Era a tarde mais
longa de todas as tardes que me acontecia, eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas,
e eu entardecia. Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo, mordia,
quando à boca da noite surgiste, na tarde, tal rosa tardia. Quando nós nos olhámos
tardámos no beijo, que a boca pedia e, na tarde ficámos unidos, ardendo na luz
que morria. Em nós dois nessa tarde, em que tanto tardaste, o sol amanhecia. Era
tarde demais para haver outra noite, para haver outro dia.
Meu amor, meu
amor, minha estrela da tarde, que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde. Meu
amor, meu amor, eu não tenho a certeza se tu és a alegria ou se és a tristeza. Meu
amor, meu amor, eu não tenho a certeza...
Foi a noite mais
bela de todas as noites que me aconteceram, dos nocturnos silêncios que à noite
de aromas e beijos se encheram. Foi a noite em que, os nossos dois corpos
cansados não adormeceram e, da estrada, mais linda da noite uma festa de fogo
fizeram. Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram, era o dia da
noite de todas as noites que nos precederam. Era a noite mais clara daqueles que,
à noite, amando se deram e, entre os braços, da noite de tanto se amarem,
vivendo morreram.
Eu não sei meu
amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto. É por ti que adormeço e
acordo, e, acordado recordo no canto essa tarde, em que tarde, surgiste dum
triste e profundo recanto. Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e
de espanto.
Meu amor, nunca
é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
1 comentário:
Gosto muito desta música, mas prefiro ouvi-la pela voz do Carlos do Carmo, que aprendi, com o meu pai, a apreciar.
Estive muitas vezes em Marvão, à noite, para ver as estrelas, as cadentes e todo aquele céu que só aí se vê bem. Sou encantada por Marvão, desde criança, de dia ou de noite era visita assídua durante as férias. Não é à toa que a escolhi para ser o local do meu casamento.
Um abraço
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