sábado, 24 de dezembro de 2016

Não é uma canção de natal. Mas podia se-lo...


Aqui estou eu, sou uma folha de papel vazia, pequenas coisas, pequenos pontos vão-me mostrando o caminho. Às vezes aqui faz frio às vezes eu fico imóvel, pairando no vazio, às vezes aqui faz frio...

Sei que me esperas, não sei se vou lá chegar, tenho coisas para fazer, tenho vidas para a acompanhar.

Bem-vindos a minha casa, ao meu lar mais profundo, de onde saio por vezes para conquistar o mundo. Às vezes aqui faz frio às vezes eu fico imóvel, pairando no Vazio, às vezes aqui faz frio...




sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Eu sou o teu homem...

Se quiseres um amante, eu farei tudo o que me pedires. E se quiseres outro tipo de amor eu, até usarei uma máscara para ti! Se quiser um parceiro toma a minha mão, ou, se quiseres derrubar-me de raiva, aqui estou. Eu sou o teu homem.

Se quiseres um pugilista eu entrarei no ringue para ti. Mas se quiseres um médico, eu examinarei cada centímetro do teu corpo. Se quiseres um motorista: Entra. Ou se quiseres levar-me a dar um passeio, tu sabes que podes. Eu sou o teu homem.

Oh, a lua brilha demais, a corrente está apertada demais, a besta não vai adormecer. Tenho recordado essas promessas que te fiz e não pude cumprir! Mas um homem nunca recuperou uma mulher por pedir de joelhos senão, eu rastejaria até ti querida e cairia aos teus pés. E uivaria à tua beleza como um cão no cio e me agarraria ao teu coração. Choraria nos teus lençóis e diria: por favor, por favor. Eu sou o teu homem.

E se tiveres que dormir, por instantes na estrada, eu conduzirei por ti. E se quiseres andar na rua sozinha, eu desaparecerei. Se quiseres um pai para a tua criança, ou apenas caminhar um pouco comigo pela areia.

Eu sou o teu homem...

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

De volta com..., música

No rancho fundo bem para lá do fim do mundo onde a dor e a saudade contam coisas da cidade. No rancho fundo de olhar triste e profundo um moreno canta as "mágoas" tendo os olhos rasos d'água.

Pobre moreno que de noite no sereno espera a lua no terreiro tendo um cigarro por companheiro. Sem um aceno ele pega na viola e a lua por esmola vem pro quintal desse moreno!

No rancho fundo bem para lá do fim do mundo nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia. Os arvoredos já não contam mais segredos e a última palmeira já morreu na cordilheira. Os passarinhos hibernaram-se nos ninhos de tão triste esta tristeza enche de trevas a natureza.


Tudo porque, só por causa do moreno que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapê. Se Deus soubesse da tristeza lá da serra mandaria lá para cima todo o amor que há na terra. Porque o moreno vive louco de saudade só por causa do veneno das mulheres da cidade.

Ele que era o cantor da primavera e que fez do rancho fundo o céu melhor que tem no mundo. Se uma flor desabrocha e o sol queima, a montanha vai gelando, lembra o cheiro da morena...





terça-feira, 12 de julho de 2016

Portugal, pela vez primeira: Campeões...

 “É a grandeza da França que faz grande a vitória de Portugal. Alguns franceses terão dito que Portugal jogava um futebol nojento. Nem lhes responderia, mas alguns portugueses gritam agora que ganhámos à França de merda. Discordo. Ganhámos à grande e imensa França que guarda os modos de quem já foi Senhora do Mundo e ainda tem na cabeça acordes de Debussy e Bizet, ou não tivesse o hino mais bonito do mundo, no qual o de Portugal se inspirou.

E ganhámos à nossa maneira dramática. Caído o comandante, onze guerreiros portugueses souberam seguir o que o racionalíssimo treinador português – o extraordinário engenheiro – lhes dizia e foram, como um vinho que precisa de estágio, jogando melhor minuto a minuto. Se o jogo tivesse cinco horas, Portugal acabaria a jogar um futebol que nem Pelé ou Maradona saberiam jogar.”

Pela primeira vez desde que me conheço internauta nada escrevi sobre este campeonato da Europa que agora terminou. Talvez fosse também o tal sinal! Descrente, pensarão aqueles que pensam que me conhecem...

Nada disso. Não escrevi pura e simplesmente porque não me apeteceu. E, assim, pude desfrutar de um prazer egoísta na hora da vitória, que certamente nunca mais terei oportunidade de viver nesta vida terrena.

Mas ainda bem que o não fiz. Pude assim, de uma forma mais liberta, apreciar de tudo aquilo que se escreveu, disse e mostrou nesta campanha francesa, em que tanta coisa feia se disse e escreveu. Mas também coisas bonitas aconteceram e, é nessa perspectiva, que pude desfrutar do texto que aqui encontrei, que na minha modesta opinião é uma das coisas mais bonitas que li sobre o europeu do nosso contentamento e que, para memória futura, aqui partilho convosco:

"Nasceu em Bissau o pé direito que fez Portugal campeão
por Manuel S. Fonseca

Reunidos em concílio, os deuses tinham decidido que a França seria campeã europeia. Os deuses já não se reuniam em concílio desde que Luís de Camões se lembre, e Luís de Camões deixou de se lembrar já lá vão praticamente cinco séculos. Desta vez, os deuses decidiram por unanimidade.

