Impreterivelmente,
como quase todos os dias, levantei-me pelas 5 horas e 45 minutos para a minha
caminhada diária. Assim que pus os pés no chão, e depois de fazer os meus
poucos exercícios de mobilização das articulações e esticar dos músculos, como um
gato ou qualquer ou outro felino quando se levanta, ouvi que chovia como o
caraças. Pensei, ainda bem, desde que não haja vento. Um pequeno impermeável e
o guarda chuva, e venha ela, que cá em baixo é que faz falta, como diz o povo,
ao que eu acrescento aquela máxima da tropa “chuva civil não molha militares”,
e eu, embora já sem farda, ainda não me esqueci desses tempos.
Pouco passava
das 6 horas, cai uma mensagem no telemóvel: “Hoje não vou”! Era o meu amigo Artur,
companheiro de lide há 4 meses consecutivos quase sem falhas, e que, neste
inverno chuvoso, atrevo-me a dizer um dos mais abundantes dos últimos 20 anos, aparece sempre, pontualmente ás 6h e 30m, sem
guarda chuva e em calções, indiferente à quantidade da dita ou ao frio que
também tem estado. Mau, pensei que passará? Será que afinal andava a enganar-me
e não é tão valente, às intempéries, como eu pensava! Respondi com um “Ok”, e
espero que seja isso, que não seja nada pior, porque isso tem remédio.
Pouco depois, já
equipado, metia os pés ao caminho, com a tal chuva certinha, bem caída e, tal
como eu desejara, sem vento. O plano era o circuito rural do costume, mas não
sei bem porquê, indo sozinho, resolvi variar e meter por um circuitos urbano,
pelas ruas da cidade branca do alto Alentejo, cercada de oliveiras e
sobreiros..., se a intensidade da tal bendita chuva aumentasse, sempre podia
abrigar-me debaixo de uma qualquer varanda, e ver a cidade acordar.
Descia a
denominada rua do comércio e, reparei que caminhando à minha frente com 50 metros
de dianteira, seguia uma “figura” inconfundível que, rapidamente, identifiquei
como sendo o meu colega de profissão e amigo Zé Rui. Caminhava com o seu estilo
bamboleante inconfundível de mochila às costas, capuz na cabeça do seu “kispo”
e guarda chuva fechado, pendurado no braço, apesar de chover com intensidade.
Aumentei um
pouco a minha passada e, rapidamente, o alcancei. Cumprimentámo-nos com alguma “distância”,
que o Zé Rui não é de grandes efusividades, e eu também não, e lá fomos durante
algum espaço e tempo, conversando sobre coisas nossas, até que cada um seguisse
no seu azimute.
Desde o tempo de
estudantes de enfermagem que conheço o Zé Rui, embora a convivência dos últimos
40 anos não seja muito efetiva, embora procure seguir, à distância, o seu
percurso de vida. O Zé é uma daquelas pessoas de quem é impossível não gostar,
desde que respeitemos a sua diferença, e eu sempre o tentei. Talvez, por isso,
me considere seu amigo, muito para lá daquilo que talvez eu mereça.
Do nosso encontro de hoje vou reter as suas
palavras simples, mas penso que honestas, da nossa despedida e que certamente
não irei esquecer tão depressa:
“Bugalhão
obrigado por estes 5 minutos, acredita que já ganhei o dia!”
Não lhe
respondi, mas o Zé sabe o que eu penso, mesmo num dia de chuva...