Numa altura em
que tanto se discute as Ciências, a Investigação e o Desenvolvimento (até temos
um Comissário europeu desta área), quase sempre o que chega ao público,
sobretudo quando o “pilim” começa a escassear, é a tal estéril discussão dos
financiamentos, não se discutindo a fundo a problemática e a política de uma
área que é fundamental para a aquisição e criação de conhecimento e,
consequentemente, tratar do essencial que o país necessita (não apenas da
aquisição de “canudos”), e que será, sem qualquer dúvida, um investimento
reprodutivo, e criador de riqueza para o país e/ou para o mundo.
Num país de
“dotôres e engenhêros”, como se diz por aí, o que aqui se aborda não são os
“doutores” das Licenciaturas ou Mestrados, o que aqui se trata são os
“Doutoramentos” a sério, os produtores de novos conhecimentos. Daqueles que podem usar o título de Doutor, ou melhor, de Professor – Doutor.
Trago aqui este
tema, depois de ter assistido na última segunda-feira ao Programa “olhos nos
olhos” do Professor Medina Carreira, que teve como convidado o Investigador
Professor António Coutinho, dos quais utilizo alguns dados aí apresentados, a
que juntei mais alguns da minha pesquisa.
Nos últimos 15
anos, sobretudo na última década, e porque havia dinheiro a rodos (emprestado),
privilegiou-se a quantidade e a massificação de doutorados, com cada um a
escolher, a seu belo prazer, sem orientação, e sem se ter em conta as
necessidades do país, tal como se fez em outras áreas de formação.
Tudo se pode investigar, parece ter sido a
divisa. A maioria das vezes apenas para se ostentar o “canudo” como um troféu de caça. O país gastou muito dinheiro
próprio nessas formações, e como o “bago" andava fácil, até os financiamentos dos Fundos
Europeus para a área, foram negligenciados. Terá sido até, uma das poucas rubricas
do Orçamento Europeu em que Portugal contribuiu mais do que beneficiou.
Se de facto
formou bem e nas áreas que precisava? Duvido. Alguém que avalie os resultados.
Mas vamos a alguns dados que aqui deixo para conhecimento e reflexão de cada
um, e que, quando se fale de Ciência e Investigação, alguns de nós já possam
ter uma opinião mais fundamentada. Replico assim, algum do conhecimento aí
apresentado sobre: quem são, quantos são, e o que fazem os Doutores em Portugal,
e, quanto custa o fruto de algum do seu trabalho.
Para aqueles que não se quiserem dar ao
trabalho de ler todo o Post, aqui fica um breve Resumo.
- Em 2012, Portugal (na Europa a 23), é um
dos países com menos doutorados por 1 000 pessoas em idade activa: 3,9 em 2009;
5 em 2012;
- Actualmente há cerca de 26 000 doutorados
em Portugal. Destes, 16 100 (67%) doutoraram-se depois do ano 2000, uma média
de 1 240 Doutores/ano. Só em 2012 doutoraram-se mais de 2 200 doutorandos.
- As áreas com mais doutorados são as
Ciências Sociais e Humanidades. As Engenharias, as Tecnologias, e as Ciências
da Vida e da Saúde não vão além dos 32%
do total de doutorados.
- Dos doutorados em Portugal, apenas 3%
trabalham nas Empresas. A grande maioria dos doutorados em Portugal trabalha na
área da Educação (80%).
- Portugal tem um dos mais baixos custos com
Investigação. Entre 2007 e 2012 esse valor oscilou sempre entre 1,5% e 2% do
PIB. Em 2012 foi de 1,5% a que corresponderam aproximadamente 2 476 milhões de euros. Só a Espanha e a Itália gastam tão pouco
como nós na Investigação.
- Estes custos têm sido repartidos pelo
Sector Público e pelo Sector Privado. Em 2012 o Sector Público contribuiu
aproximadamente com 1 400 milhões (57%) de euros, e o Sector Privado com 1 076
milhões de euros (43%).
De acordo com
alguns dados que recolhi, em 1999 Portugal tinha 8 700 pessoas Doutoradas. Mas
em 2012 esse número já era de cerca 26 000. Em apenas uma década, o número de Doutorados triplicou. Digamos, de
grosso modo, que foi muito o conhecimento
adquirido. Possivelmente, como começámos tarde em relação a outros países,
vamos a isto que é sempre a aviar! E, fomos, certamente, o país da Europa que
mais Doutores formou em tão pouco tempo, digo eu.
No entanto,
mesmo depois desta “fornada”, quando comparado com os outros países da Europa,
como se pode ver no Gráfico 1, Portugal ocupava ainda em 2009 um dos últimos
lugares, com apenas 3,9 Doutorados por 1 000 pessoas activas. Mas no final de
2012, esse indicador, já era de cerca de 5
Doutorados por cada 1 000 pessoas em idade de trabalho, o que nos fará subir 3 ou 4 lugares no ranking.
Gráfico 1 – Doutorados por 1 000
activos
No Gráfico 2
podemos verificar que, dos tais 26 000 Doutorados que existem actualmente, só
entre 2000 e 2012 Portugal formou cerca de 16 100 novos Doutores, numa média de
1 240 novos produtores de novos conhecimentos, em cada ano que passou.
Poderíamos até pensar que a coisa até nem foi nada mau, se por acaso tivesse existido planeamento, e uma política de formar o que o país
necessitava para o seu desenvolvimento.