Mesmo Vénus, com um olho em Cristiano, deixou-se empolgar pelo hercúleo meio-campo francês. Mas mesmo quando les jeux sont faits, há sempre qualquer coisa que va plus. A meio catrineta nau portuguesa parecia desgovernada e aos 17 minutos sofre um golpe baixo. Cristiano Ronaldo aparece tombado no campo de batalha. Um jogo que devia ser guerreiro, glorioso e épico é aflorado pela aflitiva cor púrpura da tragédia.

Os velhos deuses vacilaram. A França é uma grande equipa, reunia os favores olímpicos, mas desequilibrar assim as forças em presença pareceu, mesmo aos deuses amorais, uma afronta à estética. Aos 17 minutos, os deuses decidiram abdicar e entregar aos 22 jogadores que estavam em campo a decisão. O que se passou, a partir dos 17 minutos de jogo, no Stade de France foi humano, muito humano. E Portugal ganhou.

É empolgante ganhar. A mim convida-me sempre a um delicioso silêncio. Se me pusessem uma câmara de televisão à frente, não conseguiria falar, nem saltar aos gritos de olé, olé, nem berrar contra o adversário. Poria um bezerro sorriso de felicidade. Sabe-me bem a vitória. Soube-me bem ontem à noite (tão leve e fresco o champagne que se faz na bela França!) e sabe-me agora ainda melhor nesta manhã de férias, antes de meter os calções e ir para a praia. O cheiro da vitória pela manhã!

E não é de napalm o meu cheiro de vitória. Ganhámos à França e se eu amo a França. Gosto da língua, belíssima, apaixonada, veemente, cheia de sexys buraquinhos filosóficos. Gosto da Normandia e da Bretanha, do sol de Nice, Cannes e Saint-Tropez, dessas colinas milionárias e cosmopolitas, para não falar de Paris, margem esquerda ou margem direita, luz do mundo, que nos deu as cores de Cezanne e Degas e depois as de Picasso, Modigliani e Matisse. Gosto da França de Flaubert, Balzac e Rimbaud. Gosto de champagne, de Proust, célebre pasteleiro que tão bem, sem as saber fazer, fazia madalenas.

E gosto da selecção nacional francesa. Tricolor, sim, mas branca e negra também. Retrato vivo, em 2016, de séculos da odiosa, amorosa, torturada e por isso humana relação da Europa e de África. Estão ali onze jogadores, mas há uns bons séculos de história, subterrânea, nas veias deles.

É a grandeza da França que faz grande a vitória de Portugal. Alguns franceses terão dito que Portugal jogava um futebol nojento. Nem lhes responderia, mas alguns portugueses gritam agora que ganhámos à França de merda. Discordo. Ganhámos à grande e imensa França que guarda os modos de quem já foi Senhora do Mundo e ainda tem na cabeça acordes de Debussy e Bizet, ou não tivesse o hino mais bonito do mundo, no qual o de Portugal se inspirou.

E ganhámos à nossa maneira dramática. Caído o comandante, onze guerreiros portugueses souberam seguir o que o racionalíssimo treinador português – o extraordinário engenheiro – lhes dizia e foram, como um vinho que precisa de estágio, jogando melhor minuto a minuto. Se o jogo tivesse cinco horas, Portugal acabaria a jogar um futebol que nem Pelé ou Maradona saberiam jogar.

Ganhámos, disse, à nossa maneira dramática. Patrício, o nosso guardião, os centrais, o gigantesco William, o veloz Raphaël Guerreiro (único português a ostentar no nome um orgulhoso umlaut), o sábio e ardiloso Nani, o imprevisível e filosófico Quaresma, a quem se deve já pedir um livro, foram os meus heróis. E tu, Renato, mesmo no dia em que te conseguiram apagar, serás sempre o meu herói. Ou seriam, até aparecer o herói desmedido e libertador a que chamaremos Éder. E o momento histórico exige que sejamos rigorosos. O nosso herói chama-se Éderzito António Macedo Lopes e nasceu em Bissau, em 1987. Éder fez um jogo exemplar. O seu metro e oitenta e oito centímetros ganhou, que me esteja a lembrar, todas as bolas que disputou no ar. Ganhou, dando o corpo ao manifesto, todas as jogadas de bola no chão, ganhando a posição aos adversários, obrigando-os a derrubá-lo. Ganhava um livre a cada cinco minutos. E, por causa dele, o Stade de France inclinou-se e a bola, o maravilhoso esférico, passou a estar cada vez mais perto da baliza do imenso Lloris, e uma vez mesmo, com estrondo, na barra da baliza dele.

