Fui militar de
cavalaria, como Salgueiro Maia, embora só chegasse à Escola Prática de Santarém
no princípio de 1978, isto é, 4 anos depois de este ter comandado o esquadrão
que meteria o ânus para dentro à rapaziada mandante da capital. Quando ali cheguei, os ecos deste herói da revolução (ou será um mero golpe de estado?), já pouco
habitavam nessas paredes, diga-se até que, os que ecoavam, não eram os mais
abonatórios.
No entanto, eu,
sempre nutri por ele admiração e, se lá estivesse em 74, não hesitaria em ter ido com ele. Com o tempo, essa admiração foi aumentando,
fazendo parte para mim daqueles ícones que pela sua atitude e comportamento no
pós 25 de Abril, em oposição a muitos cromos do prec: o do anti-herói, a humildade, o incógnito, o militar leal que
defende com armas o seu povo tal como jurou, que sabe que o lugar dos militares é nos quartéis; ficará para sempre gravado na galeria
da admiração da minha memória.
Não sei se Salgueiro
Maia herdou de seu pai alguns destes valores, talvez sim. Mas o que parece que
não aconteceu foi transmiti-los a sua filha Catarina, tão citada por estes dias
nas redes sociais e na imprensa pela “malta canhota”, como sendo uma das vítimas da política
do actual Governo. Que tal como diz a própria, foi obrigada a cumprir a sugestão
de Passos Coelho, e coitada (para além dum pai injustiçado), lá teve que
emigrar para o Luxemburgo! Esta não herdou
certamente os princípios do pai Fernando, senão vejamos:
Diz Catarina Salgueiro Maia que emigrou para o
Luxemburgo em 2011, «ano em que a 'troika' chegou a
Portugal e "em que o primeiro-ministro aconselhou as pessoas a ganhar
experiência no estrangeiro", ironizou, recordando os apelos do Governo à
emigração». Não há
dúvida de que a troika chegou a Portugal em 2011 (o pedido de ajuda foi feito a 6
de Abril); já o
governo apenas tomou posse em 21 de Junho, e as tais declarações polémicas sobre emigração
ocorreram a partir de Outubro.
Ora no
vídeo em baixo, aos 30 segundos, Catarina afirma com absoluta
certeza que chegou ao Luxemburgo no
dia 15 de Março de 2011. Portanto, quando diz que diz que «foi
"convidada" a sair de Portugal pelo primeiro-ministro Passos Coelho»
está a mentir descaradamente!
Se por ressabiamento ou ao serviço da sua ideologia política,
isso não sei; mas sei que se queremos melhores políticos temos que ser melhores
cidadãos. Não vale tudo para levar a água ao nosso moinho. E não, as
qualidades (a imagem de tenho de Salgueiro Maia é a de um homem recto) não se
transmitem por osmose jornalística.