(Porque também sou pai - Dedicatória de minha filha em 1991, num dia como este)
Era uma vez um
pai que gostava muito dos seus filhos. Era mesmo aquilo a que podemos chamar um,
“amor de pai”, e tinha como divisa “aos filhos é que nada pode faltar”...
Este pai herdou
de seu progenitor austero um legado pobre, sem grandes patrimónios, uma pequena
escolaridade de 4 anos, um deficit em
algumas necessidades primárias como a saúde ou a liberdade; mas tinha uma
família de cara lavada, honesta, com uma cultura de, viver com o que se produz,
e claro, nada de dívidas.
Este, amoroso pai,
quando assumiu a responsabilidade de o ser, na roda da vida, desprezou a
cultura e os princípios herdados, e em vez de corrigir deficiências, adoptou
uma filosofia completamente oposta ao do seu progenitor, por achar que tudo
nele estava errado.
Durante mais de
30 anos, proporcionou a seus filhos uma serie de regalias e direitos, diga-se
até que alguns dispensáveis, tais como: avultadas mesadas para todos, que lhes
proporcionavam só trabalhar já bem entrados na idade adulta, e, depois de “meia-vida”
de ócio e borgas; a alguns, mais de 20 anos nas escolas sem grandes
resultados; seguros de saúde dos mais caros, para que pudessem socorrer as maleitas
devido a estilos de vida manhosos; oferta precoce de um automóvel sempre que um
descendente atingia os 18 anos; alimentação em restaurantes pelo menos 7 dias
por semana; cada vez que um dos seus rebentos pensava arranjar uma nova família,
logo, esta bondosa criatura os brindava com a oferta de uma casita tipo “vivenda”
ou, pelo menos, um “apartement t3”; e direito anual a muitas férias, se possível fora do
país. E ainda, para fazer ver ao seu progenitor, decidiu presenteá-lo, bem como a sua
mãe, com pensões de reforma insustentáveis no tempo, pelo menos para quem soubesse fazer
simples contas de multiplicar e dividir.
Foi assim que,
durante 3 décadas, para fazer face às despesas para suportar essa filosofia de
vida, em vez de produzir e trabalhar, este pai amoroso, se endividou até ao tutano, sustentando que seus filhos
mereciam tudo, e, que aos filhos nada pode faltar.
Cada ano que
passava, por cada 16 mil euros que ganhava, tinha que pedir, ao vizinho rico,
800 euros para sustentar os seus princípios e valores.
Hoje tem uma
dívida superior a 24 mil euros, só de juros paga ao vizinho rico 1 200 euros
por ano, ao que junta mais os tais 800 que tem que continuar a pedir, que
perfazem um total de 2 000 euros a mais do que aquilo que produz em cada ano (que agora já não chega aos tais 16 mil). Este estilo de vida chegou a um ponto,
que já ninguém lhe quer emprestar um tusto que seja, e, dizem que este, extremoso
pai, está F***** (falido).
Claro que,
perante esta situação, o vizinho penhorou a casa e os automóveis dos meninos do
papá, pois já viram que este, bom pai, jamais conseguirá pagar a dívida em que
se meteu. O dito, bom pai, entretanto já se pôs ao fresco, emigrou, e deixou, a
esposa/mãe e os rebentos, encalacrados.
A mamã um pouco
mais realista, já começou a cortar mesadas a torto e a direito; as pensões dos
sogros já foram reduzidas para metade, a escola e a saúde têm que começar a ser
a pagas; e claro, a filharada e os velhos andam descontentes, e passam o tempo
a protestar e aos berros.
Mas o vizinho
quer o “carcanhol” em dívida, e, ou a mãe ou os filhos, vão ter que pagar a dívida
e os juros.
Claro que os
meninos gostam muito do, bom pai, e, têm dele muitas saudades....