Retirado daqui. Para ler e..., sorrir, nem que seja amarelo...
Acabei de vir de férias do Algarve e estive atento ao que se passava à minha volta. Identifiquei dez tipos de personagens que encontramos em qualquer praia portuguesa:
O poster
O poster é
aquele gajo que vai para a praia pausar o seu cenário barraquê: tatuagem tribal
no braço; Liliana em árabe, nome de quem ele pensa ser a sua filha; aqueles
calções curtos e fluorescentes à Cristiano Ronaldo ou, caso não tenha tido
tempo de os comprar, puxa os seus para cima, arregaçados a mostrar os
quadríceps depilados. O poster nunca larga os óculos escuros da moda nem para
ir para a água. Fica ali, a molhar os pés e a contemplar a linha do horizonte e
a infinitude do universo. Isso e os rabos das gajas que passam, obviamente. Os
posters, por norma, vão em bando, sem mulheres, e ficam sempre com um escaldão
nas costas porque são incapazes de pedir a um amigo que lhes passe creme, com
medo de lhes começar a apetecer um folhado de salsicha e estragar a dieta de
batidos de proteína. O poster faz danças de acasalamento em pleno areal que
passam por dar toques na bola, jogar às raquetes a atirar-se para o chão, ou a
fazer rasteiras aos amigos e mostrar-lhes os truques que aprendeu a ver o UFC.
O gangue das poderosas
As poderosas são
as fêmeas naturais dos posters. Vão à praia como quem vai para um casamento,
casamento esse que parece o do Toy ou o da Luciana e do Yannick. Vão maquilhadas,
cheias de brincos e pulseiras, e de sandálias de salto alto para empinar o seu
rabo que, invariavelmente, vai destapado com um bikini fio dental de cortinado,
todo enfiado na gaveta. Nota-se que é um gangue porque todas têm uma tatuagem
tribal ao fundo das costas, mostrando que são fiéis às suas raízes. Quando vêem
alguma criança que se esqueceu do ancinho, prontificam-se a ajudar com as suas
unhas de gel pontiagudas, capazes de escavar na areia molhada até ao núcleo da
terra. Depois, retiram a areia que ficou presa nas unhas utilizando o piercing
do umbigo ou da língua. Passam a tarde toda a tirar fotografias aos pés, às
pernas com o mar em pano e fundo e a tirar selfies para actualizar o perfil do
Facebook de cinco em cinco minutos, acompanhadas de frases em brasileiro.
Tiram, também, fotos a mostrar o rabo "sem querer", com citações ao
género "A melhor curva do corpo de uma mulher é o seu sorriso",
mostrando que confundem os conceitos de fio dental com fio dentário.
O "Marcelo Rebelo de Sousa"
Este personagem
é o que leva o livro da moda para a praia. Portugal passou a ter mais leitores
de praia há uns anos com o Código Da Vinci e esta moda voltou a surgir em força
com a morte do Saramago, onde muita gente foi a correr comprar os seus livros para
levar para a praia, não fosse ele aparecer em forma de ectoplasma e assombrar
as casas de férias do Algarve. Este é aquele tipo de pessoas que escolhem o
livro sem critério, olhando para o top FNAC e tirando da prateleira o que tem a
capa mais bonita. Pode ser um José Rodrigues dos Santos, uma Margarida Rebelo
Pinto ou um, Deus nos livre, Gustavo Santos com os seus títulos sugestivos:
"Agarra o agora" e "Ama-te a ti mesmo", todos eles
parecendo livros de auto-ajuda, mas à masturbação. Esta personagem só lê uma ou
duas páginas de cada vez e vai alternando com a Revista Maria para descansar o
cérebro em sobreaquecimento.
O grupo da Linha de Sintra
Este grupo é uma
espécie de best of de posters e poderosas. Neste grupo todos têm tatuagens,
muitas das quais parecem aquelas que saíam no Bollycao, feitas por catálogo e
sem qualquer significado a não ser o de mandar aquela pausa. Obviamente, neste
grupo cheira a ganza e ouve-se música num rádio tijolo a pilhas ou num iPhone
ligado a umas colunas, que o progresso chega a todo o lado, mesmo à linha de
Sintra. Música, como quem diz, porque normalmente é uma kizomba comercial ou
música electrónica trance, dubmix step, in tha nice fucking shit. Neste grupo
fala-se alto e ouvem-se muitos "Cáralhos", com acento esdrúxulo e
tudo, sem qualquer tipo de problema se há crianças à volta ou não. Para além de
asneiras também se ouvem outras palavras feias como "Jéssica",
"Carla", "Wilson" e "Sandro Miguel". Se eu fosse
vendedor de bolas de Berlim, bastava-me cronometrar mais ou menos uma hora
desde que começa a cheirar a ganza, para voltar lá a passar. Com a larica do
THC acabavam-me logo com o stock e ia para casa mais cedo.
