Quando penso na morte, e não penso muito, lembro-me sempre de 3 princípios que o meu pai costumava enunciar com a sua sabedoria de vida vivida:
1 - “Só se morre
uma vez”;
2 – “Quem de
novo não morrer..., de velho não escapa”;
3 - “Pode-se morrer de tanta coisa, que até é
um milagre estarmos vivos”.
Foi assim que, com
a calma possível, quando chegou a vez dele, eu aceitei a sua partida. Dois anos
depois sucederia o mesmo com minha mãe. Eu, enquanto vivo, aguardo a minha vez,
sem pressa, porque gosto de por cá andar, mas sem ignorar que, nesta lei da
vida e da natureza, se alguma coisa temos certo é que a nossa vez chegará.
Mas nos dias que correm,
para a maioria dos portugueses, a morte não existe. Sobretudo, a partir do momento em que não
vemos morrer fisicamente. Hoje morre-se longe de casa e da família, suceda ela num corredor
de um qualquer hospital, ou num lar residencial. Quando damos por ela, já foi,
estamos metidos num caixote muito bem vestidos e maquilhados ou, mais
modernamente, num pote todo catita.
Mas não duvide, a morte existe mesmo!
Tanto que em
Portugal (a maioria de nós não faz a mínima ideia disso), mas desde o dia 1 de
Janeiro e até 24 de Maio do presente ano, morreram 49 816 pessoas.
Desde
1 de Março, quando o 1º caso de covid 19 foi detectado no país, já morreram até
à data referida, 28 379 pessoas. Do total dessas mortes, dizem-nos
que 1 324 pessoas morreram com covid (sem nos poderem garantir, por
questões clínicas, se a enfermidade foi a causa de morte). Há ainda que ter em
conta que, uma grande percentagem destes mortos (70%) foram pessoas acima dos
80 anos, onde o tal princípio se aplica “se não morreres de novo..., de velho
não escapas”, ou ainda que, “acima dos 80 pode-se morrer de tanta coisa.., que
até de covid”.
- Primeira conclusão, até 24 de Maio apenas
em 4,6 % no total de óbitos foi detectado o tal “mortífero” vírus, que iria
dizimar a população. Todos os profissionais de saúde sabem que há doenças que
matam muito mais em Portugal e deixam maiores danos corporais (físicos ou
mentais).
Contudo, poderão
ainda argumentar alguns, que este ano está a morrer muita gente, sobretudo
aqueles, para quem a morte não existe, nunca viram morrer ninguém e precisam
ver e ouvir na televisão que afinal morre gente. Analisemos então os anos
anteriores e comparemos, tendo em conta que a população portuguesa está a
envelhecer de ano para ano, e que, não sendo nós eternos, algum dia havemos de
morrer.
Assim, ao comparamos
o mesmo período de tempo com os anos anteriores, o que seria de esperar, no
mínimo, era que o número de mortos disparasse para valores estratosféricos e
que nos desse um “baque” assim que olhássemos para eles.
Uma enfermidade que
fez parar o país (e o mundo?), classificada como a doença do século, que nos
fechou em casa 45 dias, que chamou de criminosos quem rompesse esse confinamento,
que iria matar, pasme-se, 12 milhões de portugueses (quando somos só 10 milhões e pouco), que nem meios teríamos para enterrar
os mortos, etc. etc., afinal, até à data, salda-se por uns 120 mortos a mais
do que em 2019 (aumento facilmente explicado só envelhecimento populacional), mas
pasme-se, menos 626 do que em 2018, como se pode ver no Quadro 1.
Claro que a grande
explicação que os políticos de pacotilha nos vão dar, é que foi assim devido
às “grandes e atempadas medidas” que tomaram, e à “grande disciplina” deste
nobre povo. No entanto, essas explicações terão de ser comprovadas e muito bem explicadas pelos epidemiologistas quando analisarem os dados e formato das curvas
epidemiológicas. E veremos, no futuro, se não foram mesmo contraproducentes.
Eu, por agora,
quando olho para a figura que em baixo publico, tenho muitas dúvidas. Não
desdenho que algum efeito terão tido (atrasar um pouco a circulação do vírus e
permitir aos serviços de saúde que se preparassem), mas grande impacto no seu
desenvolvimento (que não deveria ser o de uma curva normal), por enquanto, não
o vejo.
Fonte: https://expresso.pt/coronavirus/2020-05-26-Covid-19.-96-dos-novos-casos-tem-origem-na-regiao-de-Lisboa-o-surto-em-Portugal--em-graficos-e-mapas-A gravidade de uma enfermidade deveria medir-se, sobretudo, através de 2 indicadores:
- A mortandade que
provoca;
- O impacto das sequelas incapacitantes que deixa na comunidade.
Ora, nenhumas
dessas consequências se verificaram na actual pandemia em Portugal. Das
sequelas (as corporais), se existem, não há notícias; e a tal grande mortandade
que ia provocar o “fim do mundo”, até à data, ela não se vê.
Um dia destes
falaremos de outros impactos do covid 19, esses sim importantes, de que são
exemplos a mortalidade por outras doenças que foram descuradas e quase abandonadas por decisões políticas irresponsáveis; e as sequelas económicas que, essas sim irão doer,
não aos mortos, mas muito aos vivos.
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