O que Éder fez no golo é só a confirmação da sua convicção e do poder de que vinha impregnado. Éder entrou em campo com uma missão: marcar um golo. Raphaël encarniçou-se a disputar uma bola, já no meio campo gaulês. Sacou-a e meteu-a em William, que de primeira a deu a Moutinho que a entregou a Éder. Está a uns vinte e cinco metros da baliza. Um defesa francês cai-lhe em cima e o ombro esquerdo de Éder aguenta-o. O francês cola-se-lhe como uma carraça, mas Éder já lhe ganhou a frente. Tem à direita outro francês que hesita. Já o parasitário francês da esquerda foi cuspido, incapaz de aguentar o poder que exala do físico de Éder. O da direita continua a hesitar e Éder já avançou dois metros e a bola agora oferece-se ao seu melhor pé, o direito. O francês da direita percebe o infinito perigo, mas, num dilema cartesiano, nem sai da posição, nem vai em cima do homem, e Éder, o homem, chuta rasteiro e cruzado para o seu lado esquerdo, a vinte e um, vinte e dois metros da baliza, quase colando a bola ao poste, tornando inútil o desesperado e belo vôo de Lloris.

A bola rolou nas redes da baliza francesa – «oh, ça fait beacoup de mal aux bleus», ouço dizer em francês – e o meu coração rende-se à beleza humana disto tudo, já não balouçam as redes, mas balouça enlevada a minha pequena alma portuguesa que o pé direito deste guineense de Bissau pôs em êxtase. Nasceu em Bissau o pé direito que pôs um povo inteiro em delírio.

Gritei golo e volto, agora, ao meu beatífico silêncio. Mas penso que ganhou a equipa que gosta mais de jogar à bola. Os franceses gostam, claro, e jogaram bem. Mas só gostam de jogar um bocadinho e não estavam preparados para passar ali a noite a jogar. Os portugueses, com Ronaldo a descobrir uma forma de jogar à bola fora das quatro linhas, estavam prontos para acampar no Stade de France e ficarem mil horas a jogar com prazer. Os franceses gostam tanto de jogar à bola como nós, mas nós gostamos de jogar à bola mais tempo. Fomos a selecção que jogou mais minutos, horas perdidas que foram horas ganhas. Também por isso somos campeões.

De nós próprios e da Europa..."

Carregar aqui para ver a "obra de arte"

quinta-feira, 9 de junho de 2016

terça-feira, 7 de junho de 2016

O velho do restelo, ou velho do PS?


Um pouco de lucidez. Vale a pena ouvir na integra e divulgar:


Só para gente com humor, ou não socialista....


Do melhor que já li nos últimos tempos:

Portugal, quê (start-up)?

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O meu amor foi...


Eu que até nem gosto muito da senhora, mas isto com um "dedinho" do Tê é outro fado e, até arrepia...


O meu amor foi para o Brasil nesse vapor
Gravou a fumo o seu adeus no azul do céu
Quando chegou ao Rio de Janeiro
Nem uma linha escreveu
Já passou um ano inteiro

Deixou promessa de carta de chamada
Nesta barriga deixou uma semente
A flor nasceu e ficou espigada
Quer saber do pai ausente
E eu não lhe sei dizer nada
Anda perdido no meio das caboclas
Mulheres que não sabem o que é pecado
Os santos delas são mais fortes do que os meus
Fazem orelhas moucas do peditório dos céus
Já deve estar por lá amarrado
Num rosário de búzios que o deixou enfeitiçado
O meu amor foi seringueiro no Pará
Foi recoveiro nos sertões do Piauí
Foi funileiro em terras do Maranhão
Alguém me disse que o viu
Num domingo a fazer pão
O meu amor já tem jeitinho brasileiro
Meteu açúcar com canela nas vogais
Já dança forró e arrisca no pandeiro
Quem sabe um dia vem
Arriscar outros carnavais
Anda perdido no meio das mulatas
Já deve estar noutros braços derretido
Já sei que os santos delas são milagreiros
Dançam com alegria no batuque dos terreiros
Mas tenho esperança de que um dia a saudade bata 
E ele volte para os meus braços caseiros

Está em São Paulo e trabalha em telecom
Já deve ter “doutor” escrito num cartão
À noite samba no “Ó do Borogodó”
Esqueceu o Solidó, já não chora a ouvir Fado
Não sei que diga, era tão desengonçado
Se o vir já não quero, deve estar um enjoado

 Letra e música de Carlos Tê


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Ouve Costa: Se quiser fumar eu fumo, se quiser beber eu bebo...


... e se quiser andar de carro, ando. Vou ali a Espanha! É a interioridade! 


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A praga dos Ajuste Directos (2)


Já escrevi aqui e aqui sobre esta problemática, e hoje quero actualizar os dados do Município de Marvão referentes ao ano de 2015. Como se pode ver no Quadro 1, e no Link para onde este nos remete, é de realçar mais uma vez que, num total de 32 adjudicações, que rondou uma verba no valor de 1,5 milhões de euros, apenas se procedeu a 1 “ Concurso Público”, as restantes 31 adjudicações foram feitas por “Ajustes Directos” no valor de mais de 1 milhão de euros, isto é, a correspondente a cerca de 70% das verbas gastas.

Na quase totalidade destes “Ajustes Directos”, apesar das várias sugestões feitas pelo vereador Nuno Pires, nas Reuniões de Câmara, para se consultarem mais do que uma empresas, bem como o uso da Plataforma Electrónica existente para essa finalidade na Administração Pública, e do compromisso da governação da Câmara que iria passar a ser feita; que eu tenha conhecimento, apenas em 1 dos 32 “Ajustes Directos” se procedeu à consulta de mais que um possível prestador de serviços (e mesmo esse, de cariz muito duvidoso, já que a quem se fez a adjudicação tinha sido aquela a quem o Presidente, em Reunião de Câmara, tinha anunciado previamente que o iria fazer).