O que não tira a roupa
Há sempre alguém
num grupo de pessoas que não tira a roupa, embora por razões diferentes. Há
sempre um cinquentão que vai de calças de ganga e pólo, ao qual eu dou o nome
de "o meu Pai". Há sempre um gordinho ou uma gordinha que deixou que
a sociedade lhe vestisse um colete-de-forças que não conseguem tirar com medo
de passar vergonhas. Há também os programadores, que metem creme factor 50 na
cara e nas mãos e que nunca tiram a roupa com medo de perder o seu bronze
informático e, com ele, a credibilidade em futuras entrevistas de emprego:
"Você diz aqui que é programador avançado de C++... Com essa cor só
acreditava se fosse indiano! Você é um aldrabão!". Há, depois, algumas
mulheres que aparentam ter uma relação peso-altura dentro do normal, mas que
optam por nunca tirar a roupa. Estas, obviamente, apanham no lombo e estão
cheias de nódoas negras. Se tiverem de burka é apenas uma questão cultural e
religiosa e não devemos brincar com isso.
O "Mário Soares"
Felizmente, há
quem não ligue a essas parvoíces do culto da imagem padrão que a sociedade nos
tenta impor. Acho muito bem que uma mulher tire a roupa mesmo quando a balança
marca o red-line. Acho óptimo que se sintam confortáveis com o seu corpo e
exibam toda a sua xixa no esplendor de um fio dental, ou de um bikini normal
que parece um fio dental, tal a escala e perspectiva distorcida dada pelo naco
de picanha. Volto a afirmar que acho muito bem e cada um usa o que quer, mas,
como é óbvio, essa liberdade também me permite que vos diga que parecem o Mário
Soares com umas cuecas na cabeça e as bochechas ao pendurão. Parecem aqueles
rolos de carne aos quais se atou um cordel antes de ir ao forno e estão ali com
a carninha toda arrepanhada que até é capaz de fazer mal e cortar a circulação.
Nunca fazem qualquer tipo de desporto na praia a não ser para correr atrás do
senhor das bolas de Berlim a quem pedem sempre duas, uma para a viagem, e
sempre com creme.
Os lambões
Há sempre um
casal que acha que a praia é o melhor local para trocar carícias, especialmente
abaixo do nível da cintura. Estão ali deitados só numa toalha, juntinhos, ela
com a perna por cima dele, a dar beijos todos molhados e com as línguas de fora
a entrelaçarem-se quais tentáculos capazes de fazer inveja a qualquer pescador
de polvo. A real magia acontece quando eles se tapam com a outra toalha, em
pleno sol a pique do meio dia, como quem está a sentir uma aragem fresca no
umbigo e, mais vale prevenir que as constipações de Verão são muito perigosas.
Começam então as ondulações debaixo da toalha, como quem fez alergia ao sol e
precisa, urgentemente, de ser coçado por uma mão amiga. Pensam que estão a ser
discretos, mas toda a gente percebe que eles estão ali com as mãos cheias de
areia a esfoliar as peles mortas das zonas íntimas. Este espectáculo termina
com ela a levantar-se e a ajeitar o bikini e a ir ao mar lavar-se, enquanto ele
fica virado de barriga para baixo a fazer de avestruz. Sempre que vão colocar o
chapéu de sol e o ferro espeta logo, é porque acertaram num local onde outrora
esteve um destes lambões.
