terça-feira, 9 de setembro de 2014

Umas “estatísticas” de vez em quando, sempre dá para irmos pensando (3)


A Balança Comercial portuguesa

Já há algum tempo que andava para abordar este tema, que me parece um pouco descurado nos debates de economia em Portugal, privilegiando-se habitualmente outros indicadores, como por exemplo o PIB, e descurando a importância do balanço entre exportações e as importações. Ora a balança comercial diz respeito a todas as transacções de mercadorias entre residentes e não-residentes, processadas durante um período de tempo determinado, e o seu saldo é determinado pela diferença entre o montante das exportações e o montante das importações de bens verificadas durante esse período. Logo de importância extrema para a economia do país.

De grosso modo para um não economista, como é o meu caso, mas que gosta de mexer nestas coisas de forma ligeira mas séria, a nossa Balança Comercial ao longo dos últimos 40 anos tem sido quase sempre negativa (com um intervalo nos anos 80, nos primeiros anos do cavaquismo), isto é, as Importações têm sido quase sempre superiores ao que conseguimos exportar.

Desde 1974 que esse défice tem sido sempre a “aviar”, atingindo a sua expressão máxima no consulado de José Sócrates como veremos mais adiante. Mas para conhecimento dos mais distraídos, aqui, ficam alguns dados para ilustrar a coisa:

- Entre 1966 e 1973: Saldo Positivo
- Entre 1974 e 1977: Saldos negativos sempre superiores a 6% do PIB
- Em 1982: Saldo Negativo de 12,1% do PIB (Recorde)
- Entre 1985 e 1990: Saldos ligeiramente positivos
- A partir de 1990 os saldos negativos não pararam de crescer, voltando a atingir os 12% do PIB em 2008.

Na lei dos sistemas abertos, como é a economia mundial, sempre que um sistema para viver tenha necessidade de receber, constantemente, mais do que aquilo que consegue produzir, é um sistema deficitário, e que mais dia, menos dia entrará em rotura, a não ser que se trate de um sistema parasita, com um paizinho ou mãezinha que o alimente, ou que viva à custa do alheio.

Isso é o que se tem passado na economia portuguesa nos últimos 40 anos e que passou a ser lei, pelo menos para a filosofia dominante “esquerdoide” que nos acultura. A divisa é “o que é preciso é consumir”, porque isso aumenta o PIB. E para eles, desde que o PIB aumente é bom, nem que seja com dinheiro emprestado, e quem vier atrás que feche a porta. Só que esse alguém que vem atrás serão os nossos filhos e netos, que quer queiram ou não, terão de pagar o “pato”. Ah, mas essa filosofia também manda dizer que gostamos muito desses nossos descendentes! Pois, belas heranças lhes vamos deixar.

Na história mais recente da nossa Balança Comercial, e que mais nos interessa actualmente, podemos ver no Gráfico 1 que entre 2000 e 2011, em números absolutos, as Importações (barras grená) foram sempre muito superiores ao que se conseguiu exportar (barras azuis), atingindo o valor mais elevado, como já havia referido, em 2008, com um saldo negativo de 16 383 milhões de euros

Só entre 2000 e 2010 o défice acumulado da nossa Balança Comercial foi, aproximadamente, 142 500 milhões de euros. Isto é, todos os anos Portugal, perdeu em média para os outros países, entre o que exporta e o que importa, cerca de 13 000 milhões de euros/ano.

No entanto, a partir de 2011, essa tendência começou a alterar-se, e em 2012 já tivemos uma balança equilibrada, e, em 2013 as Exportações superaram as Importações.


No Gráfico 2, podemos verificar melhor os saldos da Balança Comercial em milhões de euros. Entre 2000 e 2010 esses saldos são sempre francamente negativos, mas a partir de 2011, começa a inverter-se essa tendência. Em 2011 o nosso saldo da Balança Comercial já foi apenas de 6 500 milhões de euros, e em 2012 a balança foi equilibrada. Em 2013, mais de 20 anos depois, Portugal voltou a ter um saldo positivo, isto é, as nossa Exportações foram superiores em quase 3 000 milhões de euros ao que importámos.      



Breve análise política a estes dados:

Este fim-de-semana fez grade escândalo aos “papagaios” da nossa praça, as declarações da ministra das finanças, ao afirmar que, é preciso algum cuidado ao “injectar” dinheiro na economia portuguesa, pois isso contribuirá, imediatamente, para aumentar as importações (bens de consumo) e consequentemente, voltar a desequilibrar a nossa Balança Comercial, e, isso pode não ser saudável para a nossa economia.

Ora o que os números que acabo de publicar dizem, é que possivelmente ela tem razão. Como se pode ver nos Gráficos e números publicados, não foi a injecção de dinheiro na economia portuguesa, como fez Sócrates a partir de 2008 (para não me referir mais para atrás), que levou ao investimento e aumento de exportações, mas antes ao consumo, e como somos uma economia que pouco produz, recorre-se às importações. O que leva a um aumento do défice da nossa Balança Comercial, e isso, não sei se será coisa boa.

Mas o António Costa deve saber. Ele diz-se "mestre" em estratégias de crescimento económico, e "milagres" de criação de riqueza! A ver vamos, como diz o cego. 

Quanto aos camaradas contestatários comunistas? Recomendo uma visita ao Camarada Castro, que esse então, é "doutorado", nestas coisas do import./export.      


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