Nesta prática usada da CM de Marvão, podemos ainda realçar que existe adjudicação continuada por “ajuste directo” de obras por valores muito perto do limite que é de 150 mil euros. Só desde o início de 2015 existem 3, respectivamente: 144.500; 145 000; e 144 800 (esta já em 2016), e que depois da aplicação do IVA todas eles ultrapassam o valor superior aos tais 150 mil euros. Tal prática, numa Câmara de 3 500 habitantes, cheira, no mínimo, a duvidosa transparência. Podemos ainda constatar que quando analisamos as práticas em municípios vizinhos e de idêntica dimensão, raramente tal se verifica, existindo quase sempre o cuidado de privilegiar o “concurso público” na adjudicação de obras de valores superiores a 80 mil euros.

Em minha opinião, esta prática pode ser legal, mas parece-me completamente imoral e pode estar a prejudicar a administração pública, os marvanenses e os contribuintes em geral, já que podíamos estar a fazer o mesmo mas por valores bem mais baixos. Nem tão pouco o argumento “que se está a escolher os melhores” pega, a julgar por alguns “barretes” enfiados, veja-se o caso do Vaqueirinho. 

Já é hora de se acabar com esta praga, e apelo à governação do município para um pouco mais de transparência: Usem a Plataforma Electrónica e contribuem, pelo menos, para uma melhor transparecia

Quadro 1 – Adjudicações do Município de Marvão em 2015 (Assinalado a vermelho o único Concurso Público de 2015)


Fonte: http://www.base.gov.pt/Base/pt/ResultadosPesquisa?type=contratos&query=adjudicanteid%3D2785

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Mais uma excepção! Porque sim...


Adiós muchachos compañeros de mi vida, barra querida de aquellos tiempos, me toca a mi, voy a emprender la retirada debo alejarme de mi buena muchachada. Adiós muchachos ya me voy y me resigno, contra el destino nadie la talla, se terminaron para mi todas las farras mi cuerpo enfermo no resiste mas. 

Acuden a mi mente recuerdos de otros tiempos, de los buenos momentos que antaño disfrute, cerquita de mi madre santa viejita y de mi noviecita que tanto idolatre. Se acuerdan que era hermosa mas linda que la diosa y que ebrio yo de amor le di mi corazon, mas se señor celoso de sus encantos hundiéndose en el llanto se la llevo. 

El dios jefe supremo no a quien se le resista, ya estoy acostumbrado su ley a respetar pues mi vida deshizo con sus mandatos, llevándome a mi madre y ami novia también. Dos lagrimas sinceras derramo en mi partida, por una barra querida que nunca me olvido y al darles a mis amigos adiós postrero, le doy con toda mi alma mi bendición. 

Adiós muchachos compañeros de mi vida, barra querida de aquellos tiempos, me toca a mi,voy a emprender la retirada, debo alejarme de mi buena muchachada. Adiós muchachos ya me voy y me resigno, contra el destino nadie la talla, se terminaron para mi todas las farras, mi cuerpo enfermo no resiste mas...


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Um presidente à beira de um ataque de nervos! Uma crónica muito pessoal...


Foi penoso, muito penoso, assistir hoje à 1ª parte da reunião de câmara em Marvão. Hoje, senti-me sensibilizado pelo que, em termos humanos, vi na reacção emocional e de sofrimento do presidente Vítor Frutuoso, que só a muito esforço conseguiu conter um choro convulsivo, em que a todo o momento parecia ir cair.

Não fossem as histórias das “choraminguisses” de  vitimização que se contam por aí, em que o senhor a sua excelsa esposa são useiros em campanha eleitoral, e não só, quando mendigam alguns votos ou favores junto dos marvanenses mais sensíveis; ou por outro lado achar que, o senhor fez tudo por merecer esta situação em que se encontra ao afastar todos aqueles que o protegeram e defenderam no passado, preferindo ficar refém de todos aqueles que só o apoiam por interesses pessoais e nunca são capazes de levantar a voz em público para o defender ou as suas políticas; e eu garanto, teria tido pena e talvez até chorasse também!

Não vou aqui descrever o processo que levou a esta situação, ela virá a ser falada por aí. Mas sempre acrescento que a ingratidão, o não reconhecimento dos outros e do seu trabalho, o egocentrismo, o favorecimento de uns em detrimento de outros, nunca deveriam ser princípios que um qualquer líder, ou administrador da coisa pública, devessem privilegiar.

Quando eu era seu confidente e seu companheiro político, lembro-me de termos comentado sobre o herói do livro “o Equador” do Miguel Sousa Tavares, enquanto situação de risco em que ambos poderíamos cair caso não tivéssemos sucesso na tarefa que então tínhamos em mão, lembra-se? Eu fui o primeiro a cair, ou por outra o Vítor e os seus “amiguinhos” empurraram-me! Mas eu caí de pé, se é que tal é possível; ou por outra, caí mas levantei-me livre, independente, e sem ceder aos jogos de interesses que sempre rodeiam estes processos. Tenha cuidado agora consigo, o Luís Bernardo não é apenas uma figura de ficção!

