segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Hipócrates ou hipocrisia...

 Não deixa de ser estranho que, numa altura de recessão e de cortes salariais, que o governo através do ministro de saúde Paulo Macedo, consiga um acordo de “Carreira” com os poderosos sindicatos dos doutores médicos, que implica uma brutal valorização salarial de mais de 30%.

Ficou-se a saber hoje, que um qualquer doutor médico, que na anterior carreira iniciava a profissão com um salário a rondar os 1 800 euros/mês (mais 600 que qualquer outro licenciado); passa através deste acordo, para cerca de 2 700 euros/mês.

Um aumento de 900 euros/mês!!! Isto é mesmo “gente” de outra estirpe...

Bem pode o ministro justificar que, este aumento, implica que os ditos senhores doutores médicos passem de um horário de 35 horas semanais para 40 horas. Pois se fizermos umas meras contas de dividir podemos verificar que mesmo assim, por cada hora existe um aumento nominal de 16 euros/hora (67,5 – 51,5).  BRUTAL!

Se um dos problemas da saúde em Portugal fosse a falta de médicos, como nos querem continuar a fazer crer, quando todas as estatísticas dizem o contrário, aceito que se pagasse por exemplo 55 euros/hora aos ditos. Que, nesse caso, para merecerem os 2 700, deveriam fazer pelo menos 50 horas/semana (2 700 euros/55 euros).

Todos ficariam a ganhar: os utentes do SNS, que passariam a ter mais disponibilidade dos “seus” médicos; e os tais doutores médicos, que passariam a ganhar mais 900 euros/mês, cerca de 4 euros a mais em cada hora, do que ganham actualmente. 

E isto é para o inicio das carreiras, faço ideia como será nas outras categorias!!!

Comparando com outros licenciados na Administração Pública, também em início de carreira, estes não vão além de 34 euros/hora (1 200 euros/mês). E no caso dos Enfermeiros (licenciados de 2ª), o preço/hora é apenas 29 euros (1 020 euros/mês), isto quando não lhe pagam através de “empresas de escravos”, uns míseros 4 euros/hora.

Felizmente que existe ministro das finanças, e a este BRUTAL aumento salarial de 900 euros/mês dos doutores médicos, irá sacar-lhe pelo menos 300, através do aumento do escalão do IRS. Digamos que, e neste caso, ainda bem que o Gaspar não dorme...  

2 comentários:

Luis Marques disse...

Desculpe lá, não sei como vim parar ao seu blogue, mas percebeu tudo mal, o salário após a faculdade era e continua a ser 1800€ brutos por mes. As negociações foram para o salário de especialista que antes era de 2300 por 35h com 12h de urgência, e agora passa para 2700 por 40h com 18h de urgência. Parece-lhe um roubo?

João, disse...

Caro Luís Marques, obrigado pela sua opinião. Em 1º lugar quero esclarecer que o termo “roubo” nunca por mim foi mencionado, e não o considero apropriado para quem vive do trabalho e tem um papel social muito importante a desempenhar, como é o caso dos profissionais médicos. Posso é considerar pouco justo quando comparado com outros profissionais em situações idênticas, como parece ser o caso, e numa situação de recessão em que vive o país e quase todos os portugueses..

Quanto ao que refere eu “ter entendido mal” sobre as remunerações da nova Carreira, aqui fica o que diz o Portal do Sindicato Independente dos Médicos (SIM):

“Nova tabela salarial:
Integração da remuneração dos Médicos na TRU, tendo como valor de entrada, em Assistente o Nível Remuneratório 45 (2.746,24 euros), para Assistente Graduado o Nível Remuneratório 54 (3.209,67 euros) e para Assistente Graduado Sénior o Nível Remuneratório 70 (4.033,54 euros). No topo da carreira, corresponde o Nível Remuneratório 90 (5.063,38 euros) para a terceira e última posição de Assistente Graduado Sénior.”

Segundo penso saber, para se iniciar as funções médicas na sua plenitude, tem que se ter uma especialidade, e o 1º Grau da é o de Assistente Graduado, como se pode ver em cima, que corresponde uma remuneração de 2 746 euros; o que dá um valor de cerca de 68 euros/hora. Quando lhe posso afirmar que os restantes licenciados, com papeis sociais idênticos e nesta fase das suas carreiras não vão além de um intervalo entre 30-35 euros, praticamente metade.

Ora meu amigo, como diz o povo: “... ou há moralidade ou deveriam comer todos”. Digo eu...

João Bugalhão