sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Sabe sempre bem recordar...


Ai, ai senhor das furnas que escuro vai dentro de nós, rezar o terço ao fim da tarde só para espantar a solidão, e rogar a deus que nos guarde, confiar-lhe o destino na mão. Que adianta saber as marés, os frutos e as sementeiras, tratar por tu os ofícios, entender o suão e os animais, falar o dialecto da terra, e conhecer-lhe o corpo pelos sinais? E do resto entender mal, soletrar, assinar em cruz, e, não ver os vultos furtivos que nos tramam por trás da luz.

Ai, ai senhor das furnas que escuro vai dentro de nós, a gente morre logo ao nascer com olhos rasos de lezíria, de boca em boca passar o saber com os provérbios que ficam na gíria. De que nos vale esta pureza, sem ler fica-se pederneira, agita-se a solidão cá no fundo, fica-se sentado à soleira a ouvir os ruídos do mundo, e a entendê-los à nossa maneira.

Carregar a superstição, de ser pequeno, ser ninguém! E não quebrar a tradição que dos nossos avós já vem...




1 comentário:

Helena Barreta disse...

Que boa maneira de regressar, é muito bonita esta música.

Um abraço