Desejo, sinceramente, que o meu amigo recupere. A CM de Marvão precisa de um presidente forte como o seu Castelo altaneiro que não precisa ser associado à tal “ammaia” (os seus dirigentes já têm que lhes chegue nessa “empresa”, e não sei se têm feito tudo o que seria possível) ou das rochas graníticas que o rodeiam. Mas também precisam de um presidente razoável, sensato, honesto, não traiçoeiro, não vingativo, e que acabe com dignidade o seu longo mandato de 12 anos.

Prepare a sua saída Vítor. Não apadrinhe opções bacocas de caciquismo puro. Deixe o seu trabalho para avaliação futura. A história e o tempo o julgarão...

domingo, 3 de janeiro de 2016

Para memória futura do apelido Bugalhão...

                                                                        

Origens da família Toureiro, da Ribeira de Marvão 
Um contributo do meu amigo Fernando Mota
Não há dúvidas que a família «Toureiro» que vamos encontrar na Ribeira do Sever, em Marvão, no início do século XVIII é originária de Alpalhão.
Poderemos conjecturar bastante sobre a origem do apelido, mas basta ler o mais antigo livro de registo de baptismos da vila de Alpalhão para percebermos que, as alcunhas, eram uma das principais formas de distinguir famílias e indivíduos com apelido comum e, no caso em concreto, as famílias «Dias». 
O mais antigo «Toureiro» registado nos Arquivos Distritais viveu em Alpalhão entre cerca de 1560 a 1620 e chamava-se António Dias Toureiro e estava casado com Margarida Fernandes (nascida por volta de 1560 e falecida a 14 de Setembro de 1624 (63.tif, Óbitos, Alpalhão). O apelido Toureiro de António Dias seria, com certeza, uma alcunha já que no mesmo período em que ele viveu, existiam outros cinco homens com o nome «António Dias», em que, a distingui-los nos assentos temos apenas as suas alcunhas, que além do nosso «Toureiro» eram: Preto, Delicado, Manço, Carpinteiro e Forcado. Este último apelido, tal como «Toureiro» remete para o mundo da tauromaquia e, tal como o apelido «Bugalhão», lembra a ousadia, coragem e valentia. A tradição da lide de touros é ancestral e estava particularmente em voga no final do século XVI.
No Portugal do século XVI, onde a maioria dos seus habitantes tinham apenas um nome próprio e apelido, o uso de alcunhas e a sua assimilação, eram muitos comuns e são a origem de muitos dos apelidos portugueses de hoje.
Como vimos, a partir de certa altura a alcunha torna-se apelido, e os «Toureiro» de Alpalhão terão tido várias ocupações, muitas delas estariam relacionadas com as mais comuns na zona como a agricultura, pastorícia e criação de gado (daqui também poderia vir a alcunha). Contudo, apesar da alcunha deste António Dias ser «Toureiro» essa poderia não ser a sua profissão. Muitos dos habitantes de Alpalhão, trabalhavam já sazonalmente em Castelo de Vide nos seus moinhos e, será a profissão de moleiro, que os seus descendentes irão desempenhar no século XVIII na Ribeira de Marvão.
Mas, infelizmente é raro encontrar a referência à profissão nos registos de baptismo, casamento ou óbito. Contudo, um dos «Toureiro» de Alpalhão (sobrinho de António Dias Toureiro) no assento de óbito, o pároco da vila deixou registada a sua ocupação: era “soldado de cavalo” e foi morto pelos castelhanos em 28 de Janeiro de 1666 (30.tif, Óbitos, Alpalhão) quando tentava regressar à vila. A sua morte ocorreu no final da «Guerra da Restauração» num período em que as tropas portuguesas tinham em seu poder Valência de Alcântara, mas em que as escaramuças e incursões rápidas dos dois exércitos eram muito comuns.
É preciso lembrar o papel de Alpalhão como uma das principais Vilas fortificadas do Alto Alentejo, junto da fronteira espanhola e o seu papel nas rotas comerciais do interior português, como encruzilhada de estradas que ligavam Castelo de Vide, Portalegre, Crato, Alter e, as localidades a norte do Tejo pelas “Portas do Rodão”.