O frango do churrasco
Há sempre
alguém, normalmente proveniente de países do norte, que a meio do dia já
apresenta uma coloração que nos dói só de olhar. Já não é aquele típico
vermelho vivo, mas sim uma cor de sangue pisado, já roxo e de pele
encarquilhada que é óbvio que vai doer. Aquilo é carne que já está podre e
cozinhada ao mesmo tempo e que já nunca mais lhes vai servir para nada. Não é
um escaldão, é uma queimadura de terceiro grau para a qual não há creme
hidratante e Aloe Vera que alivie. Aquilo é, basicamente, um cancro instantâneo
e aquela pessoa vai falecer em poucos dias, ou pelo menos, vai desejar que isso
aconteça de cada vez que for tomar banho e passar a toalha porosa naquela carne
viva. Já tenho os testículos arrepiados só de pensar.
O queixinhas
Todas as praias
têm um queixinhas. Pode ser homem, mulher, novo ou velho, o queixinhas é uma
personagem transversal a todas as raças, credos e estratos sociais, sendo, no
entanto, predominante nos mais elevados. O queixinhas diz que a água está fria,
que está vento a levantar areia, que está muita gente, que está muito barulho,
que há muitas mamas de silicone, que no tempo dele não havia bikinis a mostrar
o rabo todo, que a cerveja já está a ficar quente, etc. Uma vez, vi um casal a
queixar-se de tudo, desde as algas do mar até aos grãos de areia que não eram
simétricos. O filho, vira-se para eles e diz "Podem parar de se queixar um
bocadinho? Aproveitem a vida, há pessoas que a única vez que viram a praia foi
para entrar num barco cheio de outros refugiados que depois naufragou e
morreram todos". Ficou um ambiente estranho e a mulher disse "Lá está
você com essas coisas, Bernardo.", enquanto passou a língua num dedo para
continuar a folhear a revista Caras. Gente que trata os filhos por você não
lambe, passa a língua. O problema é que a eles, em muitos sítios, ninguém lhes
passa a língua, uma das razões de serem assim, palermas.
A típica família
portuguesa é uma das espécie autóctones a todas as praias nacionais. Sejam
emigrantes ou não, o padrão é sempre o mesmo. Muita gente a falar alto, 37
chapéus-de-sol e 12 pára-ventos, todos montados qual obra-prima da engenharia
cigana. Mal assentam o acampamento, as tias velhas começam a gritar com os
putos para virem pôr protector solar, enquanto os homens começam a abrir a
geleira e a tirar as caricas com os dentes. Muitos desses homens usam bigode,
têm um chapéu panamá a tapar a careca e, claro, usam uma cuequinha de banho a
mostrar o enchumaço da tomatada com os pelos todos a brotar pelas virilhas quais
ervas daninhas em campo selvagem. As mulheres da família fazem uma espécie de
concurso masterchef, cada uma com a sua geleira a dar a provar as iguarias que
passou a noite anterior a confeccionar. É sandes com ovo mexido, é croquetes e
rissóis, é tupperwares com feijoada à transmontana, há de tudo e claro que não
pode faltar o melão e melancia cortados aos cubinhos. Aí de quem disser à tia
Júlia que a quiche da tia Clotilde está mais saborosa que a dela. "Pois,
mas a tia Clotilde nunca trabalhou nem criou dez filhos com um ordenado
mínimo". E pronto, está o caldo entornado e passam o resto do dia a
discutir as desavenças antigas da família. O pior das famílias na praia são as
crianças mal-educadas. Ontem, na praia da Batata, em Lagos, assisti a uma cena
daquelas dignas de um tutorial "Como não ser pai". Uma miúda, com os
seus doze anos, estava farta de perguntar quando é que podia ir para a água. Os
pais disseram-lhe "meia hora" e ela de dois em dois minutos voltava a
perguntar, até que, vendo que ainda faltavam 20 minutos, começou a chorar, a
estrebuchar e a rebolar-se na areia, num espectáculo que parecia algo saído do
Cirque du Soleil ou de uma discoteca cheia de doentes epilépticos. Gritou e
grunhiu qual javali a jogar à cabra cega num quarto cheio de pioneses no chão.
Isto durou meia hora, todas as pessoas na praia a olhar para ela, a mãe a
ignorar, o pai claramente a querer dar-lhe uma chapada com uma pedra da
calçada, mas a não o fazer porque actualmente é mal visto bater nas crianças em
público. Foram embora, com ela de arrasto aos berros e o irmão mais novo a
dizer "Vamos embora? Olha Mariana, muito obrigado... por nada".
Depois os cães é que estão proibidos de entrar nas praias...
Enfim. Falto eu!
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