…
E o bago, nessa época, tal como hoje, andava escasso…
Na minha infância e juventude, este era um dos dias mais esperados e desejados, por ser dia de festa na terra onde vivia, Abegoa de seu nome, no concelho de Marvão.
Logo a seguir ao almoço, na Capela com o nome do santo, situada na encosta norte da vila, havia missa seguida de procissão, como penso que ainda haverá, mantendo-se a tradição. Contudo, habitualmente, as festividades são transferidas para o fim-de-semana de maior proximidade.
Após as cerimónias religiosas, havia a tradicional arrematação de “ramos”: pequenos cestos de verga de vime, onde a vizinhança do padroeiro depositava as suas oferendas ao São Brás, compostas usualmente, por uma garrafa de vinho, um pão e dois ou três chouriços, que a súcia lá ia arrematando pela oferta mais alta ao apregoar do leiloeiro: “…quem mais dá?..., dou-lhe uma, dou-lhe duas e…, doou-lhe três.”
Eu, e a outra catrefada de gaiatos das redondezas, já havíamos ajuntado, previamente, as moeditas que tínhamos surripiado, à socapa, aos nossos pais e, às vezes, lá conseguíamos no fim, levar uma das mais baratinhas fogaças, ou daquelas que já ninguém queria, e lá partíamos mais contentes que ratos, para uma animada função.
Quando chegava a noite, a Sociedade da Abegoa enchia até pelas costuras do exíguo salão recreativo, para o tradicional Baile do São Brás, abrilhantado por um afamado acordeonista das redondezas, e onde acorriam todas as moças casadouras locais, já que os moços, com maior liberdade, vinham de todo o concelho.
Eu, catraio acanhado, ficava quase sempre oculto na sala de entrada das mulheres, já que, naquela época, a moda do “uni sexo” ou igualdade de género, ainda estava para chegar, e de lá ia observando e aprendendo as estratégias da arte marialva no “descante do sacrossanto brás”, para quando chegasse a minha vez na roda da vida, poder cumprir a tarefa com um desempenho digno de um qualquer dom juan.
Mas o que ainda hoje recordo com alguma intriga, e que eu mais gostava de assistir, era a ocorrência que se passava por volta da meia-noite, quando o artífice tocador da concertina anunciava:
- Agora é a “peça à inglesa”.
Essa tal “peça inglesa”, não era mais que a inversão da tal estratégia marialva, dos moços irem buscar as moças para dançar. O que exigia “à inglesa”, era que teriam de ser o inverso, e serem as cativas moçoilas a escolherem quem seria o seu eleito daquela dança.
O que eu não conseguia entender, naquele cenário idílico, em que “a presa procurava o caçador”…, era o porquê de muitos daqueles infantes, que ocupavam quase sempre a popa, na altura de eleger, de repente, como cachorros com o cauda entre as pernas, corriam a refugiar-se o mais atrás possível, nos fundos da sala, ou às vezes, invadindo o meu refúgio feminil, com medo de serem os preferidos daquelas rústicas casadoiras.
Só mais tarde percebi o desassossego daquela rapaziada! …
É que após a dita “à inglesa”, os garbosos cavalheiros tinham que conduzir as atrevidas donzelas ao “Bufett”, onde tinham que as presentear com um “drink” e, pelo menos dez tostões de “ervilhanas”…
E o bago, nessa época, tal como hoje, andava escasso…
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