Alpalhão e o seu castelo no século XV segundo o livro das Fortalezas de Duarte de Armas (1509)
As razões da partida de Alpalhão de elementos da família «Toureiro» poderiam ser muitas, mas tendo em conta a conjuntura política e militar de Portugal no início de setecentos podemos alvitrar o seguinte:
- A vila de Alpalhão em 1704 - num período em que ainda não se verificou a imigração dos «Toureiro» - é invadida e tomada pelo exército franco-espanhol, no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714). Em Maio de 1704 a vila foi ocupada por tropas franco-espanholas sob o comando de James Fitz-James, 1.º duque de Berwick, quando se dirigiam de Castelo Branco para Portalegre. Na ocasião as defesas da vila e do seu antigo castelo foram arrasados. Segundo os registos de óbito de Alpalhão há combates e morte de soldados até pelo menos 1709[1]
Provavelmente o antepassado comum aos nossos «Toureiro» - Manuel Dias Toureiro (avô de José António Toureiro) – foi morto durante esses violentos ataques a Alpalhão (morre sem testamento, a 7 de Janeiro de 1707).
- A extensa família do patriarca Manuel Dias Toureiro (10 filhos) tem de encontrar formas de sobreviver quando em 1707, a sua mulher, Maria das Candeias, fica viúva. Contudo, os filhos não abandonam a mãe. A saída da família «Toureiro» de Alpalhão dá-se apenas depois da morte de Maria das Candeias em 1717.
- O concelho de Marvão, em especial, as zonas de S. Salvador da Aramenha e Escusa têm nesse período um grande crescimento económico, graças às caleiras na Escusa e à exploração de gado. Esse desenvolvimento não passou despercebido às Ordens militares e religiosas da época, de facto, o Priorado do Crato (que tinha uma influência relevante na zona de Alpalhão), constrói no Sever, um dos maiores moinhos que chegaram aos nossos dias, colocando na fachada as armas da Ordem.
As certezas da vinda da família Toureiro para o concelho de Marvão, e em concreto para a Ribeira do Sever, podem ser comprovadas num individuo improvável, já que este, não tem apelido «Toureiro», apesar de ser filho de um: tratou-se de Pedro Caldeira (filho de Manuel Dias Toureiro e Maria das Candeias (111.tif, Baptismos, S. Salvador da Aramenha - 1730) casado com Catarina Martins (a mãe era de Alpalhão: Ana Dias Candeias e o pai de Marvão: Manuel Lopes Reis [2]«o velho»).
Qual seria a ocupação de Pedro Caldeira na freguesia de S. Salvador da Aramenha? Num registo de baptismo de um dos seus filhos datado de 17 de Novembro de 1725 o casal vivia no «moinho das Águas Paradas» (32.tif, Baptismos S. Salvador da Aramenha). O morador deste deste moinho de água, situado perto das ruínas romanas de Ammaia, apresenta-nos já aquela que será a ocupação dos «Toureiro» na Ribeira, e mais tarde, dos «Bugalhão»: Moleiros.
O Casal Pedro Caldeira e Catarina Martins foi dos primeiros casais oriundos de Alpalhão a instalar-se na Ribeira [3]. A 22 de Março de 1723 este casal é padrinho de baptismo de outros recém-chegados de Alpalhão: José (António Toureiro), filho de António Dias Toureiro e Maria Inchada, descritos pelo pároco no registo de baptismo como «naturais da vila de Alpalhão, mas ora moradores nesta freguesia na Ribeira» (86.tif, Beatismos S. Salvador da Aramenha). Esta criança foi o primeiro filho do casal António Dias Toureiro e Maria Inchada nascido na paróquia de S. Salvador da Aramenha. O casal já tinha tido outros três filhos, nascidos em Alpalhão: Maria (n.1.1.1715, 15.tif, Baptismos, Alpalhão); Ana (n.5.1.1719,92.tif, Baptismos, Alpalhão); e Vitoriano (n.23.2.1721, 133.tif, Baptismos, Alpalhão).
 A 2 de Março de 1726 Pedro Caldeira e Catarina Martins voltaram a ser padrinhos de baptismo do sobrinho «António», filho do irmão de Pedro. O sucesso da partida de Pedro Caldeira, não passa despercebido em Alpalhão. Mais elementos da sua família estão nessa altura a chegar à Ribeira, como a sua irmã Maria Rovisca (n.15.12.1698, Baptismos, Alpalhão) que casa já em S. Salvador da Aramenha com Manuel Tavares a 13 de Janeiro de 1726, que é também referida pelo pároco como «hora moradora na Ribeira».
A provável data da chegada de elementos da família «Toureiro» à Ribeira seria – cerca de 1715/17- é-nos fornecido no registo de casamento de João Dias Toureiro, filho de Manuel Dias Toureiro e irmão de Pedro Caldeira e Maria Rovisca, datado de 7 de Outubro de 1731, onde o padre João Rodrigues Ramilo, afirma ser João natural de Alpalhão (de facto, assim era, onde nasceu a 24 de Janeiro de 1709) mas «morador nesta freguesia [S. Salvador da Aramenha] desde tenra idade» (85.tif, casamentos, S. Salvador da Aramenha). Foram testemunhas deste casamento Manuel Lopes Reis (pai de Catarina Martins, a mulher de Pedro Caldeira) e António Dias Toureiro, tio de João.
Aspecto importante a registar neste registo de casamento é o facto de ambas as testemunhas terem assinado, o que era raro.
Na Ribeira, viviam no início do século XVIII (em especial depois de 1720), pelo menos, mais 4 famílias que tinham viajado de Alpalhão, o que releva uma concentração de pessoas num local onde já estão familiares ou conhecidos, como o casal João Gonçalves Calado e Maria Delicada; casal Timóteo Lopes e Isabel Mendes, etc.
Curiosamente encontram-se nesta paróquia outros personagens que mais tarde cruzaram os caminhos com a família «Toureiro»: em concreto quando a 10 de Agosto de 1690 (11.tif, Baptismos, S. Salvador da Aramenha) nascia «Lourenço» filho de Domingos Fernandes (ainda sem a alcunha de «Serrano») e Maria Gonçalves, que mais tarde voltaremos a encontrar com na família Serrano e a cruzar-se com a família «Toureiro», de onde "nascerá" o apelido «Bugalhão». O curioso e relevante é a referência do pároco: a viverem na Ribeira e decerto terá sido no moinho Olival, onde depois viverá um dos seus filhos. Este casal continuou a ter filhos registados nesta paróquia até, pelo menos, a 14 de Março de 1726 (Baptismos, S. Salvador da Aramenha), quando nascia também nesta freguesia Catarina (mais tarde Catarina Gonçalves Serrana, casada com Agostinho Fernandes), residindo o casal na altura em Porto da Espada.
Podemos assim considerar que, a primeira metade do século XVIII na Ribeira é um período de grande crescimento populacional, fruto de uma imigração oriunda de concelhos limítrofes, que durante um período de relativa paz com Espanha, desenvolvem ao longo do rio Sever entre os Olhos de Água e a Ponte Velha, vários novos moinhos, não esquecendo o igual desenvolvimento da Escusa com a exploração das caleiras.
Este crescimento é caracterizado e influenciado, no entanto, pelas consequências das frequentes incursões castelhanas, como é exemplo a referência no casamento de Belchior Fernandes Rosa e Ana Gonçalves de 11 de Novembro de 1726 ao facto de viverem na Ribeira, no «moinho queimado»[4]De certa forma temos de seguir os moinhos da Ribeira do Sever para percebermos as relações familiares entre os indivíduos que fazem parte desta família.

