terça-feira, 26 de maio de 2020

A Grande epidemia que fez parar o país (e o mundo), mas que custa a ver...

Quando penso na morte, e não penso muito, lembro-me sempre de 3 princípios que o meu pai costumava enunciar com a sua sabedoria de vida vivida:

1 - “Só se morre uma vez”;
2 – “Quem de novo não morrer..., de velho não escapa”;
3 - “Pode-se morrer de tanta coisa, que até é um milagre estarmos vivos”.

Foi assim que, com a calma possível, quando chegou a vez dele, eu aceitei a sua partida. Dois anos depois sucederia o mesmo com minha mãe. Eu, enquanto vivo, aguardo a minha vez, sem pressa, porque gosto de por cá andar, mas sem ignorar que, nesta lei da vida e da natureza, se alguma coisa temos certo é que a nossa vez chegará.

Mas nos dias que correm, para a maioria dos portugueses, a morte não existe. Sobretudo, a partir do momento em que não vemos morrer fisicamente. Hoje morre-se longe de casa e da família, suceda ela num corredor de um qualquer hospital, ou num lar residencial. Quando damos por ela, já foi, estamos metidos num caixote muito bem vestidos e maquilhados ou, mais modernamente, num pote todo catita.

Mas não duvide, a morte existe mesmo!

Tanto que em Portugal (a maioria de nós não faz a mínima ideia disso), mas desde o dia 1 de Janeiro e até 24 de Maio do presente ano, morreram 49 816 pessoas

Desde 1 de Março, quando o 1º caso de covid 19 foi detectado no país, já morreram até à data referida, 28 379 pessoas. Do total dessas mortes, dizem-nos que 1 324 pessoas morreram com covid (sem nos poderem garantir, por questões clínicas, se a enfermidade foi a causa de morte). Há ainda que ter em conta que, uma grande percentagem destes mortos (70%) foram pessoas acima dos 80 anos, onde o tal princípio se aplica “se não morreres de novo..., de velho não escapas”, ou ainda que, “acima dos 80 pode-se morrer de tanta coisa.., que até de covid”.

- Primeira conclusão, até 24 de Maio apenas em 4,6 % no total de óbitos foi detectado o tal “mortífero” vírus, que iria dizimar a população. Todos os profissionais de saúde sabem que há doenças que matam muito mais em Portugal e deixam maiores danos corporais (físicos ou mentais).

Contudo, poderão ainda argumentar alguns, que este ano está a morrer muita gente, sobretudo aqueles, para quem a morte não existe, nunca viram morrer ninguém e precisam ver e ouvir na televisão que afinal morre gente. Analisemos então os anos anteriores e comparemos, tendo em conta que a população portuguesa está a envelhecer de ano para ano, e que, não sendo nós eternos, algum dia havemos de morrer.  

Assim, ao comparamos o mesmo período de tempo com os anos anteriores, o que seria de esperar, no mínimo, era que o número de mortos disparasse para valores estratosféricos e que nos desse um “baque” assim que olhássemos para eles.

Uma enfermidade que fez parar o país (e o mundo?), classificada como a doença do século, que nos fechou em casa 45 dias, que chamou de criminosos quem rompesse esse confinamento, que iria matar, pasme-se, 12 milhões de portugueses (quando somos só 10 milhões e pouco), que nem meios teríamos para enterrar os mortos, etc. etc., afinal, até à data, salda-se por uns 120 mortos a mais do que em 2019 (aumento facilmente explicado só envelhecimento populacional), mas pasme-se, menos 626 do que em 2018, como se pode ver no Quadro 1.





Claro que a grande explicação que os políticos de pacotilha nos vão dar, é que foi assim devido às “grandes e atempadas medidas” que tomaram, e à “grande disciplina” deste nobre povo. No entanto, essas explicações terão de ser comprovadas e muito bem explicadas pelos epidemiologistas quando analisarem os dados e formato das curvas epidemiológicas. E veremos, no futuro, se não foram mesmo contraproducentes.

Eu, por agora, quando olho para a figura que em baixo publico, tenho muitas dúvidas. Não desdenho que algum efeito terão tido (atrasar um pouco a circulação do vírus e permitir aos serviços de saúde que se preparassem), mas grande impacto no seu desenvolvimento (que não deveria ser o de uma curva normal), por enquanto, não o vejo.
 Fonte: https://expresso.pt/coronavirus/2020-05-26-Covid-19.-96-dos-novos-casos-tem-origem-na-regiao-de-Lisboa-o-surto-em-Portugal--em-graficos-e-mapas-


A gravidade de uma enfermidade deveria medir-se, sobretudo, através de 2 indicadores:

- A mortandade que provoca;
-  O impacto das sequelas incapacitantes que deixa na comunidade.

Ora, nenhumas dessas consequências se verificaram na actual pandemia em Portugal. Das sequelas (as corporais), se existem, não há notícias; e a tal grande mortandade que ia provocar o “fim do mundo”, até à data, ela não se vê.

Um dia destes falaremos de outros impactos do covid 19, esses sim importantes, de que são exemplos a mortalidade por outras doenças que foram descuradas e quase abandonadas por decisões políticas irresponsáveis; e as sequelas económicas que, essas sim irão doer, não aos mortos, mas muito aos vivos.  

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