Mas o que podemos ver ainda nesse Gráfico é que as áreas mais privilegiadas foram para as áreas Sociais e de Humanidades com 37% (Ciências da Educação, Sociologias, Psicologias, Economia, Comunicação, e afins); estas áreas foram o dobro dos Doutoramentos em Engenharias e Tecnologias (que foram de apenas 20%), e o triplo dos Doutoramentos em Ciências da Vida e da Saúde, que se diz serem as de maior futuro e necessidade (apenas 12% dos Doutoramentos).
Mas o que podemos ver ainda nesse Gráfico é que as áreas mais privilegiadas foram para as áreas Sociais e de Humanidades com 37% (Ciências da Educação, Sociologias, Psicologias, Economia, Comunicação, e afins); estas áreas foram o dobro dos Doutoramentos em Engenharias e Tecnologias (que foram de apenas 20%), e o triplo dos Doutoramentos em Ciências da Vida e da Saúde, que se diz serem as de maior futuro e necessidade (apenas 12% dos Doutoramentos).
Gráfico 2 – Doutoramentos Realizados e Áreas
de Formação entre 2000 – 2012
Com a opção de formação por estas
áreas, não será de estranhar onde iremos encontrar a trabalhar a grande maioria
dos nossos detentores e replicadores de conhecimentos. Não será certamente em
Empresas!
Não se julgue
que estou a defender que a maioria devesse lá estar. Mas o que é discutível é
de serem apenas uns escassos 3% dos Doutorados em Portugal a trabalhar em
Empresas, isto é, cerca de 800 dos tais 26 000. É pouco, muito pouco, quando
sabemos que são as Empresas as grandes produtoras de riqueza e, certamente,
aquelas onde os novos conhecimentos são essenciais. Aliás, isso é visível
quando comparamos com o que acontece noutros países com os doutorados nas Empresas:
- Espanha: 17%
- Bélgica: 32%
- Dinamarca: 36%
- Até a Hungria:
8%
E já nem quero
falar da Suíça!
Assim sendo, onde trabalham afinal os doutorados
em Portugal?
No Estado, claro: Ou no Ensino ou Laboratórios Públicos.
Repartidos assim: 80% no Ensino e Educação e 7% em Laboratórios Públicos. E ainda dizem que somos um país neo liberal!
Repartidos assim: 80% no Ensino e Educação e 7% em Laboratórios Públicos. E ainda dizem que somos um país neo liberal!
Gráfico 3 – Emprego dos Doutorados em
Portugal e outros países, por sector de actividade.
Não sendo os
únicos, a função principal dos nossos doutorados é produzir conhecimento, isto
é a sua participação na Investigação e no Desenvolvimento (I&D), convirá
assim ter uma ideia de quanto é que o país despende nestas actividades, e
sobretudo, comparar com os outros países. E também quem é que paga as facturas,
e, em que percentagem: Estado e Privados.
De acordo com
alguns cálculos que fiz, Portugal terá gasto em 2012 cerca de 1,5% do PIB em
actividades Investigação, a que corresponde uma verba aproximada de 2 476 milhões
de euros, ou seja perto de 24 cêntimos por português.
Como se pode ver no Quadro 1, quando comparado com outros países, em custos “per capita”, Portugal aproxima-se bastante da Espanha e da Itália. Mas nestas coisas da Investigação está a “anos-luz” de países como a Alemanha e a Dinamarca (96 cêntimos e 1, 32 euros/habitante, respectivamente); e mesmo a França, não vamos além de 1/3 do que é gasto por cada francês para actividades de Investigação e Desenvolvimento.
Por fim será
importante saber quem financia estas actividades de I&D. Assim no Gráfico 4,
podemos verificar que em relação à contribuição dos dinheiros públicos, neste
conjunto de países, Portugal, percentualmente, ocupa desde 2008 o 1º lugar.
Fazendo as contas por alto em valores absolutos, em 2007 o valor foi de 1 277
milhões de euros; em 2009 foi de 1 677 milhões; e em 2012 foi de 1 400 milhões
de euros. Como se pode ver as diferenças não são assim tão grandes, como se
anda por aí a fazer crer.
Gráfico 4 – Impacto das despesas com
I&D nas despesas públicas de alguns países 2007 – 2012.
Quanto às
contribuições do Sector Privado, no Gráfico 5 podemos observar o contrário do
anterior (lógico num país neo liberal!). Portugal, a par da Espanha e da
Itália, são aqueles onde o sector privado menos contribui para a I&D, não
passando em 2012, além dos O,7% dos respectivos PIB´s, praticamente metade da
média da União europeia a 27 países que é de 1,42% dos respectivos PIB´s.
Em Portugal esse
valor tem sido praticamente constante nos últimos 6 anos: 1 000 milhões de
euros em 2007; 1 350 milhões em 2009; e 1 076 milhões de euros em 2012.
Comparando com
as verbas do Sector Público, e tendo em conta que nas Empresas apenas trabalham
3 % dos doutorados, teremos de concluir que ou estes gastam muito, a
Investigação anda a ser feita por outros, ou o Sector Privado anda a financiar
os investigadores públicos!
Gráfico 5 – Evolução das Despesas em
I&D do Sector Privado em diversos países, 2007 - 2012
Seria bom que
alguém se dedicasse a Investigar e
avaliar do impacto e os resultados desta política.
Sem comentários:
Enviar um comentário