As ligações familiares entre moleiros, e o papel que as viúvas desempenharam, voltam a verificar-se em 1733 (23.tif, Baptismos, S. Salvador) quando Catarina Martins (agora viúva de Pedro Caldeira) volta a casar com Manuel Gonçalves Nogueira, residindo o casal no «moinho das águas paradas». Para esta propriedade estar nas mãos da viúva diz-nos que a propriedade seria do seu pai Manuel Lopes Reis, que foi padrinho de muitos habitantes da Ribeira nesse período.
Situação semelhante ocorreu com a morte de João Dias Toureiro em 1745, com a viúva Joana Carrilho a accionar os mecanismos legais de partilha, e a casar novamente com Manuel Antunes (também moleiro do Sever). É preciso não esquecer que Joana Carrilho tinha 6 filhos menores a seu cargo e quando faleceu, a 3 de janeiro de 1759 na freguesia de S. Tiago, Marvão (apesar de no registo reconhecer que é de S. Salvador da Aramenha) deixou como testamenteiro o seu filho mais velho João Dias Toureiro, que estava casado com Maria Pinheira: todos moleiros.
Tal se verificou novamente quando, Antónia Serrana, viúva de José António Toureiro (pais do 1º Bugalhão), volta a casar com António Rodrigues Pantaleão, que em 1760 vivia com o pai no «moinho da Amoreira» em S. Salvador e era proprietário em 1775 do «moinho das Águas Partidas», viúvo da irmã Antónia Maria e parente dos Carrilho que viviam nos moinhos da Ponte Velha e Balcão.
Também em 1752 segundo os Inventários Obrigatórios existentes no Arquivo Distrital de Portalegre, verificamos que Maria Vaz (avó de José Bugalhão), viúva que ficou de António Gonçalves Serrano, moleiro, foi inventariante (ou seja, novamente accionou os mecanismos legais para dividir os bens do falecido marido)[5]. Ainda não tivemos acesso a esse documento, mas dado o local onde foi lavrado - «moinho da Malpica» - e que o neto de Maria Vaz viveu neste moinho, podemos depreender que ficou em partilhas com este moinho. Não é assim desprovido de sentido o pedido que José Gonçalves Bugalhão fez na hora de escrever o seu testamento em mandar rezar algumas missas pela avó[6], foi graças a ela que sendo filho único de um casamento que durou pouco tempo, teve educação e sobreviveu, além de que, ainda herdou bens.
 As ligações entre moleiros verificam-se também através na sua presença como padrinhos em casamentos ou baptismos de outros moleiros. São muitos os exemplos dessa situação, mas deixamos aqui alguns exemplos directamente relacionados com a linha paterna directa de José Bugalhão: a 18 de Abril de 1751, o casal José António Toureiro e Maria Antónia Serrana foram padrinhos, do «José» filho de João da Costa e Maria Antunes (esta família tinha moleiros na Ribeira no ramo paterno com Manuel Costa e a já aqui referida Maria Pinheira e no ramo materno, originário da localidade dos padrinhos - Alpalhão).
A família «Toureiro» cresce em número ao longo do século XVIII. Mas, por vezes, os registos paroquiais não são tão infalíveis como poderíamos pensar. Entre 1730 e 1734, João Dias Toureiro casado com Joana Carrilha, é referido algumas vezes sem o apelido «Toureiro» (53.tif, Baptismos, S. Salvador) e noutras com (58.tif, Baptismos, S. Salvador). Pior é quando se trocam nomes, por exemplo duas vezes «Isabel», em vez de «Joana Carrilha» (171.tif e 294.tif, Baptismos, S. Salvador) ou Maria das Candeias, em vez de Maria Rovisca.
No casamento de José António Toureiro com Antónia Maria Serrana (pais de José Bugalhão), realizado a 29 de Maio de 1748, o pai do noivo é referido apenas como António Dias, sem o «Toureiro» (37. Tif, Casamentos, Santo António das Areias). Depois praticamente que desaparece a sua referência durante 3 anos, até que o seu nome, desta vez completo - José António Toureiro – surja de novo: será como padrinho de batismo de José, um dos filhos dos também moleiros e residentes na Ribeira e originários de Alpalhão, o casal João da Costa e Maria Antunes (26. Tif, Batismos, Santo António das Areias).
Não foi possível encontrar o registo de óbito de José António Toureiro. Sabemos que casou com Antónia Maria Serrana em 1748; que em 1754 nasce o seu primeiro e único filho[7]; mas em 1762 Antónia Serrana tinha casado de novo com António Pantaleão. Contudo, pode haver uma explicação para o sucedido: a «Guerra Fantástica». Durante esse período Portugal está em guerra com Espanha que invade o território de fronteira e cerca Marvão. Sabemos isso porque a fortaleza fica cheia de residentes de Galegos, Areias e S. Salvador. Infelizmente essa sobrepopulação e o cerco fizeram as suas vitimas, já que foram muitas as dezenas de crianças que morrem em poucos dias. É precisamente através do registo de óbito de Maria Pinheira, mulher do João Dias Toureiro (primo de José António Toureiro) que morre na freguesia de S. Tiago em Marvão no dia 20 de Novembro de 1762 (410.tif, óbitos, S. Tiago) que sabemos que «os quais eram da freguesia de S. Salvador da Aramenha, e por causa da guerra moravam nesta freguesia». O facto de não conseguirmos encontrar o óbito de José António Toureiro pode estar relacionado com o ter sido feito prisioneiro dos espanhóis e por terras de Espanha ter morrido. São conhecidas as queixas dos moradores da Raia ao Rei, quanto ao grande número de homens que eram feitos prisioneiros e levados para Espanha.
Mas, porquê terá mais tarde o apelido «Toureiro» sido substituído pelo apelido «Serrano»? 
Aqui é novamente a família da mulher que tem mais peso, provavelmente por terem chegado antes a estas paragens e terem maior poder económico. Já o amigo João Bugalhão tinha suposto, com provável razão, que o filho do casal José António Toureiro e Antónia Maria Serrana deve ter sido educado pela avó (razão pela qual no seu testamento ainda lhe manda rezar missas) e daí poder ser tratado como o João “da Serrana”. Mas, poderá haver ainda razões mais fortes e essas têm a ver com a transmissão de bens e da propriedade, em particular moinhos de água. Pela morte do marido de Maria Vaz (António Gonçalves Serrano em 2 de janeiro de 1752 [8]) o registo da sua morte faz curiosamente referência a um testamento que o defunto fez, em que deixa a sua «terça» parte à mulher, e por sua vez, na morte desta, aos seus filhos. 
Como já vimos em casos anteriores, as famílias de moleiros protegiam a sua propriedade, e muitas vezes, esta ficava do lado feminino. Consultando os Inventários Obrigatórios existentes no Arquivo Distrital de Portalegre em 1752 verificamos, como já dissemos, que Maria Vaz, viúva de António Gonçalves Serrano, moleiro, foi inventariante[9]. Foi esta atitude que permitiu ao primeiro «Bugalhão» continuar a residir na Ribeira, a ter uma família e a deixar-nos o actuais descendentes.



[1] Muitos dos soldados e sargentos mortos são referidos como pertencendo à Companhia do capitão Bento Felix da Veiga e do Terço Vermelho de Chaves.

[2] Apesar de Manuel Lopes ser referido como natural de Marvão, na Ribeira da Ponte Velha a família Lopes no mesmo período (1720-1730) é originária de Malpica, Castelo Branco. Terá sido ele o dono ou construtor do moinho da Malpica?

[3] Analisando o registo de baptismos da freguesia de S. Salvador a partir de 1690 até 1713 não há nenhuma referência nos progenitores ou nos padrinhos a uma origem de Alpalhão, apesar de serem referidas muitas outras. Podemos assim afirmar, com alguma certeza que, este casal foi dos primeiros habitantes na Ribeira com origens em Alpalhão.

[4]
 Muito interessante em relação aos moleiros, são as relações familiares entre indivíduos com o mesmo ofício. Ora casando entre si, ora sendo padrinhos em testemunhas ou padrinhos de baptismo. Tal aconteceu obviamente com este casal quando em 19 de Dezembro de 1743, o casal João Dias Toureiro e Joana Carrilha foram padrinhos do seu filho «Francisco» (280.tif, Baptismos, S. Salvador da Aramenha).

[5] Código de referência: PT/ADPTG/JUD/TCCVD/082/0005

[6] Testamento de 2 de Abril de 1810.

[7] Foram feitas pesquisas nos baptismos em Alpalhão, S. Salvador, Areias, S. Tiago e Santa Maria e nada se encontrou.

[8] (29. Tif, Óbitos, Santo António das Areias).

[9] Código de referência: PT/ADPTG/JUD/TCCVD/082/0005